— Casa de Lady Liberté. Quem desce?
Esforçando-se para conseguir libertar-se do imprensado de braços e corpos, estendeu o bilhete e gritou:
— Aqui, aqui!
Outras duas criaturas também estenderam seus bilhetes, escondendo seu braço pequeno e humano. Resolvendo abandonar a educação, empurrou alguns dos seres que a impediam de passar e de ficar visível, abrindo, finalmente, a porta da desproporcional carruagem, entregando a passagem fora do veículo.
— Aqui! – repetiu, obrigando o cocheiro a receber o pequeno papel.
Contudo, não existia propriamente um cocheiro ali, apenas as roupas de cavalheiro que vestiam um ser invisível aos olhos, perceptível somente pelas formas que suas vestimentas ganhavam. A luva lhe tomou o bilhete.
— Sabe como chegar até lá, me
Uma mão decididamente forte a puxou da massa de água gélida e pesada.— Venha, querida! Venha comigo!Quando voltou à bonita sala de Lady Liberté, sentia-se mal, deprimida. Estava molhada, com frio, os cabelos pesados pingando e, mesmo assim, não hesitou em se jogar nos braços da Lady, abraçando-a e caindo em lágrimas.— Shh, querida. – dizia a bruxa, enquanto afagava seus cabelos molhados. — Não precisa ficar assim, podemos reverter esse quadro. – ela a forçou a se levantar. — Venha, vamos enxugá-la. Você descansará e aí poderemos conversar sem interrupção.E, ainda agarrada a Lady, a menina aquiesceu, pesarosa e assustada.*— Quer?Damiano olhou para
Abriu os olhos rapidamente, assustado, como se saísse de um pesadelo. Olhando o ambiente que o cercava, continuou no mesmo estado de alerta. Ao que conseguia distinguir, parecia uma cabine ricamente detalhada, com suas paredes de madeira e decoração dourada. Havia ali um pequeno beliche, além da mesinha de centro e do banco acolchoado e vermelho, onde estava sentado. Levou a mão aos olhos, esfregando-os e tentando recuperar a memória. Logo visualizou a bem trabalhada manga do seu sobretudo negro, bordado com linha azul, e da blusa branca que usava por baixo. Tocando em si mesmo, notou a presença do colete azul marinho e do relógio de bolso banhado a ouro. Trajava, também, uma calça preta cuja barra era escondida pela bota escura. Que raio era aquilo?Encostando-se na parede, voltou a cabeça para a janela de vidro. Uma imagem desconhecida passava por seus olhos, a velocidade tão rápida q
— Sinto que você está triste, Princesa. O que este servo pode fazer para deixá-la feliz?Deitada em cima de uma cama de folhas, ela sentia as lágrimas quentes correrem por seu rosto. Enfim, estava começando a aceitar sua condição. Não sabia como sair, encontrava-se completamente só e sem chances, apoiada apenas pelo belo e sarcástico Phobeto. Contentar-se? Continuou calada.— Acho que sei o que passa por sua cabecinha... Não se preocupe, vou trazer essa felicidade a você.Não, ela não sabia. Não tinha lucidez, logo não possuía cabeça e desejos. Era uma louca confinada em uma prisão para lunáticos sem cura, presa em um mundo paralelo àquele que sempre chamou de real. Cavara a sua própria cova, escrevera o seu destino. Para que se lamentar agora? Mas, no fundo, sabia que não houvera meios de impe
Ela o olhou, receosa, amedrontada com a espada que estava em suas mãos. Tremia incontrolavelmente, nunca empunhara uma daquelas. E não se sentia segura.— Vamos lá, querida, use isto.A jovem voltou o olhar para trás, a mulher loura encarando-a severamente.— Mãe... – murmurou.Ele escutou seu sussurro e visualizou a bonita mulher.Os mortos nunca vêm ao Phantasos e nunca virão.É claro! Phobeto a pegara em sua fraqueza, utilizava a imagem da mãe morta para fazer a menina ceder facilmente. Um gosto amargo se formou em sua boca.— Espere! – tentou gritar, sentindo náuseas. — Essa... Isso... Não é a sua mãe!Aos poucos, ele percebeu que a imagem da bonita mulher se desfazia, dando vazão à outra figura, dessa vez, asquerosa. Tudo que via agora era apenas uma criatura gosmenta e acinze
