CAPITULO 4

POSEIDON

Acordo cedo e vou direto para o banheiro fazer minha higiene matinal. Visto uma bermuda moletom preta e uma camisa branca e antes de sair do meu quarto pego meu celular, coloco no bolso, é sol em Santorini, como sempre e como sentir falta desse calor.

Desço as escadas e vou para mesa tomar café e meus pais já estão lá sentados conversando sobre amenidades.

– Bom dia caçulinha mais lindo da mamãe – minha mãe fala assim que me ver e vou direto dá um beijo em sua testa.

– Mamãe eu cresci, para de me chamar assim que é broxante – digo me sentando e coloco um pouco de suco de uva no copo.

– Sempre será meu caçula – ela responde bebericando o seu café.

Sem mais comentários o café segue normal, e de repente lembro da ruivinha que está na cozinha e que preparou esse delicioso desjejum, tem algo escondido em seu olhar que gostaria muito de identificar, sinto como se algo me empurrasse para ela.

Quando termino de tomar café e meus pais se dispersam pela casa, decido ir até a cozinha, na porta veja Ana, uma senhora de cabelos brancos que trabalha para minha família desde que me entendo por gente.

– Bom dia Aninha – beijo seus cabelos de algodão – Cadê a Sofia? – pergunto depois de olhar em volta e não a encontrar.

– O que você quer com a pobre moça? – pergunta me encarando e sorriu de lado.

– Calma – levanto as mãos em rendição – Só quero ser amigo dela – dou de ombros.

– Olha lá hein Poseidon, a menina não é igual as moças que conheceu, tenha cuidado, a vida dela não tem sido fácil – fala e me interesso.

– O que houve?

– Desde que a mãe morreu a alguns meses o pai dela se tornou um lunático, não deixa que a menina saia para lugar nenhum além de vim para o trabalho.

– Mas ela é maior de idade Ana – digo não entendendo.

– Mas é o pai dela e a única família que tem, a Sofia parece não se importar com isso porque ela diz ser muito caseira e está apenas aguardando surgir a vaga de professora – dá de ombros.

Decido andar um pouco pelo jardim, saio pela porta da cozinha e dou a volta na casa indo até um banco embaixo de uma árvore que tem no jardim. Mas de longe avisto uma miragem sentada no meu destino, o vento atinge com suavidade os cabelos vermelhos fazendo com que eles voem livres. Me aproximo hipnotizado e percebo que Sofia está de olhos fechados apreciando a calmaria do momento. De repente um lagrimas descem pelos seus olhos, e compadeço nesse momento querendo descobrir o que lhe causa dor.

– Parece triste sardinhas bonitinhas – falo e ela se assusta, dando um salto da cadeira ficando em pé quase caindo no processo – Calma.

– Oi senhor – ela diz de cabeça baixa – Não estou furando o meu serviço, estou só descansando antes de começar a preparar o almoço – se justifica apressada.

– Por favor me chame apenas de Poseidon – peço – E não estou aqui para brigar, quero só te fazer companhia – ela me olha hesitante, mas acaba sentando no banco de novo, me sento ao seu lado – O que está te deixando tão triste? – pergunto.

– Saudades da minha mãe – ela fala rápido e posso notar que não é apenas isso, porém decido não me meter por enquanto, preciso fazer com que confie em mim primeiro.

– Meus pêsames – digo tocando sua mão e ela recolhe apressada – Desculpe.

– Não entendo porque o senhor insiste em se aproximar de mim – diz me analisando.

– Quero ser seu amigo sardinhas bonitinhas – levanto a mão na intenção de tocar em seus cabelos, mas freio no caminho.

– Eu não vou dormir com você e fazer coisas – ela fica vermelha e acho graça.

– Você é bem bonita sardinhas bonitinhas – digo olhando-a de cima a baixo – Mas agora quero só ser seu amigo – só então noto que ela está de blusa de manga e calça jeans, em Santorini que provavelmente é perto do sol de tão quente – Por que está de blusa de manga? – pergunto – Vai acabar derretendo.

– Estou confortável, não se preocupe – diz olhando o horizonte – Mas porque quer ser meu amigo? 

– Porque sim – dou de ombros sendo evasivo – Mas me diga porque escolheu fazer pedagogia? – pergunto e ela me encara uns instantes e posso notar medo em seus olhos, me sinto inútil por não poder ajudar – Quero conhecer você melhor – digo encolhendo os ombros.

– Não vou dormir com o senhor, já disse – balanço a cabeça sorrindo.

