Tem um pouco mais de três meses que estou namorando com o Chris, ele tem sido muito presente, sua companhia me ajudou muito a superar a morte de André, claro que um não substitui o outro, mas uma boa companhia é cada vez mais importante para conseguir seguir em frente.
Tem mais ou menos cinco meses que consegui um emprego na emergência pediátrica de um grande hospital, confesso que não está sendo fácil, principalmente se considerar que trabalhar aqui era um de meus planos com André. Tenho feitos plantões exaustivos, as vezes entro muito cedo e outras saio já de madrugada e o Chris faz questão de vir aqui sempre que isso acontece.
Meu pai e meu irmão estão orgulhosos, se deixasse estaria gritando para o mundo inteiro que eu estou conseguindo realizar meus sonhos e todo aquele blá blá blá de sempre, agora as coisas já estavam normais era raro encontrar com eles em casa acordados então era algo que acontecia uma vez por semana com sorte. Sobre o assassinato do André ainda não encontraram o culpado, mas Yago afirmou está bem próximo disso acontecer.
[...]
Agora estou em mais um plantão e só devo sair daqui as seis da manhã, olho no relógio pela milésima vez como se isso pudesse acelerar o tempo ou qualquer coisa que pudesse diminuir minha exaustão, o tempo está péssimo muita chuva, frio e isso faz com que tivéssemos várias crianças na emergência com problemas respiratórios.
A última vez que me lembro de ter conseguido comer não eram nem sete horas da noite ainda e foi uma maça, agora que consegui vinte minutos para descansar, me via em um dilema, tinha duas opções deitar no primeiro banco que aparecesse na minha frente ou ir até o térreo para conseguir comer alguma coisa, não preciso dizer que estou deitada, ou preciso?
Meu celular tocou notificando mais uma mensagem, e quando peguei tomei um susto com a quantidade de mensagens ali, incluindo meu pai, Chris, Laura, Yago, e mais um monte de grupos, ligações perdidas e tudo mais que puder imaginar, sabia que provavelmente não teria tempo de responder nenhuma, mas comecei com a do Chris, meu pai e Yago.
Amor, vou te buscar e vamos tomar café da manhã juntos, se cuide.
Boa noite minha filha, imagino que esteja bem corrido aí hoje, mas sei que é a melhor. Tenha uma ótima noite, te amo.
Gab, precisamos conversar urgente. O pai já disse que está corrido aí no hospital, te espero em casa. Eu te amo, não esqueça disso jamais!
A mensagem do Yago me deixou bem preocupada, esse tipo de coisa não é normal, ainda mais quando se tratava dele. Essa era a única mensagem que eu iria responder, mas antes que eu conseguisse já estavam me chamando para uma nova emergência. Em poucos segundos eu já tinha guardado o celular e estava correndo até o local indicado.
- Gabriela, vou precisar que assuma o parto dos trigêmeos, chegou uma emergência cirúrgica e vou precisar correr – Joana disse assim que me aproximei dela
Joana era a chefe da pediatria e não tinha muito o que falar apenas concordei e ela correu na direção contraria, Joana confiava em mim para manter os trigêmeos vivos, e eu daria o meu melhor para isso, o parto foi muito complicado e demorado, quase perdemos a mãe, mas os bebês estavam bem só estavam muito fracos por ser um parto prematuro e tudo mais, assim que acabamos a sala foi esvaziando aos poucos e eu me sentei no chão, estava tão cansada e com dor que já não sentia minhas pernas.
- Gabriela? - Ouvi a voz da Joana
- Oi - falei enquanto me levantava assustada - aconteceu alguma coisa com os bebês?
- Não, você fez um ótimo trabalho - ela disse tranquila – Mas cochilou deitada no chão, vamos comer alguma coisa...
Assim que nos sentamos na lanchonete percebi que estava com mais fome do que eu imaginei e aquele lanche estava ainda mais gostoso do que eu conseguia me lembrar ou só é um efeito da fome mesmo, olhei no relógio e já se aproximava das cinco da manhã, mal tínhamos acabado de comer quando ela foi chamada novamente. Aparentemente não precisavam de mim já que ela mandou que eu fosse deitar mais um pouco. Nem que eu fosse muito louca eu negaria isso.
