8 de outubro de 2016, sábado.
F
inalmente chegou o grande dia da apresentação de cancã e samba que as cinco amigas tinham se dedicado tanto a ensaiar. Palco montado, convidados a postos, tudo pronto. Elas tinham camarim, frutas e champagne. Luzes, espelhos, cabides para as fantasias. Sua amiga Clara havia feito tudo nos mínimos detalhes, e acima de tudo com muito amor por seu marido. Essa seria não só uma homenagem de brasileiras para os demais convidados, mas uma declaração de amor de Clara para seu marido Ola.
Ao chegar no local Anya usava com um vestido de época, em tecido marfim, cheio de babados brancos e uma calda. O traje tinha um corset embutido e usava também um chapéu de cowboy e uma pistola. Suas botas faziam parte do traje, convertido com véu e veludo da mesma cor do vestido. A decoração da festa estava deslumbrante, um dos detalhes eram sacolas de dinheiro, estilo velho oeste, espalhados pelo chão, próximo ao mural de fotos.
Os convidados não sabiam da apresentação, eles achavam que tudo ali fazia parte da decoração. As cortinas do palco estavam fechadas e de repente as cinco brasileiras sumiram da festa. Era chegada a hora da dança. De repente as cortinas se abriram, Anya estava na frente segurando sua saia que tinha um tom rosa- forte, meio rosa-choque, elas capricharam no traje. Todas com uma liga preta na coxa, um shortinho de lycra preto por baixo da saia e um colan preto combinando com o short. Na cabeça, tinham uma pena rosa, da cor do vestido. Tudo muito lindo, os convidados gritavam, aplaudiam, batiam palmas e elas lá dançando. Anya, que era a professora de dança, foi a única que errou. Ela se distraiu tanto olhando as brasileiras fazendo filmagens delas que esqueceu o que estava fazendo por um instante. Já estava com esse problema já alguns meses, até nos ensaios estava sendo a única que esquecia das próprias coreografias, mas no final deu tudo certo, elas improvisaram e ficou tudo muito bonito.
Terminada a apresentação de cancã, as meninas foram se trocar, pois agora seria a vez do samba. Anya arrumara seis cabeças de penachos, dessas de desfile de escola de samba, emprestados com amigas maravilhosas. Todas com um vestido de lantejoulas e penachos das cores dos vestidos. Um vestido verde, outro preto com branco, um azul, e um rosa eram as cores das fantasias . Os sapatos iguais. Os convidados não poderiam ter tido surpresa melhor! As brasileiras são assim quando amam, querem fazer surpresas para os maridos, tem uma criatividade que, como os próprios brasileiros dizem, deveriam ser estudados pela NASA. Noah era fascinado extremamente por isso. Ele falava com empolgação sobre como as latinas gostavam de usar tempo, dinheiro e energia para que cada detalhe fosse feito do jeito planejado. Anya quis voltar para Bergen logo após as apresentações, Clara ficou um pouco chateada, pois ela queria que todas as convidadas ficassem até o final, Anya entendia as razões, até porque ela também participou um pouquinho para que aquela noite estivesse acontecendo.
Ela foi embora de carona com uma convidada da festa, uma angolana, também havia outro casal que estava indo embora de qualquer forma. Anya não queria falar a verdade sobre o porquê ir tão cedo, era que Noah estava em Bergen. Como todos na cidade sabiam que ela havia estado até bem pouco tempo com Martin, estava receosa de apresentar o novo namorado. Até porque ela realmente ainda não tinha nada concreto com ele.
Ao chegar na cidade Anya foi com a amiga angolana até um bar, e depois de um tempo saiu para encontrar Noah. Os dois foram para casa de Anya e acabaram dormiram de exaustão. Os filhos de Anya, que também estavam de férias, viajaram para outra cidade.
No dia seguinte foram passear nas montanhas de Fløyen junto com sua amiga Krysla e suas duas filhinhas. Passaram a tarde curtindo o sol, relaxando sentados na escadaria lá de cima da montanha, vendo toda Bergen, admirando a bela cidade em que eles viviam. Tomando slush, cacau, e conversando sobre o dia. À noite, foram para casa de Krysla e jantaram. Nos dias que seguiram eles foram pescar com Krysla e seu marido e suas filhas próximo à casa de Anya, 11 de outubro. Noah queria conhecer os filhos da namorada, as três crianças. Anya achou que era muito cedo para isso, mas ao mesmo tempo ela gostava da determinação dele. Ele falava que já que os dois iam tentar mesmo se conhecer melhor daqui para frente, era melhor que já conhecesse tudo de uma vez e ver se os dois iriam continuar de acordo a seguir em frente depois deapós uma semana juntos e com os filhos.
Ao decorrer da semana Anya o levou para conhecer suas amigas casadas, assistiram filmes em casais, jantaram, fizeram piqueniques, foram ao boliche. Eram três casais no boliche jogando um contra o outro e Anya venceu! Os filhos de Anya haviam chegado de volta da viagem naquele dia e estavam no boliche também com os amigos. O clima foi perfeito. Todos em família. Anya não poderia desejar conhecer alguém melhor, embora toda vez que pensasse em Martin, sentisse um aperto em seu coração, uma vontade de chorar e uma saudade que ela não queria sentir. A saudade machuca a alma da gente, às vezes as circunstâncias da vida afastam quem a gente ama da gente, e essa dor sufocante um dia iria passar. Era o que ela repetia baixinho em sua mente para si mesma. Ela evitava pensar nele de todas as formas possíveis, mas a imagem do rosto dele vinha involuntariamente nos pensamentos dela, e isso causava uma tristeza dentro do coração dela.
Era sexta-feira, 14 de outubro. Os outros casais foram para o centro dançar enquanto Anya voltou para casa. Noah veio depois, ele tinha ficado no boliche com os outros casais. Anya tinha que ir em casa resolver algum problema, depois acabara desistindo de sair. Quando Anya estava em seu carro indo para a casa sozinha, Martin ligou para ela.
