Hanna
— Não quero te deixar ir — Kevin diz com os olhos cheios de carinho, me puxando para mais um abraço, no qual eu deito a cabeça em seu peito.
— Amor, você sabe que está tarde, e eu tenho que ir. — Digo tentando me desvencilhar de seu abraço, mas, no fundo querendo que ele me segure e não largue nunca mais.
— Mais um beijo então. — Ele diz fazendo uma carinha de cachorro sem dono.
— E quem resiste essa cara de pidão? — digo, sorrindo.
Eu o beijo, e claro, o beijo é quente, delicioso, com aquele gostinho de quero mais.
— Não provoca, senão eu não te deixo sair deste carro — ele diz, sorrindo. Mordo sua orelha e respondo em sussurros ao seu ouvido:
— Até amanhã, meu amor. — Sorrio travessa, enquanto me afasto dizendo — Preciso entrar e tomar a pílula do dia seguinte. Por mais que eu queira filhos com você, ainda não é o momento.
— Se quiser, podemos treinar mais um pouquinho. — Ele diz com aquele sorriso de molhar a calcinha.
— Olha, tenho duas chamadas perdidas da minha irmã, meus pais devem estar preocupados. — Digo, verificando a hora no visor do celular.
— Deixe-me conhecê-los, assim eles ficam mais tranquilos.
— Vou combinar com eles e te aviso. Preciso ir. — Dou mais um beijo nele e me despeço no final: — Até amanhã, meu amor! Sonha comigo.
— Sempre! — Ele me rouba mais um beijo e diz: — Te amo!
— Também te amo muito. — Sorrio enquanto ele me envia um beijo.
Por mais que eu esteja preocupada por não termos usado preservativo, tenho que admitir que foi maravilhoso, e meu sorriso revela o quanto sou feliz com ele. Assim que entro pelo portão, vejo o carro dele se afastar.
Ainda estou sorrindo quando entro em casa e vejo meus pais e Hazel arrumando malas e caixas.
— O que está acontecendo aqui? — Pergunto, intrigada.
— Apareceu a margarida. Isso são horas de chegar em casa? E ainda com o cabelo molhado? — Meu pai fala furioso, e nunca o vi assim antes.
Olho discretamente para Hazel, que nega com a cabeça e faz sinal de silêncio. Sem entender o que está acontecendo, tento explicar:
— Estava na piscina da casa do meu namorado, a propósito, ele quer conhecer vocês, pa… — Não consigo terminar de falar, pois meu pai interrompe com um tapa no meu rosto.
Olho para ele, assustada, com a mão na face.
— Por sua culpa, eu e sua mãe perdemos o emprego. Agora temos que ir embora como fugitivos no meio da madrugada.
— Não estou entendendo, o que está acontecendo… — Outro tapa arde em meu rosto, mais forte que o primeiro. Cambaleio para o lado e Hazel me ampara.
— Leve essa biscate para longe de mim, antes que eu a mate por desonrar a família.
Começo a chorar, sem saber o que está acontecendo. Meus pais me olham com ódio, e eu nem sei o motivo.
No quarto, com minha mala já pronta por Hazel, ela me abraça e tenta me acalmar.
— Não chora, Han. Ele só está nervoso, logo passa e ele te pede desculpas. — Tento acreditar, mas o que vi nos olhos do meu pai me assustou muito.
— Mas o que aconteceu? Por que ele me culpa pela perda do emprego?
— Porque, de certa forma, foi sua culpa. — Hazel responde, eu a olho, sem entender.
Então, ela me conta tudo, e a dor que sinto é como uma adaga afiada atravessando meu coração.
— Preciso ligar para o Kevin e contar o que está acontecendo. — Digo, entre lágrimas.
Disco rapidamente, mas antes que ele atenda, meu pai toma meu celular e o j**a contra a parede, quebrando-o em pedaços.
Ajoelho-me no chão, pegando os pedaços, assustada. Meu pai parecia um monstro, transtornado. Seus olhos estavam dilatados, o rosto vermelho como um tomate maduro, e ele tremia… assim como eu, mas com toda certeza, por motivos completamente diferentes.
Kevin
Sei que sou jovem para pensar em casamento. Semana que vem completo dezoito anos, mas toda vez que tenho que deixar Hanna em casa, é uma tortura. Minha vontade é sequestrá-la para mim. Sorrio, imaginando como seria estar no paraíso com ela sempre ao meu lado.
Chego em casa e me surpreendo ao encontrar meu pai na sala.
— Na próxima vez que quiser "comer" uma puta, tenha a decência de não ser na casa dos seus pais.
— Ela não é puta, é minha namorada. — Respondo sem hesitar.
— Você fará dezoito anos em breve e terá responsabilidades na empresa. Não tem tempo para essas "putinhas".
— Já falei que ela não é puta. — Falo entre os dentes, tentando controlar a raiva e a vontade de socar meu pai por desrespeitar a mulher que amo.