***
Acordo assustada com meu celular tocando, e ainda estava sonolenta enquanto sento na cama na falha tentativa de encontrar ele rápido, assim que o encontro vejo que é o Chris dou um leve sorriso ao atender.
Oi amor
Você tem noção do desespero que eu tô Gabriela?
Bom dia para você também querido, mas do que estamos falando?
Gabriela, seu plantão acabou seis horas e eu estou plantado aqui fora até agora, já são quase nove, ninguém sabia de você nessa merda desse hospital, você também não atende telefone...
Eu... Calma, já são nove?
Gabriela pelo amor de Deus, onde você está?
Para de gritar, estou indo e explico quando chegar aí.
Ainda me pergunto como pude dormir esse tempo todo sem perceber, levanto o mais rápido possível pra alguém que acabou de acordar e assim que me aproximo do meu armário vejo um bilhete
Bom dia Gabriela,
Iria te acordar, mas sei que foi um plantão cansativo e preferi te deixar dormindo, espero que esteja bem. Se cuide, nos vemos no próximo. Bjs Joana
Sorrio enquanto leio, Joana realmente é um amor e tenho muita sorte por ela ser minha chefe. Para ser mais rápida não mudo de roupa, só pego as minhas coisas e saio pelos corredores andando o mais rápido possível sem parecer uma louca, assim que chego na porta vejo o Chris com a pior cara possível.
- Aonde você estava Gabriela? - ele pergunta assim que me aproximo
- Fiz um parto complicado durou quatro horas, Joana me mandou dormir e preferiu não me acordar
- Não sei se te dou parabéns, um beijo, ou se te largo aqui - ele fala com raiva cruzando os braços o que me faz rir
- Estou com fome - me aproximo dando um selinho - podia me levar pra tomar café
- Entra logo nesse carro – Ele diz revirando os olhos enquanto se afasta e pela velocidade que se afasta e dirigi para sair do estacionamento, certamente estava de péssimo humor
- Como foi seu dia? - pergunto sem olhar para ele
- Foi ótimo, tirando a louca da minha namorada que sumiu - ele fala sério mas logo sorri me olhando
- Foi um parto difícil, eu fiz sozinha, Joana foi atender uma emergência
- Que bom, já estava na hora de notarem o quão boa você é - ele fala sorrindo e estaciona na porta da primeira cafeteria que vê.
Assim que entramos e senti aquele cheiro familiar meu estômago se revirou, aparentemente ele estava pronto para sair do meu corpo e se alimentar sozinho, olho pela janela e novamente vejo aquele homem, começo a me perguntar o que ele estaria fazendo, por que teria o trabalho de me seguir durante todo esse tempo...
-O que foi? -Christopher atrai meu olhar
-Que?
-Você olhou para fora e foi parar em outro universo, o que aconteceu? – desvio meu olhar para o lado de fora novamente e o homem sumiu, logo volto a olhar pro Chris
-Nada, só cansaço eu acho.
-Você precisa descansar...
Ele se esticou me dando um selinho, mas logo voltou ao seu lugar, quando o garçom se aproximou com os nossos pedidos, nem notei que ele tinha escolhido por mim, mas com a fome que eu estava qualquer coisa seria ótimo. Conhece aquela história que a fome é o melhor tempero, então é isso.
- Provavelmente vou fazer isso o resto do dia.
- Prometo fazer o possível para deixar você dormir até cansar.
Estávamos quase terminando de comer, quando o telefone dele começou a tocar, pela expressão que ele fez ao ver quem era provavelmente não é coisa boa.
- Só um minuto, eu já volto
Ele levantou e saiu da cafeteria, onde nossa mesa estava pude ver que ele ficou encostado no carro e ao atender o telefone ficava cada vez mais alterado, gesticulava e por mais que tentasse disfarçar era impossível, depois de algum tempo ele desliga o celular e entra na cafeteria. Fico o observando enquanto ele vai até o caixa, paga nossos pedidos e vem na minha direção.
