Depois de um banho quente coloco um pijama e é quase como se uma ancora caísse em meus ombros, meu corpo inteiro está doendo e eu nem sei explicar exatamente o motivo ou origem da dor, consigo ouvir meu irmão e Laura conversando no andar de baixo, mas de fato nada disso me importava agora, tudo que eu precisava era deitar e encerrar esse dia.
-Gab? - Ouço a voz da Laura e algumas batidas na porta
- Entra Lau - falo e me sento na cama, percebo que ela estava chorando, mas não era o momento de questionar
- Vim te entregar o seu celular e o número do pedaço de mal caminho - ela diz enquanto se aproxima da minha cama tentando forçar um sorriso
- Vem, senta aqui - falo baixo enquanto me arrumo para lhe dar espaço na cama
- Gab - ela mal consegue falar antes de voltar a chorar
Prefiro não falar nada apenas a abraço e se torna impossível controlar as lágrimas, por mais que eu tentasse nada adiantava era como se um enorme buraco estivesse se abrindo no meu peito, ouço leves batidas na porta e olhamos quase ao mesmo tempo para o Yago que se aproximava.
- Meninas, eu fiz um lanche, vocês precisam comer e dormir
Assim que nos levantamos Yago nos abraça rapidamente e em seguida nos empurra levemente para sairmos do quarto, pelo o que conheço do meu irmão ele só estava tentando aliviar o peso e o terror que estávamos sentindo, e eu nem sequer sei dizer se em algum momento isso poderia ajudar.
Comemos em silêncio, ninguém sabia exatamente o que falar e na verdade nem precisava, cada um estava perdido em seus próprios pensamentos e fantasmas, quando terminamos Laura foi tomar banho e fomos obrigadas a ir dormir, segundo meu irmão teríamos um dia absurdamente conturbado nos aguardando.
[...]
Já nem sei quanto tempo estou deitada nessa cama sem conseguir fechar os olhos por mais do que cinco minutos, observo Laura e percebo que finalmente ela conseguiu dormir, já era alguma coisa pelo menos uma de nos conseguiu descansar, vejo o celular e já se aproximava das sete da manhã e foi nesse momento que desisti de tentar dormir.
Me levanto em silêncio, para não acordar a Laura, pego um casaco e meu celular, vejo o papelzinho caído no chão e acabo sorrindo ao me lembrar da única coisa agradável na noite anterior. Salvo o número no meu celular, afinal, se eu não m****r mensagem não irei vê-lo novamente a não ser que uma imensa coincidência e a gente se esbarre pela rua, vou até a varanda e sento em um sofá que quase nunca era usado, abro a conversa e fico olhando o vazio por um tempo pensando o que m****r.
Olá, é a Gabriella, lembra de mim?
Depois de enviar bloqueio o celular e o largo no sofá, quase que com medo de ler uma possível resposta que nem sequer eu tinha ainda, solto uma leve risada eu sem dúvidas estava parecendo uma adolescente, era só o que faltava... Me distraio olhando para o céu que estava nublado e um leve tom de azul.
Esse lugar era incrível pra mim, sempre foi meu lugar favorito uma sensação de que aqui nada poderia me machucar, sabe criança que tem um lugar magico e favorito, o sitio era assim pra mim. As poucas lembranças que tenho com a minha mãe são aqui, esse lugar poderia facilmente ser comparado com a Disney, estar sentada aqui me dava a leve sensação que minha mãe poderia aparecer aqui a qualquer momento com uma caneca de chocolate quente.
O celular toca indicando uma nova mensagem e se eu tivesse de boca aberta, sem dúvidas meu coração já estaria no chão de tão rápido que estava batendo.
Oi Gab, impossível esquecer... Fiquei preocupado
Foi uma noite difícil, não consegui dormir até agora
Vocês eram amigos?
Éramos sim, nossas famílias são bem próximas...
Entendo, sinto muito por isso.
Você ainda ficou lá muito tempo?
Não, assim que saiu fui procurar meu carro e sai também. Sabe como é, não é bom ficar tão perto de possíveis assassinos
Sim, sei bem...
Olha, preciso ir agora... Será que podemos sair pra jantar hoje?