Ele havia visto as fotos dela com Noah. Todas as fotos que ela publicara propositalmente para que ele visse cada momento dela com Noah lá da Islândia. Ela o estava enlouquecendo. Queria ver se toda aquela pose de quem nasceu com algumas células a menos de intensidade no corpo era verdade. Ela queria ver até onde iria essa calmaria, essa água de arroz que era ele em relação ao amor. Quando Anya resolveu deixar Noah se aproximar dela, em momento algum ela pensou em usá-lo para vingança ou para brincar com seus sentimentos. Ela estava tão magoada por Martin ter dormido com uma menina alguns dias depois dos dois terem terminado, que ela em momento algum pensou que os dois ainda pudesse ter algum tipo de contato. Não jogue jogos com biscates que sabem jogar melhor que você, assim é o amor. Não se pode achar que se sabe tudo sobre o amor. Não se pode nem julgar alguém ou a si próprio quando se estão fazendo alguma burrada em nome do amor, pois todas as pessoas sabem tudo sobre a dor alheia, sobre o modo de comportamento adequado, sendo alheio, uma pessoa sabe tudo como curar a dor do outro, menos a sua, quando se apaixonam os mesmos que tanto julgaram, que fizeram barulho, que apontaram o dedo, os mesmos bravos guerreiros que outrora só repetiam: Se fosse comigo… sim, esses mesmos, quando são feridos no amor são os primeiros que choram, que se magoam, que se fragilizam e perdoam, voltam para seus ex, fazem esforços para manter uma relação fria e acabada. Todo mundo está exposto a errar no amor e fazer loucuras, basta chegar a sua vez. Se ainda não o fez, é porque ainda não aconteceu com você.
No telefone Martin aparentava apreensivo. Anya falou que ainda não havia acontecido a primeira noite de sexo entre os dois, mas que naquela noite iria acontecer. Martin queria morrer ao ouvir aquilo. Falou para ela não fazer. Que ela não precisava fazer algo de que ela se arrependeria depois, ela respondeu que levou até onde deu, que agora não tinha mais como. Ele se contorcia todo a cada palavra. Ele saiu para beber com os amigos e ela observou que ele passou a noite online no Messenger. 6 horas da manhã ela mudou seu status para online e ele mandou oi imediatamente. Perguntou por Noah, ela escreveu que estava dormindo do lado dela na cama dela, ele pediu para ela descer para sala que ele queria ver ela na câmera do telefone, ela desceu. A cena se não fosse trágica seria hilária, ele deitado numa banheira vazia num quarto de hotel conversando com ela. Os amigos dormindo de ressaca, ele estava dividindo o mesmo quarto com alguns amigos. E ele lá nessa banheira 6 horas da manhã conversando com ela.
A expressão do rosto dele era de um homem acabado. Sabe daqueles que enchem a cara, que está jogado ao vento, que está sofrendo por sua amada? Era assim que Anya o via, mas não era assim que ele deixava transparecer. Anya falando baixinho no vídeo, falou que não queria acordar Noah, e toda vez que Anya pronunciava esse nome, Martin revirava os olhos. Ele não perguntou diretamente se Anya havia tido relações sexuais com seu suposto namorado, mas ele perguntou se estava tudo bem com ela, se ela havia dormido bem, se ela dormiu tarde, se ela saiu para festa, se as crianças estavam em casa, esses tipos de sinais que até uma bisavó teria interpretado muito bem.
Anya também só dera respostas superficiais. Martin queria saber quando Noah iria embora. Anya falou que ele iria embora domingo, às 16:30. Os dois se olhavam no vídeo, as às vezes com um silêncio que era difícil decifrar. Martin então falou que estava com muitas saudades. Que gostaria de estar em Bergen ou que ela estivesse lá com ele na Islândia. Ela respondeu que também sentia muita falta dele, mas que era melhor assim como tudo estava. Ele falou que sabia disso, que ele sempre estragava tudo, que nunca foi bom com as mulheres, que nem na adolescência era bom com as garotas. Anya retrucava, falava que, na opinião dela, ele foi a medida certa, que o admirava muito e o respeitava. Então ele falava:
— É, mas agora eu te perdi, eu destruí tudo, e você agora vai ficar com esse cara aí.
— Sim, eu vou ficar com quem quer ficar comigo. Vou mesmo.
— Você nem o ama. Tá fazendo isso tudo para me irritar.
— Quantas vezes eu repeti para você parar com esse egocentrismo? Quantas conversas nós já tivemos? O mundo não gira em torno de você. As outras pessoas também tem ego, sentimentos, orgulho. Você tem que descer desse pedestal que você próprio se coloca.
— Eu sei que você está fazendo isso só para me provocar.
— Heeeelloooo! Martin, quantas vezes nós falamos sobre Noah e você me perguntou se eu gostava dele, o que respondi para você?
— Que sim.
— E que…?
— O único motivo de você não estar com ele era eu.
— Então. Eu fui casada com Stian, não sou a favor de traições. A coisa que mais odeio no mundo é mentira! Quando houve o problema comigo e Stian, conheci você em seguida. Não dá pra amar duas pessoas ao mesmo tempo, pelo menos eu não consigo.
— Você me ama?
— Você sabe que eu amo. Eu nunca joguei com você. Mas é verdade que você merecia sim me ver com alguém muito melhor que você.
— Esse cara psicopata é melhor do que eu?
— Ele não é psicopata, ele é doce, gentil, respeitoso, e muito, muito boa pessoa.
— Você nem o conhece.
— Nem tão pouco conheço você. Podemos falar sobre isso depois, Martin? Não dá pra ficar discutindo no vídeo. Noah pode ouvir e não quero magoá-lo você compreende?
— Noah…Noah… Tô de saco cheio desse babaca que fica atrás de você. Te venceu pelo cansaço!
— Martin… Eu também gosto dele. Na verdade meu coração e todas as células do meu corpo me dizem para ficar com ele, que ele é a pessoa certa para mim. Não você. Você é indeciso, você é competitivo, você não suporta perder. E eu não sou um troféu.
— Eu não disse que você é. Eu acho que eu também amo você.
Anya ficou perplexa! Martin nunca havia falado assim com ela. O máximo que dizia era que gostava da companhia dela porque ela era extrovertida.
— Agora tenho que desligar, Martin, já estamos falando há horas.
— Tá bom. Falamos mais depois e quando eu voltar para Bergen podemos ter uma conversa séria.
