Hanna
— Foram tantos anos que achei que você não se lembrava de mim. — Digo ainda sem jeito.
— Nunca me esqueci de você. — Ele diz sério, sem hesitar.
Não sei o que dizer, começo a procurar pela senhora Sonderman, ele segura meu queixo e me obriga a encará-lo.
Aqueles olhos cor de mel continuam lindos, seus cabelos agora mais curtos o deixam com cara de homem, com esse rosto quadrado que o deixa mais lindo, ele está mais lindo que antes… Seu corpo parece ser esculpido pelos deuses do Olímpio, é surreal como aquele garoto magro se tornou nesta montanha de músculo.
Sinto as borboletas adormecidas do meu estômago se agitarem como se reconhecessem ele, reconhecessem seu toque.
— Você se esqueceu de mim, Hanna? — Ele pergunta, olhando em meus olhos, sinto um arrepio subir pela minha espinha.
— Não tem como esquecer o primeiro amor! — Digo tão baixo que sai como um sussurro.
Ele estala a língua, como se não acreditasse em mim.
— Por que fez isso? — Questiono um pouco irritada.
Ele me olha como se não acreditasse, entrega a taça de champanhe vazia a um garçom que passava ao nosso lado, pega um copo de whisky e viro de uma vez.
— Então, por que não me ligou? Por que trocou o número do telefone? Você desapareceu, Hanna, fiquei louco te procurando até saber que mudaram na calada da noite.
— É sério que está me questionando, quando foi seu pai que ameaçou a minha família, dando dinheiro aos meus pais para desaparecerem da cidade, do estado, do mundo se fosse possível. — Ele me olha com espanto. — Acha que não sofri? Que não tentei entrar em contato?
— Mas…
— Mas nada Kevin Stewarth, eu era apenas um brinquedo na sua mão, uma piada… Agora deixe-me ir, não posso deixar a anfitriã esperando.
Dou um passo em direção à saída, quando o sinto segurar em meu pulso, olho para a sua mão, mas ele não solta.
— Do que está falando? Você simplesmente sumiu no mundo, e… — interrompo-o dizendo.
— Eu voltei, Kevin, fui contra tudo e todos, eu precisava explicar que não fui embora porque queria, mas quando cheguei o vi aos beijos com Alicia… — Seco uma lágrima que insistiu em cair. — Nunca senti tanta dor. Agora, Kevin Stewarth, — digo seu sobrenome com desprezo — volta para o seu mundo de luxo, e suas modelos perfeitas, e me deixa no meu mundinho pobre e sem classe, de onde eu nunca deveria ter saído.
Kevin ficou sem reação ao ouvir as mesmas palavras que ele disse a Alicia, no dia em que voltei e o vi beijando-a. Naquele momento, os dois riram de mim, e eu me senti a pior pessoa do mundo. Naquela noite, no quarto de hóspedes da Emily, chorei como se não houvesse amanhã. Foi ali que prometi a mim mesma que nunca mais entregaria meu coração a ninguém.
“Nunca imaginei que o amor doía tanto — lembro que falei para Emily, que tentava me consolar.
— O amor não dói, amiga, o que dói é a expectativa que colocamos nas pessoas. — Eu às vezes me pego refletindo essas palavras.”
Viro as costas, deixando-o sozinho, decido não ir ao encontro da senhora Sonderman, sigo para uma área nos fundos e deixo que as lágrimas fluam livremente pela minha face. Respiro fundo várias vezes para me controlar, quando sinto uma mão tocar em meu ombro, sobressalto com a surpresa do toque, quando me viro, uma senhora me encara com olhos gentis e preocupados, me encara.
— O que aconteceu? Posso te ajudar com alguma coisa?
— Oh, não! Obrigada, — respiro fundo — foi só um confronto inesperado.
— Certo, estou indo então! — Ela diz, ainda me olhando com preocupação, mas se afasta. Eu olho para a noite linda e estrelada e não tem como não pensar em tudo que passei para chegar até aqui.
