2 - Se fosse tão fácil assim.

Kevin

Estou no piloto automático. Minhas mãos firmes no volante, os olhos fixos na estrada, mas a mente distante, presa em lembranças que nunca realmente partiram. A cidade lá fora parecia viva, iluminada pelas luzes da noite, mas dentro de mim, tudo estava envolto em uma escuridão que só eu conhecia.

Chego à boate e o som ensurdecedor da música me atinge como uma onda, me puxando de volta para o presente. Estaciono o carro e saio, sentindo o frio da noite contra minha pele quente. Lá dentro, Davis me espera com aquele sorriso animado de sempre, pronto para mais uma noite de excessos e sexo. Mas, por mais que eu tente, não consigo me sentir animado. Na verdade, não consigo sentir nada.

A boate estava cheia, as luzes pulsavam na batida da música que tocava, o cheiro de álcool se misturava com perfume caro. Mulheres lançam olhares, algumas se aproximam, tocam meu braço, sorriem com promessas silenciosas de uma noite sem compromisso. Elas são lindas, cada uma delas. Mas são apenas rostos, corpos que me atraem por alguns segundos e depois desaparecem, como sombras no escuro.

Davis chega até mim com dois copos na mão, me entregando um.

— Aqui, irmão. Hoje é para esquecer o mundo. — Ele grita sobre a música, batendo o copo contra o meu.

Sorrio pensando ser exatamente o que quero fazer, mas não esquecer o mundo, e sim Hanna. Bebo o líquido âmbar de uma vez, sentindo-o descer queimando pela garganta.

“Esquecer. Se fosse tão fácil assim.” — Penso enquanto peço mais uma dose.

— E aí, cara, fiquei sabendo que fugiu de Ashley de novo. — Ele diz rindo.

— Nem me fala, não sei mais como fugir dela, o pior é meu pai.

Enquanto a noite avança, a bebida ajuda a entorpecer os pensamentos, mas nem o álcool consegue apagar completamente as memórias de Hanna. Seus olhos azuis, seu sorriso... a maneira como ela me olhava, como se eu fosse tudo o que ela precisava. Por que ela foi embora? Por que me deixou sem nenhuma explicação? Essas perguntas nunca me abandonaram, e sei que provavelmente jamais serão respondidas.

Meus olhos vagam pelo lugar, tentando encontrar algo que me distraia, que me tire dessa espiral de pensamentos. É quando vejo uma mulher do outro lado do bar. Algo nela me faz parar. Ela não é como as outras, não é como as mulheres que passam a noite inteira se exibindo, buscando atenção. Ela parece distante, como se estivesse aqui, mas sua mente parece estar em outro lugar, assim como a minha. 

Nossos olhares se encontram por um momento, e por algum motivo que não consigo explicar, sinto uma pontada no peito. De repente, a sensação de controle que eu tinha sobre meus sentimentos, sobre meu isolamento, começa a escorregar pelos meus dedos.

Davis se aproxima novamente, animado e já alterado pela bebida.

 — Kevin, vem cá! As garotas querem conhecer você. — Ele ri, puxando meu braço.

Eu o sigo, mas minha mente permanece naquele olhar distante, naquela mulher que me parecia tão familiar. Algo nela, o jeito que ela me olhou, me fez sentir vulnerável de novo, como se estivesse abrindo velhas feridas que eu achava terem cicatrizado. O que isso significa? Talvez nada… ou será que poderia ser? Não pode ser... Hanna? Meu coração dispara, e uma sensação que não consigo nomear toma conta de mim. Largo o braço de Davis abruptamente e volto alguns passos, os olhos fixos no lugar onde ela estava.

Mas ela já não está mais lá.

O pânico começa a crescer em meu peito e eu começo a varrer o local com os olhos, desesperado, como se estivesse procurando um fantasma. Será que era ela? A possibilidade me consome. Olho ao redor, mas não consigo vê-la em meio à multidão, às luzes piscantes, à fumaça densa. Minha respiração fica mais pesada, e uma voz na minha cabeça começa a gritar que talvez, só talvez, eu tenha acabado de ver Hanna, a mulher que destruiu tudo em mim.

Será que minha mente está pregando peças? Ou será que ela realmente estava aqui? Essa dúvida começa a me corroer por dentro, a mesma dúvida que me atormenta desde o dia em que ela desapareceu da minha vida sem deixar rastro.

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