SOFIA
Saio da sala com passos apressados e com a respiração alterada, eu já tinha visto algumas fotos do filho mais novo da senhora Ártemis, mas vê-lo pessoalmente me deixou em choque com tamanha beleza. Alto, pele bronzeada, cabelos negros, olhos azuis, azuis como a cor do oceano, um peito largo e musculoso, fico até constrangida em ter reparado tanto.
Decido espantar esses pensamentos impróprios sobre o senhor Poseidon e foco no meu trabalho, tenho que deixar a janta da família pronta antes de ir. A senhora Ártemis é realmente um anjo na terra, me cedeu de bom grado a vaga de cozinheira da minha mãe, embora não tenha seguido para essa área eu gosto de cozinhar e minha mãe me ensinou muitas coisas, dizem que nossos temperos são parecidos.
No fim do meu expediente saio da mansão para ir para minha casa, no caminho passo em um pequeno restaurante que tem na ilha para os turistas aproveitarem a culinária local e compro a janta do meu pai, eu sei que não dará tempo de chegar em casa e preparar alguma coisa.
Chego em casa e vejo meu pai lendo um jornal sentado no sofá, de frente para a televisão. Eu amava tanto ele, na época em que era um bom pai, exigente e turrão, mas um bom pai, que se preocupava com o meu bem estar. Mas após a morte da minha mãe tudo ficou diferente, ele se tornou um homem agressivo e possessivo, não quer que eu fale com ninguém na rua e principalmente com homens, ele diz que está próximo o dia que eu passarei pelo ritual que é costume na sua terra, e toda vez que ela fala isso sinto um arrepio estranho.
Ele quase não sai mais para pescar, quer que eu banque todos os custos da casa e sirva de empregada para ele, chegou até a me bater várias vezes e eu só pude chorar e lamentar.
Em passos lentos evitando fazer barulho, ando até a cozinha, quando chego na porta fico assustada com tanta bagunça, vários copos e pratos sujos na pia e a mesa está cheia de restos de comida e escamas de peixe. Suspiro cansada e coloco a sacola com comida em cima da cadeira, em seguida começo a limpar aquela sujeira toda. Faço tudo bem rápido para não atrasar o horário da janta dele, meus olhos começam a encher de lágrimas. Minha vida está um completo caos e eu não sei como mudar minha situação deplorável.
Após deixar a cozinha minimamente apresentável pego um prato e coloco o almoço do Júlio, estou evitando chamá-lo de pai até em pensamento, as vezes me refiro como pai ou apenas Júlio. Quando estou jogando a caixinha da comida no lixo ele entra na cozinha.
– Comprou comida? – pergunta grosseiramente me encarando.
– Eu não tive tempo de preparar nada.
– Não quero saber de suas justificativas sua preguiçosa – ele grita e me encolho com medo, então ele se aproxima e coloca um dedo no meu rosto – Você tem que cumprir com as suas obrigações nessa casa Sofia, não vou tolerar desleixo e muito menos atrasos. E eu preciso de dinheiro para ir até Atenas comprar algumas linhas para pesca – avisa me deixando frustrada, nunca consigo guardar muita coisa para juntar e ir embora daqui pois ele sempre pede mais e mais dinheiro e se eu não lhe entrego o que pede sou humilhada de todas as formas possíveis.
– Eu posso ir – me ofereço na esperança de consegui colocar alguns currículos e ir embora da ilha, ir para longe do meu sonho de lecionar na escolinha daqui, mas também para bem longe dele. O trabalho na mansão não me garante passe livre para longe.
– Não vai a lugar nenhum Sofia – grita – Você nunca mais sairá da ilha e muito menos dessa casa, me ouviu bem? Nunca – ele se afasta com o prato de comida na mão e antes de passar pela porta me olha sobre os ombros – É para o seu bem, deixei que seguisse aquela ilusão de fazer faculdade em Atenas, mas não deu em nada como eu já sabia, e espero que tenha cumprido com a sua palavra sobre não ter ficado com nenhum homem lá. Quando o momento chegar e eu souber que mentiu para mim Sofia, as coisas ficarão feias para você – ele se afasta e lá está aquele frio de novo acompanhado de uma sensação ruim.
Enxugo as lágrimas que teimam em cair com o dorso da mão e engulo o nó que se forma na minha garganta. Caminho para o meu quarto, tomo um banho rápido com a porta do banheiro trancada, pois a alguns dias atrás Júlio entrou com a desculpa que pensou estar desocupado e isso me incomodou muito e desde então tomo banho com a porta trancada e durmo com a porta do meu quarto trancado, ultimamente não tenho confiado muito em sua conduta.
