Sofia
– Sinto muito, mas infelizmente o seu currículo não foi aprovado em nossa seleção, senhorita Lykos – a moça diz me devolvendo a pasta com meu currículo.
Sinto meu coração falhar uma batida, pois essa é a minha sétima tentativa de entrevista e o sétimo não que ganho em três meses. Respiro fundo e sinto meus olhos arderem e as lágrimas imploram para sair, mas as seguro com toda a minha força. Infelizmente eu só tinha até hoje para conseguir um emprego e assim garantir, que conseguiria pagar meu aluguel quando entregasse o quartinho em que fiquei durante a faculdade.
Pego meu resto de dignidade e me caminho para fora da escola, respiro fundo mais uma vez e tento acalmar meus dedos que tremem sem parar. Trabalhei incansavelmente para consegui vim para Atenas, fui contra meu pai, consegui me virar com a bolsa de estudos nesses quatro anos, mas agora acabou, tenho que entregar as chaves e não possuo nenhum meio para poder continuar aqui.
As lágrimas insistem em querer sair, não tenho dinheiro para pegar táxi, andar por um longo caminho de saia lápis e saltos altos não é nada agradável, mas é preciso, e tenho é que dar graças por ter pernas, muitos infelizmente nem isso tem.
Tenho apenas um pouco de dinheiro guardado no banco, o qual precisarei tirar amanhã para pagar o barco que me levará de volta ao meu antigo "lar". A casa dos meus pais. Embora eu ame aquela ilha, não sonhava em voltar para casa dos meus pais, e sim em ter o meu próprio cantinho.
Nunca havia perdido as esperanças de que conseguiria me manter aqui, mas não deu certo, me formei, no entanto não consegui um emprego e agora tenho que voltar e enfrentar o senhor Lykos. Meu pai não é um homem fácil de lidar, e de uns tempos para cá comecei a perceber uns olhares estranhos dele voltado para mim, talvez seja apenas decepção, por eu ter conseguido fazer a minha faculdade. Sinto meus dedos voltarem a tremer só de imaginar as inúmeras palavras grosseiras que ele vai me dirigir assim que colocar meus pés em Santorini, minha mãe me apoia do jeito dela, mas apoia, apesar de ela dizer que não queria que eu fosse para longe, ela não me diz ofensas e tenta me apoiar o máximo que consegue, mesmo sendo um pouco fria. Eu sei que no fundo eles me amam e que querem apenas o melhor para mim, mas meu pai é sufocante. Eu não o odeio, mas nossos objetivos de vida são diferentes e isso faz nossa relação ser complicada.
Eu queria sim voltar para as minhas origens, mas queria voltar sendo independente, fiz o curso de Letras, sempre sonhei em ser professora dos pequeninos, e óbvio, não tive o apoio do meu pai. Mas consegui a bolsa e sem pensar duas vezes segui em frente com meu sonho, me formei com notas relativamente altas. Amo crianças e sempre quis voltar e dar aulas na ilha. Mas infelizmente lá não abriu nenhuma vaga, então me arrisquei a procurar aqui em Atenas.
Suspiro e tento apressar meus passos, meu tempo aqui em Atenas acabou, foi maravilhoso os dias em que pude viver nessa bela cidade, foram ótimos anos, aprendi muita coisa, fui muito feliz enquanto ainda tinha esperanças.
– Ai! – grito quase caindo de joelhos no chão.
Olho para meu salto direito e percebo que ele soltou, maravilha, meu dia já estava ruim mesmo, um problema a mais não faz diferença.
Termino de arrancar o salto e volto para a minha caminhada, sei que estou andando toda torta e que os risinhos que escuto são resultados de minha vergonha. Mas não ligo, infelizmente meu sonho está chegando ao fim. Voltarei para ilha com as mãos lisas, assim como sair de lá.
Depois de quase meia hora caminhando finalmente chego no "meu" quartinho, tiro as chaves da bolsa e destranco a porta. Sigo direto para o quarto e arrumo minhas coisas na mala. Não tenho muito, todo o dinheiro foi focado nos meus estudos e nas minhas necessidades. Levo menos de duas horas para arrumar tudo e já não tenho mais nada aqui.