- Vamos, preciso te deixar em casa - falou sem nem me olhar
- Precisa de ajuda? – Pergunto enquanto o seguia
- Não Gabriela, preciso te deixar em casa apenas – ele diz entrando no carro.
Ele dirige de uma forma que nunca vi antes, parecia estar fugindo de alguma coisa e de certa forma isso me assusta, lembro do homem que estava do lado de fora da cafeteria e me pergunto se teria alguma relação... Em menos de 5 minutos ele já estava estacionando na frente do meu prédio, eu fiz todo o caminho em silêncio, algo estava muito errado e não faço ideia do que era
- Princesa - ele segurou minha mão antes que eu saísse do carro
- Oi - suspirei e me virei para olhar em seus olhos
- Me perdoe por tudo, eu te amo - ele disse quase em um sussurro
- Não precisa pedir perdão, todos temos dias ruins amor - me aproximei dele lhe dando um selinho rápido. - Eu também amo você
- Eu preciso ir.
Antes que eu pudesse responder qualquer coisa ele me deu um selinho rápido, foi o tempo exato para eu sair do carro e ele acelerar, sumindo do meu campo de visão quase como se nunca tivesse estado ali, fiquei alguns segundos na calçada tentando entender o que diabos poderia estar acontecendo e principalmente se a aparição daquele homem teria algo relacionado a isso.
Passo pela portaria do prédio que estava vazia, e pela primeira vez agradeço por não precisar falar com ninguém, sei que isso é horrível, mas no momento minha cabeça estava prestes a explodir, milhões de pensamentos se atropelando e falar com qualquer pessoa é a ultima coisa que eu queria.Assim que entro em casa sou pega de surpresa por não ter ninguém, Rosa provavelmente ainda não chegou o que é estranho já que ela nunca se atrasa, e hoje é sexta, meu pai e Yago nunca trabalham cedo na sexta, mas provavelmente só está relacionado a alguma evolução do caso do André e talvez a mensagem que Yago me mandou ontem...Vou até o quarto do meu pai por ser o único que tem banheira, só me dou conta que estou ali a muito tempo, quando acordo e a água já está bem mais fria
Depois de alguns minutos sendo abraçada pelo Yago eu respiro fundo e nos afasto o suficiente para conseguir olhar nos olhos do meu irmão, agora tudo que aconteceu hoje de manhã parecia fazer um pouco de sentido, mas na minha cabeça as coisas ainda não se encaixavam.- Yago, foi o Chris? - Pergunto- Foi Gab, o Chris é o assassino de todos os meus casos - ele diz baixo- Mas Yago - faço uma pausa tentando não chorar novamente - Ele é tão bom- Gabriella - ele segura meu rosto entre as mãos e respira fundo – Presta atenção, eu te amo, e vou te proteger, mas é o pai - ele faz outra pausa dando de ombros - eu não tenho como ir contra o pai, espero que você entenda.Ele se levanta e me deixa sentada sozinha enquanto sai, estava tão perdida em meus pensamentos que nem sei dizer quanto tempo se passou desd
Passei maior parte do dia grudada no Yago, Rosa estava no meu quarto empenhada em guardar todas as minhas coisas e deixar as minhas malas prontas já que eu mesma não teria a menor condição de fazer isso.Olho rapidamente no relógio que tinha no quarto do Yago já se aproximava das oito horas, um suspiro pensativo escapa entre meus lábios enquanto mais uma vez estou me torturando com lembranças de diversos momentos que passei com o Chris, antes tudo parecia tão real e agora, bem agora parece que tudo o que ele diz é mentira, o meu celular vibra em minhas mãos indicando que chegou uma nova mensagem do Chris e busco forças para ler.Oi meu amor, estou chegando Ok Eu não estava arrumada e nem iria me arrumar, seria um assunto rápido com o Chris e Yago estaria observando, foi difícil, mas
