4 de setembro de 2016.
Os dois foram passear numa das montanhas mais conhecidas de Bergen, a Stoltzen. Uma escadaria sem fim até o topo, mas que paga cada passo dado, cada fôlego perdido ao longo da subida, a paisagem lá de cima deveria ser vendida como colírio para os olhos.
— Ah, se meus olhos pudessem bater fotos! — falou Anya quando teve o prazer de contemplar as paisagens nórdicas da Noruega. Ela se deslumbrava com tamanha beleza! Saltitava de alegria com as paisagens que via, namorava com a natureza. Às vezes parava o carro só para ficar dois minutinhos conversando com o silêncio, contemplando aquelas imagens que mais pareciam ter sido pintados a óleo. — Deus, como és maravilhoso! — Martin sempre a ouvia dizer isso. E já sabia a tradução.
O sol estava todo empolgado com seus raios reluzentes, todo amostrado com seu brilho resplandecente!
— Que maravilha! Não há lugar tão belo quanto a Noruega nos seus dias ensolarados de verão!
— Você diz isso também do inverno pesado!
— É porque eu também amo o inverno.
— E a primavera, e o outono… — Os dois riam.
Eles se sentaram numa rocha lá no topo da montanha de Stoltzen. Havia muitos turistas e nativos lá. Muitos grupos praticando yoga ao ar livre. Ela o chamou para se juntarem a esses grupos e eles quase foram, mas desistiram, para se arrependerem depois. Ele tirou uma maçã para ele e uma para ela de sua mochila. Ofereceu água, cenoura, banana. Era um hábito muito comum dos noruegueses levar sua água de casa, frutas ou uma barra de cereal, por exemplo quando vão fazer trilhas e caminhadas.
Era isso que Anya gostava nele. Aquela simplicidade em forma de atenção. As conversas que tinham a fascinavam muito. Ela podia falar sobre tudo com ele e em qualquer lugar. Com vozes lentas, com um ar de que não tinham pressa de chegar.
Quando estavam descendo a montanha pelo o caminho de Fløyen, avistaram a paisagem mais chocante que teriam visto até aquele momento. Anya ficou tão encantada que só falava que se pudesse ficaria pelada e se jogaria naquele mar. O reflexo de uma montanha esverdeada refletia no mar que estava translúcido, um imenso espelho d’água natural, dando a impressão de que uma montanha estava saindo de dentro da outra em lados opostos. Que efeito! Ele então a desafiou. Falou que os dois poderiam sim, fazer isso. Ela ficou bem tentada, ficou empolgada e até cogitou mesmo a hipótese de começar a se despir correr e saltar. Mas esse instante momentâneo de loucura logo passou quando ela ouviu vozes de pessoas em grupos, uns descendo a montanha e outros subindo, aquela trilha era muito conhecida e movimentada. Martin estudou o local, falou que os dois poderiam fazer a volta por outro caminho e tentar chegar do outro lado para se banharem no mar. Ela não estava com medo de se banhar, apesar de não saber nadar muito bem, mas estava receosa de algum turista notar eles tomando banho pelados e começarem a tirar fotos. Tudo na Noruega tinha potencial para virar manchete de jornal. Esse era o medo dela. Ter a foto dela estampada num jornal. Eles então desistiram e ele ainda ia mexendo com os brios dela pelo caminho, falando que ela “amarelou”.
Ao chegarem de volta ao centro foram direto para um evento que estava acontecendo perto do Bergen Festehus, uma feira de comida e cervejas. Passaram um bom tempo olhando cada barraca e ele comprou um hambúrguer enorme, feito com carne rara de animais das montanhas. Depois se deitaram no gramado, absorvendo vitamina D através dos raios de sol, então começaram a se alongar e a relaxar ouvindo o barulho de fundo que vinha de alguns animais, como cabras e bodes que alguns representantes de fazenda haviamhaviam tragotrazido. Também havia muitas crianças e grupos de adolescentes. O clima estava perfeito para aquele dia.
