JASMIM:
Acordei já eram quase meio dia com minha mãe batendo na porta do meu quarto.
— Hum... — Resmunguei colocando a cabeça debaixo do travesseiro. Eu estava com uma enxaqueca infeliz.
— Jasmim! — Minha mãe bateu mais uma vez.
— Hummm... — Respondi agora tirando o travesseiro e me virando de barriga pra cima.
— Posso entrar? — Ela perguntou do outro lado da porta.
— Pode mãe, pode. — Falei visivelmente de mal humor.
Ela entrou, sentou na cama com um sorrisinho e me encarou.
— Mãe... — Resmunguei.
— Você precisa levantar. — Minha mãe falou com um sorrisinho.
— Por quê? Hoje é domingo! — Falei colocando o travesseiro no rosto novamente.
— Por isso mesmo. Vamos almoçar com a Giovanna. — Ela falou agora tirando a almofada do meu rosto.
— NÃO. Não mesmo. — Abri os olhos e a encarei. Virei-me para o outro lado.
— Filha. — Minha mãe falou. Ela estava prestes a fazer cena e eu sabia disso. — Você vai fazer desfeita pra mulher que te carregou no colo? — Dona Marília, uma chantagista nata.
— Mãe, eu estou de ressaca. — Falei abrindo os olhos novamente com dificuldade e colocando a mão no rosto. — Pode ir.
— Não mesmo. Se você não for eu não vou. — Minha mãe falou cruzando os braços e fazendo biquinho. — Mas eu não saio pra almoçar na casa de uma amiga há tanto tempo.
— Isso mesmo mãe, sua amiga, vá e jogue conversa fora numa tarde de domingo. — Falei sorrindo e voltando a fechar os olhos.
— Mas você é minha melhor amiga, meu doce. Quero um programa de domingo com minhas duas amigas. — Minha mãe abriu um sorriso pra mim. Aff. Ela sabia qual era o meu ponto fraco.
— Mãe, o Meyer estará lá também. Sinta-se á vontade para fazer novos amigos. — Falei revirando os olhos.
— Ele não vai estar lá. Tem algo pra resolver hoje. Na casa noturna que estão abrindo lá ao lado do nosso restaurante. Meyer Haus acredita? — Ela falou agora animada.
— Mãe... — Bufei. — Estou de ressaca.
— Vamos meu amor, por favor... Você sabe que eu nunca te peço nada e sempre respeito suas ressacas. É aqui na frente, você pode almoçar e vir embora se quiser. — Ela deu de ombros agora tirando algumas mexas de cabelo do meu rosto.
Sentei-me na cama sabendo que ela tinha vencido aquela guerra. Realmente dona Marília nunca me pedia nada e ela quase nunca saía de casa para qualquer coisa que não fosse trabalho e rotina. Eu não a deixaria frustrada nisso e estava feliz que ela estivesse empolgada. E o Meyer não estaria lá então não me veria de ressaca. Dei de ombros.
— Tá, dona Marília, ta. — Bufei novamente.
— Adiante, o almoço é às uma da tarde e já é meio dia. — Ele se levantou empolgada e saiu quarto a fora.
Eu ri com aquela empolgação. Já falei que o sorriso de minha mãe é o mais lindo do mundo? Eu tinha um segundo em mente. NÃO. PUTA MERDA. NÃO MESMO JASMIM. Suspirei me levantando da cama, não sem antes imaginar o sorriso de um certo vizinho novo. Ás uma em ponto estávamos nós atravessando a rua para a casa da dona Giovanna. Minha mãe estava com uma travessa de salada de maionese e eu com um vinho. Tocamos a companhia e em menos de cinco minutos a dona Giovanna abriu a porta com um sorriso largo em seu rosto.
— Entrem, entrem. — Ela falou dando espaço para que pudéssemos entrar. — Você está lindíssima, Jasmim. — Ela falou me dando um beijo de cada lado do rosto e abraçando minha mãe. Eu havia colocado um vestido de alça branco com flores lilás, ele era rodadinho com cinco palmos acima do joelho e um decote em v, prendi meu cabelo em um coque e passei um batom nude. Como era aqui na frente coloquei apenas uma sandália mesmo.
A casa era finíssima, mas achei meio sem vida para alguém que está morando no Brasil. Logo quando entramos demos de cara com a sala, pintada em cor nude, quem pinta a sala de cor nude? A parede central era marrom com uma enorme TV pendurada, e um sofá espaçoso de frente para a TV, uma mesinha de vidro pairava no centro com algumas revistas, e no canto da sala havia uma enorme estante de vidro. Seguimos para a sala de jantar onde uma mesa de seis cadeiras jazia no centro, a sala de jantar era toda de vidro dando vista para a cozinha chique e o quintal dos fundos. O quintal dos fundos. Eu amava aquele quintal. O quintal tinha uma enorme quaresmeira em um dos seus cantos, e um lindo jardim forma uma cerca separando o quintal da outra casa. A grama é bem verdinha. Minha câmera pode afirmar!