Saio escondido pelas portas do fundo, pois virei prisioneira, e sigo para a praia. O caminho é rápido, dois quarteirões e sinto a areia gelada nos meus pés, aspiro o cheiro do mar tranquilo, sento na areia e fecho os olhos meditando um pouquinho, amo a sensação de paz que o mar tranquilo me traz, um pouco de paz em meio ao caos que estou vivendo.
– Sofia? – abro os olhos assustada assim que escuto o meu nome e olho para cima dando de cara com um par de olhos azuis me encarando.
– Está me seguindo? – procuro saber e ele sorri, diferente de quando o encontrei na sala de sua casa, agora ele estava com uma bermuda moletom cinza, regata branca e tênis cinza, a regata marca seu peitoral suado. Sem ser convidado ele se senta ao meu lado.
– E se eu estiver? – ele pergunta ainda sorrindo.
– Vou chamar a polícia – agora ele gargalha.
– Estava correndo – ele explica – Quando estava passando por essa área avistei uma cabeleira ruiva e vim conferir se realmente era você, sardinhas bonitinhas – diz me chamando de um apelido vergonhoso e íntimo.
– Bom eu já estava de saída mesmo – digo me levantando e limpando a areia do meu vestido.
– Calma, fica mais um pouco – pede e fico tentada a aceitar, tem algo que me impulsiona para ele, mas não posso, meu pai me mata.
– Desculpe senhor Poseidon, mas preciso ir – falo e saio correndo pelas areias até alcançar a calçada.
Nem olho para trás e sigo direto para minha casa, quando entro pela porta do fundo ando o mais devagar possível para não chamar atenção, sigo para o meu quarto e quando fecho a porta, solto o ar que estava prendendo.
Depois de um banho, visto um short de moletom e uma camisa grande de mangas cumpridas, sinto meu estômago roncar, então abro a porta bem devagar e coloco a cabeça para fora e não vejo nem sinal do Júlio, suspiro aliviada e vou para a cozinha, pego o que sobrou da comida que eu trouxe, esquento e como bem rapidinho, depois lavo e guardo tudo antes de voltar para o meu quarto e me trancar.
Olho em volta do meu quarto escuro e sinto uma enorme vontade de chorar, chorar pela saudade da minha mãe, chorar pelo tratamento do meu pai, chorar por não conseguir alcançar meus objetivos. Tudo que tenho feito é trabalhar para dar dinheiro ao homem que deveria agir como um pai, na esperança de não apanhar mais. Nunca esquecerei da primeira surra que ele me deu, por simplesmente ter me negado a trabalhar para sustentar ele, mas acabei não tendo escolha, outra vez apanhei sem motivo nenhum ele meio que me culpa pela morte da minha mãe e sei que isso ficará marcado para sempre em mim, mesmo que as marcas do cinto desapareçam do meu corpo, jamais sairá da minha alma.
Só queria ter a oportunidade de me livrar dele, que acontecesse um milagre, mas eu sei que contos de fadas não existem, embora eu ainda sonhe em encontrar um príncipe. Se nesses últimos meses meu pai mudou drasticamente comigo não quero estar aqui para saber como será anos vivendo em baixo do mesmo teto sobre ameaças e surras.
"Sardinhas bonitinhas"
Sorriu entre as lágrimas ao lembrar do apelido que o senhor Poseidon me chamou, só o vi duas vezes na vida, mas sinto uma euforia e uma vontade de estar perto dele. Se ao menos eu pudesse ter alguém na minha vida, alguém para ajudar a curar essa dor que passo nas mãos do Júlio, mas ele jamais aceitaria que eu tivesse um namorado, posso nem ter amigos imagine um namorado.
Quando estou quase dormindo e viajando nos olhos azuis mais perfeitos que já vi ouço um estrondo vindo da porta do meu quarto.
– Sofia, abre a porta – ouço um grito de longe e remexo no colchão – Abre a porta se não eu arrombo.
São gritos rudes, meu corpo paralisa quando reconheço a voz exaltada do meu pai, saio da cama e caminho com medo até a porta. Quando abro ele está me encarando com uma expressão feia e então entra invadindo o meu quarto me fazendo andar para trás.
– Eu tive um sonho muito erótico com sua mãe essa noite e acordei bem exaltado, se é que me entende – ele vai falando em uma calma estranha enquanto tira o cinto da bermuda, abraço meus braços temendo pelo pior, meus olhos se enchem de lágrimas – Não posso me aliviar porque minha esposa não está mais aqui, mas enquanto você não passa pelo ritual vou me aliviar te dando uma lição – sinto o primeiro golpe na perna e gemo de dor.
