Hanna
Oi, meu nome é Hanna Roux. Às vezes me pergunto o que o destino tem reservado para mim, mas ele nunca me respondeu. De qualquer forma, sigo minha vida jogada a sorte do destino.
Contarei um pouquinho sobre mim.
Quando tinha dezessete anos, eu e minha família fomos obrigados a mudar de Rivermont. Nos mudamos no meio da madrugada para Velmonth, fica a oito horas de distância da nossa antiga residência.
Essa mudança fez com que eu perdesse minha bolsa de estudo que tanto lutei para conquistar, no início foi difícil, pois meus pais não tinham empregos, então eu e minha irmã Hazel tivemos que ajudar.
Arrumei um emprego de babá em uma mansão da cidade, minha irmã foi trabalhar em uma lanchonete local, meu pai de auxiliar em obras e minha mãe de faxineira.
Nessa época eu estava devastada, mais magra que o habitual, mas isso não impediu que acontecesse o pior dia da minha vida, o que mudou tudo drasticamente, tanto no psicológico quanto no que vivo hoje. Esse evento me trouxe o maior tesouro da minha vida, chega ser irônico, mas ele me trouxe minha filha Kethellen. No começo, foi difícil, mas agradeço a Deus por ter me ajudado a tomar a decisão certa.
Eu e minha irmã, Hazel, abrimos uma empresa de Buffet para festas. No início, fazíamos eventos pequenos, como reuniões importantes para executivos e aniversários infantis. Hoje, graças a Deus e à minha mãezinha do céu, atendemos grandes eventos. Como o de hoje, o qual é o “Leilão de Caridade da Família Sonderman”. Uma família renomada e milionária. A senhora Lauren Sonderman gosta de ajudar os necessitados e mantém algumas ONGs. Acho esse gesto bonito, considerando que ela já não tem onde gastar tanto dinheiro. Enfim, passei por um rigoroso processo seletivo e consegui me destacar, o que me deu a oportunidade de servir nesse evento.
Eu e Hazel estamos muito nervosas. Este será nosso primeiro grande evento. Já fizemos outros, claro, mas nenhum com essa magnitude. Vêm pessoas de todo o país, só magnatas podres de ricos.
— Hanna, a senhora Sonderman já chegou — diz Hazel, entrando na cozinha enquanto finalizo alguns canapés.
— Ótimo, daqui a pouco liberamos esses, e logo em seguida, aqueles ali — apontei para os pratos prontos na bancada. Olhei para Hazel, que revirou os olhos, sabendo o que eu queria.
— Sério, Hanna? Tem pessoas que não são da equipe aqui! — ela diz, frustrada.
Finjo que nem ouvi. Seguro sua mão e, aos poucos, nossa equipe se junta a nós. Sempre faço uma oração antes de iniciar os eventos. Hazel não é católica como eu. Na verdade, ela está mais para ateia, mas não ligo. Cada um acredita ou não no que quiser. Sou devota de Nossa Senhora e não tenho vergonha de dizer.
Fizemos nossa oração e, ao abrir os olhos, vejo a senhora Sonderman, muito elegante, nos observando.
— Desculpe, senhora, é que… — comecei a falar, mas ela me interrompeu mexendo as mãos:
— Não se desculpe, foi lindo. Confesso que fiquei emocionada. Há muito tempo não, via algo assim!
Fiquei sem jeito. Minha equipe já tinha voltado aos seus postos, assim como minha irmã. Esfreguei as mãos no avental e perguntei:
— A senhora gostaria de experimentar as entradas?
— Adoraria — ela respondeu, se aproximando. Comecei a explicar como seria o serviço e ofereci algumas amostras para que ela provasse. Pelo seu semblante, ela adorou.
— Acredito que formaremos uma linda parceria. Agora, preciso ir, querida. Com licença.
Assim que ela se afastou, liberamos as primeiras bandejas…
As horas passaram voando. Eu precisava da Hazel para finalizar as sobremesas, mas não a encontrava em lugar nenhum. Eu nunca saio da cozinha, deixo essa parte para Hazel, mas desta vez não tive escolha. A senhora Sonderman havia solicitado minha presença.
— Rachel, como estou? — perguntei à minha funcionária.
— Linda, Hanna! Boa sorte! Você arrasa, garota! — ela disse com um sorriso. Tentei retribuir e disse, saindo:
— Se a Hazel aparecer, peça para ela adiantar as sobremesas, por favor.
Saí apressada, verificando o avental quando, sem querer, trombei com uma parede de músculos.
— Oh, meu Deus, me descul… — Fiquei sem fala ao olhar para o rosto da “parede de músculos” em que trombei.
