Abriu os olhos rapidamente, assustado, como se saísse de um pesadelo. Olhando o ambiente que o cercava, continuou no mesmo estado de alerta. Ao que conseguia distinguir, parecia uma cabine ricamente detalhada, com suas paredes de madeira e decoração dourada. Havia ali um pequeno beliche, além da mesinha de centro e do banco acolchoado e vermelho, onde estava sentado. Levou a mão aos olhos, esfregando-os e tentando recuperar a memória. Logo visualizou a bem trabalhada manga do seu sobretudo negro, bordado com linha azul, e da blusa branca que usava por baixo. Tocando em si mesmo, notou a presença do colete azul marinho e do relógio de bolso banhado a ouro. Trajava, também, uma calça preta cuja barra era escondida pela bota escura. Que raio era aquilo?
Encostando-se na parede, voltou a cabeça para a janela de vidro. Uma imagem desconhecida passava por seus olhos, a velocidade tão rápida q
— Sinto que você está triste, Princesa. O que este servo pode fazer para deixá-la feliz?Deitada em cima de uma cama de folhas, ela sentia as lágrimas quentes correrem por seu rosto. Enfim, estava começando a aceitar sua condição. Não sabia como sair, encontrava-se completamente só e sem chances, apoiada apenas pelo belo e sarcástico Phobeto. Contentar-se? Continuou calada.— Acho que sei o que passa por sua cabecinha... Não se preocupe, vou trazer essa felicidade a você.Não, ela não sabia. Não tinha lucidez, logo não possuía cabeça e desejos. Era uma louca confinada em uma prisão para lunáticos sem cura, presa em um mundo paralelo àquele que sempre chamou de real. Cavara a sua própria cova, escrevera o seu destino. Para que se lamentar agora? Mas, no fundo, sabia que não houvera meios de impe
Ela o olhou, receosa, amedrontada com a espada que estava em suas mãos. Tremia incontrolavelmente, nunca empunhara uma daquelas. E não se sentia segura.— Vamos lá, querida, use isto.A jovem voltou o olhar para trás, a mulher loura encarando-a severamente.— Mãe... – murmurou.Ele escutou seu sussurro e visualizou a bonita mulher.Os mortos nunca vêm ao Phantasos e nunca virão.É claro! Phobeto a pegara em sua fraqueza, utilizava a imagem da mãe morta para fazer a menina ceder facilmente. Um gosto amargo se formou em sua boca.— Espere! – tentou gritar, sentindo náuseas. — Essa... Isso... Não é a sua mãe!Aos poucos, ele percebeu que a imagem da bonita mulher se desfazia, dando vazão à outra figura, dessa vez, asquerosa. Tudo que via agora era apenas uma criatura gosmenta e acinze
Parar a espada com as mãos foi a única atitude que ele conseguiu tomar. Sangue jorrava de seus dedos feridos, ocasionando mais dores em seu corpo já flagelado pela batalha anterior. A menina, por sua vez, ainda impunha força na arma, mas estava atordoada o suficiente para tentar atacá-lo de outra forma – não esperava aquela reação. Encarava-o com dúvida, tentando compreender que tipo de defesa era aquela. A surpresa, porém, baixou a sua guarda. O rapaz, aproveitando o momento, segurou a lâmina e jogou-a ao longe. Desarmada e assustada, a garota estava vulnerável, pronta para ser vencida a qualquer instante.E com aquelas mãos feridas, banhadas por vermelho vivo, ele segurou algo que pendia da sua garganta, invisível até ali. Tão logo seus dedos o tocaram, uma extensa corrente começou a surgir lentamente, como se por encanto. Ainda assustada, a menina fit
