KevinQuando entro na cozinha, vejo Hanna desmaiada nos braços de uma mulher. Sem pensar duas vezes, corro para junto delas. No caminho, ouço uma discussão acalorada.— Não chega perto da minha irmã, seu filho da puta desgraçado! — uma mulher muito parecida com Hanna grita para Dylan.— Eu só quero ajudar! — Dylan tenta acalmá-la.A mulher começa a gritar e xingar descontrolada, podia sentir a raiva que ela sentia, assim como dava para ver o quanto ela amava e protegia sua irmã em seus braços. Com a voz firme e olhar mortal ela disse a Dylan:— Dê mais um passo, e você é um homem morto. Não estou nem aí se vou para a cadeia, vou até feliz por tirar um lixo humano como você do mundo. Repito, você não encosta um dedo nela!— Posso? — pergunto à mulher. Só então ela percebe minha presença.— Por favor — ela responde, olhando para Hanna com preocupação.— Já ligaram para o resgate? — pergunto preocupado.— Sim, eles estão a caminho — responde uma mulher próxima ao balcão onde estamos.— S
Kevin— Ah, eu sei sim. Eu estava lá. — A irmã de Hanna se perde em seus pensamentos e depois começa a falar: — Hanna estava com você. Ela havia me avisado. Meus pais perguntaram se eu conhecia o namorado dela quando alguém bateu na porta. Atendi e vi um homem de terno de primeira, inteiramente preto, com um semblante sério. — “Quero falar com o dono da residência, se é que isso pode ser chamado de casa.” — Fiquei furiosa. Quem ele pensa que é para falar assim da minha casa? — Ela fecha as mãos tão forte que os nós dos dedos ficam brancos. — Tentei fechar a porta na cara dele, mas o embuti colocou seu sapato preto luxuoso e brilhante na porta, impedindo que eu fechasse. Ele entrou e encarou meu pai, dizendo: “Hudson, tenho uma proposta para você”. Meu pai o encarou de volta, sem saber quem ele era e que merda de proposta estava falando.Ela parou de falar, respirou fundo. Permaneci em silêncio, observando cada detalhe que seu corpo expressava. Aquela conversa precisava ser dita,
KevinNão consigo mais encarar a irmã da Hanna.— Com licença.Saio do quarto, desnorteado. O mundo ao meu redor parece girar, mas não consigo focar em nada. Vou até o terraço, e ali, no meio do vazio, grito. Grito tão alto que minha garganta dói, um som primitivo que ecoa na madrugada. Caio de joelhos e deixo as lágrimas caírem. Choro por mim, por ela, por tudo que perdemos. Eu a julguei tanto. Passei noites ensaiando como confrontá-la, como humilhá-la, e agora descubro que ela foi apenas mais uma vítima do meu pai.Quando a dor se aquieta, como uma tempestade que vai perdendo força, me levanto, exausto. Vou até a lanchonete mais próxima, compro dois cafés e uma água. Volto para o quarto, onde Hanna está deitada. Sua irmã me olha surpresa, mas não diz nada. Seus olhos, ainda que silenciosos, parecem questionar minhas intenções.— Trouxe café — digo, hesitante. — Não sabia como você gosta, então trouxe açúcar também.Antes que ela pudesse responder, o celular dela começa a tocar. Ela
HannaAcordo com um bip incessante em minha cabeça, tento abrir meus olhos, mas a luz é forte demais. Tenho que abrir e fechar várias vezes antes de conseguir me ajustar. Quando finalmente consigo, percebo que estou em um quarto branco, bem iluminado. Tento me levantar, mas uma voz familiar me impede.— Não, Hanna, por favor, não levante. Você desmaiou. — A voz de Kevin soa carinhosa, mas me incomoda.— O que você está fazendo aqui? — Pergunto, ríspida, sem esconder meu desconforto.— Sua irmã pediu ajuda, estava desesperada. Eu ouvi os gritos e entrei sem pensar. Ela estava nervosa, xingando Dylan, enquanto você estava desacordada nos braços dela. — Ele faz uma pausa, seus olhos preocupados. — Ele fez alguma coisa com você?Viro o rosto, evitando encará-lo. Só de ouvir o nome de Dylan, meu corpo começa a tremer. A lembrança de anos atrás me invade, e não existe a menor chance de eu contar a Kevin o que aconteceu.— Você não precisa ter medo. Estou aqui agora, vou te proteger, seja do