Ainda na feirinha, pararam num quiosque e compraram slush, uma bebida adocicada com gelo batido e foram se sentar numa escadaria ao lado do Zacharias Bryggen. O sol estava na sua melhor forma, exibindo suas melhores cores no céu. Os dois ficaram ali por horas, conversando e se apaixonando por aquela paisagem. Anya contou para ele sobre a verdade do machucado na sua sobrancelha. Contou tudo que havia acontecido. Martin ouvia tudo com muita atenção e se mostrava muito solidário, compreensivo, sensibilizou-se bastante quando soube toda a verdade. Ela mostrou todas as fotos que tinha do dia que aconteceu tudo aquilo. Mostrou os objetos quebrados, o rosto coberto de sangue. Ele ficou bastante comovido. Anya se esforçava ao máximo para não chorar, mas foi inevitável. Então foram para a casa dele. Ela explicou que já que eles agora eram só amigos, ela queria que ele entendesse um pouco o porquê delade ela ter se apegado tanto a ele naqueles meses que passaram juntos.
Bastou chegar domingo à noite, quando ela teria que dirigir de volta para Førde para ele ficar estranho novamente, aquilo estava acabando com os dois. Então conversaram e ela mostrou para ele todo seu plano escolar, como ele poderia checar online todas as datas do que acontecia na programação da sala dela. Explicou para ele que as aulas daquela semana não eram obrigatórias, que ela poderia ficar em Bergen, desde que pudesse estudar, começando pela manhã cedo até a noite, pois ela teria 6 exames para passar muito em breve. O que ele não sabia era que devido àa pancada que Anya levou na cabeça e na sobrancelha, sua concentração estava muito abalada, e suas sessões de terapia a deixavam ainda mais preocupada, uma vez que o psicólogo tinha cada dia um diagnóstico diferente para seu caso. Ela então continuou contando tudo para ele. Segundo o psicólogo, uma hora ela sofria de trauma retraído, estava num processo de negação, mas que isso a atingiria emocionalmente futuramente. Outra hora o diagnóstico era que ela tinha flashs do dia, mas que estava evitando lembrar, uma defesa do cérebro para evitar reviver aquele dia. Em outro momento, ele queria que ela fosse a um psiquiatra para ajudá-la a ter uma longa pausa na escola devido à sua falta de concentração, era o que ela mais temia. Ela queria parar com as sessões de psicologia, mas estava sendo acompanhada pelo o órgão mais potente da Noruega, o conselho tutelar das crianças. Anya não confiava no psicólogo, tudo estava indicando como se ele quisesse que ela fizesse tratamento por um bom tempo e passasse a receber uma ajuda financeira do governo por conta do trauma, era o que Anya menos desejava que acontecesse, ela não queria carregar em seu currículo que havia participado de algum tipo de programa na qual tivesse direito a ajuda financeira por conta de um trauma e ajuda psicológica, não queria viver financeiramente por esse tipo de ajuda, então queria parar com essas sessões e ocupar seu tempo e recuperar o tempo perdido.
Ela não confiava nem na polícia que foi à sua casa no dia do incidente com seu ex, Stian, a policial, viu o sangue, viu tudo quebrado, viu-a toda ensanguentada. Seu ex invadiu sua casa às 3 da manhã, sem ser convidado, ela não abriu a porta para ele, e mesmo assim a polícia não fez nada contra ele. Quando a polícia perguntou a ela se ela queria seguir com o caso, ela pediu que encerrasse. E complementou que a única coisa que queria era que a polícia se certificasse de que ele nunca mais poderia se quer telefonar para ela ou estar nos mesmos locais que ela ou dos filhos dela. Ela não confiava no sistema de justiça norueguesa contra um norueguês muito rico como Stian. Ela já havia acompanhado de perto e em jornais, programas de noticiários de tv, vários casos em que estrangeiras não conseguiam comprovar nada em casos de violência doméstica. A última palavra sempre era do norueguês. Ela não queria lutar contra o sistema, nem contra a polícia, nem contra o conselho tutelar, e para isso tinha que desistir de fazer justiça contra o que seu ex tinha feito. Era muita pressão de todos os lados em sua vida. Muitas reuniões e muitas decepções com o sistema de apoio às estrangeiras que sofreram violência. Essa era a perspectiva dela. Aos olhos dela pareciam que estavam muito mais preocupados em achar algum tipo de desvio psicológico nela do que ajudá-la a superar um trauma. Eles faziam muita pressão para que os filhos dela também começassem nas sessões de psicologia, mas os filhos recusavam, ainda falavam que não queriam ter isso em seu currículo, gravado no sistema quando fossem procurar uma vaga na carreira militar.
