POSEIDON
– Boa noite família – digo quando me junto aos meus pais, eles estão sentados na sala bebendo uma taça de vinho.
– Oi filho, o que manda? – meu pai pergunta me encarando.
– Estou achando estranho, nunca tirei tantos dias de folga – conto e ele ri.
– Já quer voltar para o trabalho? – balanço a cabeça negando – Seus irmãos dão conta, você merecia um descanso, bebezinho da mamãe – faço careta.
– O senhor não sente falta de trabalhar, pai?
– Ei garoto, não coloca ideia na cabeça do seu pai – minha mãe me corta – Deixa eu aproveitar meu marido, e por que você acha que tivemos três filhos? – meu pai beija a cabeça dela rindo.
– Eu sou responsável por toda a ilha, trabalho é o que não me falta – ele dá de ombros.
– Tenho te achado muito caseiro filho, está doente? – minha mãe pergunta.
– Mais como é ingrata em dona Ártemis – falo debochado – Se saio para farra reclama, se fico em casa reclama, se decide.
– Não estou reclamando bebê – ela já vai apelando – Só fiz um comentário, estou feliz que esteja em casa, falta agora só me dar netinhos.
Quando vou respondê-la sinto meu celular vibrar no meu bolso, meu coração b**e acelerado na esperança de que seja a sardinhas bonitinhas me chamando para dar uma volta, meio improvável eu sei, mas não custa sonhar. Pego o aparelho no bolso da frente da minha bermuda, olho o visor e o número, não está salvo, mas reconheço como sendo um número local, pode ser ela.
– Poseidon Galanis – atendo meio formal.
– É a Sofia, preciso de ajuda – sua voz parece trêmula, percebo que ela está chorando e todo o meu corpo fica em alerta, me levanto exasperado e meus pais me olham preocupados.
– Aconteceu alguma coisa, sardinhas?
– Preciso muito de ajuda – diz soluçando – Por favor, eu não tenho ninguém.
– Poseidon, quem é? – minha mãe pergunta, mas apenas faço um sinal para que espere.
– Me fala o que está acontecendo – peço e ela chora mais ainda.
– Estou com muito medo Poseidon, não deixe ele fazer isso comigo – ela pede soluçando e meu coração se aperta.
– Está em casa? – vou andando rápido até a porta da minha casa temendo só de pensar que algo grave esteja acontecendo com ela.
– Estou, não demo... – a linha fica muda.
– Sardinhas? – chamo, mas não obtenho nenhuma resposta, entro em desespero e levo as mãos ao cabelo.
– Poseidon, fala alguma coisa – meu pai pede.
– Sardinhas – começo e ele me olha sem entender – Sofia, está em perigo, tão fazendo mal a ela. Eu vou lá – caminho para o portão.
– Calma, eu vou com você – ouço meu pai dizer atrás de mim, mas já estou fora da nossa propriedade.
– Vamos pai, ela está com medo – digo e começo a correr, a casa dela não é tão longe.
Corro algumas quadras e paro em frente à sua casa, alguns segundos depois meu pai para do meu lado com a respiração ofegante. A rua está deserta, tem apenas a casa da Sofia e mais umas quatro, só que um pouco afastada, o silêncio da noite facilita ouvir os gritos vindo de dentro da casa.
– Por favor, Não – a voz grita suplicando, e é ela, meu corpo ficou tenso.
Ando rápido até a porta e bato com força na porta de madeira, alguns segundos depois os gritos silenciam e ouço passos vindo na direção da porta. Quem atende é o pai dela, não o conheço, mas já sinto ódio mortal dele, o cara abre a porta com o maxilar travado e um cinto nas mãos. Não tenho medo de cara feia.
– Senhor Apolo – ele cumprimenta meu pai.
– Como vai Júlio? – meu pai pergunta.
– Desejam alguma coisa? – pergunta nos olhando com a testa franzida.
– Preciso falar com a Sofia – meu pai responde, ao notar meus olhos cheios de raiva em direção ao homem.
Estou tentando ao máximo me controlar e não perguntar porque diabos ele está com o cinto na mão e porque minha Sossô gritava tanto, a vontade que tenho é meter a porrada na cara desse velho e pegar a minha garota.
– Ela não está em casa – responde com a cara mais lavada possível.
Mas antes que eu possa falar alguma coisa eu a vejo atrás dele, está parada, no meio do corredor com o vestido florido rasgado na parte superior, o lábio cortado e o rosto muito vermelho, mesmo longe posso notar que seus olhos suplicam ajuda.
