Eram nove da noite quando começamos a fechar o restaurante. Eu fiquei para fechar tudo e quando estava jogando o lixo no tonel dos fundos vi a movimentação da casa noturna ao lado. Ele estava em pé ao lado de fora, apoiado na porta com um terno importado de luxo com um cigarro na mão direita e um copo de uísque na mão esquerda. Estava sozinho. A cabeça encostada na parede virada para a lua, olhos fechados... Ele respirava fundo, respiração pesada. Sem me notar ele deu uma tragada em seu cigarro, e abriu a boca soltando a fumaça logo em seguida. Ele estava extremamente sexy naquela posição. Por um momento eu me perguntei se aquilo era uma miragem e desejei estar com minha câmera. Mas sentindo que estava sendo observado ele abriu os olhos e me encarou. Eu me virei no reflexo e continuei jogando meu lixo fora. Notei quando ele se aproximou e encostou-se à parede ao lado do tonel me encarando descaradamente agora enquanto continuava bebendo do seu uísque e fumando do seu cigarro. Eu parei e o encarei por alguns segundos arqueando uma das sobrancelhas.
— Quer me dizer alguma coisa? — Coloquei uma das mãos na cintura automaticamente. Ele me encarou de cima abaixo fazendo com que uma corrente elétrica de alta densidade passe pelo meu corpo. Olhou para a porta dele e voltou a me encarar.
— Você vem? — Ele perguntou depois de mais uma baforada em seu cigarro.
— Para onde? — Perguntei desconcertada com a cena á minha frente.
— Inauguração do Meyer Haus. — Ele disse depois de um gole em seu Uísque.
— Não. — Falei dando de ombros e terminando de jogar o último saco de lixo. Aquela noite não havia comida para os animais da redondeza porque eu havia colocado mais cedo.
— Por quê? — Ele me encarou mais intensamente agora.
— Estou exausta. — Falei passando a mão no cabelo. Eu não poderia estar mais descabelada.
— Entendi. — Ele assentiu, desviou o olhar para o chão mordendo o lábio inferior. — Ok. — Me encarou de volta e ajeitou a postura. — Não acho que esse seja um lugar para você. — Ele falou já se virando para ir embora.
— Como? — Perguntei o fazendo se virar novamente.
— Não acho que esse seja um lugar para você. — Ele me encarou desviando o olhar.
— Desde quando você sabe quais são os lugares adequados para mim? — O encarei estreitando os olhos.
— Quando eu sou o dono do lugar, sei qual o meu tipo de publico e observo bem as pessoas que conheço. Não estou falando para o seu mal, muito pelo contrario. — Ele deu mais uma tragada em seu cigarro.
— Entendi. Então o Meyer Haus não é um lugar pra mim. Por que? — Perguntei.
Ele me encarou como se fosse falar alguma coisa, pensou e repensou, bebeu um pouco mais de seu uísque e respirou fundo.
— Só não é. — Ele suspirou. — A gente se vê por ai, Jasmim.
— Hum. — Respondi sem abrir a boca. Quem ele pensava que era para decidir os lugares que eu deveria freqüentar? Que tipo de merda tinha nessa casa noturna que eu não poderia estar lá? Que eu não deveria estar lá?
Me virei revoltada e entrei no restaurante, fechei tudo ainda maquinando com meu cérebro ansioso porque ele havia falado aquilo. E como sempre, quando você diz não a uma criança, a primeira coisa que ela quer é fazer o contrário, não é? Eu realmente estava exausta e não queria ir porque não gostava tanto de festas desconhecidas, principalmente quando se trata de festas desconhecidas em São Paulo. Fechei o restaurante e fui para casa caminhando, do lado de fora as pessoas já começavam a chegar para fazer fila, a abertura era às dez da noite. Estavam chegando meia hora antes para a abertura do lugar. Eu estava apostando que no dia seguinte só ia ter fofoca de tudo que aconteceu lá dentro. Quando cheguei em casa avisei a minha mãe como sempre e subi para o meu quarto. Tirei toda a minha roupa e fui para um banho refrescante. Quando terminei meu celular estava vibrando adoidado em cima da cama. Peguei e atendi.
— Tá fazendo o que? — Era a Mari.
— Você já sabe. — Bufei. — Acabei de chegar em casa, acabei de tomar banho. Que foi?
— Vamos para a Meyer Haus. — Ela disse decidida. Eu conseguia ouvir o barulho do Mario e da Sol no fundo rindo e me chamando.