Ela não recuperou os objetos e portas quebradas em sua casa, ninguém a ajudou que ele devolvesse a chave da casa, do carro, o dinheiro levado, os danos que ele fez ao carro dela, até jaquetas, botas e coisas pequenas ele destruiu antes de sair. Anya só queria que o tempo passasse e o dia que ela não lembraria mais desse episódio chegasse. Nenhum bem material valia mais que a saúde mental dela. Era o preço que ela teve que pagar para que aquele homem finalmente fosse um passado distante na vida dela. Então valeu a pena.
Anya explicou para ele que estava com muita matéria atrasada na escola porque não conseguia repetir uma só frase do que tinha sido dito na escola ou esquecia repentinamente aquilo que acabara de ler, mas Martin não estava apto a participar desses tipos de sentimentos com ela. Ele não sabia de nada dessa parte de dificuldades na vida dela antes, e ainda assim ele achava que era demais, imagine sabendo de detalhes sobre tantas situações dolorosas que ela carregava consigo.
Anya pensava assim, se ninguém podia ajudar para quê ela iria se expor? As pessoas só iriam comentar sobre isso como se fosse uma novidade muito grande, e iriam criticar sem saber da verdade, iriam especular. Foi por isso que ela não contou a ninguém. E ela estava certa. A moça que morava em sua casa, Maria, contou tudo o que aconteceu naquele triste e doloroso 25 de junho para outra amiga, que contou para outras amigas e assim por diante Bergen inteiro estava distorcendo os fatos do que realmente havia acontecido. Mas tudo que Anya queria era esquecer o que aconteceu, e pouco importava a opinião de quem não convivia com ela.
Anya e Martin deitados na cama ouvindo um ao outro sem brigas ou pequenos desentendimentos fez com que Martin reunisse coragem para contar a verdade para ela também, já que ela havia contado toda a verdade para ele. Ele havia lido as últimas mensagens que Noah e Anya trocaram. E ela contara das vezes que o havia encontrado para um café em Førde. Ele contou então que esteve em uma festa sexta-feira e que a mesma moça que havia sido o pivô da briga dos dois no clube Landmarka, também havia estado lá. Anya sentiu seu coração acelerando e o chão parecia que ia se abrir. Ele prosseguiu e contou que os dois se beijaram e que ele tinha ido para as montanhas com ela na semana em que Anya estava em Førde, que tinham dormido juntos. Anya não piscava. Não falava. A dor que sentiu foi tão grande dentro do peito, cada célula de seu corpo estava se contorcendo de dor. Ela se levantou e foi embora. Apenas foi embora. Dirigiu para Førde sem pensar duas vezes. Ela chorou todo o caminho. Não conseguia parar de chorar e nem tão pouco pensar com clareza. Sentia nojo dele, nojo do corpo dela ter sido um dia sido tocado por ele, nem sabia distinguir o que estava sentindo. Afinal de contas os dois nunca foram namorados, e até já haviam terminado o que nem se quer havia começado, mas mesmo assimmesmo assim a cabeça dela dava milhares de voltas deixando-a enjoada e com vontade de sumir para sempre.
— Canalha! Então esse canalha já estava planejando ficar com essa menina! Por isso então terminou uma semana para encontrá-la na semana seguinte e dizer que não fez nada de errado, pois não estávamos mais juntos. Frios! Egoístas! Calculistas! Dissimulados!
Ela chorava, xingava, não cabia mais nenhum sentimento dentro dela, a não ser a raiva naquele momento. Nos dias seguintes, Anya não se comunicou com ele, que também não deu nenhum sinal de vida. Depois de quase três dias ele mandou uma mensagem perguntando se estava tudo bem com ela. Ela respondeu que sim, que estava bem e que estava muito ocupada, que estava ensaiando e estudando muito. Eles puderam ter pelo menos um diálogo escrito depois deapós tudo o que aconteceu, e isso a confortava. Tudo o que menos desejava naquele momento era mais mágoas e feridas no seu coração. Tinha que ser ágil e superar rápido aquilo tudo, ela esteve frequentemente na presença de Noah naquela semana em Førde.