— Ela não tem sobrenome. Não serve para você. — Meu pai diz com um tom de nojo.
— Eu não me importo com o sobrenome dela. O que importa para mim é o que sinto por ela e o que ela sente por mim.
Ele começa a rir, zombando dos meus sentimentos, e isso me deixa ainda mais irritado.
— Moleque tolo, nem saiu das fraldas direito e quer me falar sobre amor. — Ele solta outra gargalhada antes de dizer algo que me enfurece ainda mais: — Se depender de mim, você nunca ficará com ela.
Dito isso, ele sai da sala, me deixando sozinho. Estou tão nervoso que agradeço a Deus por ele ter ido, mais um minuto ouvindo ele insultar minha garota, e eu não responderia por mim, mesmo sendo o meu pai.
Vou para o meu quarto, pego o celular no caminho e vejo uma chamada perdida da Hanna. Tento retornar, mas só cai na caixa postal.
Kevin10 anos depois...— Senhor... Digo, Kevin, seu pai disse que quer falar com vo... você. — Minha nova secretária, Violet, avisa. A antiga entrou em licença-maternidade, e sua auxiliar assumiu o cargo. Não sou um daqueles empresários arrogantes que exigem formalidades o tempo todo. Claro, em reuniões formais, isso é indispensável, mas no dia a dia, odeio ser chamado de "senhor". — Ele ainda está na empresa, Violet? — Não, saiu há cerca de dez minutos. — Ela responde com confiança. — Então falo com ele amanhã. Se houver qualquer emergência, pode me ligar. — Certo. Até amanhã, Kevin. — Ela sorri. — Até amanhã, Violet.Pego meu blazer e me dirijo ao elevador. Assim que as portas se abrem, vejo Ashley prestes a sair. Instintivamente, me escondo atrás de uma pilastra. Violet me vê, arregalando os olhos, surpresa, e logo tenta segurar o riso. Faço um sinal de silêncio com o dedo e imploro com o olhar para que ela distraia Ashley. Violet, sempre eficiente, faz um leve aceno de cabe
KevinEstou no piloto automático. Minhas mãos firmes no volante, os olhos fixos na estrada, mas a mente distante, presa em lembranças que nunca realmente partiram. A cidade lá fora parecia viva, iluminada pelas luzes da noite, mas dentro de mim, tudo estava envolto em uma escuridão que só eu conhecia.Chego à boate e o som ensurdecedor da música me atinge como uma onda, me puxando de volta para o presente. Estaciono o carro e saio, sentindo o frio da noite contra minha pele quente. Lá dentro, Davis me espera com aquele sorriso animado de sempre, pronto para mais uma noite de excessos e sexo. Mas, por mais que eu tente, não consigo me sentir animado. Na verdade, não consigo sentir nada.A boate estava cheia, as luzes pulsavam na batida da música que tocava, o cheiro de álcool se misturava com perfume caro. Mulheres lançam olhares, algumas se aproximam, tocam meu braço, sorriem com promessas silenciosas de uma noite sem compromisso. Elas são lindas, cada uma delas. Mas são apenas rostos
HannaOi, meu nome é Hanna Roux. Às vezes me pergunto o que o destino tem reservado para mim, mas ele nunca me respondeu. De qualquer forma, sigo minha vida jogada a sorte do destino.Contarei um pouquinho sobre mim.Quando tinha dezessete anos, eu e minha família fomos obrigados a mudar de Rivermont. Nos mudamos no meio da madrugada para Velmonth, fica a oito horas de distância da nossa antiga residência.Essa mudança fez com que eu perdesse minha bolsa de estudo que tanto lutei para conquistar, no início foi difícil, pois meus pais não tinham empregos, então eu e minha irmã Hazel tivemos que ajudar.Arrumei um emprego de babá em uma mansão da cidade, minha irmã foi trabalhar em uma lanchonete local, meu pai de auxiliar em obras e minha mãe de faxineira.Nessa época eu estava devastada, mais magra que o habitual, mas isso não impediu que acontecesse o pior dia da minha vida, o que mudou tudo drasticamente, tanto no psicológico quanto no que vivo hoje. Esse evento me trouxe o maior te
Hanna— Foram tantos anos que achei que você não se lembrava de mim. — Digo ainda sem jeito.— Nunca me esqueci de você. — Ele diz sério, sem hesitar.Não sei o que dizer, começo a procurar pela senhora Sonderman, ele segura meu queixo e me obriga a encará-lo.Aqueles olhos cor de mel continuam lindos, seus cabelos agora mais curtos o deixam com cara de homem, com esse rosto quadrado que o deixa mais lindo, ele está mais lindo que antes… Seu corpo parece ser esculpido pelos deuses do Olímpio, é surreal como aquele garoto magro se tornou nesta montanha de músculo.Sinto as borboletas adormecidas do meu estômago se agitarem como se reconhecessem ele, reconhecessem seu toque.— Você se esqueceu de mim, Hanna? — Ele pergunta, olhando em meus olhos, sinto um arrepio subir pela minha espinha.— Não tem como esquecer o primeiro amor! — Digo tão baixo que sai como um sussurro.Ele estala a língua, como se não acreditasse em mim.— Por que fez isso? — Questiono um pouco irritada.Ele me olha c