Acho que sim, combinamos mais tarde
Ele viu minha mensagem, mas não respondeu... Confesso que esse quase convite foi o suficiente para me deixar ansiosa e fantasiando o que poderia acontecer por muito, muito tempo. Não demorou muito para Laura e Yago acordarem, depois de tomarmos café da manhã ainda com poucas palavras, precisaríamos voltar.
Yago disse que teríamos que dar depoimento na parte da tarde, fazer reconhecimento de possíveis suspeitos que envolvidos em outros casos de assassinatos, mas que ainda estão em investigação, decidimos que Yago iria no carro dele e eu iria com a Laura no meu.
- Lau - disse assim que entramos no carro - Mandei mensagem pro Chris agora de manhã
- O pedaço de mal caminho? – confirmei com a cabeça e vi o sorriso se formando no rosto dela - E aí?
- Ah, nada, nos falamos rápido - respondi enquanto dava partida no carro e seguia o Yago - mas vamos sair pra jantar
- Uau! Rápidos hein - ela fala rindo o que me faz rir também
Assim que chegamos tudo foi um completo caos, meu pai nos aguardava em casa e nos bombardeou com perguntas, quase podia confundir a nossa sala com alguma sala da delegacia, depois do almoço fomos até lá mesmo assim, precisávamos que tudo isso fosse formal, assinado e toda a burocracia que na verdade ninguém está de fato interessado.
Yago nos mostrou algumas fotos de suspeitos de outros casos, mas não vi ninguém na festa e aquele homem não estava entre aquelas fotos, por insistência do meu irmão ajudei em um retrato falado e contei detalhes da estranha conversa que tivemos no bar. Já se passava das quatro horas quando finalmente fomos liberadas.
Deixei Laura na casa dela e estava seguindo para a minha, quando recebi uma mensagem do Chris, assim que cheguei em casa o respondi, ele se ofereceu para vir me buscar, mas achei melhor ir no meu carro, após combinarmos o horário e local certinho nos despedimos outra vez.
[...]
Estaciono o carro na frente do restaurante exatamente no horário combinado, pela primeira vez não me atrasei, talvez pela ansiedade que eu estava, e não encontrei nenhum engarrafamento pelo caminho, o que é um milagre ainda mais nesse horário, confiro minha maquiagem no retrovisor e saio do carro.
- Ainda mais linda do que eu me lembrava - Levo um susto com a voz do Chris, mas acabo sorrindo
- Oi, você me assustou – Digo sorrindo enquanto nos aproximamos um pouco e eu quase posso me perder naqueles olhos
- Me desculpe não foi minha intenção - ele diz e como na noite anterior pega a minha mão dando um leve beijo - Vamos?
Assim que seus lábios tocam minha mão é como se milhões de borboletas tivessem acabado de se mudar para meu estomago, e eu que nunca acreditei em amor à primeira vista, quase posso assumir que estou apaixonada. O que diabos está acontecendo comigo?
Ainda segurando minha mão ele nos direciona ao interior do restaurante, já vim aqui outras vezes e me arrisco a dizer que é um dos melhores da cidade, quando Chris se identifica somos guiados até uma mesa perto da janela e confesso que é o meu lugar favorito, me pergunto se por acaso teria como essa noite melhorar...
- Toma um vinho comigo? -Ele questiona enquanto nos sentamos
- Claro, mas estou dirigindo, só um pouquinho mesmo – Mal termino de dizer e ele já está falando com o garçom pedindo nosso vinho
- Desculpe não ter lhe dado atenção hoje, meu dia foi bem corrido – Ele diz voltando sua atenção para mim
- Tudo bem, meu dia também não foi um dos mais fáceis... - Forço um sorriso
- Não vamos falar disso, hoje a minha missão é distrair você – ele diz sorrindo – me conta, escolheu qual especialidade?
Nossa noite foi incrível, não teria opção de companhia melhor do que o Chris para a noite de hoje, em pouco tempo já havíamos conversado sobre tudo, incluindo o passado e o futuro, ele se mostrou uma pessoa incrível, sabe aquelas pessoas que quando você conhece à vontade é colocar um potinho e guardar para sempre? Ele é exatamente assim, nem vimos o tempo passar, já se aproximava de meia noite e precisavam fechar o restaurante.
