Desculpe o atraso.
Vou retomar do ponto em que parei. Bem, fui atrás do tal endereço, mas, chegando lá, não havia mais a loja de antiguidades. A minha esperança era tão grande de encontrar o que eu procurava, que fiquei na frente do lugar, desconcertada, sem reação. Custava a acreditar que ali não existia nenhuma loja do tipo. Eu estava frente a frente a um lugar chamado “Bafão”, um tipo de estabelecimento com mesas de sinuca e bar. Fiquei decepcionada e custei a retomar o rumo da realidade, tão embarcada que eu estava na fantasia!
Foi então que, do fundo desse lugar, surgiu – primeiro em silhueta, depois, em forma de malandro – um homem vestido de branco, chapéu de lado, cigarro displicentemente caído no canto da boca, camisa meio desabotoada que revelava um peito moreno, cabeludo...
(Silêncio).
Ele não parecia real. Sério. Às vezes isso acontece comigo. Penso tão intensamente numa situação ou numa pessoa, que chego a visualizar a cena. Não, não havia pensado em malandro. Nem em peles morenas, porra!Não estou com raiva. Tá, estou fora do controle!
Ele tinha uma voz aveludada. Falava como se colhesse as palavras. Seu sorriso era largo, bonito, exuberante. Fiquei realmente envolvida com aquela abordagem como se estivesse contemplando, ao vivo, a evolução de um personagem.
Bem, ele perguntou se eu estava procurando alguém e eu expliquei o lance da loja de antiguidades. Ele conhecera o tal lugar e me convidou pra ouvir a história.
Não, não foi ali. Ou melhor, foi. Nós subimos para o sobrado, onde tinha uma espécie de salão de dança e um barzinho. Nós sentamos e conversamos. O que eu senti?Eu acho que cheguei a perceber que entrava num mundo de Oz ao contrário. A escada que subimos era como abrir uma cortina para algo fantástico, proibido, interdito. Eu saia do óbvio, da realidade convencional, e ingressava num mundo paralelo. Mas, mesmo assim, eu fui.
O Rio antigo tem uma arquitetura instigante.Há uma série de ruelas, sobrados, portinholas, janelas e varandas estreitas, escadinhas escusas.Tudo exala um ar de confidências, de intrigas.Acho que por isso aquelas fotos me chamaram a atenção.O alargamento da rua Carioca, por exemplo, talvez tenha a ver com a ampliação desses meus espaços internos que se referema um passado convencional, estreito, para uma possibilidade maior...Como se eu admitisse correr riscos, trilhar novas vertentes... De qualquer maneira, independente da evolução do que se seguiu, eu resolvi testar o Márcio.Não test
Acho que o Márcio percebeu, mas não sucumbiu.Pagou para ver, eu diria. E, isso eu posso te dizer com o orgulho de uma iniciada, meu caro: foi uma trepada e tanto!Falei do vizir com intimidade, detalhei seus olhos cor-de-mel sobressaindo na pele morena.Descrevi suas roupas cheias de envolturas, a ânsia que eu tinha em desnudar aqueles panos cor de areia, alternados em padrões, da aspereza do linho ao deslizante da seda.Falei de como ele não sorria e de como ele conteve minha voluptuosidade segurando, com sua mão firme, os meus pulsos inquietos.Sussurrei o medo experimentado nessa hora, acreditando que ele me faria sucumbir e me puniria pelos meus atos antecipados, vis
O princípio ativo da sexualidade masculina é detonado a partir de um sentimento de ameaça à sua supremacia.Mesmo que ele não esteja mais interessado numa mulher, o fato de perceber que outro homem é atraído por ela o remete a uma insegurança, como se ele não tivesse tentado todos os recursos ou descoberto todas as facetas da tal mulher.
Intrigante.Verdadeiramente intrigante.Fui pesquisar sobre o teatro Kobuki.O sentido etimológico da palavra "Kabuki" é "oblíquo".Vamos só trabalhar esse detalhe pra começar.Lembra do que eu falava: “olhar de viés”?Trata-se de um ponto de vista atravessado, dissimulado, não direto.Exatamente o que eu sinto em relação ao meu processo da dianóia.&
Um dia, eu disse uma frase que nunca esqueci.Nada de grande importância, mas, como eu a pronunciei alto e em bom tom, como uma reflexão para mim mesma, ela ganhou uma dimensão e um eco que, durante algum tempo, ficou repetindo-se como se estivesse à procura de um significado.Quem sou eu para dizer que nada é por acaso... Era como se eu fosse portadora de um significante expresso em palavras, mas cujo sentido permanecia incógnito, indecifrável, aguardasse uma autorização de pouso... Quero falar do sujeito que conheci. O sujeito da loja de antiguidades. Ele é diferente dos outros.Não que algum seja igual, não é isso.Ele tem uma certeza, uma segurança no que fala... Ele sabe que sou uma pessoa que quer ouvir.Ele sabe que tem algo em mim que precisa despertar...Ele parece um gato.Eu não gosto de gatos e odeio esse negócio de chamar caras bonitinhos de “gato”.Falo de gato no sentido de esquiva, trejeito, de cai e levanta com pose, flexível, misterioso... Você me disse, da última vez, que nomear o sujeito seria como dar nome a algo inominável.Fiquei pensando nisso.O que seria o inominável para mim?Pensei também que aquilo que ninguém ousa chamar é o diabo.Como se falar o nome dele, o trouxesse à tona das profundezas do inferno.Concluí que o sujeito seria como que o meu diabo particular, certo?Alguém que, ao contrário dos outros homens, exerce um poder sobre mim... Ele surgiu onde eu não esperava, aproximou-se sem que eu o chamasse, ativou minha curiosidade sem que eu estivesse preparada.Me surpreendeu, é verdade... E se tornou mDécima primeira sessão
Décima segunda sessão
Foi terrível ficar 20 dias sem vir aqui.Bem nessa hora!Eu sei que você já tinha me avisado das férias, mas foi dose!Saí com o Wan muitas vezes.Trepamos, trepamos muito.Foi muito bom. Que que eu estou dizendo?Foi bom?Nossa, foi ótimo! Foi fantástico!Os lugares que a gente se via, o quarto dele nos fundos do salão de baile...Eu devorei aquele homem