Formatura
Já estava andando de um lado para o outro no quarto, tenho quase certeza que passei horas nesse martírio que sinceramente não estava nem perto de terminar, intercalo meu olhar entre minha cama e a janela como se a resposta que eu precisasse pudesse cair do céu, até que ouço um batidas na porta do meu quarto e me viro esperando alguém entrar.
- Eu já não aguento mais ouvir seus passos Gabriella, o que está acontecendo? - Yago perguntou enquanto entrava no quarto
Yago é meu irmão mais velho, mas desde que assumiu a investigação de uma quadrilha de assassinos de aluguel, tenho a sensação que ele nunca estava em casa. Alias ele e meu pai, estão trabalhando juntos nessa investigação então basicamente posso dizer que moro sozinha. Eles chegam muito tarde e saem muito cedo, nem consigo me lembrar mais da última refeição em família, já que vivemos apenas nós três, é possível notar o quão extensa é minha solidão nesse apartamento.
- Esperando uma resposta da Laura, não sei se uso o vermelho ou o preto - levanto dois vestidos nos cabides para que ele possa ver - alguma dica útil, Yago? – pergunto já imaginando sua reação- Bom... - ele faz uma pausa enquanto senta na minha cama, fazia uma careta que parecia estar morrendo de dor- são idênticos Gab, só muda a cor.Percebo ele revirando os olhos e acabo fazendo o mesmo, já que sua reação foi exatamente a que eu imaginei, era sempre assim... Não me lembro de uma única vez em que ele conseguiu me ajudar em alguma escolha, tudo bem, os vestidos são parecidos falta um abismo até que fossem realmente iguais.- Não lerdo, não são - falo ficando apenas com o preto na minha mão - olha, o preto é comportado na frente, com essas mangas, mas tem um enorme decote atrás – explico pausadamente como se falasse com uma criança e viro o vestido para ele ver - Enquanto o vermelho - falo trocando os vestidos na fina esperança que ele pudesse notar - É completamente diferente, é com essa alça bem fininha, um decote razoável e uma abertura na perna.Explico fazendo parecer a coisa mais lógica possível, as crianças com as quais costumo trabalhar me pareciam cada vez mais inteligentes quando eu as comparava com a suposta inteligência do meu irmão, só pode ser algum tipo de castigo, coloco os vestidos na cama e pela centésima vez em menos de cinco minutos olho o celular na esperança da Laura ter respondido.
- Gab - ele diz se aproximando e segura meu rosto entre suas mãos – Em qualquer outra ocasião, eu te obrigaria a usar roupa de freira. - Ele faz uma pausa e puxa meus braços me obrigando a lhe abraçar - Mas é sua festa de formatura, seu momento especial, usa o vermelho, tenho certeza que vai ficar maravilhosa.Antes que eu pudesse falar algo ele beija minha testa e sai do meu quarto, provavelmente com medo que eu tentasse discutir ou argumentar, eu assumo que o vermelho era o meu favorito mas o medo de que não ficasse tão bom como eu imaginava de certa forma tirava um pouco da minha paz...Coloco o vestido vermelho como ele disse e fico com um sorriso bobo enquanto me olho no espelho, tudo bem eu estava errada mas nunca vou contar isso para Yago, o vestido vermelho ficou ainda melhor do que eu imaginava, sinceramente me sinto maravilhosa ao ponto de estar indo ganhar o Oscar, até que ouço meu celular tocar.- Agora Laura, tarde pra qualquer decisão contrária - Falo para mim mesmo enquanto procuro o celular na bagunça que estava minha cama e vejo mensagem da Laura.Amiga, o vermelho, sem dúvidas!
Exatamente, está escolhido, até que o Yago me ajudou, mas não deixa ele saber disso
Além de gato, ótimo bom gosto
Fica longe do meu irmão, que nojento
Já está pronta né?
