Capítulo 11

Eram nove da noite quando começamos a fechar o restaurante. Eu fiquei para fechar tudo e quando estava jogando o lixo no tonel dos fundos vi a movimentação da casa noturna ao lado. Ele estava em pé ao lado de fora, apoiado na porta com um terno importado de luxo com um cigarro na mão direita e um copo de uísque na mão esquerda. Estava sozinho. A cabeça encostada na parede virada para a lua, olhos fechados... Ele respirava fundo, respiração pesada. Sem me notar ele deu uma tragada em seu cigarro, e abriu a boca soltando a fumaça logo em seguida. Ele estava extremamente sexy naquela posição. Por um momento eu me perguntei se aquilo era uma miragem e desejei estar com minha câmera. Mas sentindo que estava sendo observado ele abriu os olhos e me encarou. Eu me virei no reflexo e continuei jogando meu lixo fora. Notei quando ele se aproximou e encostou-se à parede ao lado do tonel me encarando descaradamente agora enquanto continuava bebendo do seu uísque e fumando do seu cigarro. Eu parei e o encarei por alguns segundos arqueando uma das sobrancelhas.

— Quer me dizer alguma coisa? — Coloquei uma das mãos na cintura automaticamente. Ele me encarou de cima abaixo fazendo com que uma corrente elétrica de alta densidade passe pelo meu corpo. Olhou para a porta dele e voltou a me encarar.

— Você vem? — Ele perguntou depois de mais uma baforada em seu cigarro.

— Para onde? — Perguntei desconcertada com a cena á minha frente.

— Inauguração do Meyer Haus. — Ele disse depois de um gole em seu Uísque.

— Não. — Falei dando de ombros e terminando de jogar o último saco de lixo. Aquela noite não havia comida para os animais da redondeza porque eu havia colocado mais cedo.

— Por quê? — Ele me encarou mais intensamente agora.

— Estou exausta. — Falei passando a mão no cabelo. Eu não poderia estar mais descabelada.

— Entendi. — Ele assentiu, desviou o olhar para o chão mordendo o lábio inferior. — Ok. — Me encarou de volta e ajeitou a postura. — Não acho que esse seja um lugar para você. — Ele falou já se virando para ir embora.

— Como? — Perguntei o fazendo se virar novamente.

— Não acho que esse seja um lugar para você. — Ele me encarou desviando o olhar.

— Desde quando você sabe quais são os lugares adequados para mim? — O encarei estreitando os olhos.

— Quando eu sou o dono do lugar, sei qual o meu tipo de publico e observo bem as pessoas que conheço. Não estou falando para o seu mal, muito pelo contrario. — Ele deu mais uma tragada em seu cigarro.

— Entendi. Então o Meyer Haus não é um lugar pra mim. Por que? — Perguntei.

Ele me encarou como se fosse falar alguma coisa, pensou e repensou, bebeu um pouco mais de seu uísque e respirou fundo.

— Só não é. — Ele suspirou. — A gente se vê por ai, Jasmim.

— Hum. — Respondi sem abrir a boca. Quem ele pensava que era para decidir os lugares que eu deveria freqüentar? Que tipo de merda tinha nessa casa noturna que eu não poderia estar lá? Que eu não deveria estar lá?

Me virei revoltada e entrei no restaurante, fechei tudo ainda maquinando com meu cérebro ansioso porque ele havia falado aquilo. E como sempre, quando você diz não a uma criança, a primeira coisa que ela quer é fazer o contrário, não é? Eu realmente estava exausta e não queria ir porque não gostava tanto de festas desconhecidas, principalmente quando se trata de festas desconhecidas em São Paulo. Fechei o restaurante e fui para casa caminhando, do lado de fora as pessoas já começavam a chegar para fazer fila, a abertura era às dez da noite. Estavam chegando meia hora antes para a abertura do lugar. Eu estava apostando que no dia seguinte só ia ter fofoca de tudo que aconteceu lá dentro. Quando cheguei em casa avisei a minha mãe como sempre e subi para o meu quarto. Tirei toda a minha roupa e fui para um banho refrescante. Quando terminei meu celular estava vibrando adoidado em cima da cama. Peguei e atendi.

— Tá fazendo o que? — Era a Mari.

— Você já sabe. — Bufei. — Acabei de chegar em casa, acabei de tomar banho. Que foi?

— Vamos para a Meyer Haus. — Ela disse decidida. Eu conseguia ouvir o barulho do Mario e da Sol no fundo rindo e me chamando.

— Se foi uma pergunta a resposta é não. — Dei de ombros agora catando uma roupa qualquer no guarda roupa.

— Não foi uma pergunta. Já estamos a caminho da sua casa. — Ela falou alto. Tive que afastar o celular do ouvido. Pelo visto já estavam bebendo.

