SOFIA
Meu coração se aperta, meus olhos ardem com as lágrimas que não deixo escapar, minhas mãos tremem. Fecho meus olhos e respiro bem fundo.
Ando a passos curtos para casa, meu pai tem me batido todos os dias e disse que hoje será um dia importante onde eu saberei sobre a cultura de sua terra e poderei cumprir o ritual, confesso que estou com muito medo, ele está intransigente e se souber que tenho um amigo é capaz de me matar, consigo sorrir ao lembrar de Poseidon querendo se aproximar de mim de qualquer forma e ser meu amigo.
Chego na porta da casa onde moro, minha cabeça lateja em antecipação respiro fundo e enxugo algumas lágrimas que teimam em descer, ultimamente tenho sentido uma tristeza muito grande, e as surras que tenho recebido a troco de nada tem uma grande contribuição para o meu desgosto com a vida. Quando entro vejo ele sentado no sofá assistindo um documentário na televisão, estremeço quando ele me dirige o olhar e vejo maldade.
– Sente-se aqui Sofia – ele aponta uma cadeira em sua frente – Precisamos conversar, chegou o momento de você conhecer as tradições de sua origem, eu não aguento mais esperar para fazer isso – caminho devagar e sento onde ele falou temendo pelo o que está por vir – Você sabe que eu e sua mãe viemos de um país distante, fugindo da fome não sabe?
– Sim – falo baixinho.
– Ainda é virgem, Sofia? – ele se levanta e caminha até a porta de saída e passa a chave trancando, sinto meu coração acelerar e o rosto esquentar não sei onde ele quer chegar perguntando isso novamente – Eu te fiz uma pergunta menina – grita e me encolho na cadeira – Você estudou fora, pode muito bem ter enganado a mim e a sua mãe, então responda e espero que a resposta me agrade.
– Eu nunca tive ninguém – falo tão baixo que sai como um sussurro, sinto um calafrio.
– Isso é muito bom – ele aprova e senta no sofá novamente, apoia os cotovelos na perna e me encara – De onde eu e sua mãe viemos, tem uma tradição indispensável e muito importante para o nosso povo a qual eu respeito muito e espero que você também.
– É sobre me guardar para o casamento? – pergunto respirando fundo e tentando controlar o meu nervosismo – Eu juro que não estou mentindo, vou me guardar para o meu marido.
– Menina tola, ninguém aqui falou em se guardar para o casamento – ele fala friamente sem se mover ou parar de me encarar, evito olhar em seus olhos pois não gosto do que reflete neles – Na nossa terra o pai da jovem tem o importante papel de tirar a virgindade da filha para poupar essa função ao marido – sinto que vou desmaiar, todos os pelos do meu corpo se arrepiam e meu coração falha várias batidas – Não se assuste querida, aconteceu com sua mãe, sua avó, sua tataravó. É normal para nós, e eu vou ter o imenso prazer em continuar com as nossas tradições. Não sabe como é difícil manter as tradições vivas estando tanto tempo longe. Sua mãe sempre soube que isso aconteceria com você, assim como foi com ela. Não irei te machucar, você vai gostar – fala com uma voz grossa e um olhar malicioso, sinto nojo e raiva, pois além de ser meu pai ele está velho para pensar em tanta malícia, ainda mais com a própria filha.
– Você é meu pai, minha mãe não aceitaria algo assim – falo exasperada.
– Não sabe de nada – fala debochado – Cuidei de você desde que nasceu, fui um bom pai e agora mereço ser recompensado.
– Não pode fazer isso, sou sua filha – falo com a voz embargada – Sua única filha.
– Sim, e esperei muito tempo por isso Sofia, tenho direitos – fala calmo enquanto eu estou quase surtando – Como o pai da sua mãe fez o favor de tirar a virgindade dela, e como é tradição na nossa terra, eu nunca tive essa oportunidade, esperei esse tempo todo por você, querida – sinto nojo – Não sabe como foi difícil deixar que fosse estudar em Atenas, alguém poderia chegar na minha frente, mas você foi obediente e se guardou para mim.
– Isso é nojento, você é meu pai – repito com ânsia de vômito.
– É tradição Sofia! – ele grita – Você querendo ou não terá que acatar, depois a vida segue normalmente – ele dá de ombros.
– Faz anos que mora na Grécia, aqui não é tradição isso – falo segurando a vontade de vomitar.