Nos dias que passaram Anya continuou ensaiando para uma apresentação de cancã no aniversário de 50 anos do marido de uma amiga que morava numa cidade fora de Bergen. Ela se reunia bastante com esse grupo de dança toda vez que estava lá para que elas ensaiassem bem as coreografias. Perdida em seus pensamentos, esperando por Noah num café em Førde… ela pensava: Ela não entendia como Martin dizia que ela estava sempre com ele, que ela o sufocava, se ela estava sempre metida em algum projeto, se ela estava sempre correndo de uma lado para outro, ensaiando coreografias para dar aulas de zumba, ensaiando coreografias para uma apresentação aqui e ali; ela também tinha uma casa e filhos crescidos para auxiliar, tinha 6 exames de enfermagem para passar com boas notas, tinha um trabalho em que precisava estar lá quase todos os fins de semana, quando ia para Bergen, e no verão ela trabalhou quase todos os dias.
Anya encontrou Noah com mais frequência, os dois assistiram juntos, conversaram sobre escola, sobre os filhos dela. Ela procurava falar muito mais sobre ele. Não tinha muita vontade de se dar assim tão livremente. Estava até calada, falava pouco, e estava ainda muito confusa consigo mesma. Às vezes ela e Martin se falavam ao telefone, mas como amigos. Não tocavam no assunto da traição dele, embora ele negasse que fosse traição, para ela sempre seria uma infidelidade.
Anya começou a sentir sintomas como ataques de choro em momentos inesperados, fraqueza, suor frio, mãos frias, vontade de vomitar. Muitas vezes teve que sair da sala de auditório da faculdade no meio da aula. Ela sentia um nó em seu cérebro. Uma agonia em pensar. Não queria pensar, ela estava com a síndrome da mente inquieta. Seus pensamentos vinham mil em um em uma fração de segundos, ela ficava desesperada, não queria pensar. Só queria ficar em paz dentro de si. Não queria lembrar de nada nem de ninguém, só queria dormir. Se pudesse, tomaria remédios para passar os dias dormindo, uma espécie de férias mental. Tudo o que ela pensava era que se pudesse não veria ninguém, não falaria com ninguém, não pensaria em ninguém, não lembraria de ninguém. Só o silêncio em sua mente.
— Se eu pudesse eu implantaria um chip em minha mente que pudesse retirar memórias ruins. E deixaria somente as boas e tranquilas. Espero que um dia exista esse tipo de tratamento, dizia ela.
Capítulo 14
15 de setembro de 2016.
A
nya dormira na casa de uma brasileira chamada Latina, com outras brasucas para pegarem o táxi de manhã cedo. Era o dia da viagem para Oslo. Elas iam pegar o navio Colorline, de Oslo até Kill na Alemanha. Ninguém pode imaginar o quão divertido é ter um monte de brasileiras juntas em um só local. Seja numa festa, num clube, na casa de alguém ou numa viagem. A impressão que se tem àas vezes é de baderna. Todas querem falar ao mesmo tempo, todas querem uma solução diferente para o mesmo problema. Dessa vez elas eram uma turma de 8 mulheres, de 30 a 50 anos. Viajaram muito cedo do aeroporto de Bergen. O navio partiria às 14 horas de Oslo. Elas se dividiram em duas cabines, 4 mulheres em cada, mas na verdade umas iam para as cabines das outras para ficarem o máximo de tempo todas juntas. Não queriam perder nenhum flash.
Onde uma ia todas iam juntas, curtiram a piscina, saunas, cinema, jogos, cassino, shows musicais, músicas dos anos 60-90, discotecas, spa, com direito a massagem, tudo o que tiveram direito nessa viagem. Um bando de mulheres lindas, latinas soltas num barco curtindo a vida do jeito que podiam. Anya não precisava mais de nada. A viagem foi perfeita e ela até se sentiu mais animada. Não teve crises de choro, nem sentiu seu coração acelerar e nenhum tipo de falta de ar.
