Não dava para ver, mas ele falou alguma coisa, se afastou do carro e andou em minha direção. Meu coração pareceu parar, como sempre que ele estava por perto. Não era possível. O que ele estava fazendo? Um dos seguranças ficou ao lado do carro, enquanto três de seus seguranças o seguiu. Ele estava igualmente impecável como mais cedo. Ele chegou a uma distância considerável a quatro passos e eu pude sentir o rosto dos meus amigos queimando em cima de mim pela fofoca.
— O que faz aqui? — Ele balançou a cabeça como se não acreditasse e colocou as mãos no bolso. Eu queria me enfiar num buraco, ou embaixo de suas roupas.
— Esperando na fila como todo mundo para conhecer a nova casa noturna. — Cruzei os braços e levantei o queixo. Ele estava se achando demais.
— Eu lhe avisei mais cedo. — Ele desviou o olhar ignorando os olhares próximos sobre nós.
— Não houve resposta concreta. Então eu vim tirar minhas próprias conclusões. — Dei de ombros.
Ele bufou, passou as mãos pelos cabelos e me encarou arqueando uma das sobrancelhas. Eu senti seus olhos azuis queimarem sobre mim numa rápida olhada de cima a baixo. Suspirou.
— Hartnäckig! — Ele resmungou.
Antes que eu falasse alguma coisa ele pegou em minha mão.
— O que está fazendo? — Falei estancando no lugar. Ele se voltou para mim novamente agora ficando bem próximo do meu rosto.
— Te colocando lá dentro. Olha o tamanho dessa fila. — Ele revirou os olhos e encarou os meus lábios por alguns segundos.
— Não vou a lugar nenhum sem meus amigos. — Falei tentando não queimar com a quentura da mão dele sobre a minha e seu corpo próximo ao meu.
— Quais deles são seus amigos? — Ele perguntou sem tirar os olhos de mim.
Virei-me e gesticulei para os três se aproximarem.
— Ok. — Ele assentiu, se virou e me guiou ainda segurando minha mão até a entrada da casa noturna. Virei-me para certificar de que meus amigos me seguiam.
Ele falou alguma coisa no ouvido de um dos seguranças ainda segurando minha mão. Não entendi uma só palavra. Encarei Mari logo atrás de mim que estava com um sorrisinho escondido, desviei o olhar sabendo que a fanfic já estava pronta na cabeça dela. Ele parou, me encarou e se aproximou deixando seus lábios próximos ao meu ouvido.
— Não beba nada além do que o segurança lhe permitir. Não aceite nada além do que ele lhe der. — Ele falou apontando para o segurança que outrora havia se comunicado.
Antes que eu pudesse perguntar o motivo ele soltou minha mão e se retirou, olhei para trás o procurando, mas logo dois seguranças se formaram atrás dele. Vi quando entrou no carro, o segurança que estava a nossa frente pegou meu braço gentilmente fazendo sinal para que eu o seguisse. Passamos pela porta de entrada e ao lado de dentro eu fiquei estupefata com o que vi. Era tudo do mais puro luxo, não era como nenhuma casa noturna que eu já tivesse visto em São Paulo. Todo o teto era revestido por luzes de varias cores, fumaças saiam de alguns lugares e as pessoas dançavam no centro do lugar e não dava para ver muita coisa. O segurança me guiou até um lounge que ficava num canto esquerdo. Pude ver que era o único lounge que tinha no lugar. O mesmo continha um sofá acolchoado de três lugares, uma mesinha de centro e no canto uma porta. E o nome Meyer estava estampado na parede.
— Suba. — O segurança falou ao meu ouvido. Apontando para os degraus que dava para o lounge.
Eu subi e meus amigos me seguiram. Dali dava para ver um pouco mais além das pessoas. Havia o palco com um DJ tocando e um bar, também tinha um corredor que deveria dar para os banheiros. Estava rolando musica eletrônica. Eu estava boquiaberta com tudo ao meu redor. O lugar era incrível! Meus amigos se aproximaram animados.
— O que eu perdi? — Mari falou ao meu ouvido.