– Não sou Grego – grita.
– Mas eu sim – falo levantando e caminhando para o meu quarto, preciso sair dessa casa, ele ficou louco.
– Vai respeitar minha tradição menina – ele caminha atrás de mim – Vai tomar um longo banho relaxante e se arrumar para me esperar – pego uma mochila e vou jogando todas as minhas coisas dentro – Não vai a lugar nenhum, eu vou ser cuidadoso – a cada palavra que sai da boca dele sinto mais repulsa.
– Faz tanto tempo que saiu do seu país, deveria abandonar essas crenças horríveis e nojentas – falo com raiva e desespero.
– Não vou abandonar minhas tradições muito menos abrir mão do que é meu por direito – ele diz grosso por estar sendo contrariado
– Não vou fazer nada disso – digo angustiada querendo sair daqui.
– Sua mãe passou por isso, é normal, aceita – ele se aproxima e tenta me tocar, corro para o outro lado do quarto.
– Você me pegou no colo, me ensinou a nadar quando eu era pequena – falo lembrando dos momentos que ele se comportou como um pai de verdade – Tudo bem que nos últimos tempos se tornou um ser horrível, mas daí querer fazer esse tipo de coisa comigo é um absurdo, tenho nojo de você, nojo – grito e sua mão agarra meu braço com muita força.
– Você vai aprender a me respeitar Sofia – fala já tirando o cinto da calça que usa e estremeço.
– Por favor, não faça isso – peço chorando.
Júlio me j**a com raiva no chão e minha testa b**e na quina da cama de madeira, fico tonta com a dor, mas não desmaio. Ele sobe em cima de mim e tenta prender minhas mãos em cima da minha cabeça, começo a me deb**er, mas ele é mais forte, puxa meu cabelo com muita força para me imobilizar pela dor e sinto meu couro cabeludo arder.
Tento a todo custo me desvencilhar dele o que o deixa com mais raiva ainda de mim, então ele desfere vários t***s em meu rosto e sinto um forte gosto de sangue seguido de uma ardência no lábio inferior.
A sessão de espancamento não para por aí, ele está possesso e irreconhecível, vejo raiva em seus olhos. Ele b**e com o cinto várias vezes nos meus braços que chega a cortar e sinto arder.
– Está vendo o que me fez fazer, Sofia? – sai de cima de mim e me arrasto até encostar minhas costas na cama – Era para ser um momento delicado e inesquecível – vai até a mesinha de cabeceira e pega meu abajur e j**a no chão, me encolho mais ainda com o susto – Você não tem escolha, para o nosso povo é lei, é uma das tradições mais respeitadas e você não vai fugir das suas responsabilidades e obrigações – ele vai falando e eu só consigo chorar, minha visão está um pouco embaçada pelas lágrimas e meu estômago está embrulhado.
– Por favor, tenha piedade – peço já cansada de apanhar – Eu cresci na Grécia, sou grega.
– Cala a boca – ele grita e j**a todos os meus livros que estavam na prateleira no chão – Eu não sou grego, exijo o que é meu por direito.
– Isso é nojento, não pode abusar de mim – meu corpo todo treme enquanto vejo ele caminhar para perto de mim – Não, me solta – grito quando ele me puxa pelo pé até o meio do quarto.
– Ninguém vai ouvir você – fala sombrio montando em mim novamente e segura meus cabelos com força fazendo com que o encare – Eu fui um ótimo pai e é assim que você me paga? – pergunta após eu acertar um tapa em seu rosto e recebo um mais forte de volta – Não vou mais repetir que é nossa tradição e tem que respeitar, agora como uma boa menina obediente você vai tomar banho para tirar esse cheiro de tempero e se arrumar para mim.
Sinto muito nojo e não consigo controlar, o jato de vômito vem com força me sujando e sujando o monstro que está em cima de mim.
– Está vendo o que fez? – ele solta meus cabelos e sai de cima de mim – Vá se limpar, tem trinta minutos quando eu voltar espero que já esteja pronta e com esse quarto limpo.
Quando ele sai corro para trancar a porta do meu quarto e sinto tudo em mim doer, isso não pode estar acontecendo, entro em desespero só com a possibilidade de ele fazer isso comigo, não posso passar por tamanho castigo. Vou escorregando pela porta até está sentada no chão, e começo a pensar em uma saída, respiro fundo e com dificuldade me levanto, vou até a minha cômoda e pego um vestido florido, visto depois de tirar a roupa suja de vomito, caminho até a minha bolsa que está jogada no chão do quarto, pego meu celular e torço para que ele me atenda, é a minha única salvação.