Capítulo 15
17 de setembro
A
nya conheceu um rapaz na disco do navio, um alemão, e até conversaram bastante, eles dançaram juntos, beberam, e até trocaram uns beijos, mas no final da noite Anya foi dormir com sua parceira, inseparável, de quarto, Magnólia. A peruana que Anya costumava ficar em sua casa toda vez que estava em Førde. Martin e Noah podiam acompanhar tudo o que elas estavam fazendo, pois ela os tinha como amigos em todas as redes sociais. Eles olhavam tudo em que era marcada ou as postagens que ela mesma publicava. Anya gostava muito de publicar seu dia a dia, por causa de sua família e amigos no Brasil. Martin não entendia isso. E a essa altura do campeonato, nem importava mais a opinião dele.
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A rotina foi a mesma no resto do mês de setembro. Anya dirigia, estudava, passava em seus testes na faculdade. Ensaiava suas danças e continuava a se encontrar com Noah. Eles ainda eram amigos. Não tinham se quer dado o primeiro beijo e Anya sentia que era de um amor assim que precisava. Algo mais sereno, sem paixões avassaladoras, sem pressa, sem desespero.
Anya tinha um casamento para ir, em 1º de outubro, e convidou Noah para acompanhá-la. Ela foi para a casa da noiva, ajudar a arrumá-la, com mais duas amigas, Magnólia e Edna. Anya levou um arranjo de cabeça para a noiva que havia comprado em Amsterdã. O arranjo era lindo! MinifloresMiniflores que enfeitavam os dois lados da cabeça, enquanto fios finos percorriam o cabelo. Ela escolheu aquela tiara a dedo, seria a que teria usado em seu casamento passado. Mas estava tudo bem, ela havia de fato superado isso. Para a sua surpresa nem lembrava que Stian Stian existia. Toda vez que alguém tocava no nome dele, era como se ela nem soubesse quem era, de quem estavam falando, mas é como se fosse um filme que ela havia assistido. Não parecia fazer parte das emoções dela. Nem parecia que tinha sido com ela.
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Anya encontrou Noah em frente ao local da festa. Ele estava muito elegante em um terno preto. O homem era muito bonito, todas as suas amigas achavam que era melhor que todos os ex de Anya, inclusive mais bonito que Martin. Naquele dia ele estava vibrantemente bonito. Era difícil não notar a beleza dele. Noah tinha os olhos azuis, quase cinzas, hora parecia mais verde, outra hora parecia mais cinza. Ela nunca sabia definir. Cabelos castanhos, quase dourados, sempre espetados para cima com gel. Ele a acompanhou até o salão de festas, pegaram os drinks de boas-vindas, cumprimentaram os noivos e se sentaram em seus lugares.
A festa de casamento foi realmente muito linda! Outra brasileira, chamada Thalia, havia organizado tudo com muito capricho. Quando todos os convidados chegaram, todos foram para fora, na praia, para tirarem as fotos, para só depois voltarem para a festa. Noah e Anya se sentaram um pouco de frente ao mar, ele sempre muito respeitador e muito carinhoso com ela. Os dois se beijaram pela primeira vez. Um primeiro beijo com um pôr do sol servindo de plano de fundo. Inacreditável! O dia estava perfeito, tudo estava perfeito.
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Noah não poderia ter se comportado melhor que nesse dia, nesse casamento com suas amigas. Ele sempre muito educado, muito enturmado, ela ficava de longe o observando. Ele conversava com todos os grupos, dos idosos aos adolescentes. Depois a tirou para dançar a noite toda e suas amigas fizeram diversos vídeos dos dois dançando. Ela se sentiu muito querida por ele naquele dia. E sentiu um pouco de arrependimento por não ter dado uma chance a ele antes. Mas tudo acontece no seu tempo.
Noah se enturmou com a banda, com suas amigas, no final do casamento estava no palco com a banda tentando tocar algumas notas, e sua amiga Magnólia super empolgada cantando com ele. Ao final da noite todos foram dormir na casa dos noivos. Anya iria dormir numa cama com sua amiga Mag, que elas se apelidaram de marida, por morarem juntas e estarem sempre juntas, enquanto Noah dormiria numa cama extra no mesmo quarto, mas ele prometeu que iria se comportar então ela o deixou dormir na mesma cama que ela. Ele realmente foi um cavalheiro, beijou-a na testa, virou de costas e dormiu. Isso a encantou! No dia seguinte todos os hóspedes tomaram café da manhã juntos e foram embora quase no mesmo horário, no final da tarde.
