Mais uma vez me encontrava no meu maior dilema de vida, o que vestir. Nada nunca me parecia verdadeiramente bom, nada me agradava de verdade, nada parecia bom o suficiente para nenhum momento...
- YAGO - gritei da porta do meu quarto
Não demorou um minuto pra ele aparecer com uma cara de desespero, provavelmente achou que eu estava morrendo ou que algo sério poderia estar acontecendo, desde o que aconteceu com André, o Yago tem passado mais tempo em casa e quando ele precisava sair meu pai aparecia, eu sei que não está fácil na delegacia e já insisti diversas vezes que eles não precisavam fazer nada desse tipo, mas quem é que me ouve?
- Preciso de ajuda com a minha roupa -Digo enquanto ele entra
- É sério, Gabriela - ele diz quase gritando e provavelmente está pensando em como me matar - Me arrependo de ter pedido uma irmã ao pai sabia – Ele diz revirando os olhos - pedi um irmão, mas teve um erro e nasceu você, que nem pra jogar futebol serviu
-Ha! Ha! Há! Engraçadinho – Digo revirando os olhos – Sai, deixa que eu me viro sozinha
Meu despertador tocando me faz notar que faltam poucos minutos para definitivamente eu estar atrasada, e o Yago pra completar fica andando de um lado para o outro do meu quarto, parecia fazer de proposito para me irritar ou sei lá
- Onde vai Gab?
- Ué, vou na praia, achei que estava obvio já - falo rindo enquanto saio do banheiro
- Laura vai?
- Não
-E você vai com quem? – ele perguntou enquanto sentava na minha cama
-Um amigo da faculdade
Yago não parece ter gostado muito da resposta, mas é melhor do que mentir... Na verdade ele nunca gostava de nada que envolvia homens então qualquer careta que ele faz já é bem comum pra mim, já que não podia contar com a ajuda dele, precisei me virar sozinha mesmo depois de colocar o biquini escolho a primeira opção que é um short e uma blusão bem básico o que não me dava muita chance para erros.
Me despedir do Yago, sem dúvidas foi a coisa mais difícil que precisei fazer, incluindo os dramas, chantagens e mais um monte de coisa, o convenci que eu estaria bem e que não tem nenhum motivo para ele tentar me amarrar dentro de casa ou qualquer coisa do tipo que ele pudesse estar planejando... Nunca sei que ideia maluca ele pode ter então, qualquer opção é válida.
Levei um pouco mais de trinta minutos para chegar na praia e fui até o quiosque que combinei de encontrar o Chris, pedi uma água de coco e sentei em uma das mesas que me dava a visão perfeita da praia e do calçadão, o dia estava ensolarado, e haviam muitas pessoas também, mas uma delas acaba chamando minha atenção...
O homem da festa estava há alguns metros de onde eu estava, quase posso sentir um nó se formando na minha garganta, nossos olhares se encontram por poucos segundos e ele parecia estar vindo na minha direção, mas meu celular acaba atraindo a minha atenção quando toca indicando uma nova mensagem e quando volto a olhar pra frente o homem simplesmente havia virado fumaça, não faço a menor ideia de como ele poderia ter sumido tão rápido...
Só posso estar ficando louca, não é possível alguém tão alto sumir assim de um minuto para o outro, olho em volta tentando encontrar seu paradeiro enquanto uma onda de medo começa a me dominar, acabo tomando um susto com o Chris que aparece atrás de mim.
- Oi Gab, aconteceu alguma coisa? – Ele pergunta enquanto se senta ao meu lado – Como faço para você perdoar meu atraso? -Ele diz sorrindo e beija minha mão como das outras vezes.
- Não se preocupa, já perdoei – Digo sorrindo
-O que aconteceu? Você parece meio aérea
-Ham? É, nada só achei que tinha visto alguém
-Que tal darmos uma volta? Ou prefere ficar sentada aqui?
Ele diz em tom irônico enquanto se levanta estendendo sua mão para mim, assim que seguro ele entrelaça nossos dedos e deixo ele guiar o caminho já que parecia bem decidido de onde queria chegar, andamos até a parte mais afastada da praia a companhia era tão agradável que nem percebi a distância que tínhamos andado, e olha não era pouca o que justifica estar bem mais vazia que o restante.
- Vamos dar um mergulho? - ele pergunta já tirando a blusa - Gabriella, eu vou contar até três e se você não decidir, te pego no colo e você vai a força – ele diz rindo enquanto se aproxima de mim
- Não, tudo bem, eu vou - falo rindo enquanto tiro a roupa também
***
Se eu achei que não teria algo melhor do que a noite anterior, eu estava completamente enganada, passamos quase o dia todo juntos, se alguém estivesse nos observando poderia ter certeza que éramos um casal a pelo menos alguns anos, nossa conexão é incrível.