— Se foi uma pergunta a resposta é não. — Dei de ombros agora catando uma roupa qualquer no guarda roupa.
— Não foi uma pergunta. Já estamos a caminho da sua casa. — Ela falou alto. Tive que afastar o celular do ouvido. Pelo visto já estavam bebendo.
— Não. — Falei decidida.
— Sim. — Sol pegou o celular da mão dela. — Estamos chegando ai, se arrume logo.
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela desligou. Deixando-me estática com o celular na mão. Eu realmente estava exausta, mas me lembrei do Meyer me dizendo que aquele lugar não era pra mim. De repente eu estava me arrumando. Coloquei uma short cintura alta de couro sintético, um cropped de couro sintético e um coturno salto baixo preto. Nos olhos fiz um delineado baixinho, passei um rímel e nos lábios um batom vinho – meu predileto para arrasar! Peguei minha bolsinha de lado e coloquei meus documentos e minha chave de casa para não me esquecer dessa vez, meu fone e pegando meu celular, saí do quarto.
— Mãe, vou sair. — Falei ao avistá-la na cozinha.
— Para onde menina? — Minha mãe me encarou. — Vestida para matar desse jeito.
— Vou sair com a Mari, a Sol e o Mario. Estou levando meu celular. Qualquer coisa só ligar.
— Pegou o documento? — Minha mãe disse.
— Peguei. — Assenti ouvindo a batida na porta.
— Tá bom filha, vá com Deus. — Minha mãe veio até mim e me deu um beijo na testa.
— Benção? Te amo. — Falei retribuindo o beijo.
— Deus te abençoe. Não vou te levar até a porta porque estou de camisola. — Ela falou sorrindo.
Assenti e saí de casa encontrando meus amigos ao lado de fora. Eles não estavam de carro até porque eram dez minutos até lá. Fomos o caminho todo na gaiofada.
— Eu queria entender porque você está vestida desse jeito quando nem sequer queria ir. — Mari falou me encarando de cima baixo.
— Pois é né, muito estranho, muito estranho! — A Sol falou com um sorrisinho maléfico.
Mario não falou nada apenas concordou com as meninas com um sinal de cabeça. Fomos rindo até lá. Quando chegamos na frente do Meyer Haus a fila estava enorme, mesmo já sendo dez e meia da noite. Eu estava impaciente porque provavelmente não teríamos como entrar já que acabaria superlotando o lugar.
— Eu acho que seria melhor irmos para outro lugar, um barzinho mais tranqüilo. — Falei agora deixando meu desafio de lado.
— Que nada! Eu quero entrar. — Sol falou impaciente. — Esperei desde o dia que soube que seria uma casa noturna. Estou ansiosa pra ver como está lá dentro!
— Aff eu também. Me arrumei toda pra esse lugar, não estou digna de um barzinho. — Mari falou bufando. E ela realmente estava uma piriluxo.
— Estou começando a concordar com a Jass... — Mario deu de ombros. — Obviamente não vai entrar todo mundo, olha o tamanho dessa fila. Era pra termos vindo mais cedo, podemos vir outro dia.
— É gente! — Falei agora me convencendo de que ficar ali não era tão legal, eu detesto pegar filas para ficar em lugares superlotados com musica alta. Nem valeria tão a pena assim! Embora eu soubesse que só estava ali de verdade porque o Meyer falou para eu não estar.
— Vamos esperar só mais dez minutos, se realmente não acontecer um milagre e liberarem todo mundo, nós vamos. — Sol falou convencida. Cabeça dura.
— Dez minutos e nada mais. — Mario falou cruzando os braços, tão impaciente quanto eu.
Peguei meu celular e abri a aba i*******m.
— Vamos fazer uma foto. — Falei chamando atenção do grupo.
Tiramos uma selfie e postei nos stories marcando o lugar que estávamos com caras de tristes. Se passaram cinco minutos comigo rolando a aba do i*******m no feed do Meyer. Sim, o perfil dele havia aparecido pra mim, não que eu tivesse procurado. Na verdade eu procurei pelo Meyer Haus e o perfil oficial dele apareceu numa marcação da casa noturna, então eu só estava olhando suas fotos, não havia o seguido nem nada. Isso não quer dizer nada, eu não estava estalkiando ele, apenas observando. Ele tinha fotos muito reservadas em seu i*******m. Como na inauguração das casas noturnas, fotos com seus pais, fotos na praia. Em todas estava lindo! Eu estava focada em suas fotos quando houve uma movimentação do lado de fora. Ele saiu rodeado por quatro seguranças e parou na ponta da calçada. Um carro preto luxuoso parou a sua frente e um dos seus seguranças abriu a porta. As pessoas comentavam e de onde eu estava podia ouvir os burburinhos, as mulheres não se agüentavam e todos questionavam se ele era o dono do lugar. Antes que ele entrasse no carro seu olhar encontrou o meu entre os seguranças que o cercavam.