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A semana seguinte passou rápida e Anya mantinha uma boa amizade com Noah. Os dois estavam de acordo que queriam um relacionamento sério, que queriam se casar com a pessoa certa e construir um futuro juntos. Eles estavam se conhecendo melhor e Noah parecia muito apaixonado. Anya não lhe era indiferente, até desejava que o tivesse conhecido antes. Sabia que esse era o homem certo para qualquer mulher. Ele a admirava! Achava-a uma mulher muito forte por tudo o que enfrentava e resolvia sozinha. Ficava deslumbrado e sempre repetia que isso era incrível nela. Ela começou a dar aulas de zumba também em sua faculdade, e ele não entendia como ela arranjava tempo e energia para tudo, ela também tinha outras propostas nas academias locais de Førde. Ele trabalha numa escola de ensino médio, treinava todos os dias e ensinava futebol para as crianças. Quase nunca saía nos finais de semana, em Førde, mas sempre viajava para Askevoll, que ficava há duas horas da cidade. Era um interior com pouca população e onde seus pais moravam. Ele a convidou para ir com ele, mas ela tinha a apresentação de cancã em Bergen.
Martin costumava passar três semanas no mar e quando voltava do mar ia direto para o trabalho em terra, na base militar de Bergen, Håkonsvern Stiansvern no dia seguinte. Os dois se falaram novamente ao telefone, como faziam uma vez ou outra. Não falavam sobre voltar, mas sobre eles e o que estavam fazendo de suas respectivas vidas. Martin comentou que ele falava com ela porque ela era muito insistente e se enfronhava de uma tal maneira na vida dele que ele não sabia dizer não. Anya ficou tão chocada com as declarações que ela mesmo não entendia o porquê de continuar em contato com uma pessoa assim. Não entendia direito as reações dele. Tanto quanto ele como ela se ligavam, não era somente ela que o procurava, para vir dizer que ela era uma desesperada por ele e que ele jamais ia voltar para ela. Ela até brincava no telefone, perguntava se ele já havia superado ela em muitas camas, o clima sempre de brincadeira, ele perguntou se ela já havia estado com outro alguém e ela falou de Noah, falou que deu o primeiro beijo. E que os dois estavam cada vez mais próximos.
Depois dessa conversa ao telefone, na qual Martin foi mais agressivo em suas palavras do que de costume, onde repetiu que ela não conseguia superá-lo e estava muito frágil atrás dele o tempo todo, e somente por isso ele continuava a lhe dar atenção, Anya pediu um encontro num café no centro com ele. Ele aceitou. Falou que depois deapós tudo que viveram era normal que eles pudessem se sentar num café e conversar. Foram ao Bocca novamente. Anya estava lá esperando-o na parte de fora do pub, que ficava no segundo andar. Ele estava com sua jaqueta preta de couro, um boné de couro preto horroroso, e uma calças nada a ver com a jaqueta e os sapatos. Ela estava vestida para arrasar com ele. Claro que era de caso pensado. Os dois conversaram e Anya voltou do bar com bebidas para os dois. Conversa vai, conversa vem, o telefone dela toca e era Noah.
Ele falou:
— Atende.
Anya olhou o número e falou que depois ligaria de volta. Martin comentou que Noah estava ligando desde a hora que ela tinha ido ao bar.
— Tá bom, vou atender. Oi bebê. Tudo bem? Eu estou aqui num pub no centro de Bergen, conversando com um amigo. Sim, claro, está tudo certo para eu pegar você amanhã quando descer do barco. Está tudo bem? Também estou com saudades. Nos falamos mais tarde quando eu chegar em casa tá bom? Beijos.
Martin apertava os olhos e os lábios, aquela cara de insatisfação que só Anya podia decifrar.
— Quem está vindo amanhã para Bergen?
— Meu namorado. Vai ficar uma semana na minha casa, nessas férias de outono. Quer conhecer meus três filhos e meus amigos.