Parar a espada com as mãos foi a única atitude que ele conseguiu tomar. Sangue jorrava de seus dedos feridos, ocasionando mais dores em seu corpo já flagelado pela batalha anterior. A menina, por sua vez, ainda impunha força na arma, mas estava atordoada o suficiente para tentar atacá-lo de outra forma – não esperava aquela reação. Encarava-o com dúvida, tentando compreender que tipo de defesa era aquela. A surpresa, porém, baixou a sua guarda. O rapaz, aproveitando o momento, segurou a lâmina e jogou-a ao longe. Desarmada e assustada, a garota estava vulnerável, pronta para ser vencida a qualquer instante.E com aquelas mãos feridas, banhadas por vermelho vivo, ele segurou algo que pendia da sua garganta, invisível até ali. Tão logo seus dedos o tocaram, uma extensa corrente começou a surgir lentamente, como se por encanto. Ainda assustada, a menina fit
Ao abrir os olhos, sentiu a forte luz, ficando parcialmente cega por sua causa. Rapidamente, cerrou as pálpebras, a fim de tentar conter a luminosidade que prejudicava a sua visão. Após se acostumar, resolveu ficar de olhos abertos novamente.As imagens estavam embaçadas, como se houvesse ficado muito tempo em estado de dormência. Sentia o corpo fraco, um estranho som de bip, bip, bip era contínuo e insuportável, assim como o cheiro que entrava por suas narinas, invadidas por algum objeto desconhecido. Piscou os olhos, tentando recuperar a visão perfeita. Um teto branco acima do seu corpo. Voltando o olhar para o lado, conseguiu enxergar a janela aberta, a forte luz do sol entrando no quarto. Mais abaixo, um homem dormia, tranquilo, apoiado nos braços cruzados em sua cama, os cabelos muito escuros e bagunçados. Esforçando-se ao máximo, tentou levar a mão até ele. Queria t
OUTUBRO – 2008— E uma homenagem à minha amiga Vanya, por estar fazendo um ano da chegada dela da Alemanha!Os olhares dos outros convidados se voltaram para a menina de blusa branca, coletinho azul escuro, calça de brim preta, sapatilhas vermelhas, cabelo preso em um coque, a pequena franja jogada para o lado e os lábios pintados de vermelho claro. Tímida, Vanya apenas estendeu a latinha de Coca que bebia, não sem antes gritar:— É só em novembro, Kazuo!— Daqui a um mês não iremos estar em uma festa como essa! Vamos comemorar hoje e agora!Palmas vieram dos outros presentes. Um dos guitarristas da Reticências começou, no violão, a introdução de Garota de Berlim, sendo seguido pelos companheiros. Entretanto, Vanya não conseguira manter o olhar fixo em Kazuo quando Damiano, o guitarrista-solo, olhava-
— Maldito! Por que fez isso?A raiva dele enegrecia o ambiente, enchendo-o de ódio. Seus olhos escarlates brilhavam furiosos, mostrando o que todo o seu corpo sentia. Seus dentes pontudos e afiados estavam prontos para atacar uma presa inexistente – embora nunca fossem capazes de atingir o seu adversário, o responsável por aquela raiva descontrolada. O causador da sua desgraça não se importava com o acesso de ódio que se desencadeava à sua frente. Mesmo que houvesse inúmeros ataques, nada o faria reverter a situação.— Se eu não o fizesse, você colocaria o mundo em risco! – proferiu firmemente. — Não percebe o mal que causaria? Não pode quebrar a ordem já existente!Nojento.— Pois saiba que, se preciso, irei até o inferno à procura do escolhido! – ameaçou o Maldito, col&ea