Na verdade, eu nem sei explicar como é possível essa proximidade, sermos tão parecidos e a facilidade em que nos demos bem, nos entendemos... Já estava exausta quando ele me jogou na areia por isso decidi continuar deitada mesmo, Chris se aproximou me dando um beijo rápido e deitou ao meu lado.
- Infelizmente eu preciso ir. - Ele diz um pouco triste enquanto acaricia meu rosto - tenho algumas coisas para resolver com meu pai
- Ah, tudo bem... -Digo sorrindo
- Se for rápido, podemos sair hoje ainda - ele diz enquanto se levanta- Podemos jantar tem um restaurante aqui perto que é incrível, o que acha?
- Não sei se você merece sabe - falo em tom irônico - desde que me pegou no colo e jogou na areia... – Perdeu alguns pontos...
- Se você estiver me dando um não, eu juro que te enterro aqui mesmo - ele diz arqueando uma sobrancelha e começa a chutar areia em cima do meu pé o que nos faz rir
- Primeiro - dou um pulo ficando de pé e começo a correr - precisa me pegar né - grito olhando pra trás. Eu realmente achei que estava indo bem na corrida, mas ele corria muito mais rápido e logo me alcançou
- Agora que eu te peguei eu faço o que? - ele diz agarrando minha cintura
- Agora - faço uma pausa um pouco pensativa - Você pode me dar um beijo e ficamos quites – mal termino de falar e ele me dá um selinho
- Te encontro no mesmo lugar - deu outro selinho - e daqui vamos no meu carro já que você não me deixa te buscar em casa
Ficamos enrolando por mais alguns minutos, mas ele disse que realmente precisava ir, pegamos nossas coisas e ele me levou até meu carro, exatamente como na noite anterior. Enquanto eu dirigia olhei algumas vezes pelo retrovisor e o carro dele ainda estava atrás do meu, até que ele piscou o farol duas vezes e entrou em uma das pistas laterais sumindo do meu campo de visão.
Enquanto dirigia em direção a minha casa me peguei lembrando de alguns momentos do dia que passamos juntos e um leve sorriso bobo insiste em morar em mim, eu não queria me apaixonar, mas a cada encontro que tínhamos isso ficava cada vez mais evidente e inevitável. Não conseguimos nos encontrar para jantar, precisei resolver mais um pouco de burocracia com meu pai e Yago e isso me prendeu a noite inteira.
Tem um pouco mais de três meses que estou namorando com o Chris, ele tem sido muito presente, sua companhia me ajudou muito a superar a morte de André, claro que um não substitui o outro, mas uma boa companhia é cada vez mais importante para conseguir seguir em frente.Tem mais ou menos cinco meses que consegui um emprego na emergência pediátrica de um grande hospital, confesso que não está sendo fácil, principalmente se considerar que trabalhar aqui era um de meus planos com André. Tenho feitos plantões exaustivos, as vezes entro muito cedo e outras saio já de madrugada e o Chris faz questão de vir aqui sempre que isso acontece.Meu pai e meu irmão estão orgulhosos, se deixasse estaria gritando para o mundo inteiro que eu estou conseguindo realizar meus sonhos e todo aquele blá blá blá de sempre, agora as coisas j&aacu
Passo pela portaria do prédio que estava vazia, e pela primeira vez agradeço por não precisar falar com ninguém, sei que isso é horrível, mas no momento minha cabeça estava prestes a explodir, milhões de pensamentos se atropelando e falar com qualquer pessoa é a ultima coisa que eu queria.Assim que entro em casa sou pega de surpresa por não ter ninguém, Rosa provavelmente ainda não chegou o que é estranho já que ela nunca se atrasa, e hoje é sexta, meu pai e Yago nunca trabalham cedo na sexta, mas provavelmente só está relacionado a alguma evolução do caso do André e talvez a mensagem que Yago me mandou ontem...Vou até o quarto do meu pai por ser o único que tem banheira, só me dou conta que estou ali a muito tempo, quando acordo e a água já está bem mais fria
Depois de alguns minutos sendo abraçada pelo Yago eu respiro fundo e nos afasto o suficiente para conseguir olhar nos olhos do meu irmão, agora tudo que aconteceu hoje de manhã parecia fazer um pouco de sentido, mas na minha cabeça as coisas ainda não se encaixavam.- Yago, foi o Chris? - Pergunto- Foi Gab, o Chris é o assassino de todos os meus casos - ele diz baixo- Mas Yago - faço uma pausa tentando não chorar novamente - Ele é tão bom- Gabriella - ele segura meu rosto entre as mãos e respira fundo – Presta atenção, eu te amo, e vou te proteger, mas é o pai - ele faz outra pausa dando de ombros - eu não tenho como ir contra o pai, espero que você entenda.Ele se levanta e me deixa sentada sozinha enquanto sai, estava tão perdida em meus pensamentos que nem sei dizer quanto tempo se passou desd