Eu dei de ombros ignorando. O segurança se colocou na ponta do lounge como se estivesse fazendo nossa segurança. Quando um barman passou, ele o chamou e falou algo em seu ouvido, logo o barman voltou com algumas garrafas e taças e colocou sobre a mesa.
— Para vocês. — O Segurança veio e falou ao meu ouvido.
— Obrigada. — Falei tentando soar mais alto que o som.
Ele assentiu e voltou para o posto de escolta. Logo eu comecei a dançar com meus amigos e a me divertir, eu não entendi o porquê dele ter me colocado no lounge, mas o obedeci automaticamente e não desci dali. Uma hora depois meus olhos o encontraram passando pela porta, um segurança a sua frente e outro atrás. Ele olhou diretamente para o lounge e pude ver seu alivio quando me encontrou ali aonde ele tinha me colocado. Eu não entendia o porquê, qual a sua preocupação visto que aquilo parecia uma festa normal. Embora eu notasse a exaltação dos demais e algumas movimentações no bar na parte da frente. Ele veio em minha direção, suas mãos dentro dos bolsos, sua expressão fechada. Ele subiu foi até o segurança e falou algo, depois voltou passando por meus amigos e se apoiando no canto do lounge perto da porta. Gesticulou com a cabeça para que eu me aproximasse. Sem controle do meu corpo, eu já estava perto dele em questão de segundos.
— Está se divertindo? — Ele falou agora colocando a mão sobre minha cintura para que eu chegasse mais perto e ele pudesse falar em meu ouvido.
— Sim, obrigada. — Respondi me sentindo quente com aquele toque.
Ele me encarou e assentiu.
— E seus amigos? — Ele perguntou novamente em meu ouvido.
— Também. — Respondi com um sorriso ao encarar meus amigos dançando feitos loucos.
Ele assentiu com seu sorriso quase imperceptível de sempre, encarou o horário, suspirou e me encarou de volta.
— Não desça daqui. — Ele falou em meu ouvido. Sua voz rouca e autoritária me fez estremecer. Eu assenti.
Ele retirou a mão de minha cintura, encarou meus lábios por alguns segundos e então sumiu pela porta ao nosso lado. Eu voltei para onde meus amigos estavam com as pernas bambas por aquele toque. Não sabia se era a bebida ou a sensação de estar tão próxima dele ou de ser mandada por ele. Encarei o andar acima de mim sentindo que aquela porta dava para lá e estava certa. Acima de nossas cabeças ele conversava com outro homem, vi quando ele fez um gesto para o segurança da parte debaixo e o segurança se retirou. De repente como num blackout a musica parou e tudo escureceu, as luzes coloridas se apagaram. E num flash apenas a luz central branca voltou a se acender, segundos depois fumaça branca neblinou todo o ambiente fora do lounge, as pessoas começaram a urrar em comemoração. Tudo pareceu muito louco, mas era como se as pessoas se animassem cada vez mais. Garçons começaram a passar com copos de bebidas por todo o salão. As pessoas pareciam estar mergulhadas em uma vibe só delas. Uma batida de uma musica eletrônica começou a tocar novamente e todos começaram a pular enlouquecidos. Achei estranho de começo a forma como as pessoas agiam, de repente tinha pessoas se pegando pelos cantos, outras dançando loucamente, outras como se estivessem completamente chapadas. Logo deixei as neuras de lado e continuei dançando com meus amigos, de vez em quando eu podia vê-lo apoiado lá de cima encarando o movimento, mas seus olhos sempre buscavam por mim e isso me fazia se sentir segura de alguma forma. Era como se ele estivesse me protegendo.
