CAPITULO 6

POSEIDON

– Boa noite família – digo quando me junto aos meus pais, eles estão sentados na sala bebendo uma taça de vinho.

– Oi filho, o que manda? – meu pai pergunta me encarando.

– Estou achando estranho, nunca tirei tantos dias de folga – conto e ele ri.

– Já quer voltar para o trabalho? – balanço a cabeça negando – Seus irmãos dão conta, você merecia um descanso, bebezinho da mamãe – faço careta.

– O senhor não sente falta de trabalhar, pai?

– Ei garoto, não coloca ideia na cabeça do seu pai – minha mãe me corta – Deixa eu aproveitar meu marido, e por que você acha que tivemos três filhos? – meu pai beija a cabeça dela rindo.

– Eu sou responsável por toda a ilha, trabalho é o que não me falta – ele dá de ombros.

– Tenho te achado muito caseiro filho, está doente? – minha mãe pergunta.

– Mais como é ingrata em dona Ártemis – falo debochado – Se saio para farra reclama, se fico em casa reclama, se decide.

– Não estou reclamando bebê – ela já vai apelando – Só fiz um comentário, estou feliz que esteja em casa, falta agora só me dar netinhos.

Quando vou respondê-la sinto meu celular vibrar no meu bolso, meu coração b**e acelerado na esperança de que seja a sardinhas bonitinhas me chamando para dar uma volta, meio improvável eu sei, mas não custa sonhar. Pego o aparelho no bolso da frente da minha bermuda, olho o visor e o número, não está salvo, mas reconheço como sendo um número local, pode ser ela.

– Poseidon Galanis – atendo meio formal.

– É a Sofia, preciso de ajuda – sua voz parece trêmula, percebo que ela está chorando e todo o meu corpo fica em alerta, me levanto exasperado e meus pais me olham preocupados.

– Aconteceu alguma coisa, sardinhas?

– Preciso muito de ajuda – diz soluçando – Por favor, eu não tenho ninguém.

– Poseidon, quem é? – minha mãe pergunta, mas apenas faço um sinal para que espere.

– Me fala o que está acontecendo – peço e ela chora mais ainda.

– Estou com muito medo Poseidon, não deixe ele fazer isso comigo – ela pede soluçando e meu coração se aperta.

– Está em casa? – vou andando rápido até a porta da minha casa temendo só de pensar que algo grave esteja acontecendo com ela.

– Estou, não demo... – a linha fica muda.

– Sardinhas? – chamo, mas não obtenho nenhuma resposta, entro em desespero e levo as mãos ao cabelo.

– Poseidon, fala alguma coisa – meu pai pede.

– Sardinhas – começo e ele me olha sem entender – Sofia, está em perigo, tão fazendo mal a ela. Eu vou lá – caminho para o portão.

– Calma, eu vou com você – ouço meu pai dizer atrás de mim, mas já estou fora da nossa propriedade.

– Vamos pai, ela está com medo – digo e começo a correr, a casa dela não é tão longe.

Corro algumas quadras e paro em frente à sua casa, alguns segundos depois meu pai para do meu lado com a respiração ofegante. A rua está deserta, tem apenas a casa da Sofia e mais umas quatro, só que um pouco afastada, o silêncio da noite facilita ouvir os gritos vindo de dentro da casa.

Por favor, Não – a voz grita suplicando, e é ela, meu corpo ficou tenso.

Ando rápido até a porta e bato com força na porta de madeira, alguns segundos depois os gritos silenciam e ouço passos vindo na direção da porta. Quem atende é o pai dela, não o conheço, mas já sinto ódio mortal dele, o cara abre a porta com o maxilar travado e um cinto nas mãos. Não tenho medo de cara feia.

– Senhor Apolo – ele cumprimenta meu pai.

– Como vai Júlio? – meu pai pergunta.

– Desejam alguma coisa? – pergunta nos olhando com a testa franzida.

– Preciso falar com a Sofia – meu pai responde, ao notar meus olhos cheios de raiva em direção ao homem.

Estou tentando ao máximo me controlar e não perguntar porque diabos ele está com o cinto na mão e porque minha Sossô gritava tanto, a vontade que tenho é meter a porrada na cara desse velho e pegar a minha garota.

­– Ela não está em casa – responde com a cara mais lavada possível.

Mas antes que eu possa falar alguma coisa eu a vejo atrás dele, está parada, no meio do corredor com o vestido florido rasgado na parte superior, o lábio cortado e o rosto muito vermelho, mesmo longe posso notar que seus olhos suplicam ajuda.

– Sofia, volte para o seu quarto agora – o homem manda sem se importar de ter sido pego em uma mentira – Minha filha está indisposta, não queria receber ninguém, essas mulheres são cheias de frescuras, deve entender como é Senhor Apolo.