HannaÉ nítido as emoções que eu e Kevin estamos tentando controlar. Ele suspira, nos encaramos, respondo carinhosamente para Kat, que estava grudada em mim.— Em breve, amorzinho. A mamãe já está terminando aqui — Kat, minha pequena luz, a chegada dela, não vou mentir, não foi bem-vinda e nem esperada. Mas hoje posso dizer eu ela se torno o meu mundo. Tudo o que faço é para o bem dela. Ela se aconchega mais no meu colo.Kevin continua ali, mas parece distante, olhando para a janela, mas dava para perceber que ele estava longe e não observando as copas das árvores pela janela. Eu não sei o que ele está pensando exatamente, mas consigo sentir sua emoção, e tenho a sensação que nos tomamos as mesmas lembranças. Aquele momento em que nossas vidas eram perfeitas. A saudade daquela época ainda me dói. “Será que dói nele?” — Me pergunto, observando-o.Do nada ele volta a nos observar, de repente uma voz grave quebra o silêncio: — Ela é linda, Hanna — seus olhos estão voltados para Kat, mas
HannaEle continua a se aproximar lentamente, seu olhar é penetrante, ouso dizer que ele está vendo minha alma, meu corpo parece congelar, dividida entre a incerteza e o medo do que virá. Mas antes que eu possa processar o que está acontecendo, Kevin inclina-se para mim, suas mãos encontrando meu rosto, e ele me beija. Um beijo doce e calmo. Fico paralisada, o choque tomando conta de mim, mas a certeza de que queria ser explorada por aqueles lábios novamente. A saudade, a mágoa, o amor que eu havia tentado sufocar... tudo isso explode com força. O toque dos seus lábios se tornam urgentes, carregado por anos de desejo contido. Então, cedo. Sem hesitar mais, eu o beijo de volta, com a mesma intensidade desesperada, como se o tempo não existisse mais. Nossas bocas se encontram com um anseio que só os que já amaram profundamente entendem. É como se estivéssemos tentando recuperar tudo o que foi roubado de nós, como se o mundo pudesse parar naquele exato segundo e nada mais importasse.M
Hanna— O que perdi? — Hazel pergunta séria.— Não perdeu nada, foi apenas… hum… não sei o que foi. — Respondo frustrada. — Estou de alta, vou me trocar.…No caminho para casa, encosto minha cabeça no vidro da janela, em silêncio. Não falei uma palavra sequer. Não sei o que Hazel pensa sobre essa reaproximação com Kevin; ela presenciou o quanto sofri no passado.Me perco nos meus pensamentos. Como posso me enganar assim? Eu o amo, e sempre vou amá-lo, por mais que tente fugir desse sentimento.Lembro da primeira vez que ele disse que me amava. Era uma noite fria, estávamos saindo do cinema... Éramos tão inocentes naquela época.“Saímos do cinema e o ar frio da noite me envolve, me abraço ignorando a presença do Kevin.— Princesa, por que está brava? — Olho para ele querendo socá-lo, — Porque estaria, o filme foi ótimo, nosso encontro nem tanto. — Ele me olha confuso.— Do que está falando? — Ele me faz parar de andar, e me abraça, bufo irritada.— Você reclamou do filme o tempo todo
HannaNo meu quarto, já de banho tomado, após uma refeição rápida que Hazel e Kat me obrigaram a comer, estou deitada na minha cama e Kevin não sai da minha cabeça, e sem pedir permissão, lembranças inundam minha mente:“Estava sentada à mesa, com a luz suave da manhã passando pela pequena janela da cozinha, iluminando o espaço de uma maneira quase acolhedora. O cheiro do café recém passado se misturava ao aroma do pão fresco, mas eu mal notava. Meu olhar estava fixo no vazio, enquanto minhas mãos, quase por impulso, mexiam no pedaço de pão à minha frente. Minha mente vagava longe, perdida nas lembranças.Eu estava presa na memória de quando lutei para conquistar a bolsa de estudos no Rivermout. Enquanto Hazel e minhas amigas saíam para se divertir, eu me trancava no quarto, imersa nos livros. Estudar não era apenas uma escolha, era minha única chance de escapar da vida simples e limitada que minha família levava. Eu não era ambiciosa no sentido materialista. Eu só queria o melhor par