Nos sentamos para almoçar com minha mãe e a Giovanna numa conversa completamente empolgada. O almoço servido foi feito pela mesma...
— Apresento a vocês o Kasespatzle. — Ela falou sorridente ao sentarmos a mesa. — No português claro macarrão rústico ao queijo com cebola crocante. E que vai casar muito bem com a sua maravilhosa salada de maionese.
— Ahhh que lindo! — Minha mãe falou encarando o prato.
— Isso porque você ainda não experimentou o sabor. — Ela falou empolgada. — Vamos nos servir, vocês já são da casa. — Ela riu.
— Verdade. — Minha mãe falou rindo. — Lembra quando a gente marcava esses almoços de domingo para não ficarmos sozinhas durante as viagens de Pedro e Heiko? — Minha mãe falou saudosa.
— Sim. Era acalentador! As vizinhas daqui... — Ela me encarou como se fosse fazer uma fofoca. — Eram todas bruxas. — As duas riram. — Não tínhamos aproximação com nenhuma, éramos só nós duas lidando com as fofoqueiras do bairro. Todas julgavam porque nossos maridos viviam viajando.
— Sim. Lembra da Zuleide? — Minha mãe falou retornando ao passado.
— Sim! Se mudou? — Giovanna falou após terminar de colocar o seu prato.
— Há anos. O marido foi embora com outra e ela se mudou por vergonha. Lembra que ela falava que o Pedro era homem de várias porque na profissão dele era uma mulher a cada esquina? —Minha mãe fez muxoxo.
— Pagou a língua. — Giovanna falou rindo.
Eu coloquei meu prato me deleitando com as duas adolescentes fofoqueiras a minha frente. Começaram a conversar sobre suas épocas como se estivessem me confidenciando suas vidas e rapidinho eu me senti satisfeita por ter ido. Almocei com direito a flashback de uma vida feliz que só conhecia como reflexo. Eu sabia muito de minha mãe, mas havia muito ali que eu também não sabia. Quando percebi que elas estavam num mundo só delas e eu já não existia mais, me retirei sorrateiramente indo para o quintal dos fundos. Coloquei meus fones de ouvido e me sentei um pouco na grama lembrando-se dos momentos em que eu podia fazer isso porque não havia ninguém ali. Eu estava admirando a quaresmeira quando ele se aproximou se sentando ao meu lado.
— Uma hora dessas, você realmente vai me matar de susto. — Falei retirando um dos fones. Ali estava o sorriso quase invisível. Sua expressão estava fechada, seus cabelos estavam molhados. Ou ele estava soado de algum exercício ou tinha acabado de tomar um banho. — Não sabia que estava em casa.
— Eu acabei de chegar. — Ele assentiu também olhando para a quaresmeira.
— Entendi. — O encarei de soslaio.
— Como foi o almoço? — Ele perguntou.
— Animado. — Falei fechando os olhos ao sentir uma enxaqueca terrível. Tinha que me lembrar de ir até a farmácia comprar um remédio pra dor.
— Você está bem? — Ele me encarou.
— Ressaca. — Falei voltando a abrir os olhos.
— Wie? — Ele perguntou. Eu arqueei uma das sobrancelhas o encarando. — Como... Como? Não sei o que é... — Ele explicou.
— Ah. É o pós bebedeira. — Expliquei. — Você bebe demais e parece que foi espancado no outro dia.
— Ah, entendi. Então você realmente estava bêbada. Ontem. — Ele disse assentindo mais para si mesmo.
— Você viu. — Desviei o olhar.
— Vi. — Ele riu. — Que bom que conseguiu entrar. — Um riso rouco e gostoso. CARAMBA.
— É. Eu esqueci as chaves no quarto. E detesto acordar minha mãe de madrugada.
— Entendi. — Ele assentiu. — Por que está aqui fora sozinha?
— Ham... Vai parecer meio criminoso... — Falei sorrindo. — Mas quando a casa estava vazia eu costumava vir para cá. Ficava aqui sentada admirando essa vista linda e tirando algumas fotos.
— Então você freqüentava esta casa? — Ele me encarou.