— Martin, já conversamos o suficiente. Tivemos inúmeras conversas nas quais eu saí chorando de todas elas.
— Eu sei. Essa vai ser diferente.
Ele ficou enviando beijos para ela. Muitos beijos na câmera e até confundiu a mente dela. Ele tão exposto daquela forma. Era tarde demais para aquilo, ela também gostava mesmo de Noah, e queria ficar com ele, só que estava fazendo tudo errado ao continuar mantendo contato com Martin.
Quando Noah acordou os dois fizeram café da manhã juntos. Noah ficou junto com os filhos dela o tempo todo, ela o apresentou como um amigo da escola de Førde que estava passando uns dias em Bergen. Nada a mais que isso. Eles jogavam videogame, viam filmes, faziam comida juntos, todos juntos. Ele não tentava beijá-la, nem tão pouco ela. Os dois realmente pareciam dois amigos, não se abraçavam, não havia muito contato físico. Os dois não sabiam meio que lidar um com o outro.
Então chegou o dia de Noah ir embora e Anya o levou até o barco expresso, no cais de Bergen. Seu filho Elias estava junto, os dois se tornaram melhores amigos do dia para noite. Noah era muito fácil de lidar. Todas as amigas de Anya também gostaram muito dele, assim como seus filhos. Ela também gostava dele. Anya sabia que ele queria ficar com ela em Førde até ela terminar a escola e depois se mudariam para Bergen.
Martin continuou conversando com ela sempre que dava ao longo do dia. Anya pensava que engraçado ele ter tanta disposição agora para m****r mensagens sem rodeios, agora resolveu ser como ela, 8 ou 80, agora ou nunca, tudo ou nada. Ela queria sim ter uma conversa com Martin quando ele voltasse para Bergen, mas nessa conversa queria pôr um ponto final no disse me disse, pôr todos os pingos nos is, queria que os dois conversassem francamente sobre tudo o que acontecera, e sem máscaras. Queria que ele a ajudasse a progredir, a estratégia dela era essa, sair desse relacionamento de cabeça erguida, sem mágoas, sabendo que não deram certo, mas que ela mostrou que ele não é o último gole de água no deserto. Além sofrer por ele todos os dias, devido à sua indiferença, ele ainda deixava gravado no cérebro dela a ideia de rejeição. Como se ela não fosse boa o bastante para ele, como se ela não estivesse à altura do perfil de garota que ele almejava, ele a fazia sentir diminuída de uma certa forma. Embora ela sempre tentasse achar o lado positivo das coisas, não tinha como não sair magoada de uma história onde somente ela se dedicou completamente. Então queria que dessa vez os dois se sentassem, conversassem e se despedissem de verdade, sem jogos, sem trapaças. Queria levar a certeza de que ele balançou, que ele se contradisse em todas as suas afirmações contra o amor. E acima de tudo, queria essa vitória pessoal, de que poderia continuar lutando por ele, mas que não o faria, pois sabia que ele era uma guerra perdida. Poderia até vencer algumas batalhas, mas há que custo? Ela estava abandonando o jogo, abandonando a guerra, estava tirando seu time de campo. E no meio de toda essa desistência ele não percebia que tudo o que ela queria era que ele dissesse algo enquanto ela estava desistindo dele. Uma reação, um grito de socorro, qualquer coisa que pudesse provar de que ele se importou de alguma forma, mas não. Ele só virava as costas e ia.
Para algumas pessoas que viam uma história de fora, os famosos filósofos de cabeceira de cama, onde se fala sentado, sem fazer nada e viram os ‘sabe tudo sobre tudo e todos’, para esses talvez isso seja drama, frescura, como diz minha mãe, até mesmo carência, tentativa de chamar a atenção. Eu não vejo como uma pessoa vai escolher sofrer emocionalmente por vontade própria. Algumas pessoas são mais fortes, outras são mais fracas. Tudo na vida é assim, até as plantas, o ar, o clima, os animais, até a imunidade das pessoas é diferente umas das outras, às vezes uma mesma doença causa sintomas horríveis numa pessoa, que só falta morrer, enquanto em outras nem sequer apresentam sintomas.
Mesmo que as pessoas escolham lados errados, mesmo que elas optem por dar mais uma chance a quem não se deve dar uma chance, onde está escrito a receita da absoluta verdade? Às vezes o que faz feliz uma pessoa não satisfaz a outra. Existem gostos, visões, sentimentos, tudo é diferente. O modo de percepção é diferente. Então às vezes as pessoas escolhem o caminho do sofrimento inconscientes disso. Elas não querem sofrer, mas acabam sofrendo do mesmo jeito. Elas acham que estão seguindo seu coração, seu instinto, e que estão fazendo a coisa certa, mesmo sem estar. E será que não está mesmo? O que é absolutamente certo nessa vida?
Mesmo que pareça fácil para quem estar de fora falar que é só deixar aquele carinha idiota que te faz sofrer de lado, a pessoa que está de fora não está envolvida emocionalmente com aquela situação, não é fácil. Há muito hormônio envolvido. Há muita influência do cérebro, da endorfina, há muitas substâncias até mesmo no seu sangue quando você está apaixonada.
Martin voltou finalmente para Bergen e pediu para que Anya o buscasse no aeroporto. Eles sempre davam carona um ao outro quando um deles precisavam. Foram direto para a casa dele e ficaram conversando por horas.
— Não me venha pedir para ser fogo e gelo; o fogo derrete o gelo e o gelo apaga o fogo! Eu sou assim, Martin, poderia mentir e dizer pra você que vou mudar, que vou ser café com leite, que vou amar no conta-gotas, que vou ligar um botão standby em mim quando você precisar, e toda vez ajustar meu humor ao seu. Não eu não vou! Eu fiquei com você esses meses reprimida, sempre com medo de dizer o que eu pensava, sempre insegura se estava lhe agradando, se estava lhe incomodando, o pior inimigo de uma pessoa é viver assim, com medo dos próprios pensamentos. Eu não quero mais viver assim! Eu me recuso!
— Eu só queria que você fosse mais calma.