- Gab, quer dar uma volta? - ele questiona assim que nos aproximamos dos nossos carros
- Gostaria muito! - faço uma pausa e seguro as mãos dele o que faz ele olhar nos meus olhos
- Sinto que tem um “mas” se aproximando – Ele sorri
- Eu tô morta! Desde ontem não consegui dormir, meu dia foi terrível – Mal termino de falar e ele me abraça
- Não tem problema, mas tem que aceitar uma praia comigo amanhã- ele diz quase sussurrando
- Tudo bem. -Faço uma pausa tentando manter minha sanidade - vamos a praia amanhã
Afasto-nos o suficiente para que eu pudesse olhar naqueles olhos novamente e posso jurar que sorrimos ao mesmo tempo, sinto minha respiração levemente alterada e meu coração parecia querer sair pela minha boca quando Chris arruma meu cabelo atrás da orelha.
-Foi ótimo te conhecer
Ele diz sorrindo segundos antes de se aproximar ainda mais, tenho a sensação de ter parado no tempo, quase como se tudo a nossa volta estivesse em câmera lenta, assim que ele encosta seus lábios no meu, um novo arrepio percorre meu corpo, poucos segundos se passaram até que ele se afasta.
-Até amanhã então -Ele diz sorrindo e abre a porta do meu carro para que eu entre.
-Até.
Mais uma vez me encontrava no meu maior dilema de vida, o que vestir. Nada nunca me parecia verdadeiramente bom, nada me agradava de verdade, nada parecia bom o suficiente para nenhum momento...- YAGO - gritei da porta do meu quartoNão demorou um minuto pra ele aparecer com uma cara de desespero, provavelmente achou que eu estava morrendo ou que algo sério poderia estar acontecendo, desde o que aconteceu com André, o Yago tem passado mais tempo em casa e quando ele precisava sair meu pai aparecia, eu sei que não está fácil na delegacia e já insisti diversas vezes que eles não precisavam fazer nada desse tipo, mas quem é que me ouve?- Preciso de ajuda com a minha roupa -Digo enquanto ele entra- É sério, Gabriela - ele diz quase gritando e provavelmente está pensando em como me matar - Me arrependo de ter pedido uma irmã ao pai sabia &n
Tem um pouco mais de três meses que estou namorando com o Chris, ele tem sido muito presente, sua companhia me ajudou muito a superar a morte de André, claro que um não substitui o outro, mas uma boa companhia é cada vez mais importante para conseguir seguir em frente.Tem mais ou menos cinco meses que consegui um emprego na emergência pediátrica de um grande hospital, confesso que não está sendo fácil, principalmente se considerar que trabalhar aqui era um de meus planos com André. Tenho feitos plantões exaustivos, as vezes entro muito cedo e outras saio já de madrugada e o Chris faz questão de vir aqui sempre que isso acontece.Meu pai e meu irmão estão orgulhosos, se deixasse estaria gritando para o mundo inteiro que eu estou conseguindo realizar meus sonhos e todo aquele blá blá blá de sempre, agora as coisas j&aacu
Passo pela portaria do prédio que estava vazia, e pela primeira vez agradeço por não precisar falar com ninguém, sei que isso é horrível, mas no momento minha cabeça estava prestes a explodir, milhões de pensamentos se atropelando e falar com qualquer pessoa é a ultima coisa que eu queria.Assim que entro em casa sou pega de surpresa por não ter ninguém, Rosa provavelmente ainda não chegou o que é estranho já que ela nunca se atrasa, e hoje é sexta, meu pai e Yago nunca trabalham cedo na sexta, mas provavelmente só está relacionado a alguma evolução do caso do André e talvez a mensagem que Yago me mandou ontem...Vou até o quarto do meu pai por ser o único que tem banheira, só me dou conta que estou ali a muito tempo, quando acordo e a água já está bem mais fria
