5 - Pânico

Hanna

— Finalmente te encontrei. — Diz minha irmã, vindo ao meu encontro. — O que aconteceu?

Hazel me tira do meu transe do passado.

— Nada, Hazel, vamos, desculpe, eu precisava respirar.

— Tem certeza? Você estava chorando! — Ela insiste.

— Estou bem, Hazel! — digo um pouco ríspida.

— Ok, Ok! Não precisa ser grossa.

No caminho de volta para a cozinha, não olho para os lados, apenas foco no meu caminho, até que sinto uma mão segurar em meu braço, sinto como um choque, sabia que era ele sem nem ao menos olhar.

— Hanna, podemos conversar?

Sem olhar para ele, respondo, tentando ser o mais educada possível para que Hazel não perceba.

— Desculpe, estou trabalhando agora e não posso conversar, com licença, senhor.

— Não me chame de senhor, não sou velho e já tenho intimidade suficiente para dizer meu nome. — Interrompo-o antes que diga seu nome.

Olhando para ele, digo:

— Nunca fomos íntimos, foi algo passageiro que passou, tenha uma boa noite, senhor!

Não dou brecha para ele falar, sigo para a cozinha sem olhar para trás, mas com os olhos de Hazel fixos em mim, desconfiada. Kevin era uma pessoa pública e com certeza ela o reconheceu. Coloco a máscara que há muito estava esquecida e entro na cozinha, me perdendo no trabalho, ignorando os questionamentos da Hazel e todos os olhares curiosos.

Quase no final da festa, já estava organizando as coisas, de costas para a entrada da cozinha. Tentava não pensar no reencontro com Kevin, quando uma voz grossa fala.

— Desculpe incomodar, mas minha esposa está grávida e ela amou seus canapés, teria mais alguns para ela?

“Aquela voz… aquela voz que me atormenta até hoje!”

Não consigo responder, sinto meu corpo começar a tremer, lágrimas começam a se formar nos meus olhos, mas eu não consigo deixá-las cair. Minha respiração acelera e, de repente, parece que o ar some. O som ao meu redor vai ficando distante, como se estivesse submersa em algum lugar escuro e profundo.

“Eu estava novamente naquele maldito quarto de empregadas, estava me debatendo, implorando para que ele não me tocasse…”

Meu corpo não responde, minhas pernas ficam moles e meu coração dispara no peito, cada batida mais forte que a outra, ecoando nos meus ouvidos. 

— Hanna? — Hazel percebe meu estado, mas sua voz soa distante. Vejo seus lábios se movendo, mas não consigo entender o que ela está dizendo. O ambiente ao redor gira, como se tudo estivesse desmoronando sobre mim.

Preciso sair daqui. Preciso sair agora!

Agarro a borda da mesa, tentando manter o controle, mas minha visão embaça. Não posso deixar que ele me veja assim, não posso…

O som da voz dele ainda ressoa na minha mente, trazendo de volta as memórias que tentei enterrar.

“ — Não se preocupe, prometo que vai gostar!”

Sinto vontade de vomitar, a bile sobe a todo momento… Ele está aqui, tão perto, e eu me sinto novamente presa, impotente. Tudo o que aconteceu, todos aqueles momentos de terror, voltam com força total.

— Hanna, respira, por favor! — Hazel me sacode levemente, mas não adianta. O pânico me consome, e eu me sinto como aquela garota de anos atrás, sem controle, sem saída.

Fecho os olhos tentando me recuperar, e o sorriso dele aparece em minha mente, sinto seu aperto em meu corpo, enquanto sorria, repetindo o quanto eu ia gostar, o quanto eu era gostosa. 

Sinto minha garganta fechar, não consigo respirar…

— Eu… não consigo… fo… foi e… ele… Hazel. — As palavras saem entrecortadas, como se houvesse um nó na minha garganta. Meus pulmões queimam de tanto quando tento puxar ar.

Hazel me puxa para um canto mais afastado da cozinha, longe dos olhares curiosos. — Você está segura, está tudo bem. Ele não pode te machucar. — A voz dela é suave, tentando me ancorar na realidade, mas meu corpo não para de tremer. As lembranças são fortes demais, sufocantes.

Sinto a presença de alguém mais se aproximando, mas não tenho coragem de olhar. Hazel segura minhas mãos, tentando me manter firme no presente.

— Hanna, estou aqui. Olha para mim. — Ela continua, insistindo.

Eu tento, tento com todas as forças, mas a sensação de estar presa no passado ainda domina.

— SAIA DAQUI, seu monstro. — Hazel grita.

Ao longe, o escuto dizer.

— Do que está falando, nem sabe quem eu sou! — Ele diz com sua arrogância de sempre.

— Você é o filho da puta que… Hanna! Hanna! Ajuda, por favor, ajuda… VOCÊ NÃO! SAIA DAQUI SEU DESGRA…

Não ouvi mais nada, me entreguei à escuridão, senti meu corpo e mente leve.

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