Hanna— Finalmente te encontrei. — Diz minha irmã, vindo ao meu encontro. — O que aconteceu?Hazel me tira do meu transe do passado.— Nada, Hazel, vamos, desculpe, eu precisava respirar.— Tem certeza? Você estava chorando! — Ela insiste.— Estou bem, Hazel! — digo um pouco ríspida.— Ok, Ok! Não precisa ser grossa.No caminho de volta para a cozinha, não olho para os lados, apenas foco no meu caminho, até que sinto uma mão segurar em meu braço, sinto como um choque, sabia que era ele sem nem ao menos olhar.— Hanna, podemos conversar?Sem olhar para ele, respondo, tentando ser o mais educada possível para que Hazel não perceba.— Desculpe, estou trabalhando agora e não posso conversar, com licença, senhor.— Não me chame de senhor, não sou velho e já tenho intimidade suficiente para dizer meu nome. — Interrompo-o antes que diga seu nome.Olhando para ele, digo:— Nunca fomos íntimos, foi algo passageiro que passou, tenha uma boa noite, senhor!Não dou brecha para ele falar, sigo par
KevinAlguns dias se passaram, e eu ainda não conseguia tirar a mulher da boate da minha cabeça. Havia uma pergunta que me atormentava sem parar: seria mesmo a Hanna?Estava absorto em meus pensamentos quando meu pai entrou na minha sala abruptamente, a porta batendo contra a parede com força.— Não quero mais desculpas, vou acertar o seu noivado com Ashley — ele disse, a voz firme e grave, carregada de autoridade.— Já falei que não vou me casar com ela! — retruquei, no mesmo tom impaciente.Ele me lançou um olhar cortante, inabalável.— Ou você se casa com Ashley Caspian, ou dá adeus ao cargo de diretor.Minha raiva cresceu no mesmo instante. Dei um soco na mesa, o som ecoando pela sala.— Isso é um absurdo, pai!— Absurdo é você aparecer toda semana nas capas das revistas de fofoca, bêbado e acompanhado daquelas mulheres que só querem o meu dinheiro!Minha respiração estava acelerada. Eu já estava farto daquela pressão.— Eu não vou me casar nem com Ashley, nem com ninguém.Ele deu
KevinEu detesto esse tipo de evento, onde os “poderosos” se exibem em uma competição de quem doa mais. Claro, para as instituições é ótimo, mas, se essas pessoas tivessem um mínimo de consciência, não precisariam de um evento para fazer caridade. Eu, por exemplo, contribuo mensalmente para cinco instituições, sem precisar de holofotes. A verdade é que só estou aqui para evitar mais uma briga com meu pai. Cumprimento algumas pessoas, troco palavras com outras, mas minha verdadeira missão da noite é evitar o Dylan. Ele sempre foi um babaca machista, do tipo que humilha qualquer um que não pertence ao seu círculo social. Infelizmente, não fui rápido o suficiente para escapar.Dylan me avistou antes que eu pudesse dar meia-volta e desaparecer na multidão. Seu sorriso presunçoso me atingiu como um soco. Ele se aproximou com passos largos e aquele ar de superioridade que sempre me irritou.— Kevin Stewarth! Quanto tempo, amigo! — Ele estendeu a mão, forçando um aperto de mão que eu não
Lembranças do Kevin— Sua gata não veio hoje? — Davis pergunta ao se aproximar de mim.— Estou tentando ligar para ela, mas não consigo, só dá caixa postal.— Desencana, ela deve ter perdido a hora. Logo ela aparece. Vamos, o sinal já tocou.Vou para a sala, ainda olhando para trás com a esperança de vê-la chegando. Envio mais uma mensagem, mas, como as outras, não chega no celular dela.Estou com uma sensação ruim desde que acordei hoje. “Que não seja nada.”Na hora do intervalo, também não a vejo. Decido perguntar às meninas se elas sabem de algo.— Oi, Emy, sabe da Hanna?— Não. Eu tentei ligar, mas só deu caixa postal, — ela responde com o celular na mão.— Também tentei, e nada — diz Ava, com olhar preocupado.Minha preocupação aumenta. Saio no intervalo e vou até a casa dela. Já a levei para casa algumas vezes, mas nunca entrei.Bato algumas vezes na porta, até que uma vizinha aparece e diz:— Moço, não mora mais ninguém aí, não. Eles foram embora de madrugada. Um carrão preto e