Depois de alguns minutos sendo abraçada pelo Yago eu respiro fundo e nos afasto o suficiente para conseguir olhar nos olhos do meu irmão, agora tudo que aconteceu hoje de manhã parecia fazer um pouco de sentido, mas na minha cabeça as coisas ainda não se encaixavam.- Yago, foi o Chris? - Pergunto- Foi Gab, o Chris é o assassino de todos os meus casos - ele diz baixo- Mas Yago - faço uma pausa tentando não chorar novamente - Ele é tão bom- Gabriella - ele segura meu rosto entre as mãos e respira fundo – Presta atenção, eu te amo, e vou te proteger, mas é o pai - ele faz outra pausa dando de ombros - eu não tenho como ir contra o pai, espero que você entenda.Ele se levanta e me deixa sentada sozinha enquanto sai, estava tão perdida em meus pensamentos que nem sei dizer quanto tempo se passou desd
Passei maior parte do dia grudada no Yago, Rosa estava no meu quarto empenhada em guardar todas as minhas coisas e deixar as minhas malas prontas já que eu mesma não teria a menor condição de fazer isso.Olho rapidamente no relógio que tinha no quarto do Yago já se aproximava das oito horas, um suspiro pensativo escapa entre meus lábios enquanto mais uma vez estou me torturando com lembranças de diversos momentos que passei com o Chris, antes tudo parecia tão real e agora, bem agora parece que tudo o que ele diz é mentira, o meu celular vibra em minhas mãos indicando que chegou uma nova mensagem do Chris e busco forças para ler.Oi meu amor, estou chegando Ok Eu não estava arrumada e nem iria me arrumar, seria um assunto rápido com o Chris e Yago estaria observando, foi difícil, mas
Fechar aquela porta atrás de mim doeu, doeu tanto que achei ter perdido as forças, achei que não sabia mais andar, cheguei a pensar que nunca mais iria respirar feito uma pessoa normal, mas foi necessário, a dor que estou sentindo é necessária.Fiz todo o caminho de volta até a Laura implorando um pouco mais de força para não desabar bem ali, pois tudo o que eu mais queria era deitar em qualquer lugar e chorar, até que essa dor saísse de mim.- Gab, ele te machucou? - Laura questiona assim que eu me aproximo, mais uma vez não garanto a minha voz, ela provavelmente não iria funcionar nesse momento então apenas nego com a cabeça esperando que ela entenda - Gabriella, o que aconteceu? Aonde vocês foram? - O olhar preocupado dela me fez perceber que ela não me deixaria em paz enquanto não conseguisse uma resposta útil.- E
Yago ignorou tudo o que Chris estava falando pra mim e não demorou nada até meu irmão começar a encher o Chris de perguntas, eram respostas curtas e nada relevantes, pelo menos não para mim, até que o Chris levantou a cabeça e encarou o vidro, quase deu para acreditar que ele estava me vendo, seu olhar se iluminou e ele sorriu como a muito tempo eu não cia- Ela está ali, não está?Meu irmão olhou para trás como se buscasse algum sinal da minha presença do outro lado do vidro, constatou que era impossível qualquer sinal de minha presença ali, voltou a olhar para ele confirmando com a cabeça- Yago já chega dessas perguntas, posso contar toda a história do começo e vai ser bem mais conclusivo do que essas perguntas roteirizadas. Temos tempo para isso?- Christopher, você se entregou, e
Depois daquele péssimo episódio da boate e delegacia assim que chegamos em casa tomei um banho e apaguei na cama com o Yago, dormimos abraçados para aproveitar todo o tempo do mundo, isso segundo ele.O resto do final de semana passou tranquilo, se for comparado ao dia da boate foi bem tranquilo mesmo, fiquei maior parte do tempo em casa, Yago pegou folga para o final de semana e não largou do meu pé, um perfeito chiclete, mas não reclamei iria morrer de saudade dele, até café da manhã na cama eu estava recebendo.Laura veio na minha casa durante a tarde no final de semana, fizemos sessão cinema, muita pipoca, pizza e chocolateMeu pai não apareceu, na verdade ele chegava em casa eu já estava dormindo e saia antes que eu acordasse, fiquei um pouco triste, ele realmente estava me evitando, não sei se por estar com raiva, ou evitando me ver e talvez mudar de op