– Estou ficando ofendido sardinhas bonitinhas – sorrio de lado – Mas por hora quero só conhecer um pouco mais de você.

– Já nos conhecemos, trabalho para sua família – ela dá de ombros e suspira.

– Não nos conhecemos o suficiente, quero poder ser seu amigo.

– Eu não tenho e nem posso ter amigos senhor Poseidon, está perdendo seu tempo comigo – diz triste.

– Depois vou querer saber mais sobre isso de não poder, por hora me deixe conhecê-la – imploro.

– Por que? – questiona ainda excitante.

– Porque eu gostei de você – nunca tive que implorar por nenhuma mulher e muito menos fui amigo de nenhuma, além das minhas cunhadas, mas com ela é diferente, quero protegê-la e ficar próximo, não entendo essa necessidade.

– Não tem como gostar de uma pessoa sem conhecê-la direito, você sabe meu nome, onde trabalho e o que faço, mas não conhece tudo sobre a minha vida – sua voz falha na última parte e pude sentir sua tristeza.

– Mas eu gostei de você e quero ser seu amigo – falo com convicção e ela suspira rendida.

– Tudo bem, mas eu não vou dormir com você – aponta o dedo fino na minha direção.

– Amigos não fazem essas coisas Sossô – falo e ela faz uma careta.

– É um apelido pior que o outro – ela sorri de leve e meu coração dispara com aquela visão.

– Deveria sorrir mais vezes, fica ainda mais linda – falo e o sorriso morre.

– Não tenho muitos motivos para sorrir – maneia a cabeça de lado.

– Vou te dar muitos motivos para sorrir, sou seu amigo e essa é a minha mais nova função – digo sorrindo – Você pode me dar um apelido também se quiser.

– Preciso voltar ao trabalho, licença – diz se levantando e ignorando minha última fala.

– Até mais sardinhas – digo vendo-a se afastar.

Recebo uma mensagem de Hades e vou para o meu escritório, sento na mesa, ligo o computador e conecto em uma chamada de vídeo. Nem nas minhas férias ele me deixa em paz e fazemos uma pequena reunião em plenas dez horas da manhã para discutir sobre a reforma do hotel em Londres.

***

O resto da semana passa rápido e Sofia fez de tudo para me evitar, quando esbarrava com ela pela casa ou pelo jardim seus olhos se arregalavam e ela dava meia volta, nada sutil, mas sou um homem paciente. Tenho certeza que ela está com algum problema e isso a está assustando. Quero me aproximar dela, algo nela me atrai de uma forma extraordinária, me desconcentra, me fascina.

Estou chegando em casa após uma corrida pela praia quando vejo ela sair pelo portão.

– Sossô – chamo e ela me olha assustada.

– Poseidon – sussurra, ela parece agoniada e olha para os lados assustada como se estivesse com medo de alguém.

– Você fugiu de mim a semana toda – acuso.

– Não estou fugindo – ela aperta a alça da bolsa contra o ombro e sua camisa de mangas longas corre um pouquinho naquela área e vejo marcas roxas ao redor do ombro, ela percebe e rapidamente cobre.

– O que aconteceu? – pergunto assustado e preocupado, estendo a mão para tocar em seu ombro, mas ela se afasta.

– Nada – responde rápido e nervosa – Tenho que ir – diz e praticamente corre rua abaixo para longe de mim.

– Espera – corro mais rápido e a alcanço.

– Pensei que tinha aceitado ser minha amiga – falo chateado.

– Eu não posso – seu tom sai agoniado.

– Me explica o porquê – peço.

– Não sou uma boa companhia – se encolhe dando de ombros.

– Acho que isso eu mesmo posso definir – cruzo os braços.

– Eu preciso ir para casa – fala novamente olhando ao redor preocupada.

– Me empresta seu celular – peço estendendo a mão, ela me entrega hesitante. Abro os contatos e salvo meu número.

– Anotei meu número em seu celular, se acontecer alguma coisa não hesite em me ligar, falei sério quando disse que queria ser seu amigo Sossô – entrego o aparelho a ela que pega rápido e coloca na bolsa novamente.

– Tchau Poseidon – ela caminha apressada pelas ruas e nenhuma hora sequer olhou nos meus olhos, mas eu olhei nos dela e pude perceber preocupação.

 Caminho de volta para casa e vou direto para o meu quarto tomar um banho e tirar o suor, as marcas roxas ainda não saíram da minha cabeça. Estou muito preocupado, tenho que saber de onde surgiu aquela marca para manchar a pele delicada da minha, sardinhas bonitinhas.

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