POSEIDON – Boa noite família – digo quando me junto aos meus pais, eles estão sentados na sala bebendo uma taça de vinho. – Oi filho, o que manda? – meu pai pergunta me encarando. – Estou achando estranho, nunca tirei tantos dias de folga – conto e ele ri. – Já quer voltar para o trabalho? – balanço a cabeça negando – Seus irmãos dão conta, você merecia um descanso, bebezinho da mamãe – faço careta. – O senhor não sente falta de trabalhar, pai? – Ei garoto, não coloca ideia na cabeça do seu pai – minha mãe me corta – Deixa eu aproveitar meu marido, e por que você acha que tivemos três filhos? – meu pai beija a cabeça dela rindo. – Eu sou responsável por toda a ilha, trabalho é o que não me falta – ele dá de ombros. – Tenho te achado muito caseiro filho, está doente? – minha mãe pergunta. – Mais como é ingrata em dona Ártemis – falo debochado – Se saio para farra reclama, se fico em casa reclama, se decide. – Não estou reclamando bebê – ela já vai apelando – Só fiz um comentár
POSEIDON – Quer tomar um banho? – pergunto observando seu semblante triste, ela balança a cabeça levemente confirmando. Saio do meu quarto rapidinho e vou para o quarto de Zeus, todos mantêm roupas aqui na casa dos meus pais para não precisarem trazer bagagem. Manu não vai se importar de emprestar umas roupas para minha Sofia. Escolho algumas peças de roupa e volto para o quarto – Aqui tem uma camisola, e dois vestidos, peguei da minha cunhada, só não tem calcinha – dou risada quando ela fica vermelha. Vou até o meu closet e pego três cuecas box branca nova e volto para o quarto, coloco no colo dela as peças – São minhas, estão novas não se preocupe – ela sorri sem jeito. – Obrigado por ter me salvado – ela fala docemente. – Não por isso Sardinhas – sorrio de lado. – Mas você sabe que não eu não vou fazer aquilo com você – fala parecendo um tomate de tão vermelha. – Transar? – falo risonho só para ver seu embaraço. – Poseidon! – ela ralha – Não fala essas coisas. – Você que com
Poseidon Galanis Passei o dia todo em Atenas, resolvendo alguns problemas no hotel de lá e principalmente agilizando a construção do meu escritório aqui na ilha. Fiquei muito tempo longe da Sofia, quando desço do helicóptero e entro em casa não ouço nada, está tudo em silêncio, nem sinal dos meus pais ou de sardinhas bonitinhas. Atravesso a sala e subo as escadas, estou louco de saudade da minha garota, embora ela esteja planejando ir para longe de mim. Sempre me envolvi com várias mulheres e nunca me apeguei, se eu achava uma mulher bonita e atraente eu passava uma noite com ela e no dia seguinte era apenas tchau, sem olhar para trás. Mas Sofia é diferente, ela é frágil, delicada e ao mesmo é forte e corajosa. Vejo um certo receio da parte dela ao meu lado, é como se ela estivesse lutando contra algum sentimento que ela acha que pode desenvolver por mim, me parece que esconde algo importante, talvez o motivo pelo qual o pai dela fez uma atrocidade daquelas, marcar uma pele tão delic
Sofia Lykos A luz forte do sol atravessa minhas pálpebras fechadas, abro os olhos devagar e me espreguiço na cama absurdamente grande. Ainda não me acostumei com essa cama gigante e confortável. Coloco o lençol de lado e me levanto, solto um gemido por conta da dor que se espalha por todo o meu corpo, pois minhas costas ainda doem um pouco por conta da surra que tomei há alguns dias. Sigo para o banheiro, me olho no espelho e respiro fundo, uma lágrima solitária desce pelo meu rosto quando lembro de tudo o que ele me falou e tentou fazer, custei a acreditar que meu próprio pai é um mostro sem escrúpulos. Graças a Poseidon eu tive uma segunda chance, ele me resgatou e tem cuidado de mim desde então. Tenho sentido umas coisas estranhas quando ele está perto, meu coração b**e acelerado e sinto borboletas no estomago, mas ainda não posso me entregar a alguém, logo agora que estou tão quebrada, quando ele descobrir tudo o que aquele mostro fez e falou não vai mais querer chegar perto de