Martin não conseguia nem disfarçar o incômodo que havia sentido ao ouvir isso tudo. Ela conmtemplava aquela reação, vibrando por dentro e saboreando cada gesto corporal que passasse algum sinal de dor. Afinal, ele havia sido muito cruel com as palavras durante todo o tempo em que se falavam no telefone. Sempre concluindo alguma situação que a fazia sentir humilhada. Anya comprou bastante bebida para os dois. E ele estava bastante furioso. Começou a lhe fazer perguntas e ela respondia propositalmente com o tom mais leve que uma pessoa pudesse ter. Ao mesmo tempo, teve todo o cuidado para que ele não percebesse que ela estava fazendo tudo de caso pensado, pois no conceito dela, doeria muito mais se tudo parecesse natural. Ela era só uma humana com defeitos humanos. Ele a rebaixou, humilhou e falou que ela não conseguia superá-lo, enquanto ele já a havia superado há muito tempo. Era verdade que ela o amava e que estava sofrendo, mas estava tentando esquecê-lo, até estava tentando se aproximar de Noah, mas Martin falava como se ela estivesse sempre implorando para voltar para ele, e isso não era verdade. Anya não precisava provar nada para ele, na verdade nem deveria se importar com ele, mas vai entender as coisas do coração.
Chegou a hora de ir embora, sua amiga Naísa havia chegado no local, mas não ficou muito tempo e seguiu adiante. Ele tinha que viajar no dia seguinte para a Islândia com seus amigos. Os dois ficaram conversando em frente à tão famosa pedra azul na praça de Bergen, e já haviam se despedido várias vezes. Os dois se cumprimentando, tratando-se com muito carinho, abraçando-se durante um bom tempo, ela desejando boa viagem, bom divertimento:
— Tenha cuidado com as farras, não beba demais, use camisinha, e a gente vai se falando, Martin. Foi realmente muito bom ver você. Você não imagina o quanto — ela falou com aquele ar de missão cumprida. Ele estava inquieto, não conseguia formular o que queria. Começava, mas não terminava.
Bem, por ela o plano dela já havia sido concluído. Ela queria dar um tapa com luva de pelica bem no meio da arrogância dele, por ter sido tão petulante ao telefone por diversas vezes. Referindo-se a ela como se estivesse jogada às traças, estivesse na rua da amargura, como se não estivesse vivendo à diante, apenas esperando por ele. Para ela, pelo menos, Martin ter visto e ouvido, quando falou de seu novo namorado, quando na verdade sabia que ele veio ao encontro pensando que ela iria implorar por ele, para ela foi uma massagem de spa em seu ego.
Ele desenhava as curvas do corpo dela em cada abraço apertado e ela retribuía o favor. Deixava-o sentir o calor de sua pele e ver o desespero dele estampado no rosto. Até que não resistiu e a convidou para ir à casa dele. Ela sorriu o mais inocente que conseguiu e falou que não podia, que tinha namorado. Na verdade, ela não tinha namorado. Era solteira e estava conhecendo Noah mais de perto, mas disso, Martin não precisava saber naquele momento. Os dois ficaram ali na praça, os seguranças dos pubs os observando e os dois num agarramento que não terminava nunca, uma despedida sem fim. Ela pensou em todas as palavras que ele disse nos últimos tempos e pensou na mulher do dia da briga de Landmarka, essa que ele dormira com ela uma semana depois deapós terminarem, lembrou do papelão que ele fez e a fez fazer mostrando o dedo.
Ela pensou: — Está tudo bem não está, Martin? Você fodeu com meus sentimentos, com minha mente, com meu orgulho, mas a louca neurótica sou eu, que sou latina, você é que é o norueguês, calmo, frio, tranquilo, nunca faz nada de propósito, a culpa é sempre da outra pessoa. Pois bem, quer transar? Depois de tudo quer se esvaziar em mim como se eu fosse um depósito de esperma? Bem, estava satisfeita somente com o encontro no pub, mas sabe de uma coisa, sempre podemos improvisar e prolongar a tortura. Melhor fechar com chave de ouro!
