Minha mão já estava doendo de tão forte que eu estava segurando o volante, quase como se aquilo pudesse cair a qualquer momento ou com a falha tentativa de usar a dor para me acordar desse terrível pesadelo, e eu gostaria tanto que isso fosse só um sonho ruim, queria tanto acordar com o André me ligando para que eu não me atrasasse para aula, definitivamente não sei como seriam os dias sem ele por aqui.
Eu estava dirigindo cada vez mais rápido, a parte racional de mim tinha medo de que algo pior pudesse acontecer enquanto estávamos naquela velocidade e a outra parte queria acelerar ainda mais para que tudo isso acabasse, para que eu encontrasse logo com Yago e finalmente me sentisse segura.
- É um sonho, precisa ser um sonho - sussurro isso várias vezes tentando me convencer que eu poderia acordar a qualquer momento.
- Gab, tenta ficar calma - a voz da Laura parecia calma, mas ao desviar meu olhar pra ela o que vejo é totalmente o contrário do que a voz tentava demonstrar.
-Vo....Você o viu Lau? - Pergunto sentindo um nó se formando na minha garganta.
- Não - ela fala e suspiramos quase que ao mesmo tempo - assim que ouvi que ele tinha sido assassinado - ela faz uma pausa na esperança de manter a voz firme - Sinceramente na hora não pensei muito, mas sabia que precisava sair dali, de preferência te tirar dali o mais rápido possível – ela faz uma pausa enquanto acaricia meu braço - Provavelmente se fosse vingança, você poderia ser a próxima - ela fala o final baixo, quase que um sussurro
Ao ouvir aquilo sinto um calafrio percorrer meu corpo, não conseguia nem sequer imaginar que naquele momento eu poderia ou não ser mais um corpo frio no chão daquele salão, a ideia da possibilidade embrulhava meu estomago e aumentava ainda mais a minha vontade de pôr asas naquele carro.
E pela primeira vez no meio de toda essa confusão me lembro daquele homem, aquele olhar me causa novos calafrios, começo a me perguntar se ele seria o culpado, ou se ele poderia estar querendo se aproximar de mim para facilitar seu trabalho.Será que ele sabia quem eu era e por isso se aproximou daquela forma?
Será que de alguma forma ele achou que eu poderia guia-lo até a saída e seria mais fácil me matar?
Flashback- Gab, Gaaab - ouço os gritos do Yago vindo em nossa direção tentando sem sucesso falar mais alto que a música
Assim que ele se aproxima percebo que ele basicamente arrastava um garoto pelo braço, quase tive pena desse menino, pela cara que ele fazia parecia ter medo de que o Yago o matasse, ou simplesmente não estava afim de estar nessa festa, vai saber. Mas no fundo eu quase conseguia entende-lo...
- Esse é o André - Yago diz se referindo ao rapaz ao seu lado - ele é filho do Carlos, o pai dele e eu trabalhamos juntos nesse caso - ele sorri vitorioso o que me faz sorrir também
- Oi, prazer - Vejo o tal André com a mão esticada para me cumprimentar, posso jurar que ele nem sequer queria estar ali
- Prazer André, Gabriela - falo ao mesmo tempo que pego na mão dele e assim que solto aponto a Laura - essa é minha amiga Laura
Juro que eu tento ser o mais legal possível, lembro do meu irmão ter comentado alguma coisa sobre o pai dele, acho que são novos por aqui, e se minha memória estiver correta esse é o motivo do Yago nos apresentar, esse menino possivelmente precisava de amigos.
Na verdade, só poderia ser isso, Yago nunca apresentou ninguém do sexo masculino pra mim antes.
- Gab, ele também faz medicina no mesmo lugar que você, talvez se tornem bons amigos - ele diz e se afasta sem nos dar a menor chance de resposta
Volto meu olhar para o garoto que não parecia nem um pouco à vontade naquele lugar, talvez nem quisesse conhecer ninguém provavelmente só queria estar dentro do seu quarto fazendo sei lá o que, mas de certa forma ele disfarçava bem enquanto deixava seu corpo balançando ao som da música.
Mas meu irmão estava certo, me dei conta disso quando em poucas horas já estávamos no play do prédio conversando como se como se eu, Lau e ele fôssemos amigos a anos e essa sensação de ter encontrado alguém tão diferente e ao mesmo tempo tão igual era gostoso, era quase um conforto.
Com o tempo acabei me tornando um pouco mais próxima dele que a Laura, já que nossas matérias e especialização eram as mesmas, nossos pais e meu irmão viviam trabalhando juntos, mas sempre que era possível ficávamos os três conversando e quando estávamos juntos nem era possível ver o tempo passar.
Flashback
- Vou sentir tanta, tanta falta dele - falo com a voz embargada enquanto tentava segurar o choro que crescia no fundo da minha garganta.