KevinQuando entro na cozinha, vejo Hanna desmaiada nos braços de uma mulher. Sem pensar duas vezes, corro para junto delas. No caminho, ouço uma discussão acalorada.— Não chega perto da minha irmã, seu filho da puta desgraçado! — uma mulher muito parecida com Hanna grita para Dylan.— Eu só quero ajudar! — Dylan tenta acalmá-la.A mulher começa a gritar e xingar descontrolada, podia sentir a raiva que ela sentia, assim como dava para ver o quanto ela amava e protegia sua irmã em seus braços. Com a voz firme e olhar mortal ela disse a Dylan:— Dê mais um passo, e você é um homem morto. Não estou nem aí se vou para a cadeia, vou até feliz por tirar um lixo humano como você do mundo. Repito, você não encosta um dedo nela!— Posso? — pergunto à mulher. Só então ela percebe minha presença.— Por favor — ela responde, olhando para Hanna com preocupação.— Já ligaram para o resgate? — pergunto preocupado.— Sim, eles estão a caminho — responde uma mulher próxima ao balcão onde estamos.— S
Kevin— Ah, eu sei sim. Eu estava lá. — A irmã de Hanna se perde em seus pensamentos e depois começa a falar: — Hanna estava com você. Ela havia me avisado. Meus pais perguntaram se eu conhecia o namorado dela quando alguém bateu na porta. Atendi e vi um homem de terno de primeira, inteiramente preto, com um semblante sério. — “Quero falar com o dono da residência, se é que isso pode ser chamado de casa.” — Fiquei furiosa. Quem ele pensa que é para falar assim da minha casa? — Ela fecha as mãos tão forte que os nós dos dedos ficam brancos. — Tentei fechar a porta na cara dele, mas o embuti colocou seu sapato preto luxuoso e brilhante na porta, impedindo que eu fechasse. Ele entrou e encarou meu pai, dizendo: “Hudson, tenho uma proposta para você”. Meu pai o encarou de volta, sem saber quem ele era e que merda de proposta estava falando.Ela parou de falar, respirou fundo. Permaneci em silêncio, observando cada detalhe que seu corpo expressava. Aquela conversa precisava ser dita,
KevinNão consigo mais encarar a irmã da Hanna.— Com licença.Saio do quarto, desnorteado. O mundo ao meu redor parece girar, mas não consigo focar em nada. Vou até o terraço, e ali, no meio do vazio, grito. Grito tão alto que minha garganta dói, um som primitivo que ecoa na madrugada. Caio de joelhos e deixo as lágrimas caírem. Choro por mim, por ela, por tudo que perdemos. Eu a julguei tanto. Passei noites ensaiando como confrontá-la, como humilhá-la, e agora descubro que ela foi apenas mais uma vítima do meu pai.Quando a dor se aquieta, como uma tempestade que vai perdendo força, me levanto, exausto. Vou até a lanchonete mais próxima, compro dois cafés e uma água. Volto para o quarto, onde Hanna está deitada. Sua irmã me olha surpresa, mas não diz nada. Seus olhos, ainda que silenciosos, parecem questionar minhas intenções.— Trouxe café — digo, hesitante. — Não sabia como você gosta, então trouxe açúcar também.Antes que ela pudesse responder, o celular dela começa a tocar. Ela
HannaAcordo com um bip incessante em minha cabeça, tento abrir meus olhos, mas a luz é forte demais. Tenho que abrir e fechar várias vezes antes de conseguir me ajustar. Quando finalmente consigo, percebo que estou em um quarto branco, bem iluminado. Tento me levantar, mas uma voz familiar me impede.— Não, Hanna, por favor, não levante. Você desmaiou. — A voz de Kevin soa carinhosa, mas me incomoda.— O que você está fazendo aqui? — Pergunto, ríspida, sem esconder meu desconforto.— Sua irmã pediu ajuda, estava desesperada. Eu ouvi os gritos e entrei sem pensar. Ela estava nervosa, xingando Dylan, enquanto você estava desacordada nos braços dela. — Ele faz uma pausa, seus olhos preocupados. — Ele fez alguma coisa com você?Viro o rosto, evitando encará-lo. Só de ouvir o nome de Dylan, meu corpo começa a tremer. A lembrança de anos atrás me invade, e não existe a menor chance de eu contar a Kevin o que aconteceu.— Você não precisa ter medo. Estou aqui agora, vou te proteger, seja do