– Sofia, volte para o seu quarto agora – o homem manda sem se importar de ter sido pego em uma mentira – Minha filha está indisposta, não queria receber ninguém, essas mulheres são cheias de frescuras, deve entender como é Senhor Apolo.
– Quero falar com você Sofia – finalmente falo alguma coisa, mas não deixo de encarar esse velho safado mentiroso, ele me encara com os olhos transbordando raiva.
– Ela não vai falar com ninguém – ele diz grosseiramente – Podem ser os donos da ilha, mas quem manda na minha casa sou eu. Sofia – ele grita e ela encolhe os ombros – Volte para o quarto.
Ele tenta ficar no meio da porta para tapar a minha visão, perco a pouca paciência que me resta e o empurro entrando na casa.
– Saia da minha casa – ouço ele gritar, mas não me importo.
– Sardinhas – falo com preocupação tocando seu rosto vermelho e olhando o estado deplorável em que ela se encontra, sem resistir a abraço com cuidado a fim de acalmar meu coração, sinto ela soluçar ao me abraçar de volta – Vou tirar você daqui.
– Obrigado por ter vindo – ela diz soluçando – Eu não tinha ninguém para chamar.
– Você os chamou aqui? – grita furioso – Não estava indisposta, querida? – fala encarando-a sombrio e a sinto se encolher sobre o olhar do velho – Não vai levar minha filha – meu maxilar treme de raiva e me seguro para não dar um soco nele.
– Ela vai comigo – digo firme.
– Só por cima do meu cadáver – ele diz ficando na nossa frente.
– Isso não será um problema, Júlio – meu pai diz, entrando com passos tranquilos na casa e para na frente do homem ficando entre a gente – Pode passar com a Sofia filho, ela precisa ir para o hospital.
– Ela não precisa de nada, deixem minha filha que eu sei como cuidar dela – ele não desiste.
Seguro com firmeza o corpo trêmulo de Sofia e caminho com ela para fora da casa, Júlio nos segue com os olhos cheios de raiva, mas não faz nada, meu pai fica o tempo todo em sua frente o intimidando.
– Isso é abuso de poder – fala olhando para o meu pai.
– Espere a visita da Polícia Júlio – papai fala se juntando a mim do lado de fora.
Um vento frio passa pela gente e Sossô estremece, então lembro que o vestido dela está rasgado então tiro minha camisa e visto nela com cuidado.
– Vamos até o hospital, precisa limpar esses machucados e um remédio para dor – uma fúria indescritível se apossa de mim quando noto as marcas de arranhões nos braços finos dela.
– Eu não quero ir ao hospital – fala com a voz frágil – Não estou pronta para explicar o que aconteceu.
– Sofia! – o velho sai de casa transbordando ira, ela estremece em meus braços e me abraça mais forte quando o homem aponta em sua direção – Eu já mandei você ir para o quarto, você não tem para onde ir, mas cedo ou mais tarde terá que voltar. Olha só para eles sua tola, são os donos na ilha e você não passa da empregada deles, uma morta de fome.
Mais lágrimas rolam por seu delicado rosto e sinto uma dor muito forte no meu coração ao vê-la dessa maneira tão vulnerável. Ignoro o velho, mesmo com vontade de socar a cara dele até ele desmaiar, pego minha garota nos braços e caminho para longe daquele lugar, ela se encolhe em meus braços e apoia a cabeça em meu peitoral e fecha os olhos, lágrimas não param de descer.
– Tem certeza que não quer ir ao hospital? – pergunto e ela balança a cabeça negativamente.
– Mandei uma mensagem para o médico que atende no hospital, ele irá até lá em casa, fique tranquila Sofia, não precisará falar nada agora – meu pai fala confortando-a.
Quando chegamos em casa a coloco sentada no enorme sofá da sala, minha mãe aparece morrendo de preocupação e explicamos tudo o que aconteceu. O médico não demora a chegar, ele faz uma breve consulta e passa alguns remédios para aliviar as dores. A vejo estremecer quando o médico passa um pedaço de algodão com remédio no lábio dela.
– É para não infeccionar o corte, a ardência vai passar logo – ele avisa com um sorriso calmo. Após terminar de limpar os ferimentos ele fecha sua maleta e levanta – Agora precisa descansar – ele se despede de todos e vai embora.
– Você é bem-vinda, Sofia – minha mãe senta ao lado dela e segura suas mãos – Eu não sabia que passava por essas coisas, poderia ter me pedido ajuda.
– Eu não sei o que falar – minha garota responde de cabeça baixa.