Estaciono no sitio quase ao mesmo tempo em que Yago, mas continuo sentada e levemente paralisada, eu queria sair, queria tantas coisas, mas meu corpo parecia travado ou então colado no banco. Yago sai do seu carro e em passos largos se aproxima do meu, abre a porta com mais força que o necessário e agarra meu braço me puxando para o lado de fora do carro ao perceber que eu não faria isso sozinha.
- Gabriella? - ele diz e segura meu rosto entre as mãos como se quisesse ter certeza que eu estava em sã consciência - Gab..
Ele me chama novamente e me sacode levemente como se quisesse me tirar de alguma espécie de transe. Mas não consigo falar nada só o abraço o mais apertado que eu consigo e quando ele retribui é como se eu me sentisse em casa, sabe aquela sensação de segurança, que nada pode nos machucar ali? É exatamente assim que eu me sinto e finalmente me permito chorar.
Chorei pela perda de um amigo.
Pelo desespero ao me imaginar em seu lugar.
Chorei com medo, um medo devastador que nunca havia sentido antes.
Quando finalmente consegui me acalmar e minha respiração foi voltando ao normal Yago deu um beijo no rosto e nos afastou o suficiente para que conseguisse olhar nos meus olhos.
- Eu nunca, nunca vou permitir que nada de ruim lhe aconteça - ele diz de forma serena, assim como a mamãe fazia para nos acalmar, assim como ele passou a fazer desde que éramos pequenos e perdemos a mamãe - Agora entra, vai tomar um banho quente, vou conversar com a Laura um pouco
Não tinha força para falar nada, nem sabia se minha voz iria sair, mesmo que eu quisesse contestar seria impossível, me solto do Yago ainda um pouco relutante pois minha vontade mesmo era permanecer no seu abraço por mais uma década se desse, e vou em direção a Laura.
-Fica calma, está tudo bem – ela diz me abraçando
-Obrigada – digo enquanto nos afastamos – te encontro lá no quarto
-Não tem motivo para agradecer – ela sorri e beija meu rosto – eu juro que não demoro
Assim que Yago se aproximou eu me afastei, não tinha muito o que ser feito, na verdade eu não poderia fazer nada, a única pessoa que poderia ter alguma informação útil, nesse momento seria Laura, mas uma lembrança me fez parar no meio do caminho
-Yago, acho que vi o assassino – digo olhando o olhando
-Como assim Gabriella? – Yago questiona enquanto eles se aproximam
Conto para eles todos os detalhes da conversa estranha com aquele homem e o último olhar antes que ele pudesse sair do salão e Yago se afasta indo fazer uma ligação, após algumas insistências de Laura sigo até o quarto para tomar um banho e finalmente terminar essa noite terrível.
Depois de um banho quente coloco um pijama e é quase como se uma ancora caísse em meus ombros, meu corpo inteiro está doendo e eu nem sei explicar exatamente o motivo ou origem da dor, consigo ouvir meu irmão e Laura conversando no andar de baixo, mas de fato nada disso me importava agora, tudo que eu precisava era deitar e encerrar esse dia.-Gab? - Ouço a voz da Laura e algumas batidas na porta- Entra Lau - falo e me sento na cama, percebo que ela estava chorando, mas não era o momento de questionar- Vim te entregar o seu celular e o número do pedaço de mal caminho - ela diz enquanto se aproxima da minha cama tentando forçar um sorriso- Vem, senta aqui - falo baixo enquanto me arrumo para lhe dar espaço na cama- Gab - ela mal consegue falar antes de voltar a chorarPrefiro não falar nada apenas a abraço e se torna impossí
Mais uma vez me encontrava no meu maior dilema de vida, o que vestir. Nada nunca me parecia verdadeiramente bom, nada me agradava de verdade, nada parecia bom o suficiente para nenhum momento...- YAGO - gritei da porta do meu quartoNão demorou um minuto pra ele aparecer com uma cara de desespero, provavelmente achou que eu estava morrendo ou que algo sério poderia estar acontecendo, desde o que aconteceu com André, o Yago tem passado mais tempo em casa e quando ele precisava sair meu pai aparecia, eu sei que não está fácil na delegacia e já insisti diversas vezes que eles não precisavam fazer nada desse tipo, mas quem é que me ouve?- Preciso de ajuda com a minha roupa -Digo enquanto ele entra- É sério, Gabriela - ele diz quase gritando e provavelmente está pensando em como me matar - Me arrependo de ter pedido uma irmã ao pai sabia &n