— Eu não sou. Não sei fazer nada pela metade, eu dou tudo de mim, não me peça pra ser menos, pois eu só sei ser mais e mais, até onde eu não couber me mais em mim mesma. Eu me consumo! Eu nasci assim com extra intensidade nas minhas células do corpo. Eu não vou mudar por você, eu não vou mudar por ninguém, vou me adaptar a mim mesma daqui pra frente. E se você não me aceitou, não me amou como sou, não vai me amar nunca. Se você me pedir pra mudar então não é a mim que você quer, você quer me substituir por um outro alguém que nunca vai ser eu de verdade.
— Eu não estou acostumado a ter alguém na minha vida. Eu nunca amei ninguém, acho que gostei de uma menina na escola quando era criança. Depois disso eu aprendi a viver sozinho e eu gosto disso. Eu gosto de ficar sozinho.
— Então fica sozinho, Martin. Não há nada em errado nisso. Cada um tem que viver da maneira que é feliz, seja lá como for. Contanto que você não esteja destruindo a vida de uma outra pessoa. Vou falar pra você uma coisa que eu sempre falei para o meu ex-marido: Não é errado querer fazer sexo sem compromisso, seja você homem ou mulher, não é errado você querer experimentar o máximo possível de emoções diferentes com pessoas diferentes, adquirir experiência, testar seus limites, se encontrar. Você é jovem, bonito, solteiro, tem sua estabilidade financeira. Quer ter uma mulher diferente a cada fim de semana em sua cama? Vai em frente, contanto que essas mulheres não estejam sendo iludidas, enganadas, e desde que não as vá machucar, não é errado você querer isso. Fique solteiro e viva como solteiro. Mas não ponha uma Anya em sua cama todos os dias, repetindo toda hora que não a ama e que nunca vai amá-la, enquanto você a olha nos olhos como se ela fosse a mulher mais importante da sua vida. Isso eu acho sujo. Um jogo desnecessário. Você já me tinha. Não precisava, em momento algum, me fazer sentir amada, desejada, especial para poder ir pra cama comigo. Eu teria ido pra cama de qualquer jeito com você, porque eu queria me jogar de cabeça no primeiro que passasse na minha frente só para esquecer meu ex. Só para quebrar o laço.
— Mas eu gosto de você de verdade. Eu acho que você foi o mais perto que eu cheguei do amor.
— Não é o bastante para mim. Não quero ser o mais perto que alguém pode chegar do amor. Quero ser o amor de alguém! Quero que alguém me ame desesperadoramente, com todo o seu coração! Quero viver transbordando, mesmo que eu me machuque àas vezes e quebre a cara no chão.
— Eu não consigo acompanhar você. Você está numa crise de identidade, você não sabe o que quer, Anya.
— Eu estou numa crise de identidade? Eu? Você é uma crise de identidade ambulante. Eu não, eu sou o que sou, sempre a mesma. E eu sei sim muito bem o que eu quero. As mesmas certezas que eu tinha com dez anos de idade tenho aos 34.
— E você acha isso bom? Você só está me dizendo que você continua pensando como uma garotinha de dez anos?
— Não! Estou querendo dizer que eu continuo sabendo o que quero desde quando era criança, queria casar, ter filhos, ter uma casa bem estruturada, cheia de amor e muita vida! Queria estudar, trabalhar, dirigir, viajar, ter amigos e ter netos me visitando quando eu ficar velhinha.
— Você me disse que desde criança queria ser médica, cirurgiã da marinha ou exército, ou que queria ter sido policial.
— Sim é verdade. Eram meus sonhos também. E pra ser uma pessoa bem-sucedida na vida não se pode casar e ter filhos agora? Talvez pra você o que tenho hoje seja nada comparada a vidinha de playboy de primeiro mundo que você sempre levou, mas pra mim é motivo de orgulho saber que não me tornei uma médica no Brasil, pois era quase impossível passar nos vestibulares enquanto eu estava sendo mãe aos 18 anos. Mas eu consegui ser enfermeira, pouco tempo depois. Eu não entrei pra polícia, marinha, aeronáutica ou exército, mas eu pelo menos consegui ser segurança num outro país, totalmente ao contrário do meu país, do outro lado do mundo e com uma língua e cultura diferentes da minha. Tive cargos que eu sei que não é todo estrangeiro que consegue por conta do estresse, da língua, de muitos obstáculos, como trabalhar de madrugada, sozinha, fazendo ronda, ou diversas outras coisas que estavam em jogo. Mas eu aguentei, firme e forte. Pelo menos eu estou me formando enfermeira aqui também. Pelo menos eu consegui trabalho aqui que muitos noruegueses nem conseguem, como segurança de aeroportos e empresas particulares. Pelo menos eu consegui tudo sozinha, com meu esforço e minha dedicação. Eu construí sim tudo isso, só me falta terminar minha escola, ver meus filhos formados, casados e meus futuros netos. Enquanto você hora diz que não quer nada da vida, outra hora diz que talvez queira um dia. Você não tem cacife pra falar de indecisões. Mas eu respeito a maneira que cada um escolhe de viver, desde que não esteja prejudicando a minha forma de viver e nem outras vidas. Cada um é cada um e eu sempre te digo, eu nem sei o porquê a gente briga. Nem faz sentido! Você não vai me mudar, eu não vou te mudar, então ou a gente se aceita, ou se larga! E eu vou lidar com a minha falta de você bem longe de você. Eu te prometo que vou até sofrer, mas eu não vou morrer.
— Eu sou diferente de você, Anya.
— Ai que saco ouvir isso toda hora! Você nem tem argumentos, eu fico horas falando o que penso, mas você só me vem com meias palavras apontando que somos diferentes. Todo mundo é diferente, meu filho, até as pedras são diferentes.
— Mas eu acho que somos muito diferentes em tudo. E você quer uma coisa da vida e eu quero outra.
— Então não me venha com essa de “Eu não sei o que quero!” Se você quer tudo diferente de mim, vai atrás do que você quer e o que te faz feliz.
— Eu só quero que você entenda que eu quero ficar sozinho àas vezes e que isso não precisa ser um problema entre nós dois se as vezes eu não quero companhia.
— Eu danço conforme a música, meu querido. Eu já lhe disse, não imponha regras que você não pode cumprir, pois eu vou cumpri-las e quem vai se arrepender é você.
— O que você quer dizer com isso?