O tempo passou sem que percebêssemos, e logo a casa noturna animou mais quando começou a tocar musicas brasileiras mixadas como DJ Pedro Sampaio! Era uma da manhã quando começou a tocar aquecimento do Pedro Sampaio. Eu não gosto do funk, mas alguns me deixam animadíssima principalmente quando tem álcool no meio. Tudo no ambiente era voltado para lhe fazer extasiar. As batidas pensadas para bombear em seu corpo. Eu amei aquele lugar com todas as minhas forças, e pela primeira vez eu dancei numa festa com minhas amigas me sentindo completamente segura e sem receio do assedio, porque eu sabia que nenhum cara seria capaz de encarar a cara do segurança de escolta no lounge. Sem falar que o Meyer estava de olho e o fato de eu ter entrado com o dono, estar no lounge dele, eu sabia que era dele porque tinha o nome MEYER estampado, acredito que fazia os caras nem pensarem em encostar. Eu perdi as contas do quanto rebolei e me requebrei até não senti mais meus pés sobre as botas. Às três da man
— Ok. — Falei assentindo. —Vou indo então. — Suspirei.— Ok. A gente se vê por ai, Jasmim. — Ele falou colocando as mãos no bolso.— Puta que pariu. — Falei sentindo meu corpo formigar ao ouvi-lo falar meu nome.— Que? — Ele me encarou. Não sabia se sua expressão era confusa ou divertida.— Quando você fala meu nome. — Suspirei. — Você não tem idéia da puta sensação que me causa, Meyer. — Eu nem percebi que estava falando aquilo em voz alta.— Ah é? — Ele estreitou ainda mais os olhos.— Puta merda. — Falei agora passando a mão nos cabelos que haviam se soltado desde o inicio da trajetória, eu deveria estar parecendo uma leoa. — Boa noite. — Fiz uma careta.— Boa noite, Jasmim. — Ele sorriu enfatizando a última frase.Eu me aproximei automaticamente, foi como um imã me atraindo. Nossos rostos ficaram próximos demais, seus lábios a centímetros do meu.— Não se provoca uma garota bêbada, Meyer. — Enfatizei seu nome.— Por quê? — Ele sussurrou encarando meus lábios. Eu podia sentir o des
JASMIM— Bom dia, mãe. — Falei com uma dor de cabeça insuportável ao chegar à cozinha.— Bom dia. Sua cara está maravilhosa. — Ela disse escondendo um sorriso.— Está. — Eu ri.— Chegou que horas? — Ela perguntou enquanto coava o café.— Cinco. — Revirei os olhos me sentando-se à mesa e fungando.— Durma um pouco mais, eu seguro as pontas no restaurante. — Ela falou agora passando manteiga em algumas torradas.— Não vai ser possível porque eu dei folga aos nossos funcionários e terei que trabalhar por três. — Falei ao lembrar-me da mensagem que enviei para mim mesma antes de dormir e vi a poucos estantes. Uma forma de lembrar-se das minhas ações mais importantes quando estou bêbada.— Como? — Minha mãe parou e me encarar.— Cinco da manhã, mãe. Todos nós saímos às cinco. Sei que foi irresponsabilidade e que como funcionários, deveríamos termos saído mais cedo. Culpa minha. Não vai acontecer novamente. Mas provavelmente eles chegaram as seis em casa, não dormiriam em duas horas. Não qu
Finalmente as aulas da minha faculdade começaram e como eu já imaginava, minha vida social foi completamente extinta. Eu estava apaixonada por cada pedacinho do meu novo universo. Duas semanas depois minha rotina se resumia há:Trabalhar no restaurante das oito às cinco da tarde.Ir para a faculdade as seis e só chegar em casa as onze.Aos finais de semana eu fazia todas as tarefas que tinha da faculdade.E eu sei que vocês estão se perguntando sobre o Meyer, eu não tinha tempo para vê-lo, senti que ele se fechou depois do dia em que nos beijamos no beco. Não sei porquê, trocávamos olhares algumas vezes e nada mais. Não posso dizer que entendo, agora ele estava realmente sempre muito ocupado. Eu não sei se ele só estava realmente afim de uma diversão e pronto, mas não me importava. Não vou dizer que não penso no seu beijo e não sinto vontade de ter seus lábios nos meus novamente, ultimamente não são só os lábios, mas preciso realmente focar nos meus sonhos. Agora ele está sempre com o