– Quero falar com você Sofia – finalmente falo alguma coisa, mas não deixo de encarar esse velho safado mentiroso, ele me encara com os olhos transbordando raiva.

– Ela não vai falar com ninguém – ele diz grosseiramente – Podem ser os donos da ilha, mas quem manda na minha casa sou eu. Sofia – ele grita e ela encolhe os ombros – Volte para o quarto.

Ele tenta ficar no meio da porta para tapar a minha visão, perco a pouca paciência que me resta e o empurro entrando na casa.

– Saia da minha casa – ouço ele gritar, mas não me importo.

– Sardinhas – falo com preocupação tocando seu rosto vermelho e olhando o estado deplorável em que ela se encontra, sem resistir a abraço com cuidado a fim de acalmar meu coração, sinto ela soluçar ao me abraçar de volta – Vou tirar você daqui.

– Obrigado por ter vindo – ela diz soluçando – Eu não tinha ninguém para chamar.

– Você os chamou aqui? – grita furioso – Não estava indisposta, querida? – fala encarando-a sombrio e a sinto se encolher sobre o olhar do velho – Não vai levar minha filha – meu maxilar treme de raiva e me seguro para não dar um soco nele.

– Ela vai comigo – digo firme.

– Só por cima do meu cadáver – ele diz ficando na nossa frente.

– Isso não será um problema, Júlio – meu pai diz, entrando com passos tranquilos na casa e para na frente do homem ficando entre a gente – Pode passar com a Sofia filho, ela precisa ir para o hospital.

– Ela não precisa de nada, deixem minha filha que eu sei como cuidar dela – ele não desiste.

Seguro com firmeza o corpo trêmulo de Sofia e caminho com ela para fora da casa, Júlio nos segue com os olhos cheios de raiva, mas não faz nada, meu pai fica o tempo todo em sua frente o intimidando.

– Isso é abuso de poder – fala olhando para o meu pai.

– Espere a visita da Polícia Júlio – papai fala se juntando a mim do lado de fora.

Um vento frio passa pela gente e Sossô estremece, então lembro que o vestido dela está rasgado então tiro minha camisa e visto nela com cuidado.

– Vamos até o hospital, precisa limpar esses machucados e um remédio para dor – uma fúria indescritível se apossa de mim quando noto as marcas de arranhões nos braços finos dela.

– Eu não quero ir ao hospital – fala com a voz frágil – Não estou pronta para explicar o que aconteceu.

– Sofia! – o velho sai de casa transbordando ira, ela estremece em meus braços e me abraça mais forte quando o homem aponta em sua direção – Eu já mandei você ir para o quarto, você não tem para onde ir, mas cedo ou mais tarde terá que voltar. Olha só para eles sua tola, são os donos na ilha e você não passa da empregada deles, uma morta de fome.

Mais lágrimas rolam por seu delicado rosto e sinto uma dor muito forte no meu coração ao vê-la dessa maneira tão vulnerável. Ignoro o velho, mesmo com vontade de socar a cara dele até ele desmaiar, pego minha garota nos braços e caminho para longe daquele lugar, ela se encolhe em meus braços e apoia a cabeça em meu peitoral e fecha os olhos, lágrimas não param de descer.

– Tem certeza que não quer ir ao hospital? – pergunto e ela balança a cabeça negativamente.

– Mandei uma mensagem para o médico que atende no hospital, ele irá até lá em casa, fique tranquila Sofia, não precisará falar nada agora – meu pai fala confortando-a.

Quando chegamos em casa a coloco sentada no enorme sofá da sala, minha mãe aparece morrendo de preocupação e explicamos tudo o que aconteceu. O médico não demora a chegar, ele faz uma breve consulta e passa alguns remédios para aliviar as dores. A vejo estremecer quando o médico passa um pedaço de algodão com remédio no lábio dela.

– É para não infeccionar o corte, a ardência vai passar logo – ele avisa com um sorriso calmo. Após terminar de limpar os ferimentos ele fecha sua maleta e levanta – Agora precisa descansar – ele se despede de todos e vai embora.

– Você é bem-vinda, Sofia – minha mãe senta ao lado dela e segura suas mãos – Eu não sabia que passava por essas coisas, poderia ter me pedido ajuda.

– Eu não sei o que falar – minha garota responde de cabeça baixa.

– O que importa é que está segura aqui, e nunca vou deixar que vá embora se não for da sua vontade – minha mãe limpa as lágrimas que caem de seus olhos – Já disse uma vez e repito, tem em mim uma mãe.

– Melhor sogra mamãe – falo risonho tentando dissipar aquela névoa preta da minha cabeça, Sofia em olha chocada e envergonhada já minha mãe me olha com a testa franzida e dou de ombros.

Depois de repetir várias vezes que ela é bem-vinda e desejar melhoras meus pais se recolhem e eu a pego no colo mais uma vez e subo as escadas indo para o meu quarto e a coloco em cima da cama com cuidado.

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