Ele está possuído, nunca veio me bater assim do nada no meio da noite, choro enquanto sinto o ardor dos golpes contra a minha pele, sei que vão ficar roxas e apenas espero que ele acabe com sua sessão de descarrego. Só não entendi ainda qual é a desse maldito ritual, ele nunca fala com todas as palavras, e minha mãe disse que é costume na terra deles, que ela passou e que passarei também.
Alguns minutos depois de se sentir satisfeito, ele sai do quarto e fecha a porta atrás de si, corro para trancá-la e me encolho na cama morrendo de dor, chorando e orando por um futuro melhor.
POSEIDON Acordo cedo e vou direto para o banheiro fazer minha higiene matinal. Visto uma bermuda moletom preta e uma camisa branca e antes de sair do meu quarto pego meu celular, coloco no bolso, é sol em Santorini, como sempre e como sentir falta desse calor. Desço as escadas e vou para mesa tomar café e meus pais já estão lá sentados conversando sobre amenidades. – Bom dia caçulinha mais lindo da mamãe – minha mãe fala assim que me ver e vou direto dá um beijo em sua testa. – Mamãe eu cresci, para de me chamar assim que é broxante – digo me sentando e coloco um pouco de suco de uva no copo. – Sempre será meu caçula – ela responde bebericando o seu café. Sem mais comentários o café segue normal, e de repente lembro da ruivinha que está na cozinha e que preparou esse delicioso desjejum, tem algo escondido em seu olhar que gostaria muito de identificar, sinto como se algo me empurrasse para ela. Quando termino de tomar café e meus pais se dispersam pela casa, decido ir até a cozi
SOFIA Meu coração se aperta, meus olhos ardem com as lágrimas que não deixo escapar, minhas mãos tremem. Fecho meus olhos e respiro bem fundo. Ando a passos curtos para casa, meu pai tem me batido todos os dias e disse que hoje será um dia importante onde eu saberei sobre a cultura de sua terra e poderei cumprir o ritual, confesso que estou com muito medo, ele está intransigente e se souber que tenho um amigo é capaz de me matar, consigo sorrir ao lembrar de Poseidon querendo se aproximar de mim de qualquer forma e ser meu amigo. Chego na porta da casa onde moro, minha cabeça lateja em antecipação respiro fundo e enxugo algumas lágrimas que teimam em descer, ultimamente tenho sentido uma tristeza muito grande, e as surras que tenho recebido a troco de nada tem uma grande contribuição para o meu desgosto com a vida. Quando entro vejo ele sentado no sofá assistindo um documentário na televisão, estremeço quando ele me dirige o olhar e vejo maldade. – Sente-se aqui Sofia – ele aponta
POSEIDON – Boa noite família – digo quando me junto aos meus pais, eles estão sentados na sala bebendo uma taça de vinho. – Oi filho, o que manda? – meu pai pergunta me encarando. – Estou achando estranho, nunca tirei tantos dias de folga – conto e ele ri. – Já quer voltar para o trabalho? – balanço a cabeça negando – Seus irmãos dão conta, você merecia um descanso, bebezinho da mamãe – faço careta. – O senhor não sente falta de trabalhar, pai? – Ei garoto, não coloca ideia na cabeça do seu pai – minha mãe me corta – Deixa eu aproveitar meu marido, e por que você acha que tivemos três filhos? – meu pai beija a cabeça dela rindo. – Eu sou responsável por toda a ilha, trabalho é o que não me falta – ele dá de ombros. – Tenho te achado muito caseiro filho, está doente? – minha mãe pergunta. – Mais como é ingrata em dona Ártemis – falo debochado – Se saio para farra reclama, se fico em casa reclama, se decide. – Não estou reclamando bebê – ela já vai apelando – Só fiz um comentár
POSEIDON – Quer tomar um banho? – pergunto observando seu semblante triste, ela balança a cabeça levemente confirmando. Saio do meu quarto rapidinho e vou para o quarto de Zeus, todos mantêm roupas aqui na casa dos meus pais para não precisarem trazer bagagem. Manu não vai se importar de emprestar umas roupas para minha Sofia. Escolho algumas peças de roupa e volto para o quarto – Aqui tem uma camisola, e dois vestidos, peguei da minha cunhada, só não tem calcinha – dou risada quando ela fica vermelha. Vou até o meu closet e pego três cuecas box branca nova e volto para o quarto, coloco no colo dela as peças – São minhas, estão novas não se preocupe – ela sorri sem jeito. – Obrigado por ter me salvado – ela fala docemente. – Não por isso Sardinhas – sorrio de lado. – Mas você sabe que não eu não vou fazer aquilo com você – fala parecendo um tomate de tão vermelha. – Transar? – falo risonho só para ver seu embaraço. – Poseidon! – ela ralha – Não fala essas coisas. – Você que com