Fechar aquela porta atrás de mim doeu, doeu tanto que achei ter perdido as forças, achei que não sabia mais andar, cheguei a pensar que nunca mais iria respirar feito uma pessoa normal, mas foi necessário, a dor que estou sentindo é necessária.Fiz todo o caminho de volta até a Laura implorando um pouco mais de força para não desabar bem ali, pois tudo o que eu mais queria era deitar em qualquer lugar e chorar, até que essa dor saísse de mim.- Gab, ele te machucou? - Laura questiona assim que eu me aproximo, mais uma vez não garanto a minha voz, ela provavelmente não iria funcionar nesse momento então apenas nego com a cabeça esperando que ela entenda - Gabriella, o que aconteceu? Aonde vocês foram? - O olhar preocupado dela me fez perceber que ela não me deixaria em paz enquanto não conseguisse uma resposta útil.- E
Yago ignorou tudo o que Chris estava falando pra mim e não demorou nada até meu irmão começar a encher o Chris de perguntas, eram respostas curtas e nada relevantes, pelo menos não para mim, até que o Chris levantou a cabeça e encarou o vidro, quase deu para acreditar que ele estava me vendo, seu olhar se iluminou e ele sorriu como a muito tempo eu não cia- Ela está ali, não está?Meu irmão olhou para trás como se buscasse algum sinal da minha presença do outro lado do vidro, constatou que era impossível qualquer sinal de minha presença ali, voltou a olhar para ele confirmando com a cabeça- Yago já chega dessas perguntas, posso contar toda a história do começo e vai ser bem mais conclusivo do que essas perguntas roteirizadas. Temos tempo para isso?- Christopher, você se entregou, e
Depois daquele péssimo episódio da boate e delegacia assim que chegamos em casa tomei um banho e apaguei na cama com o Yago, dormimos abraçados para aproveitar todo o tempo do mundo, isso segundo ele.O resto do final de semana passou tranquilo, se for comparado ao dia da boate foi bem tranquilo mesmo, fiquei maior parte do tempo em casa, Yago pegou folga para o final de semana e não largou do meu pé, um perfeito chiclete, mas não reclamei iria morrer de saudade dele, até café da manhã na cama eu estava recebendo.Laura veio na minha casa durante a tarde no final de semana, fizemos sessão cinema, muita pipoca, pizza e chocolateMeu pai não apareceu, na verdade ele chegava em casa eu já estava dormindo e saia antes que eu acordasse, fiquei um pouco triste, ele realmente estava me evitando, não sei se por estar com raiva, ou evitando me ver e talvez mudar de op
O caminho do aeroporto até o apartamento que iria me servir de lar foi bem calmo e um silêncio constrangedor tomava conta do carro da minha tia, vez ou outra uma pergunta boba surgia e eu apenas respondia com sim ou não. Não que eu odeie minha tia, muito pelo contrário, éramos amigas, muito amigas antes dela se mudar, mas com o tempo passamos a ser família apenas e essa não era a melhor forma de voltar a encontrar com ela.Assim que entramos ela me mostra onde seria meu quarto e respiro fundo avaliando o local, não era feio como eu imaginava, bem básico com tudo que é relativamente necessário, dou a desculpa que iria tomar banho antes de me juntar a minha tia para o almoço e ela sai fechando a porta atrás de si. Respiro fundo e pego o celular, hora de ver as mensagens da Laura e do Yago, meu coração se aperta ao lembrar e novamente lágrimas volta
Os dois primeiros dias eu só fiquei em casa, tentando me adaptar a essa nova vida, perdi a conta de quantas vezes chorei junto com o Yago durante uma ligação, principalmente durante uma chamada de vídeo, falei com a Laura pelo menos uma vez por dia e a Rosa fiz questão de ligar para conversar com ela também, contar como está sendo tudo aqui.Meu relacionamento com a minha tia é bom, é ótimo na verdade, voltamos a ser rapidamente como éramos antes dela se mudar para Portugal, nesse momento estou mais uma vez em minha cama com o notebook em meu colo observando o site de cada hospital da cidade que eu enviei um currículo junto com minha carta de recomendaçãoEu não iria suportar ficar muito tempo em casa parada, precisava urgentemente de uma vaga em algum hospital ou clínica ou qualquer coisa que me tirasse de casa e me mantivesse ocu