MEYERDurante três semanas eu me preocupei em ocupar minha cabeça com os negócios, eu não parava de pensar nela desde a última vez em que nos beijamos. Mas eu estava sendo sincero quando disse que não podia, eu não podia dar voz a esse sentimento e colocar tudo que vínhamos conquistando a perder. Eu não podia ter ponto fraco, e soube que ela seria o meu desde a primeira vez em que nos beijamos. Não posso. Não é o correto a se fazer em meu mundo! Ela não aceitaria me conhecer, ela não ficaria do meu lado sabendo de tudo. Então logo me obriguei a se afastar, a me ocupar com as apresentações finais aos consumidores. Nossa inauguração havia sido um sucesso e pelo tempo de três semanas fechei com as maiores casas noturnas em São Paulo para que meu produto fosse distribuído, fechei com grandes empresários. A Meyer Haus não era para pequenos traficantes, não era para pequenos donos de morros. A Meyer Haus era para grandes empresários, era para quem estava no topo e comandava os pequenos dono
Por um momento esqueci que ele estava naquela casa, o pai dele havia se ajuntado a nós na conversa e ele parecia ser legal, embora seu olhar demonstrasse um homem de negócios ambicioso. Eu podia ver o Meyer ali. O homem que só era capaz de sorrir para uma mulher em sua vida. O homem que tinha muralhas por dentro, que era feito de aço, menos quando estava ao lado de sua esposa. Peguei-me pensando se um dia eu poderia ser essa mulher para o Meyer. Afastei os pensamentos quando senti vontade de ir ao banheiro.— Poderia me dizer onde fica o banheiro? — Falei próxima a dona Giovanna.— No andar de cima querida, segunda porta. — Ela falou apontando.Eu sabia onde ficava muito bem, mas não iria a deixar saber que eu freqüentava a sua casa quando ela não morava aqui. Levantei-me e segui escadaria acima. Fui ao banheiro, e terminando lavei meu rosto para expulsar um pouco a tontura causada pelo vinho em excesso. Já estava na hora de ir pra casa e arrastar minha mãe junto. Olhei no relógio do
— Achei que era Meyer. — Estreitei os olhos.— Ary Meyer. — Ele falou. — Meyer é meu sobrenome. Em nossa família, não falamos nossos nomes. Quando crescemos e assumimos nossas responsabilidades, somos chamados pelos nossos sobrenomes, isso nos identifica como homens de uma família de poder. Além dos meus pais, ninguém sabe qual o meu nome. E agora você. — Ele suspirou.—Ary... — Sussurrei. Sabendo que ele havia compartilhado algo intimo demais. Olhei em seus olhos, ali já não havia a escuridão que ele costumava levar consigo. — Eu gosto desse nome. Obrigada. — Sorri.— Não me chame assim na frente dos meus familiares. É um segredo nosso. — Ele sorriu.— Ok. — Assenti. Abri a caixinha pequena e marrom em minhas mãos. Dentro havia um broche do exercito militar brasileiro em bronze, mas no topo desse broche havia uma flor de jasmim desenhada como se fizesse parte daquele brasão em cor dourada. — Eu recebi esse broche quando meu pai faleceu, era o broche que ele usava na boina e foi adapt
Ele se afastou com dificuldade, uma dificuldade visível, palpável. Eu conseguia ver seu esforço para não encarar minha boca. Isso me deixava mais desesperada de desejo do que eu já estava. Retornamos para dentro da casa em silêncio, minha cabeça maquinando quantos passos dava para o quarto dele e minha consciência moral me lembrando que minha mãe estava no andar de baixo. Seguimos silenciosos até a sala, quando cheguei apenas o Sr. Meyer e a dona Giovanna estavam sentados no sofá abraçados entre beijos. Ary pigarreou.— Desculpem... — Falei sem jeito. — Minha mãe...— Ah não, querida. — Giovanna sorriu agora me encarando. — Sua mãe já foi tem uns dez minutos.— Desculpe a demora... — Eu falei sem jeito.— Acabamos nos encontrando e eu a chamei para conversar no jardim. Visto que esta era uma conversa de velhos. — Ary falou tentando me cobrir.— Ah sem problemas. — Giovanna assentiu. — Não somos mais tão novos quanto vocês, mas velhos não somos.— Era uma conversa de jovens velhos. — O