Hanna— Finalmente te encontrei. — Diz minha irmã, vindo ao meu encontro. — O que aconteceu?Hazel me tira do meu transe do passado.— Nada, Hazel, vamos, desculpe, eu precisava respirar.— Tem certeza? Você estava chorando! — Ela insiste.— Estou bem, Hazel! — digo um pouco ríspida.— Ok, Ok! Não precisa ser grossa.No caminho de volta para a cozinha, não olho para os lados, apenas foco no meu caminho, até que sinto uma mão segurar em meu braço, sinto como um choque, sabia que era ele sem nem ao menos olhar.— Hanna, podemos conversar?Sem olhar para ele, respondo, tentando ser o mais educada possível para que Hazel não perceba.— Desculpe, estou trabalhando agora e não posso conversar, com licença, senhor.— Não me chame de senhor, não sou velho e já tenho intimidade suficiente para dizer meu nome. — Interrompo-o antes que diga seu nome.Olhando para ele, digo:— Nunca fomos íntimos, foi algo passageiro que passou, tenha uma boa noite, senhor!Não dou brecha para ele falar, sigo par
KevinAlguns dias se passaram, e eu ainda não conseguia tirar a mulher da boate da minha cabeça. Havia uma pergunta que me atormentava sem parar: seria mesmo a Hanna?Estava absorto em meus pensamentos quando meu pai entrou na minha sala abruptamente, a porta batendo contra a parede com força.— Não quero mais desculpas, vou acertar o seu noivado com Ashley — ele disse, a voz firme e grave, carregada de autoridade.— Já falei que não vou me casar com ela! — retruquei, no mesmo tom impaciente.Ele me lançou um olhar cortante, inabalável.— Ou você se casa com Ashley Caspian, ou dá adeus ao cargo de diretor.Minha raiva cresceu no mesmo instante. Dei um soco na mesa, o som ecoando pela sala.— Isso é um absurdo, pai!— Absurdo é você aparecer toda semana nas capas das revistas de fofoca, bêbado e acompanhado daquelas mulheres que só querem o meu dinheiro!Minha respiração estava acelerada. Eu já estava farto daquela pressão.— Eu não vou me casar nem com Ashley, nem com ninguém.Ele deu
KevinEu detesto esse tipo de evento, onde os “poderosos” se exibem em uma competição de quem doa mais. Claro, para as instituições é ótimo, mas, se essas pessoas tivessem um mínimo de consciência, não precisariam de um evento para fazer caridade. Eu, por exemplo, contribuo mensalmente para cinco instituições, sem precisar de holofotes. A verdade é que só estou aqui para evitar mais uma briga com meu pai. Cumprimento algumas pessoas, troco palavras com outras, mas minha verdadeira missão da noite é evitar o Dylan. Ele sempre foi um babaca machista, do tipo que humilha qualquer um que não pertence ao seu círculo social. Infelizmente, não fui rápido o suficiente para escapar.Dylan me avistou antes que eu pudesse dar meia-volta e desaparecer na multidão. Seu sorriso presunçoso me atingiu como um soco. Ele se aproximou com passos largos e aquele ar de superioridade que sempre me irritou.— Kevin Stewarth! Quanto tempo, amigo! — Ele estendeu a mão, forçando um aperto de mão que eu não
Lembranças do Kevin— Sua gata não veio hoje? — Davis pergunta ao se aproximar de mim.— Estou tentando ligar para ela, mas não consigo, só dá caixa postal.— Desencana, ela deve ter perdido a hora. Logo ela aparece. Vamos, o sinal já tocou.Vou para a sala, ainda olhando para trás com a esperança de vê-la chegando. Envio mais uma mensagem, mas, como as outras, não chega no celular dela.Estou com uma sensação ruim desde que acordei hoje. “Que não seja nada.”Na hora do intervalo, também não a vejo. Decido perguntar às meninas se elas sabem de algo.— Oi, Emy, sabe da Hanna?— Não. Eu tentei ligar, mas só deu caixa postal, — ela responde com o celular na mão.— Também tentei, e nada — diz Ava, com olhar preocupado.Minha preocupação aumenta. Saio no intervalo e vou até a casa dela. Já a levei para casa algumas vezes, mas nunca entrei.Bato algumas vezes na porta, até que uma vizinha aparece e diz:— Moço, não mora mais ninguém aí, não. Eles foram embora de madrugada. Um carrão preto e