5 minutos, te espero aqui
Largo meu celular de volta na cama e volto a me arrumar, se eu fosse rápida talvez estaria pronta em cinco minutos como disse a Laura, assim que termino saio do quarto e passo a evitar todos os espelhos da casa para não correr o risco de mudar de ideia, sei lá me olhar tantas vezes poderia me deixar enjoada e estragar toda o planejamento.
- Viu, maravilhosa - Yago diz aparecendo atras de mim
- Obrigada, até que você não é tão brega assim- Digo enquanto mando um beijo para o mesmoEle iria falar alguma coisa quando a campainha tocou e ele fez questão de correr para abrir, isso me faz revirar os olhos, só pode ser algum tipo de pesadelo ter minha melhor amiga e meu irmão flertando, volto até meu quarto para pegar meu celular e conferir de estaria esquecendo alguma coisa, depois de pegar tudo que seria necessário vou na direção deles.- Vamos logo, definitivamente nao quero ver vocês se agarrando - falo rindo enquanto vou em direção a porta fingindo estar prestes a vomitar.***
Assim que chegamos o salão estava ainda mais cheio do que pensei, por sorte decidimos alugar um salão enorme, com dois andares e a decoração estava ainda melhor do que na foto que vimos antes de assinar o contrato e eu nem sabia que isso era possível. Entre todos os presentes reconheci o pessoal da minha turma e de algumas turmas que haviam se formado conosco. E deveria ter pelo menos mais duzentas pessoas que eu nunca havia visto na minha vida, por alguns segundos me pergunto de onde saiu esse povo todo.Eu já estava exausta de tanto dançar e não faço ideia de onde Laura havia se metido, tem pelo menos uma hora que ela foi no banheiro e nunca mais voltou, não duvido nada que alguém tenha chamado sua atenção e agora provavelmente está entretida em alguma conversa aleatória ou beijando algum carinha por ai. Assim que me sentei o barman que já parecia tão exausto quanto eu, ele se aproximou pedi uma caipirinha e logo ele voltou a se afastar.
- Olá, posso sentar aqui? - A voz chama minha atenção e mal olho para o dono dela antes afirmar com a cabeça - Está sozinha?
O rapaz pergunta e finalmente me viro para olhar, por alguns segundos sinto meu coração quase pular pela boca, de onde esse Deus grego saiu? Definitivamente não estudava comigo e em nenhuma das outras turmas eu certamente me lembraria se tivesse o encontrado em algum momento. Perco alguns segundos observando a perfeição em que seus cabelos negros estavam penteados, depois na imensidão de seus olhos claros e por último e totalmente importante, sua boca, perfeitamente desenhada com um leve tom rosado.
Infelizmente sou arrastada de meus pensamentos quando esse Deus Grego toca na minha mão e confesso ter sentido um arrepio percorrendo meu corpo, nunca acreditei em nada do tipo à primeira vista, mas se isso existir sem dúvidas é representada pela explosão de sensações que estava sentindo.
- Ei, você está bem? - Ele pergunta ainda com sua mão em cima da minha- e...eu.. é... estou, estou ótima - falo tentando entender aquilo e é quase impossível conter uma risada enquanto imagino a cara de idiota que provavelmente eu fiz - Prazer, Gabriella, mas pode me chamar de Gab - falo lhe estendendo a mão no final
- Prazer Gab, pode me chamar de Chris - ele segura minha mão e se aproxima falando perto do meu ouvido, sinto um arrepio percorrer meu corpo novamente – está sozinha?
-Bom, estava com a minha amiga – digo e olho rapidamente em volta antes de voltar minha atenção para ele – Mas provavelmente ela achou algo mais interessante pra fazer
-Aceita uma companhia então?
-Claro, fica à vontade – digo sorrindo enquanto olho nos seus olhos
-É da turma de formandos ou convidada?
- Formandos e você acredito ser convidado...
-É, como sabe?