“É ele! Não acredito que o encontrei depois de tantos anos!”
Ele ficou parado, olhando para mim, assim como eu, sem dizer uma palavra.
Não sei por quanto tempo ficamos nos encarando, mas para mim, pareceu uma eternidade.
— Desculpe, senhor, precisa de alguma coisa? Se não, preciso ir. A senhora Sonderman está me aguardando — tentei me recompor.
— Você não está me reconhecendo, Hanna? — Ele perguntou com a voz rouca.
Hanna— Foram tantos anos que achei que você não se lembrava de mim. — Digo ainda sem jeito.— Nunca me esqueci de você. — Ele diz sério, sem hesitar.Não sei o que dizer, começo a procurar pela senhora Sonderman, ele segura meu queixo e me obriga a encará-lo.Aqueles olhos cor de mel continuam lindos, seus cabelos agora mais curtos o deixam com cara de homem, com esse rosto quadrado que o deixa mais lindo, ele está mais lindo que antes… Seu corpo parece ser esculpido pelos deuses do Olímpio, é surreal como aquele garoto magro se tornou nesta montanha de músculo.Sinto as borboletas adormecidas do meu estômago se agitarem como se reconhecessem ele, reconhecessem seu toque.— Você se esqueceu de mim, Hanna? — Ele pergunta, olhando em meus olhos, sinto um arrepio subir pela minha espinha.— Não tem como esquecer o primeiro amor! — Digo tão baixo que sai como um sussurro.Ele estala a língua, como se não acreditasse em mim.— Por que fez isso? — Questiono um pouco irritada.Ele me olha c
Hanna— Finalmente te encontrei. — Diz minha irmã, vindo ao meu encontro. — O que aconteceu?Hazel me tira do meu transe do passado.— Nada, Hazel, vamos, desculpe, eu precisava respirar.— Tem certeza? Você estava chorando! — Ela insiste.— Estou bem, Hazel! — digo um pouco ríspida.— Ok, Ok! Não precisa ser grossa.No caminho de volta para a cozinha, não olho para os lados, apenas foco no meu caminho, até que sinto uma mão segurar em meu braço, sinto como um choque, sabia que era ele sem nem ao menos olhar.— Hanna, podemos conversar?Sem olhar para ele, respondo, tentando ser o mais educada possível para que Hazel não perceba.— Desculpe, estou trabalhando agora e não posso conversar, com licença, senhor.— Não me chame de senhor, não sou velho e já tenho intimidade suficiente para dizer meu nome. — Interrompo-o antes que diga seu nome.Olhando para ele, digo:— Nunca fomos íntimos, foi algo passageiro que passou, tenha uma boa noite, senhor!Não dou brecha para ele falar, sigo par
KevinAlguns dias se passaram, e eu ainda não conseguia tirar a mulher da boate da minha cabeça. Havia uma pergunta que me atormentava sem parar: seria mesmo a Hanna?Estava absorto em meus pensamentos quando meu pai entrou na minha sala abruptamente, a porta batendo contra a parede com força.— Não quero mais desculpas, vou acertar o seu noivado com Ashley — ele disse, a voz firme e grave, carregada de autoridade.— Já falei que não vou me casar com ela! — retruquei, no mesmo tom impaciente.Ele me lançou um olhar cortante, inabalável.— Ou você se casa com Ashley Caspian, ou dá adeus ao cargo de diretor.Minha raiva cresceu no mesmo instante. Dei um soco na mesa, o som ecoando pela sala.— Isso é um absurdo, pai!— Absurdo é você aparecer toda semana nas capas das revistas de fofoca, bêbado e acompanhado daquelas mulheres que só querem o meu dinheiro!Minha respiração estava acelerada. Eu já estava farto daquela pressão.— Eu não vou me casar nem com Ashley, nem com ninguém.Ele deu
KevinEu detesto esse tipo de evento, onde os “poderosos” se exibem em uma competição de quem doa mais. Claro, para as instituições é ótimo, mas, se essas pessoas tivessem um mínimo de consciência, não precisariam de um evento para fazer caridade. Eu, por exemplo, contribuo mensalmente para cinco instituições, sem precisar de holofotes. A verdade é que só estou aqui para evitar mais uma briga com meu pai. Cumprimento algumas pessoas, troco palavras com outras, mas minha verdadeira missão da noite é evitar o Dylan. Ele sempre foi um babaca machista, do tipo que humilha qualquer um que não pertence ao seu círculo social. Infelizmente, não fui rápido o suficiente para escapar.Dylan me avistou antes que eu pudesse dar meia-volta e desaparecer na multidão. Seu sorriso presunçoso me atingiu como um soco. Ele se aproximou com passos largos e aquele ar de superioridade que sempre me irritou.— Kevin Stewarth! Quanto tempo, amigo! — Ele estendeu a mão, forçando um aperto de mão que eu não