— Quero que falemos sobre tudo que temos pra falar hoje, tudo de uma vez só. Pôr um ponto final nas desavenças.
— Tá bom.
— Você acabou de falar que precisa ficar sozinho.
— Sim, preciso.
— Mas quando eu fico muito com minhas amigas e viajo pra escola, você sempre fica meio que diferente e chateado, afastado no telefone. Você me confunde.
— Eu sei.
— Pior que eu sei que você sabe. Você sempre repetiu que nunca estivemos juntos como namorados, não é verdade?
— Sim.
— Então por que você reclamava que eu tinha páginas de namoro e recebia mensagens de outros carinhas se você também era cheio de contatinhos? Isso é mentir para si mesmo? Ter dobro moral ? Falar uma coisa e fazer outra? Machismo?
— Não.
— Você quem queria ler as minhas coisas e eu deixava, porque não tinha nada para esconder, eram suas regras.
— Sim.
— Mas eu não podia ver as suas da mesma forma que você via as minhas, só me mostrava quando lhe convinha mostrar.
— Você não queria ver.
— Eu amava você. Não me interessava ver você flertando com outras garotas enquanto eu estava ali do seu lado mendigando um pouco de atenção.
— Mas eu não traí você, não encontrei com ninguém depois que ficamos juntos.
— Pois bem, agora chegamos onde eu queria. Você estava falando com outra menina enquanto ainda estávamos juntos, você viu a oportunidade de transar com ela e eu estava em seu caminho. Eu entendo. Você “terminou comigo” quando fui pra Førde e ficou com essa menina em seguida. Agora já conseguiu o que queria dela, agora não a quer mais. Era só uma noite. Eu entendo você. Eu também dormi com Noah. Afinal de contas você não era meu namorado, e dormiu com outra dias depois de terminar comigo, não foi? E na semana seguinte ainda me levou na mesma montanha que tinha levado ela, então, fiz o mesmo com Noah. Mas no nosso caso não foi planejado, não foi vingancinha, aconteceu tudo naturalmente e até inesperadamente. Recebemos convite de Krysla e fomos passear em família, eu, ele e várias crianças. Coisa que você seria incapaz de fazer.
— Não quero ser comparado a esse homem o tempo todo.
— Não, não tem comparação! Não vou compará-lo. Eu só vim aqui te dizer que eu e Noah resolvemos nos assumir em público no F******k e onde mais couber. Estamos numa relação séria em nossos perfis. Vamos juntos às festas que eu te convidei e você recusou, vamos juntos a todas essas festas daqui pra frente. Inclusive a festa de Halloween, no dia 29 de outubro, em Sotra, a mesma que você recusou como tantas outras. Por achar que meus amigos brasileiros não faziam parte do seu mundo? Que mundo? Um mundo de geleiras? Icebergs? Sabe o que mais, chega a ser engraçado essa roda da vida, “Fulano que gosta de Ciclano, que gosta de Beltrano”. Noah gosta de mim sem que eu precise me esforçar, enquanto me gasto com você para tentar me encaixar na sua vida, ele vem fácil, vem leve, de coração aberto e um sorriso largo. Eu sei que tenho um futuro bom com ele. Eu sinto que com ele eu posso ter um amor de verdade até envelhecermos juntos. Ele quer morar junto, disse que eu poderia ficar na casa dele em Førde, e quando eu precisasse estudar ele ficaria fora para que eu tivesse silêncio. E eu aceitei. Vou ficar na casa dele quando estiver em Førde. E ele vai voltar comigo pra Bergen nos fins de semana.
Martin foi olhar as atualizações de F******k e conferir que agora estava lá, público, que os dois estavam juntos.
— Você não me ama, Martin.
— Você não sabe o que eu sinto.
— Não ama ninguém. Você só não gostou de perder. Achou que eu estaria para sempre à sua disposição, chorando pelo os cantos atrás de você como uma sombra.
— Não é verdade, sempre soube que você iria me deixar a qualquer momento, era só questão de tempo. E nós somos diferentes. Você quer um homem para te ajudar, pra te sustentar. Eu quero uma mulher independente que não precise da ajuda de um homem para nada.
— Você não sabe de nada da minha vida, garoto. Tanto no Brasil, como aqui ou em qualquer lugar do mundo eu encontro homens com status maior que o seu, e até mais ricos e bonitos, mais cobiçados, que me querem mesmo com três filhos, e aí vêm você achando que não sou boa o suficiente para você? Acorda! Cresce pra vida! Sai dessa ilusão!
— Eu não tenho preconceitos contra os seus filhos, eu apenas não queria me envolver com eles porque o que iria adiantar fazê-los se apegar a mim e depois eu e você terminar?
— Ah, Martin tô de saco cheio de ouvir você dizer que mais cedo ou mais tarde não vou te aguentar, que vou te deixar, que é só questão de tempo! Que seja! E daí? Cresce Peter Pan!
— Eu quero ficar sério com você sim. Mas você tem que respeitar que tá tudo bem a gente ficar um pouco longe àas vezes.
— Mas eu estou sempre te perguntando se você quer que eu vá pra minha casa, ou estou sempre indo visitar alguém pra te deixar sozinho com seu esqueminha clube e televisão. Mas você me confunde. Você parece que se chateia quando eu vou.
— Eu sei. Às vezes eu quero estar sozinho mesmo, mas quando você vai eu queria que você estivesse aqui.
— Você está se ouvindo agora? Está gravando na sua mente o que você está me dizendo? Garoto você não se entende, não sabe o que quer, e me enlouquece! E me diz agora que quer ficar comigo quando eu finalmente estou disposta a te deixar em paz pra sempre e tentar ser feliz com outro?
— Quero sim ficar com você. Se você não encontrar mais esse Noah. Se você ficar estudando aqui na minha casa ao invés de ir para Førde estudar na casa dele. Eu quero tentar uma relação de verdade.
— Por quePor quê? Por quê de repente você quer isso? Há poucos minutos nem você sabia o que queria? O que você quer é destruir outras possibilidades pra mim. Se eu não der certo com você que não dê certo com ele.
— Não sou assim. Não é verdade. Eu quero de verdade tentar dessa vez.
— POR QUÊ?
— Porque eu acho que amo você.
— Como você sabe?
