Pappagutten (filhinho de papai)
Pappagutten (filhinho de papai)
Por: Lukas Aires
Capítulo 1

15 de maio de 2016.

Oi!

Resolvi começar a escrever essa história com um “oi”. Sou a visão de fora da trama. Tipo assim, a fofoqueira ocular e imaginária do lado de dentro dos cenários onde tudo acontece. Eu me imagino mais como um espírito bisbilhoteiro que vê, sente e ouve tudo sem que ninguém o perceba. É mais ou menos assim que consigo contar com detalhes o que se passou na vida desses personagens. Sim, e sou cheio de opiniões, como todas as pessoas… e não vou guardá-las para mim, fique sabendo…

Pois bem, vamos ao que interessa. Tudo começou quando uma mulher muito sábia, vivendo no reino da Noruega, no ano de 2016, onde as princesas são independentes e engajadas na luta contra a desigualdade entre gêneros, ligou o foda-se, e viveu feliz para sempre!

Bem, ela estava numa igreja… A igreja de Nyppedalen, na cidade de Bergen, na Noruega. Zaya, de 15 anos, estava se confirmando diante da igreja, estava crismando. A crisma era uma tradição, além de ser uma data muito especial e importante na Noruega, quando o adolescente completa 15 anos, reúnem-se todos os amigos e familiares numa cerimônia, ou na igreja, chamada confirmação ou numa cerimônia civil chamada borgelig (cidadania)…

Geralmente os confirmantes e parentes usam um traje especial nesse dia, o bunad — que é o traje tradicional da Noruega —, que por sinal é muito caro, custa em média 45 mil kronos um bunad original, novo e completo encomendando numa loja ou costureira particular. O traje consiste em um vestido, para as mulheres, e um colete com calças tipo capri, para os homens, com meias longas até o joelho. Esse traje especial é muito popular no país, podendo variar em suas cores e bordados dependendo da região. Muitas famílias levam anos preparando seus bunads para suas filhas ou netas poder herdá-los.

É utilizado atualmente em datas comemorativas — como o 17 de maio, dia em que se comemora a assinatura da Constituição de 1814; não a independência como muitos outros países — assim como também se é usado em casamentos e batizados.

Pois bem, agora voltando à cerimônia de crisma norueguesa. Depois da celebração oficial na igreja, é oferecido um jantar para os convidados e a criança recebe muitos presentes valiosos, ou uma quantia de cada convidado. Também né, depois de a família ter gastado tanto com um bunad e com a festa…

Anya, mãe de Zaya, estava vestida em um glamouroso vestido verde, longo, com pedras de acrílico, vidro e cristais de rochas, os famosos strass. O vestido era tão longo que ela tinha que segurar sua calda. Seus cabelos longos e loiros ornamentavam em perfeita harmonia com a cor do vestido e do tom da pele dela.

Na mesma fileira do banco da igreja estavam seu filho mais velho, Viliam, de 16 anos, o caçula Elias, de 9 anos, seu segundo ex-marido norueguês, Stian, e seus ex-sogros, pais do primeiro marido norueguês. Embora já houvesse terminado recentemente um relacionamento de 5 anos com Stian, eles resolveram fazer a festa de crisma de seus filhos juntos.

Stian tinha um filho da mesma idade da filha de Anya, Sebastian, que inclusive estudava na mesma sala de aula que Zaya.

Anya estava solteira agora, aliviada por finalmente conseguir viver um pouco para si mesma, esteve casada desde os 17 até aos 34 anos.

Ela agradecia diariamente a Deus por ter vindo morar na Noruega com seus filhos, que em sua perspectiva era um país liberal, onde os direitos são iguais entre as mulheres e os homens, não só em palavras rabiscadas em documentos, mas na prática, no dia a dia.

Há alguns dias, em meio a sua nova vida de solteira, perdida em meio a mil pensamentos e falatório das amigas sobre como estava sendo a nova maneira dos adultos se conhecerem, flertarem e saírem para dates, ela resolveu baixar um app de encontros casuais, que informava a distância e localidade dos membros inscritos.

Foi assim que, em meio à espera para a abertura da cerimônia na igreja, surgiu um aviso em sua tela do telefone: Martin está a menos de 1 km de você. Ela clicou nessa mensagem, e ali estava as fotos de um marinheiro, que ela não havia gostado muito das fotos antes.

A data que eles teriam cruzado o caminho um do outro era 5 de maio, ou teriam estado próximos à localidade um do outro nessa data. Anya não deu importância, pois não havia se interessado tanto por este rapaz; segundo, estava com o seu ex e sua família ao seu lado; e terceiro, estava muito ansiosa naquele dia, era o dia da confirmação da sua filha amada, sua filha querida.

Martin estava sentado na fileira de trás do banco da igreja, sim o mesmo Martin do telefone, ele estava logo atrás de Anya, desde quando ela chegou com sua família. Ele ouviu a conversa dela com os filhos, com o ex-marido, Stian; com os ex-sogros, pais de Petter, não de Stian. Os pais de Stian estavam sentados do outro lado da igreja.

Martin sorria quando o filho caçula dela saía do banco para tentar captar as melhores fotos de sua irmã durante a cerimônia. O marinheiro achou Anya muito bonita, enquanto a observava e a sua família, ainda não tinha ligado uma coisa à outra, assim como não percebeu que ela era a mulher do aplicativo de namoros e encontros. Ele a viu levantar, quando a crisma terminou, caminhar, a tirar fotos no gramado da igreja com sua família. Ele pensou: “Nossa que corpo! Queria aquela bunda pra mim. Que mulher bonita!”

Depois todos foram embora da igreja e Anya nem se quer notou Martin na igreja.

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