Tem um pouco mais de três meses que estou namorando com o Chris, ele tem sido muito presente, sua companhia me ajudou muito a superar a morte de André, claro que um não substitui o outro, mas uma boa companhia é cada vez mais importante para conseguir seguir em frente.Tem mais ou menos cinco meses que consegui um emprego na emergência pediátrica de um grande hospital, confesso que não está sendo fácil, principalmente se considerar que trabalhar aqui era um de meus planos com André. Tenho feitos plantões exaustivos, as vezes entro muito cedo e outras saio já de madrugada e o Chris faz questão de vir aqui sempre que isso acontece.Meu pai e meu irmão estão orgulhosos, se deixasse estaria gritando para o mundo inteiro que eu estou conseguindo realizar meus sonhos e todo aquele blá blá blá de sempre, agora as coisas j&aacu
Passo pela portaria do prédio que estava vazia, e pela primeira vez agradeço por não precisar falar com ninguém, sei que isso é horrível, mas no momento minha cabeça estava prestes a explodir, milhões de pensamentos se atropelando e falar com qualquer pessoa é a ultima coisa que eu queria.Assim que entro em casa sou pega de surpresa por não ter ninguém, Rosa provavelmente ainda não chegou o que é estranho já que ela nunca se atrasa, e hoje é sexta, meu pai e Yago nunca trabalham cedo na sexta, mas provavelmente só está relacionado a alguma evolução do caso do André e talvez a mensagem que Yago me mandou ontem...Vou até o quarto do meu pai por ser o único que tem banheira, só me dou conta que estou ali a muito tempo, quando acordo e a água já está bem mais fria
Depois de alguns minutos sendo abraçada pelo Yago eu respiro fundo e nos afasto o suficiente para conseguir olhar nos olhos do meu irmão, agora tudo que aconteceu hoje de manhã parecia fazer um pouco de sentido, mas na minha cabeça as coisas ainda não se encaixavam.- Yago, foi o Chris? - Pergunto- Foi Gab, o Chris é o assassino de todos os meus casos - ele diz baixo- Mas Yago - faço uma pausa tentando não chorar novamente - Ele é tão bom- Gabriella - ele segura meu rosto entre as mãos e respira fundo – Presta atenção, eu te amo, e vou te proteger, mas é o pai - ele faz outra pausa dando de ombros - eu não tenho como ir contra o pai, espero que você entenda.Ele se levanta e me deixa sentada sozinha enquanto sai, estava tão perdida em meus pensamentos que nem sei dizer quanto tempo se passou desd
Passei maior parte do dia grudada no Yago, Rosa estava no meu quarto empenhada em guardar todas as minhas coisas e deixar as minhas malas prontas já que eu mesma não teria a menor condição de fazer isso.Olho rapidamente no relógio que tinha no quarto do Yago já se aproximava das oito horas, um suspiro pensativo escapa entre meus lábios enquanto mais uma vez estou me torturando com lembranças de diversos momentos que passei com o Chris, antes tudo parecia tão real e agora, bem agora parece que tudo o que ele diz é mentira, o meu celular vibra em minhas mãos indicando que chegou uma nova mensagem do Chris e busco forças para ler.Oi meu amor, estou chegando Ok Eu não estava arrumada e nem iria me arrumar, seria um assunto rápido com o Chris e Yago estaria observando, foi difícil, mas
Fechar aquela porta atrás de mim doeu, doeu tanto que achei ter perdido as forças, achei que não sabia mais andar, cheguei a pensar que nunca mais iria respirar feito uma pessoa normal, mas foi necessário, a dor que estou sentindo é necessária.Fiz todo o caminho de volta até a Laura implorando um pouco mais de força para não desabar bem ali, pois tudo o que eu mais queria era deitar em qualquer lugar e chorar, até que essa dor saísse de mim.- Gab, ele te machucou? - Laura questiona assim que eu me aproximo, mais uma vez não garanto a minha voz, ela provavelmente não iria funcionar nesse momento então apenas nego com a cabeça esperando que ela entenda - Gabriella, o que aconteceu? Aonde vocês foram? - O olhar preocupado dela me fez perceber que ela não me deixaria em paz enquanto não conseguisse uma resposta útil.- E
Yago ignorou tudo o que Chris estava falando pra mim e não demorou nada até meu irmão começar a encher o Chris de perguntas, eram respostas curtas e nada relevantes, pelo menos não para mim, até que o Chris levantou a cabeça e encarou o vidro, quase deu para acreditar que ele estava me vendo, seu olhar se iluminou e ele sorriu como a muito tempo eu não cia- Ela está ali, não está?Meu irmão olhou para trás como se buscasse algum sinal da minha presença do outro lado do vidro, constatou que era impossível qualquer sinal de minha presença ali, voltou a olhar para ele confirmando com a cabeça- Yago já chega dessas perguntas, posso contar toda a história do começo e vai ser bem mais conclusivo do que essas perguntas roteirizadas. Temos tempo para isso?- Christopher, você se entregou, e