Martin ficou um pouco em silêncio.
— Eu não paro de pensar em você em todos os lugares que eu vou, nem no meu trabalho, eu sinto sua falta. Eu tenho pensado demais em você. Toda vez que terminamos eu não quero sentir sua falta, mas eu sinto muito a sua falta.
— Me responde uma coisa com sinceridade. Você alguma vez chorou quando terminamos?
— Sim.
— Por que você nunca me falou que gostava de mim, ou que sentia a minha falta, coisas desse tipo? Você sabia o quanto eu sofria por você e o quanto eu me apaixonei, mas você fazia questão de ser sempre frio comigo.
— Eu não queria amar ninguém. Continuo não querendo.
— E como seria nossa relação daqui pra frente?
— Você termina com Noah. Fala a verdade para ele que está comigo. E para de ter contato com ele.
— E vai me assumir para todos saberem que estamos juntos? Seus amigos de trabalho? Sua família? Todas as pessoas?
— Sim. Posso fazer isso agora mesmo.
— Mas eu não. Tenho família no F******k, tenho amigos, tenho pessoas do trabalho, não posso trocar de namorado no perfil como quem troca de roupa do dia para a noite. Além do mais não vou magoar Noah dessa maneira, como você me magoou um dia. Eu não vou terminar com ele assim brutalmente e tirá-lo do F******k, ele também tem amigos, família, tantas pessoas que escreveram lá no mural da página dele e da minha.
— E vai fazer o quê?
— Vou ficar em Bergen. Vou explicar para ele aos poucos que fomos muito impulsivos de ter assumido um namoro que nem se quer havia começado de verdade, que era melhor a gente tirar do perfil público e botar só para amigos primeiramente e aos poucos eu vou lá e retiro da minha página. Ele mesmo vai ver que os meses vão passar e não teremos quase nenhum contato, então ele vai fazer o mesmo, vai retirar nosso status e vai seguir em frente. Não quero magoá-lo. Não tenho coragem. Só eu sei o quanto dói. Você já me magoou diversas vezes e é insuportável essa dor.
Martin pediu desculpas, prometeu que nunca mais iria magoá-la. Prometeu diversas vezes. Falou que dessa vez seria diferente. Eles seriam namorados e ele prometeu que ia tentar ser mais aberto, falar o que sentia.
— Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes, essa frase é de Albert Einstein — ela falou e Martin sorriu.
Anya estava tão apaixonada por aquele norueguês que seu coração tropical se ficasse mais quente entraria em erupção como um vulcão. Ela o olhava tão profundamente nos olhos e ele a ela, que não era necessária uma linguagem que não fosse a corporal.
No dia da festa de Halloween em Sotra, na casa de Elma. Anya estava um pouco envergonhada de comparecer à essa festa com Martin. Todas as suas amigas a compreendiam e afinal de contas elas sabiam que Anya o amava e já sabiam da história dos dois. Desde junho era ele quem Anya levava a todas as festas que fora até então. Mesmo assim ela estava envergonhada por ter aparecido com Noah e tê-lo apresentado a muitos casais de amigos. Uma imagem vale mais que mil palavras, ela sabia que as pessoas iriam falar e pensar que ela numa semana estava com um e na outra semana com outro. Embora as pessoas não soubessem das razões, assim mesmo iriam falar. Claro que existe a política do “que se foda o que se falam!” As pessoas falam isso o tempo todo, que não se importam com o que os outros pensam, mas no fundo não é bem assim.
Anya estava um pouco apreensiva, Noah havia telefonado todos esses dias todos os dias várias vezes por dia. Algumas vezes ela atendia, e por diversas vezes tentou explicar que estava estudando muito, de fato ela estava, e resolveu falar do seu tratamento psicológico, dos problemas financeiros, dos problemas da escola, e tantos outros problemas. Quanto mais Anya falava de seus problemas para Noah, mas ele queria ajudá-la, mas queria se aproximar e ficar com ela. Ele oferecia seu tempo, disposição, sua casa, e se predispôs a ajudá-la a resolver os problemas dela. Assim ele dificultava ainda mais o fim do “namoro” à distância. Noah era doce, amável, um amigo e companheiro. Anya gostava dele, ela não estava apaixonada por ele como estava por Martin, mas gostava de ouvir tudo o que ele falava de positivo, sempre com uma palavra de conforto. Isso balançava o coração dela, pois ela se sentia triste por saber que estava sendo burra em investir numa relação com Martin, que fugia dos problemas, que nem sequer queria ouvir sobre os problemas dela, que chegava até a se incomodar se ela falasse de problemas, enquanto que Noah era tudo aquilo que ela gostaria que Martin fosse. E ela chorava ao terminar de falar com ele porque estava se sentindo má, estava se sentindo culpada, ela não queria mentir para ele nem o machucar. Ela até tentou algumas vezes falar toda a verdade de uma só vez, mas como falar para Noah:
— Eu não te amo, eu nunca te amei, eu tenho um relacionamento complicado anterior a você e fiquei com você depois deapós uma briga com meu namorado, agora ele resolveu voltar, mas eu e você já estávamos com um status de namoro público numa rede social.
Como falar tudo isso sem magoá-lo? Ela sabia que esse era o certo a se fazer, mas não ousava. Então optou por tentar fazê-lo desistir dela por conta própria. Ela falava mal de si mesma para ele, falava que era complicada, cheia de defeitos, que já havia sido casada três vezes, que tinha três filhos e muitos traumas. Ela tentou por vários dias fazê-lo desistir dela, mas Noah continuava firme e forte, e se oferecia para vir para Bergen para ajudá-la, para ir com ela nas consultas com o terapeuta. Tudo isso na frente de Martin, que só revirava os olhos ao lado dela sem fazer barulho. Ele queria muito mesmo ir a essa festa de Halloween com ela. Ele quase a implorou e ela ficava com o coração apertado, não sabia mais como sustentar tanta mentira. Martin ouvia as conversas dos dois no telefone, lia as mensagens, ele dizia que entendia que ela não queria ser cruel com Noah. Que estava tudo bem, que ela estava fazendo o certo, era ele quem era insistente e já era para ele mesmo ter terminado com essa relação. Mas ele pedia para continuar, não queria terminar, ele queria que ela desse uma chance, falava que ia esperar por ela, que não ia incomodá-la, que iria deixá-la se concentrar, que ela precisava se tratar, que iria dar espaço, mas que ele estaria ali, como namorado dela, esperando por ela. Isso a deixava muito mal, mal mesmo. Ela se sentia um monstro, a pior pessoa do mundo.