Não dava para ver, mas ele falou alguma coisa, se afastou do carro e andou em minha direção. Meu coração pareceu parar, como sempre que ele estava por perto. Não era possível. O que ele estava fazendo? Um dos seguranças ficou ao lado do carro, enquanto três de seus seguranças o seguiu. Ele estava igualmente impecável como mais cedo. Ele chegou a uma distância considerável a quatro passos e eu pude sentir o rosto dos meus amigos queimando em cima de mim pela fofoca.— O que faz aqui? — Ele balançou a cabeça como se não acreditasse e colocou as mãos no bolso. Eu queria me enfiar num buraco, ou embaixo de suas roupas.— Esperando na fila como todo mundo para conhecer a nova casa noturna. — Cruzei os braços e levantei o queixo. Ele estava se achando demais.— Eu lhe avisei mais cedo. — Ele desviou o olhar ignorando os olhares próximos sobre nós.— Não houve resposta concreta. Então eu vim tirar minhas próprias conclusões. — Dei de ombros.Ele bufou, passou as mãos pelos cabelos e me encar
O tempo passou sem que percebêssemos, e logo a casa noturna animou mais quando começou a tocar musicas brasileiras mixadas como DJ Pedro Sampaio! Era uma da manhã quando começou a tocar aquecimento do Pedro Sampaio. Eu não gosto do funk, mas alguns me deixam animadíssima principalmente quando tem álcool no meio. Tudo no ambiente era voltado para lhe fazer extasiar. As batidas pensadas para bombear em seu corpo. Eu amei aquele lugar com todas as minhas forças, e pela primeira vez eu dancei numa festa com minhas amigas me sentindo completamente segura e sem receio do assedio, porque eu sabia que nenhum cara seria capaz de encarar a cara do segurança de escolta no lounge. Sem falar que o Meyer estava de olho e o fato de eu ter entrado com o dono, estar no lounge dele, eu sabia que era dele porque tinha o nome MEYER estampado, acredito que fazia os caras nem pensarem em encostar. Eu perdi as contas do quanto rebolei e me requebrei até não senti mais meus pés sobre as botas. Às três da man
— Ok. — Falei assentindo. —Vou indo então. — Suspirei.— Ok. A gente se vê por ai, Jasmim. — Ele falou colocando as mãos no bolso.— Puta que pariu. — Falei sentindo meu corpo formigar ao ouvi-lo falar meu nome.— Que? — Ele me encarou. Não sabia se sua expressão era confusa ou divertida.— Quando você fala meu nome. — Suspirei. — Você não tem idéia da puta sensação que me causa, Meyer. — Eu nem percebi que estava falando aquilo em voz alta.— Ah é? — Ele estreitou ainda mais os olhos.— Puta merda. — Falei agora passando a mão nos cabelos que haviam se soltado desde o inicio da trajetória, eu deveria estar parecendo uma leoa. — Boa noite. — Fiz uma careta.— Boa noite, Jasmim. — Ele sorriu enfatizando a última frase.Eu me aproximei automaticamente, foi como um imã me atraindo. Nossos rostos ficaram próximos demais, seus lábios a centímetros do meu.— Não se provoca uma garota bêbada, Meyer. — Enfatizei seu nome.— Por quê? — Ele sussurrou encarando meus lábios. Eu podia sentir o des
JASMIM— Bom dia, mãe. — Falei com uma dor de cabeça insuportável ao chegar à cozinha.— Bom dia. Sua cara está maravilhosa. — Ela disse escondendo um sorriso.— Está. — Eu ri.— Chegou que horas? — Ela perguntou enquanto coava o café.— Cinco. — Revirei os olhos me sentando-se à mesa e fungando.— Durma um pouco mais, eu seguro as pontas no restaurante. — Ela falou agora passando manteiga em algumas torradas.— Não vai ser possível porque eu dei folga aos nossos funcionários e terei que trabalhar por três. — Falei ao lembrar-me da mensagem que enviei para mim mesma antes de dormir e vi a poucos estantes. Uma forma de lembrar-se das minhas ações mais importantes quando estou bêbada.— Como? — Minha mãe parou e me encarar.— Cinco da manhã, mãe. Todos nós saímos às cinco. Sei que foi irresponsabilidade e que como funcionários, deveríamos termos saído mais cedo. Culpa minha. Não vai acontecer novamente. Mas provavelmente eles chegaram as seis em casa, não dormiriam em duas horas. Não qu