Ao abrir os olhos, sentiu a forte luz, ficando parcialmente cega por sua causa. Rapidamente, cerrou as pálpebras, a fim de tentar conter a luminosidade que prejudicava a sua visão. Após se acostumar, resolveu ficar de olhos abertos novamente.As imagens estavam embaçadas, como se houvesse ficado muito tempo em estado de dormência. Sentia o corpo fraco, um estranho som de bip, bip, bip era contínuo e insuportável, assim como o cheiro que entrava por suas narinas, invadidas por algum objeto desconhecido. Piscou os olhos, tentando recuperar a visão perfeita. Um teto branco acima do seu corpo. Voltando o olhar para o lado, conseguiu enxergar a janela aberta, a forte luz do sol entrando no quarto. Mais abaixo, um homem dormia, tranquilo, apoiado nos braços cruzados em sua cama, os cabelos muito escuros e bagunçados. Esforçando-se ao máximo, tentou levar a mão até ele. Queria t
OUTUBRO – 2008— E uma homenagem à minha amiga Vanya, por estar fazendo um ano da chegada dela da Alemanha!Os olhares dos outros convidados se voltaram para a menina de blusa branca, coletinho azul escuro, calça de brim preta, sapatilhas vermelhas, cabelo preso em um coque, a pequena franja jogada para o lado e os lábios pintados de vermelho claro. Tímida, Vanya apenas estendeu a latinha de Coca que bebia, não sem antes gritar:— É só em novembro, Kazuo!— Daqui a um mês não iremos estar em uma festa como essa! Vamos comemorar hoje e agora!Palmas vieram dos outros presentes. Um dos guitarristas da Reticências começou, no violão, a introdução de Garota de Berlim, sendo seguido pelos companheiros. Entretanto, Vanya não conseguira manter o olhar fixo em Kazuo quando Damiano, o guitarrista-solo, olhava-
— Maldito! Por que fez isso?A raiva dele enegrecia o ambiente, enchendo-o de ódio. Seus olhos escarlates brilhavam furiosos, mostrando o que todo o seu corpo sentia. Seus dentes pontudos e afiados estavam prontos para atacar uma presa inexistente – embora nunca fossem capazes de atingir o seu adversário, o responsável por aquela raiva descontrolada. O causador da sua desgraça não se importava com o acesso de ódio que se desencadeava à sua frente. Mesmo que houvesse inúmeros ataques, nada o faria reverter a situação.— Se eu não o fizesse, você colocaria o mundo em risco! – proferiu firmemente. — Não percebe o mal que causaria? Não pode quebrar a ordem já existente!Nojento.— Pois saiba que, se preciso, irei até o inferno à procura do escolhido! – ameaçou o Maldito, col&ea
As folhas secas e caídas no chão faziam um barulho ensurdecedor quando eram pisadas. Era estranho ainda existirem folhas naquele lugar quando o inverno já estava tão avançado e rigoroso. A neve não parava de cair, e o frio era tão intenso que a garota sentia cada parte do seu corpo congelar. Onde realmente estava?A única coisa que se via eram árvores secas, brancas por causa da neve e espalhadas por todo lado. O céu estava cinza devido à intensa névoa, e o lugar deserto. Estava com medo e confusa. O silêncio sepulcral era cortado unicamente pelo barulho do seu coração – não se ouvia nenhum outro ruído. Um súbito desespero se apoderou dela. “O que era tudo aquilo? Onde estava a saída?”Andar tornou-se uma difícil atividade naquele instante.
Havia somente dois momentos em que a tonalidade do céu se tornava a mesma e era impossível determinar as horas. Estava amanhecendo ou anoitecendo? Ele não sabia. A única coisa da qual tinha certeza era que a parcial escuridão não cessava, como se o tempo houvesse congelado.Somente a fraca chama de uma vela iluminava o caminho por onde passava. A floresta era densa; as árvores, longas e negras; o trajeto, difícil, tortuoso; e a umidade local se fazia sentir com facilidade. Por quanto tempo estava andando? O que procurava? Por que estava ali? Não possuía a resposta para nenhuma dessas perguntas. Sentia apenas que deveria continuar caminhando.Por fim, encontrou a possível saída da floresta. Logo ele se viu em um campo aberto, ladeado por imensas árvores. E, no meio do campo, estava ela, sentada em cima de uma grande pedra, olhando fixamente para ele. Durante