– O que importa é que está segura aqui, e nunca vou deixar que vá embora se não for da sua vontade – minha mãe limpa as lágrimas que caem de seus olhos – Já disse uma vez e repito, tem em mim uma mãe.
– Melhor sogra mamãe – falo risonho tentando dissipar aquela névoa preta da minha cabeça, Sofia em olha chocada e envergonhada já minha mãe me olha com a testa franzida e dou de ombros.
Depois de repetir várias vezes que ela é bem-vinda e desejar melhoras meus pais se recolhem e eu a pego no colo mais uma vez e subo as escadas indo para o meu quarto e a coloco em cima da cama com cuidado.
POSEIDON – Quer tomar um banho? – pergunto observando seu semblante triste, ela balança a cabeça levemente confirmando. Saio do meu quarto rapidinho e vou para o quarto de Zeus, todos mantêm roupas aqui na casa dos meus pais para não precisarem trazer bagagem. Manu não vai se importar de emprestar umas roupas para minha Sofia. Escolho algumas peças de roupa e volto para o quarto – Aqui tem uma camisola, e dois vestidos, peguei da minha cunhada, só não tem calcinha – dou risada quando ela fica vermelha. Vou até o meu closet e pego três cuecas box branca nova e volto para o quarto, coloco no colo dela as peças – São minhas, estão novas não se preocupe – ela sorri sem jeito. – Obrigado por ter me salvado – ela fala docemente. – Não por isso Sardinhas – sorrio de lado. – Mas você sabe que não eu não vou fazer aquilo com você – fala parecendo um tomate de tão vermelha. – Transar? – falo risonho só para ver seu embaraço. – Poseidon! – ela ralha – Não fala essas coisas. – Você que com
Poseidon Galanis Passei o dia todo em Atenas, resolvendo alguns problemas no hotel de lá e principalmente agilizando a construção do meu escritório aqui na ilha. Fiquei muito tempo longe da Sofia, quando desço do helicóptero e entro em casa não ouço nada, está tudo em silêncio, nem sinal dos meus pais ou de sardinhas bonitinhas. Atravesso a sala e subo as escadas, estou louco de saudade da minha garota, embora ela esteja planejando ir para longe de mim. Sempre me envolvi com várias mulheres e nunca me apeguei, se eu achava uma mulher bonita e atraente eu passava uma noite com ela e no dia seguinte era apenas tchau, sem olhar para trás. Mas Sofia é diferente, ela é frágil, delicada e ao mesmo é forte e corajosa. Vejo um certo receio da parte dela ao meu lado, é como se ela estivesse lutando contra algum sentimento que ela acha que pode desenvolver por mim, me parece que esconde algo importante, talvez o motivo pelo qual o pai dela fez uma atrocidade daquelas, marcar uma pele tão delic
Sofia Lykos A luz forte do sol atravessa minhas pálpebras fechadas, abro os olhos devagar e me espreguiço na cama absurdamente grande. Ainda não me acostumei com essa cama gigante e confortável. Coloco o lençol de lado e me levanto, solto um gemido por conta da dor que se espalha por todo o meu corpo, pois minhas costas ainda doem um pouco por conta da surra que tomei há alguns dias. Sigo para o banheiro, me olho no espelho e respiro fundo, uma lágrima solitária desce pelo meu rosto quando lembro de tudo o que ele me falou e tentou fazer, custei a acreditar que meu próprio pai é um mostro sem escrúpulos. Graças a Poseidon eu tive uma segunda chance, ele me resgatou e tem cuidado de mim desde então. Tenho sentido umas coisas estranhas quando ele está perto, meu coração b**e acelerado e sinto borboletas no estomago, mas ainda não posso me entregar a alguém, logo agora que estou tão quebrada, quando ele descobrir tudo o que aquele mostro fez e falou não vai mais querer chegar perto de
Poseidon Galanis Acordo com o som alto do helicóptero, são meus irmãos chegando com a sua família, suspiro e me levanto indo direto para o banheiro fazer a minha higiene matinal. Entro no box do chuveiro e assim que a água cai em minha cabeça o momento em que quase a beijei vem em minha mente, a maciez dos lábios, o gemido fraco que escapou de sua garganta. Respiro fundo, eu cheguei tão perto, tudo o que eu queria saber é o que a deixa tão na defensiva, pude perceber o medo que em seus olhos, só queria poder beijá-la e abraçá-la sem que ela recuasse. Tenho noção que as coisas que ela deve ter passado com o Júlio não devem ter sido fáceis, mas o medo que vi em seus olhos me doeu, não quero nem imaginar que aquele desgraçado tenha feito com a ela a atrocidade que está passando na minha cabeça, eu o mato. Lembro que ela quer sair dessa casa, ir para longe, mas graças aos Deuses, a vaga que ela tanto quer aqui na ilha saiu e ela vai continuar perto de mim. Pelo menos a ilha é pequena o
