Primeiros Passos De Um Tango é uma divagação feminina, dentro de fragmentos de sessões de psicanálise, em que uma mulher se permite fantasiar sobre cenas e encontros com parceiros masculinos, saindo do esquema do mesmismo, da previsibilidade e da insatisfação na sua vida com seu marido. Isabel, a protagonista, é escritora e jornalista. Casada com Márcio, empresário de propaganda e marketing, ela se dá conta que o relacionamento de ambos está se deteriorando e tenta exercer o poder da sedução como uma alternativa para salvá-lo. Essa sedução inicia-se com o relato de supostos acontecimentos ocorridos em suas viagens pelo mundo. A possibilidade de esses fatos terem realmente ocorrido injeta um misto de curiosidade e motivação em Márcio. O que não estava previsto, no entanto, é que, ao se permitir fantasiar, Isabel acabaria envolvendo-se com casos reais, os quais a fizeram se sentir dividida entre o amor em relação ao marido e o desejo de dar continuidade às aventuras, até então, jamais realizadas. À medida que penetra no cerne de seus desejos inconscientes e esclarece questões traumáticas de sua vida, ela fica mais ousada, mais selvagem e mais detalhista nos rituais do amor e do sexo. E é isso que ela chama de “primeiros passos de um tango”, pois, como na dança, os casais ficam em posições opostas, executam passos assimétricos, mas, no fundo, dançam ao sabor de um mesmo ritmo, o tango, metáfora da liberação da fantasia feminina e do desprendimento sexual a partir da certeza de que é a mulher quem detém o poder de comando na relação.
Ler maisNa última vez que eu havia estado aqui, eu sabia que deveria encarar a Lilith dentro de mim.Mas o que era a Lilith?Corri atrás e, bem no meu estilo, fui pesquisar. Olha só: segundo o Zohar, que é o comentário rabínico dos textos sagrados, Deus teria criado Adão macho e fêmea, depois, cortou-o ao meio e chamou uma das metades de Lilith e a deu em casamento a Adão. Lilith teria sido criada de barro, à noite, muito bela e, por isso, causou problemas para Adão.Mas Lilith não queria ser oferecida a ele como desigual ou inferior, nem ser a ele submetida, daí ter fugido com o diabo. O Talmudeconfirma isso, ac
Foi terrível ficar 20 dias sem vir aqui.Bem nessa hora!Eu sei que você já tinha me avisado das férias, mas foi dose!Saí com o Wan muitas vezes.Trepamos, trepamos muito.Foi muito bom. Que que eu estou dizendo?Foi bom?Nossa, foi ótimo! Foi fantástico!Os lugares que a gente se via, o quarto dele nos fundos do salão de baile...Eu devorei aquele homem
Você me disse, da última vez, que nomear o sujeito seria como dar nome a algo inominável.Fiquei pensando nisso.O que seria o inominável para mim?Pensei também que aquilo que ninguém ousa chamar é o diabo.Como se falar o nome dele, o trouxesse à tona das profundezas do inferno.Concluí que o sujeito seria como que o meu diabo particular, certo?Alguém que, ao contrário dos outros homens, exerce um poder sobre mim... Ele surgiu onde eu não esperava, aproximou-se sem que eu o chamasse, ativou minha curiosidade sem que eu estivesse preparada.Me surpreendeu, é verdade... E se tornou m
Quero falar do sujeito que conheci. O sujeito da loja de antiguidades. Ele é diferente dos outros.Não que algum seja igual, não é isso.Ele tem uma certeza, uma segurança no que fala... Ele sabe que sou uma pessoa que quer ouvir.Ele sabe que tem algo em mim que precisa despertar...Ele parece um gato.Eu não gosto de gatos e odeio esse negócio de chamar caras bonitinhos de “gato”.Falo de gato no sentido de esquiva, trejeito, de cai e levanta com pose, flexível, misterioso...
Um dia, eu disse uma frase que nunca esqueci.Nada de grande importância, mas, como eu a pronunciei alto e em bom tom, como uma reflexão para mim mesma, ela ganhou uma dimensão e um eco que, durante algum tempo, ficou repetindo-se como se estivesse à procura de um significado.Quem sou eu para dizer que nada é por acaso... Era como se eu fosse portadora de um significante expresso em palavras, mas cujo sentido permanecia incógnito, indecifrável, aguardasse uma autorização de pouso... Intrigante.Verdadeiramente intrigante.Fui pesquisar sobre o teatro Kobuki.O sentido etimológico da palavra "Kabuki" é "oblíquo".Vamos só trabalhar esse detalhe pra começar.Lembra do que eu falava: “olhar de viés”?Trata-se de um ponto de vista atravessado, dissimulado, não direto.Exatamente o que eu sinto em relação ao meu processo da dianóia.&Nona sessão – duas semanas depois
O princípio ativo da sexualidade masculina é detonado a partir de um sentimento de ameaça à sua supremacia.Mesmo que ele não esteja mais interessado numa mulher, o fato de perceber que outro homem é atraído por ela o remete a uma insegurança, como se ele não tivesse tentado todos os recursos ou descoberto todas as facetas da tal mulher.
Acho que o Márcio percebeu, mas não sucumbiu.Pagou para ver, eu diria. E, isso eu posso te dizer com o orgulho de uma iniciada, meu caro: foi uma trepada e tanto!Falei do vizir com intimidade, detalhei seus olhos cor-de-mel sobressaindo na pele morena.Descrevi suas roupas cheias de envolturas, a ânsia que eu tinha em desnudar aqueles panos cor de areia, alternados em padrões, da aspereza do linho ao deslizante da seda.Falei de como ele não sorria e de como ele conteve minha voluptuosidade segurando, com sua mão firme, os meus pulsos inquietos.Sussurrei o medo experimentado nessa hora, acreditando que ele me faria sucumbir e me puniria pelos meus atos antecipados, vis
O Rio antigo tem uma arquitetura instigante.Há uma série de ruelas, sobrados, portinholas, janelas e varandas estreitas, escadinhas escusas.Tudo exala um ar de confidências, de intrigas.Acho que por isso aquelas fotos me chamaram a atenção.O alargamento da rua Carioca, por exemplo, talvez tenha a ver com a ampliação desses meus espaços internos que se referema um passado convencional, estreito, para uma possibilidade maior...Como se eu admitisse correr riscos, trilhar novas vertentes... De qualquer maneira, independente da evolução do que se seguiu, eu resolvi testar o Márcio.Não test