Respiro fundo, pego o telefone e ligo para empresa de viagens, compro minha passagem, a passagem mais barata, irei para ilha em um barco bem simples.
Além da paixão por ensinar, amo nadar, a água parece ser meu cantinho de conforto, não sei explicar exatamente, mas me sinto mais relaxada quando estou nadando. É como se meus problemas desaparecessem por alguns instantes enquanto estou submersa.
Não tenho amigos aqui, tive apenas algumas colegas para montar as equipes, mas amizade mesmo não consegui fazer, e eu não me sentia confortável perto dos meninos, e também meus pais falaram que não era para eu me envolver com ninguém e nem deixar nenhum deles me levar para a cama. Na verdade, meu pai exigiu que não me deitasse com nenhum homem.
No entanto, eu não fiz isso porque foram as instruções dos meus pais, fiz porque quero encontrar um amor de verdade, não quero ser apenas mais uma na vida de alguém e nem quero ter apenas um momento. Quero encontrar alguém com quem eu possa dividir a vida, os momentos bons e os momentos ruins. Ter alguém para rir e abraçar nas horas de choro. Quero um parceiro, um amigo e um amante. Quero viver um amor puro e verdadeiro.
Olho para o relógio e o mesmo marca oito e meia da noite, ainda está bem cedo, mas mesmo assim me recolho no quarto para dormir.
Acordo com o despertador tocando exatamente às seis e meia da manhã, o desligo e levanto da cama, estou triste, mas preciso me manter o mais "alegre" possível, não posso me deixar abater, preciso manter viva esperança, quem sabe um dia eu ainda consiga realizar meu sonho e lecionar para os pequeninos.
Preparo um misto quente e um pouco de suco sabor manga, sento na pequena mesa de dois lugares que tem no cantinho do quarto e como devagar. Olho tudo em volta
– Irei sentir saudades – comento com a voz embargada.
Termino meu desjejum, limpo os pratos e vou para o banheiro, faço minha higiene matinal, depois tomo um longo banho e lavo meus cabelos. Me visto com um vestido simples, de alças finas na cor amarela, calço minhas rasteirinhas e estou pronta. Volto para o quarto e dando uma última olhada pego minhas malas, deixo as chaves em cima da mesinha e saio de dentro do quartinho.
Lágrimas mais uma vez querem me fazer companhia, mas não permito, preciso ser forte.
Dessa vez eu pego um táxi, a corrida não demora muito, em menos de meia hora já estou no porto. Pago o taxista e sigo para o barco mais simples. Pego meu celular e mostro minha passagem, ele assente e então embarco. Em poucos minutos o pequeno barco lota e então damos partida para a ilha.
Sentir a brisa do mar é relaxante, estava com saudade desse cheiro, olho para o horizonte e me pego mais uma vez sonhando acordada. É tão difícil manter a esperança, é tão difícil quando ninguém além de você acredita em seu potencial. Mas enfim, agora não é hora para lamentações.
A viajem leva apenas algumas horas, já consigo ver meus pais me esperando. Desembarco e vou direto para onde eles estão me esperando. Minha mãe sorri ao me ver e me dá um abraço apertado, já o meu pai. Suas primeiras palavras são:
– Se tivesse me dado ouvidos, não estaria assim! Já estaria trabalhando e provavelmente já estaria casada, já tem vinte e três anos!
Não digo nada, não quero discutir no meio do porto da ilha.
– Por que tinha que ser tão teimosa? Eu te avisei que não conseguiria nada lá, mas não quis ouvir as palavras de seu pai e agora está assim! Não deveria te aceitar.
– Já chega! – minha mãe interfere cortando sua fala.
Suas palavras entram em meu coração como adagas afiadas. Mas isso não importa, ainda tenho esperanças, pois ela é a última que morre.
– Venha filha, vamos para casa meu amor.
Minha mãe me segura pelo braço e então seguimos pelo caminho de pedras.
– Só espero que não tenha dormido com ninguém Sofia – meu pai fala assim que chegamos em casa, não respondo e sigo para o meu quarto.
– Amanhã você vai comigo até a mansão Sofia, consegui uma vaga para você lá –minha mãe avisa antes que eu suma no corredor, aceno com a cabeça e sigo meu caminho.