Lembranças do Kevin— Sua gata não veio hoje? — Davis pergunta ao se aproximar de mim.— Estou tentando ligar para ela, mas não consigo, só dá caixa postal.— Desencana, ela deve ter perdido a hora. Logo ela aparece. Vamos, o sinal já tocou.Vou para a sala, ainda olhando para trás com a esperança de vê-la chegando. Envio mais uma mensagem, mas, como as outras, não chega no celular dela.Estou com uma sensação ruim desde que acordei hoje. “Que não seja nada.”Na hora do intervalo, também não a vejo. Decido perguntar às meninas se elas sabem de algo.— Oi, Emy, sabe da Hanna?— Não. Eu tentei ligar, mas só deu caixa postal, — ela responde com o celular na mão.— Também tentei, e nada — diz Ava, com olhar preocupado.Minha preocupação aumenta. Saio no intervalo e vou até a casa dela. Já a levei para casa algumas vezes, mas nunca entrei.Bato algumas vezes na porta, até que uma vizinha aparece e diz:— Moço, não mora mais ninguém aí, não. Eles foram embora de madrugada. Um carrão preto e
KevinQuando entro na cozinha, vejo Hanna desmaiada nos braços de uma mulher. Sem pensar duas vezes, corro para junto delas. No caminho, ouço uma discussão acalorada.— Não chega perto da minha irmã, seu filho da puta desgraçado! — uma mulher muito parecida com Hanna grita para Dylan.— Eu só quero ajudar! — Dylan tenta acalmá-la.A mulher começa a gritar e xingar descontrolada, podia sentir a raiva que ela sentia, assim como dava para ver o quanto ela amava e protegia sua irmã em seus braços. Com a voz firme e olhar mortal ela disse a Dylan:— Dê mais um passo, e você é um homem morto. Não estou nem aí se vou para a cadeia, vou até feliz por tirar um lixo humano como você do mundo. Repito, você não encosta um dedo nela!— Posso? — pergunto à mulher. Só então ela percebe minha presença.— Por favor — ela responde, olhando para Hanna com preocupação.— Já ligaram para o resgate? — pergunto preocupado.— Sim, eles estão a caminho — responde uma mulher próxima ao balcão onde estamos.— S
Kevin— Ah, eu sei sim. Eu estava lá. — A irmã de Hanna se perde em seus pensamentos e depois começa a falar: — Hanna estava com você. Ela havia me avisado. Meus pais perguntaram se eu conhecia o namorado dela quando alguém bateu na porta. Atendi e vi um homem de terno de primeira, inteiramente preto, com um semblante sério. — “Quero falar com o dono da residência, se é que isso pode ser chamado de casa.” — Fiquei furiosa. Quem ele pensa que é para falar assim da minha casa? — Ela fecha as mãos tão forte que os nós dos dedos ficam brancos. — Tentei fechar a porta na cara dele, mas o embuti colocou seu sapato preto luxuoso e brilhante na porta, impedindo que eu fechasse. Ele entrou e encarou meu pai, dizendo: “Hudson, tenho uma proposta para você”. Meu pai o encarou de volta, sem saber quem ele era e que merda de proposta estava falando.Ela parou de falar, respirou fundo. Permaneci em silêncio, observando cada detalhe que seu corpo expressava. Aquela conversa precisava ser dita,
KevinNão consigo mais encarar a irmã da Hanna.— Com licença.Saio do quarto, desnorteado. O mundo ao meu redor parece girar, mas não consigo focar em nada. Vou até o terraço, e ali, no meio do vazio, grito. Grito tão alto que minha garganta dói, um som primitivo que ecoa na madrugada. Caio de joelhos e deixo as lágrimas caírem. Choro por mim, por ela, por tudo que perdemos. Eu a julguei tanto. Passei noites ensaiando como confrontá-la, como humilhá-la, e agora descubro que ela foi apenas mais uma vítima do meu pai.Quando a dor se aquieta, como uma tempestade que vai perdendo força, me levanto, exausto. Vou até a lanchonete mais próxima, compro dois cafés e uma água. Volto para o quarto, onde Hanna está deitada. Sua irmã me olha surpresa, mas não diz nada. Seus olhos, ainda que silenciosos, parecem questionar minhas intenções.— Trouxe café — digo, hesitante. — Não sabia como você gosta, então trouxe açúcar também.Antes que ela pudesse responder, o celular dela começa a tocar. Ela