— Não. — Falei decidida.

— Sim. — Sol pegou o celular da mão dela. — Estamos chegando ai, se arrume logo.

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela desligou. Deixando-me estática com o celular na mão. Eu realmente estava exausta, mas me lembrei do Meyer me dizendo que aquele lugar não era pra mim. De repente eu estava me arrumando. Coloquei uma short cintura alta de couro sintético, um cropped de couro sintético e um coturno salto baixo preto. Nos olhos fiz um delineado baixinho, passei um rímel e nos lábios um batom vinho – meu predileto para arrasar! Peguei minha bolsinha de lado e coloquei meus documentos e minha chave de casa para não me esquecer dessa vez, meu fone e pegando meu celular, saí do quarto.

— Mãe, vou sair. — Falei ao avistá-la na cozinha.

— Para onde menina? — Minha mãe me encarou. — Vestida para matar desse jeito.

— Vou sair com a Mari, a Sol e o Mario. Estou levando meu celular. Qualquer coisa só ligar.

— Pegou o documento? — Minha mãe disse.

— Peguei. — Assenti ouvindo a batida na porta.

— Tá bom filha, vá com Deus. — Minha mãe veio até mim e me deu um beijo na testa.

— Benção? Te amo. — Falei retribuindo o beijo.

— Deus te abençoe. Não vou te levar até a porta porque estou de camisola. — Ela falou sorrindo.

Assenti e saí de casa encontrando meus amigos ao lado de fora. Eles não estavam de carro até porque eram dez minutos até lá. Fomos o caminho todo na gaiofada.

— Eu queria entender porque você está vestida desse jeito quando nem sequer queria ir. — Mari falou me encarando de cima baixo.

— Pois é né, muito estranho, muito estranho! — A Sol falou com um sorrisinho maléfico.

Mario não falou nada apenas concordou com as meninas com um sinal de cabeça. Fomos rindo até lá. Quando chegamos na frente do Meyer Haus a fila estava enorme, mesmo já sendo dez e meia da noite. Eu estava impaciente porque provavelmente não teríamos como entrar já que acabaria superlotando o lugar.

— Eu acho que seria melhor irmos para outro lugar, um barzinho mais tranqüilo. — Falei agora deixando meu desafio de lado.

— Que nada! Eu quero entrar. — Sol falou impaciente. — Esperei desde o dia que soube que seria uma casa noturna. Estou ansiosa pra ver como está lá dentro!

— Aff eu também. Me arrumei toda pra esse lugar, não estou digna de um barzinho. — Mari falou bufando. E ela realmente estava uma piriluxo.

— Estou começando a concordar com a Jass... — Mario deu de ombros. — Obviamente não vai entrar todo mundo, olha o tamanho dessa fila. Era pra termos vindo mais cedo, podemos vir outro dia.

— É gente! — Falei agora me convencendo de que ficar ali não era tão legal, eu detesto pegar filas para ficar em lugares superlotados com musica alta. Nem valeria tão a pena assim! Embora eu soubesse que só estava ali de verdade porque o Meyer falou para eu não estar.

— Vamos esperar só mais dez minutos, se realmente não acontecer um milagre e liberarem todo mundo, nós vamos. — Sol falou convencida. Cabeça dura.

— Dez minutos e nada mais. — Mario falou cruzando os braços, tão impaciente quanto eu.

Peguei meu celular e abri a aba i*******m.

— Vamos fazer uma foto. — Falei chamando atenção do grupo.

Tiramos uma selfie e postei nos stories marcando o lugar que estávamos com caras de tristes. Se passaram cinco minutos comigo rolando a aba do i*******m no feed do Meyer. Sim, o perfil dele havia aparecido pra mim, não que eu tivesse procurado. Na verdade eu procurei pelo Meyer Haus e o perfil oficial dele apareceu numa marcação da casa noturna, então eu só estava olhando suas fotos, não havia o seguido nem nada. Isso não quer dizer nada, eu não estava estalkiando ele, apenas observando. Ele tinha fotos muito reservadas em seu i*******m. Como na inauguração das casas noturnas, fotos com seus pais, fotos na praia. Em todas estava lindo! Eu estava focada em suas fotos quando houve uma movimentação do lado de fora. Ele saiu rodeado por quatro seguranças e parou na ponta da calçada. Um carro preto luxuoso parou a sua frente e um dos seus seguranças abriu a porta. As pessoas comentavam e de onde eu estava podia ouvir os burburinhos, as mulheres não se agüentavam e todos questionavam se ele era o dono do lugar. Antes que ele entrasse no carro seu olhar encontrou o meu entre os seguranças que o cercavam.

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