— É. Eu meio que abria a porta com um grampinho. — Confessei. — Como nunca morou ninguém aqui desde que me conheço por gente, imaginei que os donos tivessem morrido. Então eu costumava sonhar que essa casa era minha e fugia pra cá quando queria ficar sozinha. Esse quintal me acalma.
— wie heimlich... — Ele resmungou. Desisti de tentar entender. — Criminosa. — Ironizou.
— Completamente perigosa, Senhor Meyer. — Debochei.
— Mesmo? — Ele estreitou os olhos de encontro aos meus.
— Veja o que posso fazer com um simples grampo! Eu abro portas e invado propriedades. — Sussurrei. Ele riu. Meu ar. Meu ar foi embora.
— Bastante perigosa! — Ele disse desviando o olhar com um sorriso de canto. — Quando quiser se sentar neste jardim novamente é só bater na porta. — Ele falou.— Ah. Ok. Não se preocupe, não vou mais invadir sua propriedade. — Falei agora o olhando de soslaio com um sorriso de canto.— Eu também sou bastante perigoso, Senhora Jasmim... — Ele falou baixando o olhar por alguns segundos.— Ah é mesmo? — Falei fingindo estar pensativa. — Quais seus dotes?— Punir criminosas que invadem propriedades. Neste caso especifico, punir criminosas que invadem a minha propriedade. — Ele falou virando a cabeça e me encarando diretamente.— Uau. — Sussurrei arqueando uma das sobrancelhas por alguns segundos. Aquilo foi um golpe. — Que medo! — Falei num tom baixo, mas audível.Ele virou para o outro lado e riu voltando a me encarar.— Então você gosta de tirar fotos? — Perguntou aleatoriamente.— E você gosta de desenhar... — Não foi uma pergunta e sim uma afirmação.— Por que você acha isso? — Ele me
Eram nove da noite quando começamos a fechar o restaurante. Eu fiquei para fechar tudo e quando estava jogando o lixo no tonel dos fundos vi a movimentação da casa noturna ao lado. Ele estava em pé ao lado de fora, apoiado na porta com um terno importado de luxo com um cigarro na mão direita e um copo de uísque na mão esquerda. Estava sozinho. A cabeça encostada na parede virada para a lua, olhos fechados... Ele respirava fundo, respiração pesada. Sem me notar ele deu uma tragada em seu cigarro, e abriu a boca soltando a fumaça logo em seguida. Ele estava extremamente sexy naquela posição. Por um momento eu me perguntei se aquilo era uma miragem e desejei estar com minha câmera. Mas sentindo que estava sendo observado ele abriu os olhos e me encarou. Eu me virei no reflexo e continuei jogando meu lixo fora. Notei quando ele se aproximou e encostou-se à parede ao lado do tonel me encarando descaradamente agora enquanto continuava bebendo do seu uísque e fumando do seu cigarro. Eu parei
Não dava para ver, mas ele falou alguma coisa, se afastou do carro e andou em minha direção. Meu coração pareceu parar, como sempre que ele estava por perto. Não era possível. O que ele estava fazendo? Um dos seguranças ficou ao lado do carro, enquanto três de seus seguranças o seguiu. Ele estava igualmente impecável como mais cedo. Ele chegou a uma distância considerável a quatro passos e eu pude sentir o rosto dos meus amigos queimando em cima de mim pela fofoca.— O que faz aqui? — Ele balançou a cabeça como se não acreditasse e colocou as mãos no bolso. Eu queria me enfiar num buraco, ou embaixo de suas roupas.— Esperando na fila como todo mundo para conhecer a nova casa noturna. — Cruzei os braços e levantei o queixo. Ele estava se achando demais.— Eu lhe avisei mais cedo. — Ele desviou o olhar ignorando os olhares próximos sobre nós.— Não houve resposta concreta. Então eu vim tirar minhas próprias conclusões. — Dei de ombros.Ele bufou, passou as mãos pelos cabelos e me encar
O tempo passou sem que percebêssemos, e logo a casa noturna animou mais quando começou a tocar musicas brasileiras mixadas como DJ Pedro Sampaio! Era uma da manhã quando começou a tocar aquecimento do Pedro Sampaio. Eu não gosto do funk, mas alguns me deixam animadíssima principalmente quando tem álcool no meio. Tudo no ambiente era voltado para lhe fazer extasiar. As batidas pensadas para bombear em seu corpo. Eu amei aquele lugar com todas as minhas forças, e pela primeira vez eu dancei numa festa com minhas amigas me sentindo completamente segura e sem receio do assedio, porque eu sabia que nenhum cara seria capaz de encarar a cara do segurança de escolta no lounge. Sem falar que o Meyer estava de olho e o fato de eu ter entrado com o dono, estar no lounge dele, eu sabia que era dele porque tinha o nome MEYER estampado, acredito que fazia os caras nem pensarem em encostar. Eu perdi as contas do quanto rebolei e me requebrei até não senti mais meus pés sobre as botas. Às três da man