Martin quase pegou o telefone das mãos de Anya por muitas vezes para falar diretamente com Noah, mas Anya não deixava. Noah insistindo para vir para Bergen para a festa de Halloween com ela, Anya falando que não e ele implorando, Anya ficava tão sem palavras que quase cedia, então Martin a fazia desligar, ele afirmava que não era normal esse amor repentino de Noah, que ele não a conhecia, e que tinham ficado muito pouco tempo juntos para ele agir daquela forma. Falava para Anya ter cuidado. Ele falou que ela nem cogitasse a possibilidade de ir aà essa festa de Halloween com Noah. Embora ela explicasse que não se tratava de uma competição de com quem iria a tal lugar, nem era importante, festas havia todo fim de semana, mas tinha todo um contexto, Anya e Noah haviam escolhido fantasias de vampiros juntos, eles viram fotos e vídeos de festas passadas nesse mesmo local, Noah estava tão empolgado e tão feliz por ela o ter convidado, e de repente ele não poderia participar, pois ela iria levar um outro. Martin ouvia, entendia, sabia que ele era o culpado dela ter se envolvido com Noah, mesmo assim não estava mais aguentando a insistência de Noah. Estava prestes a explodir a qualquer momento.
Então chegou a hora da festa. Anya usava uma fantasia de marinheira, branca com azul-marinho. Um chapéu de marinheira e meias três-quartos brancas. Martin estava vestido em seu uniforme oficial de marinheiro. Todo de branco. Muitas mulheres da festa ficaram bastante ouriçadas quando o viram naquele uniforme. Elas se destacavam na performance de cada música, outras jogavam olhares indiscretos e assim foi ao longo da noite. Se tinha uma coisa que Anya amava nessa relação com Martin, era que ele passava tanta confiança a ela em termos de segurança quando a acompanhava em eventos públicos, que ela nem sequer sentia ciúmes dele em nenhuma festa . Algumas amigas, já para o meio final da festa, quando todos estavam bêbados, até se sentaram no colo dele, que muito educado, segurou-as pela cintura e as tirou de cima como quem tira um saco de batata e as pôs na poltrona do lado e em seguida ele levantava e ia de encontro a Anya. Ela ria, brincava com o sucesso que ele estava fazendo entre as latinas. Ele estranhava um pouco, sempre perguntando:
— Mas ela não é casada?
— Sim ela é. Está bêbada, está curtindo a noite, as norueguesas também fazem muito dessas coisas em Nasjspjell que eu já vi milhares de vezes. Não esquenta! É só festa! — Ele ria.
Anya e Martin dançaram muito e se divertiram muito juntos. Muitas amigas tiraram fotos dos dois e de todos que ali estavam, o que é comum. No dia seguinte elas publicaram as fotos e marcaram Anya nas redes sociais. Noah viu as fotos de Anya e Martin juntos. Anya estava esperando por uma ligação de Noah, ela estava muito triste e envergonhada por essa situação ter chegado aonde chegou, mas ela tinha que resolver. Queria então que ele viesse tomar satisfações, aí então ela tomaria coragem e iria contar toda a verdade, mas ele não brigou, não cobrou, não fez nenhum tipo de confusão. Ele apenas comentou que viu as fotos e que ela estava muito bonita vestida de marinheira. Anya se sentia cada vez pior ao falar com ele. Perguntou se ele havia visto as fotos de um rapaz que também estava vestido de marinheiro, falou que era um ex-namorado dela antes de o ter conhecido. Noah não quis ouvir mais sobre esse ex-namorado. Ela já quase não estava mais falando com ele no decorrer dos dias. Não tinha mais coragem para levar essa mentira á diante.
Anya continuou em Bergen, ia a eventos beneficentes de uma ONG que ela dava aulas de Dança, continuou com sua rotina. Seus dias, semanas, meses e anos eram sempre cheios. Ariana queria fazer todas as coisas do mundo ao mesmo tempo, e fazer bem.
4 de novembro de 2016, sexta-feira. Anya estava em seu quarto, em casa, no terceiro andar. Rodeada de livros e com o minilaptopminilaptop que Martin emprestou para ela escrever seus artigos da escola. Quando de repente sem ela menos esperar ele entrou porta a dentroadentro. Ela ficou muito surpresa, jamais esperava ele ali, ele não avisou nada que estava voltando do mar. Ele estava fardado, com seu uniforme azul de marinheiro, pôs sua mochila no chão e a puxou pelo os pés de uma tal forma que ela veio parar na borda da cama. Ela estava usando um de seus vestidos de casa e ele se ajoelhou tão rapidamente e levantou a roupa dela retirando-a do seu caminho, rasgando a calcinha dela em mil pedaços em frações de segundos, que ela não sabia como reagir. Antes que ela terminasse a frase “Eu quero tomar um banho antes”, já estava sentindo aquela boca quente e molhada entre suas pernas, sugando com tanta vontade, como se nunca tivesse feito aquilo antes na vida, que ela mal c
19 de dezembro de 2016, segunda-feiraDe volta à rotina de Bergen, Anya foi comer sushi com os filhos, eles adoravam fazer programas juntos, ir ao cinema, restaurantes, viajar e passavam horas conversando sobre todos os assuntos. Martin a encontrou mais à noite para assistirem Star Wars no cinema. De longe, pareciam o casal perfeito, ela fazendo gracinhas, ele rindo das tonteiras dela, sempre tirava fotos dela e quem via de longe não poderia imaginar que havia uma sombra ameaçando os dois. Anya sentia como se ele escondesse algo em seu coração. Sabe aquele velho ditado: faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço? Ele falava que estava tudo bem, às vezes aparentava estar satisfeito, mas em certos momentos parecia que a máscara iria cair. Do jeito que ela era gentil, era capaz de apanhar a máscara para ele pôr de volta. Ele parecia estar de malu humor no cinema. Ela tentava quebrara o gelo: — Ah, eu sei que nenhum outro filme vai ser como no dia que viemo