-Posso dizer que conheço todo mundo – Desvio meu olhar para o garçom que voltava com a minha bebida após agradecer volto minha atenção para o Chris – E os que não conhecia, vi ontem durante a entrega dos diplomas
-Ah, então você é a popular? – ele diz rindo
-Não... longe disso, só muito observadora
- Então Gab -Ele faz uma pausa olhando em volta e se levanta – infelizmente um amigo está me chamando, já deve querer ir embora – ele solta uma risada e beija minha mão – Até qualquer dia
Ele solta a minha mão e se afasta sumindo tão rápido entre as pessoas que chego a me perguntar se por acaso em algum momento ele de fato tivesse estado ali, mudo a posição em que eu estava sentada para que eu pudesse me encostar no balcão e olhar as pessoas.
Nem acredito que finalmente estou formada, que finalmente eu poderia cumprir os plantões da forma mais tranquila que eu conseguisse sem me preocupar entre correr de um para o outro e quem sabe até recuperar as horas que não dormi nos últimos anos, mas seria bem complicado, já que eu escolhi fazer pediatria e é impressionante como uma criança sempre resolve aprontar de madrugada, mas enfim é por amor.
Nem sei quanto tempo se passou desde que fiquei sozinha, bebo mais alguns goles da minha caipirinha que por sinal estava na medida certa, até que um homem se aproxima para pegar uma bebida, resolvo não dar tanta importância e continuo observando as pessoas dançando.- Oi – Olho na direção em que o homem estava-Olá – Digo sorrindoMais uma vez me pego pensando se por acaso conhecia esse homem de algum lugar, mas definitivamente não, me lembraria dele nem que fosse por me causar medo, parecia ter acabado de sair de um desses filmes de ação.- Não está se divertindo? – Seus olhos pretos pareciam querer ler minha mente ou algo assim-To sim, mas precisei descansar um pouco – digo sorrindo-Será
Minha mão já estava doendo de tão forte que eu estava segurando o volante, quase como se aquilo pudesse cair a qualquer momento ou com a falha tentativa de usar a dor para me acordar desse terrível pesadelo, e eu gostaria tanto que isso fosse só um sonho ruim, queria tanto acordar com o André me ligando para que eu não me atrasasse para aula, definitivamente não sei como seriam os dias sem ele por aqui.Eu estava dirigindo cada vez mais rápido, a parte racional de mim tinha medo de que algo pior pudesse acontecer enquanto estávamos naquela velocidade e a outra parte queria acelerar ainda mais para que tudo isso acabasse, para que eu encontrasse logo com Yago e finalmente me sentisse segura.- É um sonho, precisa ser um sonho - sussurro isso várias vezes tentando me convencer que eu poderia acordar a qualquer momento.- Gab, tenta ficar calma -
Depois de um banho quente coloco um pijama e é quase como se uma ancora caísse em meus ombros, meu corpo inteiro está doendo e eu nem sei explicar exatamente o motivo ou origem da dor, consigo ouvir meu irmão e Laura conversando no andar de baixo, mas de fato nada disso me importava agora, tudo que eu precisava era deitar e encerrar esse dia.-Gab? - Ouço a voz da Laura e algumas batidas na porta- Entra Lau - falo e me sento na cama, percebo que ela estava chorando, mas não era o momento de questionar- Vim te entregar o seu celular e o número do pedaço de mal caminho - ela diz enquanto se aproxima da minha cama tentando forçar um sorriso- Vem, senta aqui - falo baixo enquanto me arrumo para lhe dar espaço na cama- Gab - ela mal consegue falar antes de voltar a chorarPrefiro não falar nada apenas a abraço e se torna impossí
