Nem sei quanto tempo se passou desde que fiquei sozinha, bebo mais alguns goles da minha caipirinha que por sinal estava na medida certa, até que um homem se aproxima para pegar uma bebida, resolvo não dar tanta importância e continuo observando as pessoas dançando.
- Oi – Olho na direção em que o homem estava
-Olá – Digo sorrindo
Mais uma vez me pego pensando se por acaso conhecia esse homem de algum lugar, mas definitivamente não, me lembraria dele nem que fosse por me causar medo, parecia ter acabado de sair de um desses filmes de ação.
- Não está se divertindo? – Seus olhos pretos pareciam querer ler minha mente ou algo assim
-To sim, mas precisei descansar um pouco – digo sorrindo
-Será que pode me ajudar. Só existe aquela saída? – o homem pergunta apontando para a porta principal
- Acho que tem uma lateral que vai pro estacionamento também
O homem não diz mais nada pega sua bebida após um gole ela a larga no balcão e simplesmente some entre as pessoas, é cada doido que aparece, viu? Olho para o barman que observava essa cena tão confuso como eu estava, o que quase torna isso engraçado;
Mais uma vez acabo me perdendo em meus pensamentos um tanto quanto fantasiosos e sou arrastada de volta a realidade ao perceber uma movimentação estranha, as luzes se acendem fazendo com que instantaneamente eu quase fechasse meus olhos a música estava tão alta que quando foi desligada parecia ter algo errado, como se faltasse alguma coisa.Vejo Laura vindo em minha direção, estava pálida e com uma cara de pavor que eu podia jurar que ela havia visto um fantasma, segurei em sua mão que estava tremula e quase precisei obrigar que ela se sentasse, fiquei olhando-a de uma forma que pudesse encoraja-la e conseguisse contar seja lá o que tivesse acontecido.
- o... o... André... - Ela fala pausadamente enquanto se senta - O André, Gab...- Você não está falando coisa com coisa Laura- O André, ai meu Deus, o André - desvio o olhar dela rapidamente procurando alguém que pudesse me dar respostas, mas só vejo uma aglomeração se formando na porta do banheiro masculino.Ao olhar em direção a saída consigo ver aquele homem novamente, ele parecia mais estranho do que quando nos falamos, ele olha pra trás e por uma fração de segundos nossos olhares se encontram quase posso sentir um peso ou um arrepio, até que ele sai pela porta e volto meu olhar para Laura
- Gabriella, precisamos ir embora, agora! - Ela fala dando ênfase no final enquanto se levantava – O André morreu, alguém matou ele, precisamos sair daqui
Aquilo me pega totalmente desprevenida e acabo paralisando na tentativa besta de assimilar tudo aquilo que estava acontecendo, percebo que estava segurando o ar quando meus pulmões começam a queimar, lentamente solto a respiração, eu queria andar, mas minhas pernas não me obedeciam, as vozes ao meu redor pareciam embaralhadas e nada estava fazendo sentido pra mim.
- Vamos Gabriela, o pai dele era investigador, você não está segura - ela diz e agarra minha mão literalmente arrastando enquanto tentávamos passar pela multidão que parecia ter acabado de entender o que estava acontecendo, muitos desesperados, outros chorando, outros ligando para a polícia.
- Mas... Mas como? Quem fez isso? - questiono quase que sussurrando
Antes que Laura pudesse me responder se é que ela faria isso, sinto alguém segurando meu braço tomo um susto e pela primeira vez meus olhos se enchem de lagrimas, mas um suspiro involuntário escapa quando vejo que é o Chris.
- Onde vocês vão? – Ele questiona alternando o olhar entre Laura e eu.
-Preciso levar Gabriela embora -Laura explica – acredito que ela corre perigo.
-Não deveriam esperar a polícia? – ele questiona
-Não, não, posso resolver isso depois – digo
-Vem, vai ser mais fácil pelo estacionamento
Assim que termina sua frase ele segura minha mão de forma que pudesse nos guiar por onde fosse mais vazio para que conseguíssemos sair dali o quanto antes, enquanto o sigo aperto a mão da Laura para anular qualquer possibilidade de nos separarmos durante essa agitação.
- Quando conheceu essa beldade? - Laura pergunta se aproximando do meu ouvido, isso quase me faz soltar uma risada.
- Eu estava no bar, ele veio falar comigo – sussurro e paro atrás do Chris aguardando as próximas instruções.
Assim que chegamos no estacionamento é possível sentir uma enorme diferença de temperatura, aqui estava bem mais frio o que faz eu me arrepiar, ele nos mostra diversas chaves de carros, mas me distraio olhando naqueles olhos e um leve sorriso se forma em nosso rosto quase que ao mesmo tempo, juro que poderia ficar ali por muito mais tempo sem nem notar o tempo passar. Volto ao meu estado normal quando Laura agarra a chave do meu carro e segura na minha mão voltando a me puxar em direção ao meu carro.