8 de janeiro de 2017, domingoDepois de uma semana de muito cansaço para organizar o ninho de amor do casal, finalmente um dia de descanso, sem móveis para montar, sem nada para fazer. Anya e Martin só queriam curtir o seu domingo de paz e silêncio jiboiando de frente à tv e achar alguma coisa interessante para assistirem, quando de repente o telefone de Anya tocou. Martin estava na cozinha terminando de preparar o almoço. Ela atendeu o telefone. Era uma menina que morava em Portugal, mas que às vezes estava em Bergen, uma amiga de uma amiga de uma amiga de outra amiga. Anya não a conhecia, e nem era sua amiga, mas já estivera com ela algumas vezes na companhia de outras pessoas. O nome dela era Fiona. Ela estava pedindo um enorme favor para Anya, contou uma história mal contada, dramática, falou que tinha vindo de Portugal encontrar alguém em Bergen, e que havia acontecido um desentendimento por conta de ciúmes, então ela tinha ficado na rua, com fome, cansada, com f
Omês de fevereiro chegou ainda mais rápido para ajudar os dois a superar as negatividades e os altos e baixos dessa relação. Em 14 de fevereiro, Dia dos Namorados na Noruega e em muitos outros países da Europa e USA – diferente do Brasil que comemora o Dia dos Namorados em 12 de junho. Anya já tinha reservado bilhetes para assistirem a à estreia do segundo filme de Christian Grey, para eles dois e um casal de amigos que moravam no centro de Bergen, perto do cinema. Martin a convidou para jantar no restaurante preferido dela, para se encher de comer sushi até não aguentar mais. Depois foram para a casa do outro casal que iam acompanhá-los ao cinema, Dalila e Kalib.Chegando na casa de Dalila, ela ainda não estava pronta e todos se sentaram na sala e esperando Kalib chegar do trabalho. O namorado dela estava sempre trabalhando. Quando Dalila saiu de seu quarto, trouxe com ela uma enorme cesta de presentes, coberta com um plástico transparente e amarrada com um laç
Quando Anya tinha tempo para ficar em casa, depois deapós ter lido muito para alguma prova da escola, ela ainda encontrava tempo para ter ideias, como, por exemplo, fazer um aniversário surpresa para Martin. Isso mesmo. Estavam no mês de fevereiro e ela resolveu entrar em contato com a mãe, o pai e o irmão para ouvir suas respectivas opiniões. Todos concordaram e gostaram muito da ideia. Todos se disponibilizaram a ajudá-la, inclusive Marcus , o melhor amigo de Martin que morava na casa dele.Anya adorava participar desse tipo de surpresa. Ela era muito detalhista e criativa. Suas amigas sempre contavam com ela quando se tratava desses assuntos, pois sabiam que ela se alegrava até mais que os aniversariantes. Ela entrou em contato com todos os amigos da lista que Marcus criou, eles fizeram um grupo no Facebook e convidaram todos que podiam. Ela queria uma festa grande, ele estaria completando 31 anos de idade, e como na Noruega as pessoas costumam comemorar a festa d
Anya estava engajada em sua vidinha de mãe solteira moderna. Trabalhando e estudando 4 dias por semana. Embora uma semana tivesse só sete, ela transformava a quinta-feira em dois dias, ficava na faculdade até meio-dia e dirigia de 2 horas e meia a três para estar no trabalho em Bergen, às 15 horas da tarde do mesmo dia. Por sorte seus filhos já eram grandes, quase 17 e 16, já que o de 10, Elias, morava com o pai. Anya também sempre tinha alguém adulto morando com ela para ajudá-la com as crianças em sua ausência. Nas sextas-feiras, sábados e domingos geralmente ela trabalhava a noite e podia dormir até tarde no outro dia. Assim como foi esse fim de semana após dias sem notícias alguma de Martin, isso foi até o dia 16 de março, uma quinta-feira. Anya saiu do trabalho, no centro de Bergen, que ficava bem atrás da estação de trem, e foi visitar sua amiga Dalila, a mesma que tinha um apartamento na rua do cinema. Anya estava bem, sorridente, descontraída, quando o telefone dela tocou e
Dia 31 de março de 2017, sexta-feira à noite. Martin e Anya viajaram juntos pela primeira vez depois do término. Eles iriam dormir em Oslo para pegar um avião para Faro no dia seguinte pela manhã cedo. Era a primeira vez deles num avião e isso estava fazendo com que Anya agisse como uma criança numa confeitaria podendo escolher o doce que quisesse. Anya levava uma mala preta de bolinhas brancas que comprou na Alemanha, num cruzeiro de final de semana, no ano anterior. Martin por sua vez estava levando uma mochila das forças armadas, algo grotesco, muito alto, muito pesado, que ele tinha que carregar nas costas, e era verde. Anya não aguentava olhar para aquilo. Ela estava até mesmo envergonhada de ver Martin andando pelos aeroportos carregando aquela mochila de acampamento que era mais alta que a cabeça dele. Os dois riam muito dos comentários dela, ela fazia vídeos dele andando como um robô com aquela mochila imensa verde. Em Oslo os dois foram para um hotel a pouco
Segunda-feira, 3 de abril de 2017, 11:52Martin e Anya pegaram o carro e saíram visitando as praias dos arredores. Havia diversas pequenas praias não muito distantes dali do centro de Lagos. Martin comprou comida, água, suco e doces para que comessem na areia quando sentissem fome. Anya tentava ver pelo lado romântico, fazia de conta que ele havia proposto um piquenique à beira-mar, debaixo daquele calor do sol, aproveitando a brisa, olhando as paisagens, curtindo aqueles momentos únicos e que talvez fossem os últimos dos dois. Ela ignorava o fato de dele não querer comer em restaurante e que ele comprava comida ou já levava de casa para não ter que gastar na rua. Ela queria mais era aproveitar o clima, a viagem, aquecer a alma e ser feliz.Depois do piquenique na praia, onde comeram frango assado e salada de batata, foram visitar outros locais. Chegaram numa praia onde havia muitas lojas de artesanatos, compraram um café e se sentaram num banquinho na calçada. Riam e