Mais uma vez me encontrava no meu maior dilema de vida, o que vestir. Nada nunca me parecia verdadeiramente bom, nada me agradava de verdade, nada parecia bom o suficiente para nenhum momento...- YAGO - gritei da porta do meu quartoNão demorou um minuto pra ele aparecer com uma cara de desespero, provavelmente achou que eu estava morrendo ou que algo sério poderia estar acontecendo, desde o que aconteceu com André, o Yago tem passado mais tempo em casa e quando ele precisava sair meu pai aparecia, eu sei que não está fácil na delegacia e já insisti diversas vezes que eles não precisavam fazer nada desse tipo, mas quem é que me ouve?- Preciso de ajuda com a minha roupa -Digo enquanto ele entra- É sério, Gabriela - ele diz quase gritando e provavelmente está pensando em como me matar - Me arrependo de ter pedido uma irmã ao pai sabia &n
Tem um pouco mais de três meses que estou namorando com o Chris, ele tem sido muito presente, sua companhia me ajudou muito a superar a morte de André, claro que um não substitui o outro, mas uma boa companhia é cada vez mais importante para conseguir seguir em frente.Tem mais ou menos cinco meses que consegui um emprego na emergência pediátrica de um grande hospital, confesso que não está sendo fácil, principalmente se considerar que trabalhar aqui era um de meus planos com André. Tenho feitos plantões exaustivos, as vezes entro muito cedo e outras saio já de madrugada e o Chris faz questão de vir aqui sempre que isso acontece.Meu pai e meu irmão estão orgulhosos, se deixasse estaria gritando para o mundo inteiro que eu estou conseguindo realizar meus sonhos e todo aquele blá blá blá de sempre, agora as coisas j&aacu
Passo pela portaria do prédio que estava vazia, e pela primeira vez agradeço por não precisar falar com ninguém, sei que isso é horrível, mas no momento minha cabeça estava prestes a explodir, milhões de pensamentos se atropelando e falar com qualquer pessoa é a ultima coisa que eu queria.Assim que entro em casa sou pega de surpresa por não ter ninguém, Rosa provavelmente ainda não chegou o que é estranho já que ela nunca se atrasa, e hoje é sexta, meu pai e Yago nunca trabalham cedo na sexta, mas provavelmente só está relacionado a alguma evolução do caso do André e talvez a mensagem que Yago me mandou ontem...Vou até o quarto do meu pai por ser o único que tem banheira, só me dou conta que estou ali a muito tempo, quando acordo e a água já está bem mais fria
Depois de alguns minutos sendo abraçada pelo Yago eu respiro fundo e nos afasto o suficiente para conseguir olhar nos olhos do meu irmão, agora tudo que aconteceu hoje de manhã parecia fazer um pouco de sentido, mas na minha cabeça as coisas ainda não se encaixavam.- Yago, foi o Chris? - Pergunto- Foi Gab, o Chris é o assassino de todos os meus casos - ele diz baixo- Mas Yago - faço uma pausa tentando não chorar novamente - Ele é tão bom- Gabriella - ele segura meu rosto entre as mãos e respira fundo – Presta atenção, eu te amo, e vou te proteger, mas é o pai - ele faz outra pausa dando de ombros - eu não tenho como ir contra o pai, espero que você entenda.Ele se levanta e me deixa sentada sozinha enquanto sai, estava tão perdida em meus pensamentos que nem sei dizer quanto tempo se passou desd
Passei maior parte do dia grudada no Yago, Rosa estava no meu quarto empenhada em guardar todas as minhas coisas e deixar as minhas malas prontas já que eu mesma não teria a menor condição de fazer isso.Olho rapidamente no relógio que tinha no quarto do Yago já se aproximava das oito horas, um suspiro pensativo escapa entre meus lábios enquanto mais uma vez estou me torturando com lembranças de diversos momentos que passei com o Chris, antes tudo parecia tão real e agora, bem agora parece que tudo o que ele diz é mentira, o meu celular vibra em minhas mãos indicando que chegou uma nova mensagem do Chris e busco forças para ler.Oi meu amor, estou chegando Ok Eu não estava arrumada e nem iria me arrumar, seria um assunto rápido com o Chris e Yago estaria observando, foi difícil, mas