Poseidon Galanis Acordo com o som alto do helicóptero, são meus irmãos chegando com a sua família, suspiro e me levanto indo direto para o banheiro fazer a minha higiene matinal. Entro no box do chuveiro e assim que a água cai em minha cabeça o momento em que quase a beijei vem em minha mente, a maciez dos lábios, o gemido fraco que escapou de sua garganta. Respiro fundo, eu cheguei tão perto, tudo o que eu queria saber é o que a deixa tão na defensiva, pude perceber o medo que em seus olhos, só queria poder beijá-la e abraçá-la sem que ela recuasse. Tenho noção que as coisas que ela deve ter passado com o Júlio não devem ter sido fáceis, mas o medo que vi em seus olhos me doeu, não quero nem imaginar que aquele desgraçado tenha feito com a ela a atrocidade que está passando na minha cabeça, eu o mato. Lembro que ela quer sair dessa casa, ir para longe, mas graças aos Deuses, a vaga que ela tanto quer aqui na ilha saiu e ela vai continuar perto de mim. Pelo menos a ilha é pequena o
Sofia Lykos Acordo ansiosa, hoje é a entrevista com o diretor da escolinha da ilha e estou muito nervosa, sempre foi meu sonho e talvez hoje ele finalmente se realize. Visto uma saia lápis preta, uma blusa de manga branca, calço meu saltinho de bico fino na cor nude, faço uma maquiagem bem básica, pego minha bolsa e sigo para a sala da mansão. Ártemis fez questão de ir comigo, então quando chego na sala de estar vejo quase toda a família sentada no enorme sofá branco. Eles são uns queridos, todos me trataram bem e com muito respeito, e as crianças então, são uns fofos, fico muito feliz que os pequenos sejam tão amados e cuidados. — Uau — Hades fala me olhando e Poseidon b**e na cabeça dele — Calma caçula — ele ri da reação do irmão, eu não me importo porque sei que é brincadeira para abusar Poseidon pois todos acham que ele gosta de mim, claro que eu jamais chamaria a tenção de um homem tão lindo quanto o Don, e ele não vai me querer por perto quando eu contar da monstruosidade qu
Poseidon Galanis A observo se afastar, subindo as escadas apressada, sua reação só reafirma o que eu já imaginava, ela esconde algo de mim. Tenho receio do que a incomoda tanto a ponto de não querer falar comigo, eu só quero protegê-la. Sem esperar mais um segundo a sigo, quando abro a porta do quarto e entro ela está com uma peça de roupa nas mãos. Fecho a porta atrás de mim, me aproximo e cruzo os braços a encarando. — Tem certeza que não quer se abrir comigo? — pergunto encarando seus olhos amedrontados — Eu só quero te proteger, não sou digno de sua confiança? O que te incomoda tanto? — questiono magoado e curioso. — Não tem nada me incomodando — sua voz sai baixa e trêmula. Mesmo a alguns passos de distância eu posso notar que seu corpo treme tenso, uma enorme vontade de ir até ela e envolvê-la em meus braços se apossa do meu ser, mas me contenho. — Então porque foge tanto? — pergunto ávido por uma resposta — Não sente nada por mim? — Você não pode esquecer isso? — pergunta
Poseidon Galanis Cruzo os braços impaciente e me encosto no capô do carro, vim para Atenas com Hades para participar de uma reunião de última hora. Mesmo de férias eles arrumam um jeito de me enfiar em trabalho. Agora estou aqui em frente a uma lanchonete esperando o bastardo comprar um lanche. Três moças passam por mim na calçada e soltam risinhos, viram o pescoço para me olhar, os olhos brilham em admiração. Ofereço o meu melhor sorriso educado, me surpreendo por não ter gracejado nenhuma delas e chamado para um passeio, se é que me entendem. Mas não consigo olhar para nenhuma outra mulher, Sofia está gravada nas minhas lembranças e seu rosto aparece toda hora na minha mente, me deixando intrigado. O cupido filho de uma mãe me flechou que nem vi a hora. Uns dias atrás fiquei quatro dias sem vê-la, tive que viajar a trabalho às pressas. Esse tempo longe serviu para deixar meu coração apertado e eu nem conseguir dormir direito com tanta saudade. Só a conheço a meia dúzia de semanas