– Será provisório – falo baixinho.
Sofia 5 meses depois O cabelo hoje não parece nada disposto a me ajudar. Sabia que seria assim quando viesse para área da frente da mansão limpar as folhas, hoje faz cinco meses que estou trabalhando para a família Galanis e a dona Ártemis, a dona da casa é uma mulher incrível. As mechas ruivas não parecem interessadas em colaborar com o meu trabalho. Ainda não perdi as esperanças de conseguir um emprego de professora na escola da ilha, dona Ártemis falou com o diretor, eles são velhos conhecidos, mas não tem vaga para esse ano ainda, então tenho que aguardar. – Já acabou querida? – minha mãe questiona assim que entro na cozinha. – Sim, o vento não quis colaborar muito hoje, mas já terminei – aviso me sentando na cadeira perto da porta. – Então podemos ir – ela termina de guardar os pratos, limpa as mãos e então saímos da mansão, seguimos pela alameda de pedras em direção a nossa casa. Quando as pessoas veem a gente juntas pensam que ela é minha avó, meu pai também passa por iss
POSEIDON – Vai para a ilha hoje ainda Poseidon? – Hades questiona. – Sim, sinto falta dos momentos tranquilos na ilha – falo me recostando no confortável sofá de couro preto do meu escritório. Nos últimos quatro anos eu viajei por vários países expandindo os negócios da família, já que meus dois irmãos Hades e Zeus, os gêmeos do mal, se casaram e essas viagens são sempre longas e não teria como nenhum deles representar a empresa. Zeus é casado com Manuela e tem dois filhos, os gêmeos Heitor e Helena estão com sete anos de idade, a menina é um doce de criança é uma das minhas princesinhas. Já o menino é um pequeno monstrinho que ama esportes radicais e adora dar susto na irmã e nos primos. Hades é casado com Stephanie e tem quatro filhos, Theodoro de sete anos e os trigêmeos Ágata, Antony e Alice com quatro anos. Essas duas princesas completam o meu castelo e consomem todo o espaço do meu coração junto com os três pestinhas que juntos são um trio e tanto de bagunça. Meus irmãos
SOFIA Saio da sala com passos apressados e com a respiração alterada, eu já tinha visto algumas fotos do filho mais novo da senhora Ártemis, mas vê-lo pessoalmente me deixou em choque com tamanha beleza. Alto, pele bronzeada, cabelos negros, olhos azuis, azuis como a cor do oceano, um peito largo e musculoso, fico até constrangida em ter reparado tanto. Decido espantar esses pensamentos impróprios sobre o senhor Poseidon e foco no meu trabalho, tenho que deixar a janta da família pronta antes de ir. A senhora Ártemis é realmente um anjo na terra, me cedeu de bom grado a vaga de cozinheira da minha mãe, embora não tenha seguido para essa área eu gosto de cozinhar e minha mãe me ensinou muitas coisas, dizem que nossos temperos são parecidos. No fim do meu expediente saio da mansão para ir para minha casa, no caminho passo em um pequeno restaurante que tem na ilha para os turistas aproveitarem a culinária local e compro a janta do meu pai, eu sei que não dará tempo de chegar em casa e
POSEIDON Acordo cedo e vou direto para o banheiro fazer minha higiene matinal. Visto uma bermuda moletom preta e uma camisa branca e antes de sair do meu quarto pego meu celular, coloco no bolso, é sol em Santorini, como sempre e como sentir falta desse calor. Desço as escadas e vou para mesa tomar café e meus pais já estão lá sentados conversando sobre amenidades. – Bom dia caçulinha mais lindo da mamãe – minha mãe fala assim que me ver e vou direto dá um beijo em sua testa. – Mamãe eu cresci, para de me chamar assim que é broxante – digo me sentando e coloco um pouco de suco de uva no copo. – Sempre será meu caçula – ela responde bebericando o seu café. Sem mais comentários o café segue normal, e de repente lembro da ruivinha que está na cozinha e que preparou esse delicioso desjejum, tem algo escondido em seu olhar que gostaria muito de identificar, sinto como se algo me empurrasse para ela. Quando termino de tomar café e meus pais se dispersam pela casa, decido ir até a cozi