- Espera - ele grita e se inclina no balcão escrevendo em um pequeno pedaço de papel e corre em nossa direção - gostaria de falar novamente com você, se puder me manda uma mensagem- ele me entrega um papel com seu numero e sorri enquanto pisca com um dos olhos
- Sim, sim - falo pegando o papel da mão dele – obrigada pela ajuda, te mando mensagem em breve
Ele sorri novamente e com isso meu coração quase salta pela boca, não é possível que alguém que eu acabo de conhecer pudesse causa isso tudo em mim ao mesmo tempo, ele se inclina levemente dando um beijo na minha mão e se afasta correndo entre os carros na direção contraria.
- Anda Gabriela, precisamos mesmo ir - Laura grita enquanto entra no carro
Assim que entro no carro dou partida no mesmo e acelero o máximo possível para que conseguíssemos sair daqui o quanto antes, olho pelo retrovisor apenas para alimentar uma pequena esperança em ver Chris pela última vez, mas como já é de se esperar ele não está no meu campo de visão.
- Liga pro Yago - falo enquanto jogo meu celular no colo dela - está conectado ao carro e... coloca o cinto
Ela apenas confirma com a cabeça, tento ao máximo me concentrar na estrada e em dirigir da maneira mais rápida e segura que eu consigo, se é que tem como combinar isso. Não demora muito e o som da ligação invade o carro, no terceiro ou quarto toque meu irmão finalmente atende.
Yago?
Oi Gab, estava dormindo
Mataram o André, no meio da festa
Quem é André? (Ele provavelmente estava tão sonolento que nem deve saber exatamente o que está falando, ou só perdeu a memória mesmo)Yago acorda! Mataram o André, filho do Carlos, Yago o que eu faço
Merda! Gabriela sai daí, pega Laura e sai o mais rápido possível, não sabemos por qual motivo ele foi morto se for vingança podem estar atrás de você também, vou ligar pro meu pai.
Já sai, estou no carro, mas não sei o que fazer Yago
Você sabe, claro que sabe, não se importe com leis de trânsito agora, mas garanta sua segurança, não venha para casa, pega o caminho mais longo e vai para o sítio.
Tá bom, mas...
Vai Gabriela, eu te amo, te encontro lá.
Ele desliga a ligação antes que eu pudesse responder ou contestar qualquer coisa, eu não queria dirigir na verdade eu só queria um colo e quem sabe chorar, mas isso teria que ficar para outro momento, infelizmente agora eu só tinha que seguir as instruções que a tantos anos ouvia do meu pai e do Yago, mas nunca acreditei que seria necessário usar, olho rapidamente para Laura tentando decifrar sua expressão, mas não tenho sucesso nenhum.
-Lau? - ela olha pra mim tentando se manter tranquila e solta um suspiro pesado
- Vamos Gab, acelera isso - ela diz forçando um sorriso para me encorajar ou apenas tentava fugir de um assunto que sabíamos ser inevitável.
- Ok, conversamos depois - Respiro fundo lentamente como se toda a minha vida dependesse totalmente daquilo e dirijo em direção ao sitio o mais rápido que conseguia.
Minha mão já estava doendo de tão forte que eu estava segurando o volante, quase como se aquilo pudesse cair a qualquer momento ou com a falha tentativa de usar a dor para me acordar desse terrível pesadelo, e eu gostaria tanto que isso fosse só um sonho ruim, queria tanto acordar com o André me ligando para que eu não me atrasasse para aula, definitivamente não sei como seriam os dias sem ele por aqui.Eu estava dirigindo cada vez mais rápido, a parte racional de mim tinha medo de que algo pior pudesse acontecer enquanto estávamos naquela velocidade e a outra parte queria acelerar ainda mais para que tudo isso acabasse, para que eu encontrasse logo com Yago e finalmente me sentisse segura.- É um sonho, precisa ser um sonho - sussurro isso várias vezes tentando me convencer que eu poderia acordar a qualquer momento.- Gab, tenta ficar calma -
Depois de um banho quente coloco um pijama e é quase como se uma ancora caísse em meus ombros, meu corpo inteiro está doendo e eu nem sei explicar exatamente o motivo ou origem da dor, consigo ouvir meu irmão e Laura conversando no andar de baixo, mas de fato nada disso me importava agora, tudo que eu precisava era deitar e encerrar esse dia.-Gab? - Ouço a voz da Laura e algumas batidas na porta- Entra Lau - falo e me sento na cama, percebo que ela estava chorando, mas não era o momento de questionar- Vim te entregar o seu celular e o número do pedaço de mal caminho - ela diz enquanto se aproxima da minha cama tentando forçar um sorriso- Vem, senta aqui - falo baixo enquanto me arrumo para lhe dar espaço na cama- Gab - ela mal consegue falar antes de voltar a chorarPrefiro não falar nada apenas a abraço e se torna impossí