Poseidon Galanis Passei o dia todo em Atenas, resolvendo alguns problemas no hotel de lá e principalmente agilizando a construção do meu escritório aqui na ilha. Fiquei muito tempo longe da Sofia, quando desço do helicóptero e entro em casa não ouço nada, está tudo em silêncio, nem sinal dos meus pais ou de sardinhas bonitinhas. Atravesso a sala e subo as escadas, estou louco de saudade da minha garota, embora ela esteja planejando ir para longe de mim. Sempre me envolvi com várias mulheres e nunca me apeguei, se eu achava uma mulher bonita e atraente eu passava uma noite com ela e no dia seguinte era apenas tchau, sem olhar para trás. Mas Sofia é diferente, ela é frágil, delicada e ao mesmo é forte e corajosa. Vejo um certo receio da parte dela ao meu lado, é como se ela estivesse lutando contra algum sentimento que ela acha que pode desenvolver por mim, me parece que esconde algo importante, talvez o motivo pelo qual o pai dela fez uma atrocidade daquelas, marcar uma pele tão delic
Sofia Lykos A luz forte do sol atravessa minhas pálpebras fechadas, abro os olhos devagar e me espreguiço na cama absurdamente grande. Ainda não me acostumei com essa cama gigante e confortável. Coloco o lençol de lado e me levanto, solto um gemido por conta da dor que se espalha por todo o meu corpo, pois minhas costas ainda doem um pouco por conta da surra que tomei há alguns dias. Sigo para o banheiro, me olho no espelho e respiro fundo, uma lágrima solitária desce pelo meu rosto quando lembro de tudo o que ele me falou e tentou fazer, custei a acreditar que meu próprio pai é um mostro sem escrúpulos. Graças a Poseidon eu tive uma segunda chance, ele me resgatou e tem cuidado de mim desde então. Tenho sentido umas coisas estranhas quando ele está perto, meu coração b**e acelerado e sinto borboletas no estomago, mas ainda não posso me entregar a alguém, logo agora que estou tão quebrada, quando ele descobrir tudo o que aquele mostro fez e falou não vai mais querer chegar perto de
Poseidon Galanis Acordo com o som alto do helicóptero, são meus irmãos chegando com a sua família, suspiro e me levanto indo direto para o banheiro fazer a minha higiene matinal. Entro no box do chuveiro e assim que a água cai em minha cabeça o momento em que quase a beijei vem em minha mente, a maciez dos lábios, o gemido fraco que escapou de sua garganta. Respiro fundo, eu cheguei tão perto, tudo o que eu queria saber é o que a deixa tão na defensiva, pude perceber o medo que em seus olhos, só queria poder beijá-la e abraçá-la sem que ela recuasse. Tenho noção que as coisas que ela deve ter passado com o Júlio não devem ter sido fáceis, mas o medo que vi em seus olhos me doeu, não quero nem imaginar que aquele desgraçado tenha feito com a ela a atrocidade que está passando na minha cabeça, eu o mato. Lembro que ela quer sair dessa casa, ir para longe, mas graças aos Deuses, a vaga que ela tanto quer aqui na ilha saiu e ela vai continuar perto de mim. Pelo menos a ilha é pequena o
Sofia Lykos Acordo ansiosa, hoje é a entrevista com o diretor da escolinha da ilha e estou muito nervosa, sempre foi meu sonho e talvez hoje ele finalmente se realize. Visto uma saia lápis preta, uma blusa de manga branca, calço meu saltinho de bico fino na cor nude, faço uma maquiagem bem básica, pego minha bolsa e sigo para a sala da mansão. Ártemis fez questão de ir comigo, então quando chego na sala de estar vejo quase toda a família sentada no enorme sofá branco. Eles são uns queridos, todos me trataram bem e com muito respeito, e as crianças então, são uns fofos, fico muito feliz que os pequenos sejam tão amados e cuidados. — Uau — Hades fala me olhando e Poseidon b**e na cabeça dele — Calma caçula — ele ri da reação do irmão, eu não me importo porque sei que é brincadeira para abusar Poseidon pois todos acham que ele gosta de mim, claro que eu jamais chamaria a tenção de um homem tão lindo quanto o Don, e ele não vai me querer por perto quando eu contar da monstruosidade qu