Finalmente as aulas da minha faculdade começaram e como eu já imaginava, minha vida social foi completamente extinta. Eu estava apaixonada por cada pedacinho do meu novo universo. Duas semanas depois minha rotina se resumia há:Trabalhar no restaurante das oito às cinco da tarde.Ir para a faculdade as seis e só chegar em casa as onze.Aos finais de semana eu fazia todas as tarefas que tinha da faculdade.E eu sei que vocês estão se perguntando sobre o Meyer, eu não tinha tempo para vê-lo, senti que ele se fechou depois do dia em que nos beijamos no beco. Não sei porquê, trocávamos olhares algumas vezes e nada mais. Não posso dizer que entendo, agora ele estava realmente sempre muito ocupado. Eu não sei se ele só estava realmente afim de uma diversão e pronto, mas não me importava. Não vou dizer que não penso no seu beijo e não sinto vontade de ter seus lábios nos meus novamente, ultimamente não são só os lábios, mas preciso realmente focar nos meus sonhos. Agora ele está sempre com o
MEYERDurante três semanas eu me preocupei em ocupar minha cabeça com os negócios, eu não parava de pensar nela desde a última vez em que nos beijamos. Mas eu estava sendo sincero quando disse que não podia, eu não podia dar voz a esse sentimento e colocar tudo que vínhamos conquistando a perder. Eu não podia ter ponto fraco, e soube que ela seria o meu desde a primeira vez em que nos beijamos. Não posso. Não é o correto a se fazer em meu mundo! Ela não aceitaria me conhecer, ela não ficaria do meu lado sabendo de tudo. Então logo me obriguei a se afastar, a me ocupar com as apresentações finais aos consumidores. Nossa inauguração havia sido um sucesso e pelo tempo de três semanas fechei com as maiores casas noturnas em São Paulo para que meu produto fosse distribuído, fechei com grandes empresários. A Meyer Haus não era para pequenos traficantes, não era para pequenos donos de morros. A Meyer Haus era para grandes empresários, era para quem estava no topo e comandava os pequenos dono
Por um momento esqueci que ele estava naquela casa, o pai dele havia se ajuntado a nós na conversa e ele parecia ser legal, embora seu olhar demonstrasse um homem de negócios ambicioso. Eu podia ver o Meyer ali. O homem que só era capaz de sorrir para uma mulher em sua vida. O homem que tinha muralhas por dentro, que era feito de aço, menos quando estava ao lado de sua esposa. Peguei-me pensando se um dia eu poderia ser essa mulher para o Meyer. Afastei os pensamentos quando senti vontade de ir ao banheiro.— Poderia me dizer onde fica o banheiro? — Falei próxima a dona Giovanna.— No andar de cima querida, segunda porta. — Ela falou apontando.Eu sabia onde ficava muito bem, mas não iria a deixar saber que eu freqüentava a sua casa quando ela não morava aqui. Levantei-me e segui escadaria acima. Fui ao banheiro, e terminando lavei meu rosto para expulsar um pouco a tontura causada pelo vinho em excesso. Já estava na hora de ir pra casa e arrastar minha mãe junto. Olhei no relógio do
— Achei que era Meyer. — Estreitei os olhos.— Ary Meyer. — Ele falou. — Meyer é meu sobrenome. Em nossa família, não falamos nossos nomes. Quando crescemos e assumimos nossas responsabilidades, somos chamados pelos nossos sobrenomes, isso nos identifica como homens de uma família de poder. Além dos meus pais, ninguém sabe qual o meu nome. E agora você. — Ele suspirou.—Ary... — Sussurrei. Sabendo que ele havia compartilhado algo intimo demais. Olhei em seus olhos, ali já não havia a escuridão que ele costumava levar consigo. — Eu gosto desse nome. Obrigada. — Sorri.— Não me chame assim na frente dos meus familiares. É um segredo nosso. — Ele sorriu.— Ok. — Assenti. Abri a caixinha pequena e marrom em minhas mãos. Dentro havia um broche do exercito militar brasileiro em bronze, mas no topo desse broche havia uma flor de jasmim desenhada como se fizesse parte daquele brasão em cor dourada. — Eu recebi esse broche quando meu pai faleceu, era o broche que ele usava na boina e foi adapt