Sofia Lykos Acordo ansiosa, hoje é a entrevista com o diretor da escolinha da ilha e estou muito nervosa, sempre foi meu sonho e talvez hoje ele finalmente se realize. Visto uma saia lápis preta, uma blusa de manga branca, calço meu saltinho de bico fino na cor nude, faço uma maquiagem bem básica, pego minha bolsa e sigo para a sala da mansão. Ártemis fez questão de ir comigo, então quando chego na sala de estar vejo quase toda a família sentada no enorme sofá branco. Eles são uns queridos, todos me trataram bem e com muito respeito, e as crianças então, são uns fofos, fico muito feliz que os pequenos sejam tão amados e cuidados. — Uau — Hades fala me olhando e Poseidon b**e na cabeça dele — Calma caçula — ele ri da reação do irmão, eu não me importo porque sei que é brincadeira para abusar Poseidon pois todos acham que ele gosta de mim, claro que eu jamais chamaria a tenção de um homem tão lindo quanto o Don, e ele não vai me querer por perto quando eu contar da monstruosidade qu
Poseidon Galanis A observo se afastar, subindo as escadas apressada, sua reação só reafirma o que eu já imaginava, ela esconde algo de mim. Tenho receio do que a incomoda tanto a ponto de não querer falar comigo, eu só quero protegê-la. Sem esperar mais um segundo a sigo, quando abro a porta do quarto e entro ela está com uma peça de roupa nas mãos. Fecho a porta atrás de mim, me aproximo e cruzo os braços a encarando. — Tem certeza que não quer se abrir comigo? — pergunto encarando seus olhos amedrontados — Eu só quero te proteger, não sou digno de sua confiança? O que te incomoda tanto? — questiono magoado e curioso. — Não tem nada me incomodando — sua voz sai baixa e trêmula. Mesmo a alguns passos de distância eu posso notar que seu corpo treme tenso, uma enorme vontade de ir até ela e envolvê-la em meus braços se apossa do meu ser, mas me contenho. — Então porque foge tanto? — pergunto ávido por uma resposta — Não sente nada por mim? — Você não pode esquecer isso? — pergunta
Poseidon Galanis Cruzo os braços impaciente e me encosto no capô do carro, vim para Atenas com Hades para participar de uma reunião de última hora. Mesmo de férias eles arrumam um jeito de me enfiar em trabalho. Agora estou aqui em frente a uma lanchonete esperando o bastardo comprar um lanche. Três moças passam por mim na calçada e soltam risinhos, viram o pescoço para me olhar, os olhos brilham em admiração. Ofereço o meu melhor sorriso educado, me surpreendo por não ter gracejado nenhuma delas e chamado para um passeio, se é que me entendem. Mas não consigo olhar para nenhuma outra mulher, Sofia está gravada nas minhas lembranças e seu rosto aparece toda hora na minha mente, me deixando intrigado. O cupido filho de uma mãe me flechou que nem vi a hora. Uns dias atrás fiquei quatro dias sem vê-la, tive que viajar a trabalho às pressas. Esse tempo longe serviu para deixar meu coração apertado e eu nem conseguir dormir direito com tanta saudade. Só a conheço a meia dúzia de semanas
Sofia Lykos Já é final de tarde quando me sento na areia da praia em um ponto distante das pessoas, admirando a imensidão azul que me faz lembrar de um par de olhos hipnotizantes que não vejo fazem três semanas. A três semanas que eu não vejo Poseidon e meu coração está apertado de saudade, ele me mandou uma mensagem avisando que precisaria ir a Londres, acompanhar a reforma de uma das filiais de lá, não se deu nem o trabalho de se despedir pessoalmente. Embora me ligue todos os dias para saber como estou me sentindo e se estou precisando de alguma coisa sempre noto sua voz um pouco fria e distante. Na última vez em que nos vimos eu fiquei meio boba olhando para o seu peitoral descoberto e senti vontade de tocar por toda a extensão de seu musculoso corpo, só com esse pensamento sinto minhas bochechas esquentarem. Gostaria de não o ter parado, gostaria de tê-lo beijado mais, gostaria de não sentir medo. Quando ele foi embora naquele dia meu coração se apertou com a visão de suas co