Mais uma vez me encontrava no meu maior dilema de vida, o que vestir. Nada nunca me parecia verdadeiramente bom, nada me agradava de verdade, nada parecia bom o suficiente para nenhum momento...- YAGO - gritei da porta do meu quartoNão demorou um minuto pra ele aparecer com uma cara de desespero, provavelmente achou que eu estava morrendo ou que algo sério poderia estar acontecendo, desde o que aconteceu com André, o Yago tem passado mais tempo em casa e quando ele precisava sair meu pai aparecia, eu sei que não está fácil na delegacia e já insisti diversas vezes que eles não precisavam fazer nada desse tipo, mas quem é que me ouve?- Preciso de ajuda com a minha roupa -Digo enquanto ele entra- É sério, Gabriela - ele diz quase gritando e provavelmente está pensando em como me matar - Me arrependo de ter pedido uma irmã ao pai sabia &n
Tem um pouco mais de três meses que estou namorando com o Chris, ele tem sido muito presente, sua companhia me ajudou muito a superar a morte de André, claro que um não substitui o outro, mas uma boa companhia é cada vez mais importante para conseguir seguir em frente.Tem mais ou menos cinco meses que consegui um emprego na emergência pediátrica de um grande hospital, confesso que não está sendo fácil, principalmente se considerar que trabalhar aqui era um de meus planos com André. Tenho feitos plantões exaustivos, as vezes entro muito cedo e outras saio já de madrugada e o Chris faz questão de vir aqui sempre que isso acontece.Meu pai e meu irmão estão orgulhosos, se deixasse estaria gritando para o mundo inteiro que eu estou conseguindo realizar meus sonhos e todo aquele blá blá blá de sempre, agora as coisas j&aacu
Passo pela portaria do prédio que estava vazia, e pela primeira vez agradeço por não precisar falar com ninguém, sei que isso é horrível, mas no momento minha cabeça estava prestes a explodir, milhões de pensamentos se atropelando e falar com qualquer pessoa é a ultima coisa que eu queria.Assim que entro em casa sou pega de surpresa por não ter ninguém, Rosa provavelmente ainda não chegou o que é estranho já que ela nunca se atrasa, e hoje é sexta, meu pai e Yago nunca trabalham cedo na sexta, mas provavelmente só está relacionado a alguma evolução do caso do André e talvez a mensagem que Yago me mandou ontem...Vou até o quarto do meu pai por ser o único que tem banheira, só me dou conta que estou ali a muito tempo, quando acordo e a água já está bem mais fria
Depois de alguns minutos sendo abraçada pelo Yago eu respiro fundo e nos afasto o suficiente para conseguir olhar nos olhos do meu irmão, agora tudo que aconteceu hoje de manhã parecia fazer um pouco de sentido, mas na minha cabeça as coisas ainda não se encaixavam.- Yago, foi o Chris? - Pergunto- Foi Gab, o Chris é o assassino de todos os meus casos - ele diz baixo- Mas Yago - faço uma pausa tentando não chorar novamente - Ele é tão bom- Gabriella - ele segura meu rosto entre as mãos e respira fundo – Presta atenção, eu te amo, e vou te proteger, mas é o pai - ele faz outra pausa dando de ombros - eu não tenho como ir contra o pai, espero que você entenda.Ele se levanta e me deixa sentada sozinha enquanto sai, estava tão perdida em meus pensamentos que nem sei dizer quanto tempo se passou desd
Passei maior parte do dia grudada no Yago, Rosa estava no meu quarto empenhada em guardar todas as minhas coisas e deixar as minhas malas prontas já que eu mesma não teria a menor condição de fazer isso.Olho rapidamente no relógio que tinha no quarto do Yago já se aproximava das oito horas, um suspiro pensativo escapa entre meus lábios enquanto mais uma vez estou me torturando com lembranças de diversos momentos que passei com o Chris, antes tudo parecia tão real e agora, bem agora parece que tudo o que ele diz é mentira, o meu celular vibra em minhas mãos indicando que chegou uma nova mensagem do Chris e busco forças para ler.Oi meu amor, estou chegando Ok Eu não estava arrumada e nem iria me arrumar, seria um assunto rápido com o Chris e Yago estaria observando, foi difícil, mas
Fechar aquela porta atrás de mim doeu, doeu tanto que achei ter perdido as forças, achei que não sabia mais andar, cheguei a pensar que nunca mais iria respirar feito uma pessoa normal, mas foi necessário, a dor que estou sentindo é necessária.Fiz todo o caminho de volta até a Laura implorando um pouco mais de força para não desabar bem ali, pois tudo o que eu mais queria era deitar em qualquer lugar e chorar, até que essa dor saísse de mim.- Gab, ele te machucou? - Laura questiona assim que eu me aproximo, mais uma vez não garanto a minha voz, ela provavelmente não iria funcionar nesse momento então apenas nego com a cabeça esperando que ela entenda - Gabriella, o que aconteceu? Aonde vocês foram? - O olhar preocupado dela me fez perceber que ela não me deixaria em paz enquanto não conseguisse uma resposta útil.- E