Passei maior parte do dia grudada no Yago, Rosa estava no meu quarto empenhada em guardar todas as minhas coisas e deixar as minhas malas prontas já que eu mesma não teria a menor condição de fazer isso.Olho rapidamente no relógio que tinha no quarto do Yago já se aproximava das oito horas, um suspiro pensativo escapa entre meus lábios enquanto mais uma vez estou me torturando com lembranças de diversos momentos que passei com o Chris, antes tudo parecia tão real e agora, bem agora parece que tudo o que ele diz é mentira, o meu celular vibra em minhas mãos indicando que chegou uma nova mensagem do Chris e busco forças para ler.Oi meu amor, estou chegando Ok Eu não estava arrumada e nem iria me arrumar, seria um assunto rápido com o Chris e Yago estaria observando, foi difícil, mas
Fechar aquela porta atrás de mim doeu, doeu tanto que achei ter perdido as forças, achei que não sabia mais andar, cheguei a pensar que nunca mais iria respirar feito uma pessoa normal, mas foi necessário, a dor que estou sentindo é necessária.Fiz todo o caminho de volta até a Laura implorando um pouco mais de força para não desabar bem ali, pois tudo o que eu mais queria era deitar em qualquer lugar e chorar, até que essa dor saísse de mim.- Gab, ele te machucou? - Laura questiona assim que eu me aproximo, mais uma vez não garanto a minha voz, ela provavelmente não iria funcionar nesse momento então apenas nego com a cabeça esperando que ela entenda - Gabriella, o que aconteceu? Aonde vocês foram? - O olhar preocupado dela me fez perceber que ela não me deixaria em paz enquanto não conseguisse uma resposta útil.- E
Yago ignorou tudo o que Chris estava falando pra mim e não demorou nada até meu irmão começar a encher o Chris de perguntas, eram respostas curtas e nada relevantes, pelo menos não para mim, até que o Chris levantou a cabeça e encarou o vidro, quase deu para acreditar que ele estava me vendo, seu olhar se iluminou e ele sorriu como a muito tempo eu não cia- Ela está ali, não está?Meu irmão olhou para trás como se buscasse algum sinal da minha presença do outro lado do vidro, constatou que era impossível qualquer sinal de minha presença ali, voltou a olhar para ele confirmando com a cabeça- Yago já chega dessas perguntas, posso contar toda a história do começo e vai ser bem mais conclusivo do que essas perguntas roteirizadas. Temos tempo para isso?- Christopher, você se entregou, e
Depois daquele péssimo episódio da boate e delegacia assim que chegamos em casa tomei um banho e apaguei na cama com o Yago, dormimos abraçados para aproveitar todo o tempo do mundo, isso segundo ele.O resto do final de semana passou tranquilo, se for comparado ao dia da boate foi bem tranquilo mesmo, fiquei maior parte do tempo em casa, Yago pegou folga para o final de semana e não largou do meu pé, um perfeito chiclete, mas não reclamei iria morrer de saudade dele, até café da manhã na cama eu estava recebendo.Laura veio na minha casa durante a tarde no final de semana, fizemos sessão cinema, muita pipoca, pizza e chocolateMeu pai não apareceu, na verdade ele chegava em casa eu já estava dormindo e saia antes que eu acordasse, fiquei um pouco triste, ele realmente estava me evitando, não sei se por estar com raiva, ou evitando me ver e talvez mudar de op
O caminho do aeroporto até o apartamento que iria me servir de lar foi bem calmo e um silêncio constrangedor tomava conta do carro da minha tia, vez ou outra uma pergunta boba surgia e eu apenas respondia com sim ou não. Não que eu odeie minha tia, muito pelo contrário, éramos amigas, muito amigas antes dela se mudar, mas com o tempo passamos a ser família apenas e essa não era a melhor forma de voltar a encontrar com ela.Assim que entramos ela me mostra onde seria meu quarto e respiro fundo avaliando o local, não era feio como eu imaginava, bem básico com tudo que é relativamente necessário, dou a desculpa que iria tomar banho antes de me juntar a minha tia para o almoço e ela sai fechando a porta atrás de si. Respiro fundo e pego o celular, hora de ver as mensagens da Laura e do Yago, meu coração se aperta ao lembrar e novamente lágrimas volta