— Ok. — Falei assentindo. —Vou indo então. — Suspirei.— Ok. A gente se vê por ai, Jasmim. — Ele falou colocando as mãos no bolso.— Puta que pariu. — Falei sentindo meu corpo formigar ao ouvi-lo falar meu nome.— Que? — Ele me encarou. Não sabia se sua expressão era confusa ou divertida.— Quando você fala meu nome. — Suspirei. — Você não tem idéia da puta sensação que me causa, Meyer. — Eu nem percebi que estava falando aquilo em voz alta.— Ah é? — Ele estreitou ainda mais os olhos.— Puta merda. — Falei agora passando a mão nos cabelos que haviam se soltado desde o inicio da trajetória, eu deveria estar parecendo uma leoa. — Boa noite. — Fiz uma careta.— Boa noite, Jasmim. — Ele sorriu enfatizando a última frase.Eu me aproximei automaticamente, foi como um imã me atraindo. Nossos rostos ficaram próximos demais, seus lábios a centímetros do meu.— Não se provoca uma garota bêbada, Meyer. — Enfatizei seu nome.— Por quê? — Ele sussurrou encarando meus lábios. Eu podia sentir o des
JASMIM— Bom dia, mãe. — Falei com uma dor de cabeça insuportável ao chegar à cozinha.— Bom dia. Sua cara está maravilhosa. — Ela disse escondendo um sorriso.— Está. — Eu ri.— Chegou que horas? — Ela perguntou enquanto coava o café.— Cinco. — Revirei os olhos me sentando-se à mesa e fungando.— Durma um pouco mais, eu seguro as pontas no restaurante. — Ela falou agora passando manteiga em algumas torradas.— Não vai ser possível porque eu dei folga aos nossos funcionários e terei que trabalhar por três. — Falei ao lembrar-me da mensagem que enviei para mim mesma antes de dormir e vi a poucos estantes. Uma forma de lembrar-se das minhas ações mais importantes quando estou bêbada.— Como? — Minha mãe parou e me encarar.— Cinco da manhã, mãe. Todos nós saímos às cinco. Sei que foi irresponsabilidade e que como funcionários, deveríamos termos saído mais cedo. Culpa minha. Não vai acontecer novamente. Mas provavelmente eles chegaram as seis em casa, não dormiriam em duas horas. Não qu
Finalmente as aulas da minha faculdade começaram e como eu já imaginava, minha vida social foi completamente extinta. Eu estava apaixonada por cada pedacinho do meu novo universo. Duas semanas depois minha rotina se resumia há:Trabalhar no restaurante das oito às cinco da tarde.Ir para a faculdade as seis e só chegar em casa as onze.Aos finais de semana eu fazia todas as tarefas que tinha da faculdade.E eu sei que vocês estão se perguntando sobre o Meyer, eu não tinha tempo para vê-lo, senti que ele se fechou depois do dia em que nos beijamos no beco. Não sei porquê, trocávamos olhares algumas vezes e nada mais. Não posso dizer que entendo, agora ele estava realmente sempre muito ocupado. Eu não sei se ele só estava realmente afim de uma diversão e pronto, mas não me importava. Não vou dizer que não penso no seu beijo e não sinto vontade de ter seus lábios nos meus novamente, ultimamente não são só os lábios, mas preciso realmente focar nos meus sonhos. Agora ele está sempre com o
MEYERDurante três semanas eu me preocupei em ocupar minha cabeça com os negócios, eu não parava de pensar nela desde a última vez em que nos beijamos. Mas eu estava sendo sincero quando disse que não podia, eu não podia dar voz a esse sentimento e colocar tudo que vínhamos conquistando a perder. Eu não podia ter ponto fraco, e soube que ela seria o meu desde a primeira vez em que nos beijamos. Não posso. Não é o correto a se fazer em meu mundo! Ela não aceitaria me conhecer, ela não ficaria do meu lado sabendo de tudo. Então logo me obriguei a se afastar, a me ocupar com as apresentações finais aos consumidores. Nossa inauguração havia sido um sucesso e pelo tempo de três semanas fechei com as maiores casas noturnas em São Paulo para que meu produto fosse distribuído, fechei com grandes empresários. A Meyer Haus não era para pequenos traficantes, não era para pequenos donos de morros. A Meyer Haus era para grandes empresários, era para quem estava no topo e comandava os pequenos dono