SOFIA Meu coração se aperta, meus olhos ardem com as lágrimas que não deixo escapar, minhas mãos tremem. Fecho meus olhos e respiro bem fundo. Ando a passos curtos para casa, meu pai tem me batido todos os dias e disse que hoje será um dia importante onde eu saberei sobre a cultura de sua terra e poderei cumprir o ritual, confesso que estou com muito medo, ele está intransigente e se souber que tenho um amigo é capaz de me matar, consigo sorrir ao lembrar de Poseidon querendo se aproximar de mim de qualquer forma e ser meu amigo. Chego na porta da casa onde moro, minha cabeça lateja em antecipação respiro fundo e enxugo algumas lágrimas que teimam em descer, ultimamente tenho sentido uma tristeza muito grande, e as surras que tenho recebido a troco de nada tem uma grande contribuição para o meu desgosto com a vida. Quando entro vejo ele sentado no sofá assistindo um documentário na televisão, estremeço quando ele me dirige o olhar e vejo maldade. – Sente-se aqui Sofia – ele aponta
POSEIDON – Boa noite família – digo quando me junto aos meus pais, eles estão sentados na sala bebendo uma taça de vinho. – Oi filho, o que manda? – meu pai pergunta me encarando. – Estou achando estranho, nunca tirei tantos dias de folga – conto e ele ri. – Já quer voltar para o trabalho? – balanço a cabeça negando – Seus irmãos dão conta, você merecia um descanso, bebezinho da mamãe – faço careta. – O senhor não sente falta de trabalhar, pai? – Ei garoto, não coloca ideia na cabeça do seu pai – minha mãe me corta – Deixa eu aproveitar meu marido, e por que você acha que tivemos três filhos? – meu pai beija a cabeça dela rindo. – Eu sou responsável por toda a ilha, trabalho é o que não me falta – ele dá de ombros. – Tenho te achado muito caseiro filho, está doente? – minha mãe pergunta. – Mais como é ingrata em dona Ártemis – falo debochado – Se saio para farra reclama, se fico em casa reclama, se decide. – Não estou reclamando bebê – ela já vai apelando – Só fiz um comentár
POSEIDON – Quer tomar um banho? – pergunto observando seu semblante triste, ela balança a cabeça levemente confirmando. Saio do meu quarto rapidinho e vou para o quarto de Zeus, todos mantêm roupas aqui na casa dos meus pais para não precisarem trazer bagagem. Manu não vai se importar de emprestar umas roupas para minha Sofia. Escolho algumas peças de roupa e volto para o quarto – Aqui tem uma camisola, e dois vestidos, peguei da minha cunhada, só não tem calcinha – dou risada quando ela fica vermelha. Vou até o meu closet e pego três cuecas box branca nova e volto para o quarto, coloco no colo dela as peças – São minhas, estão novas não se preocupe – ela sorri sem jeito. – Obrigado por ter me salvado – ela fala docemente. – Não por isso Sardinhas – sorrio de lado. – Mas você sabe que não eu não vou fazer aquilo com você – fala parecendo um tomate de tão vermelha. – Transar? – falo risonho só para ver seu embaraço. – Poseidon! – ela ralha – Não fala essas coisas. – Você que com
Poseidon Galanis Passei o dia todo em Atenas, resolvendo alguns problemas no hotel de lá e principalmente agilizando a construção do meu escritório aqui na ilha. Fiquei muito tempo longe da Sofia, quando desço do helicóptero e entro em casa não ouço nada, está tudo em silêncio, nem sinal dos meus pais ou de sardinhas bonitinhas. Atravesso a sala e subo as escadas, estou louco de saudade da minha garota, embora ela esteja planejando ir para longe de mim. Sempre me envolvi com várias mulheres e nunca me apeguei, se eu achava uma mulher bonita e atraente eu passava uma noite com ela e no dia seguinte era apenas tchau, sem olhar para trás. Mas Sofia é diferente, ela é frágil, delicada e ao mesmo é forte e corajosa. Vejo um certo receio da parte dela ao meu lado, é como se ela estivesse lutando contra algum sentimento que ela acha que pode desenvolver por mim, me parece que esconde algo importante, talvez o motivo pelo qual o pai dela fez uma atrocidade daquelas, marcar uma pele tão delic