Então ela aceitou ir para a casa dele. Ela sabia que não iria fazer sexo com ele. Ela aceitou ir porque sabia que ele viajaria no dia seguinte e que a semana que ele estaria fora na Islândia com os amigos, não conseguiria parar de pensar em Noah na casa dela com os filhos e aos amigos dela. Os mesmos amigos que ele havia rejeitado. No caminho até a casa dele, no táxi, Martin segurava a mão de Anya. Sempre muito gentil quando estava louco por uma boa noite de sexo em alguma situação que o deixasse excitado. Chegando na casa dele os dois beberam mais um pouco e ela foi se deitar, disse que estava bêbada, que estava muito mal. Ele até bateu uma foto dela caída na cama. Então ela adormeceu. Ela sentia a inquietação dele, ouvia a respiração dele, mas nem se movia para não dar a chance dele à a atacá-laar.
No dia seguinte ele fez café da manhã e os dois falaram sobre a noite anterior. Ela se desculpou por ter ido, disse que bebeu demais, por isso concordou, mas que não era certo, que tinha um namorado. Martin ficava louco cada vez que ouvia isso! Falou que ela tinha que terminar com o namorado e os dois conversariam quando ele voltasse da viagem. Anya então explicou que não dava, que seu namorado já estava a caminho de Bergen, e que não era justo com ele. Martin passou a mão na cabeça, não sabia o que dizer, estava quase atrasado para a viagem e nem tinha o direito de se aborrecer ou de cobrar algo. Embora quisesse, não conseguia. Ela ficou lá, com ele, até a hora que fez suas malas, arrumou-se. Comeram juntos, até ele ser apanhado, de carro, por uma mulher que ficou observando os dois, ela não sabe se era a mãe dele ou a mãe de algum dos amigos que iria viajar com ele.
8 de outubro de 2016, sábado. Finalmente chegou o grande dia da apresentação de cancã e samba que as cinco amigas tinham se dedicado tanto a ensaiar. Palco montado, convidados a postos, tudo pronto. Elas tinham camarim, frutas e champagne. Luzes, espelhos, cabides para as fantasias. Sua amiga Clara havia feito tudo nos mínimos detalhes, e acima de tudo com muito amor por seu marido. Essa seria não só uma homenagem de brasileiras para os demais convidados, mas uma declaração de amor de Clara para seu marido Ola. Ao chegar no local Anya usava com um vestido de época, em tecido marfim, cheio de babados brancos e uma calda. O traje tinha um corset embutido e usava também um chapéu de cowboy e uma pistola. Suas botas faziam parte do traje, convertido com véu e veludo da mesma cor do vestido. A decoração da festa estava deslumbrante, um dos detalhes eram sacolas de dinheiro, estilo velho oeste, espalhados pelo chão, próximo ao mural de fotos. Os convidados
4 de novembro de 2016, sexta-feira. Anya estava em seu quarto, em casa, no terceiro andar. Rodeada de livros e com o minilaptopminilaptop que Martin emprestou para ela escrever seus artigos da escola. Quando de repente sem ela menos esperar ele entrou porta a dentroadentro. Ela ficou muito surpresa, jamais esperava ele ali, ele não avisou nada que estava voltando do mar. Ele estava fardado, com seu uniforme azul de marinheiro, pôs sua mochila no chão e a puxou pelo os pés de uma tal forma que ela veio parar na borda da cama. Ela estava usando um de seus vestidos de casa e ele se ajoelhou tão rapidamente e levantou a roupa dela retirando-a do seu caminho, rasgando a calcinha dela em mil pedaços em frações de segundos, que ela não sabia como reagir. Antes que ela terminasse a frase “Eu quero tomar um banho antes”, já estava sentindo aquela boca quente e molhada entre suas pernas, sugando com tanta vontade, como se nunca tivesse feito aquilo antes na vida, que ela mal c
19 de dezembro de 2016, segunda-feiraDe volta à rotina de Bergen, Anya foi comer sushi com os filhos, eles adoravam fazer programas juntos, ir ao cinema, restaurantes, viajar e passavam horas conversando sobre todos os assuntos. Martin a encontrou mais à noite para assistirem Star Wars no cinema. De longe, pareciam o casal perfeito, ela fazendo gracinhas, ele rindo das tonteiras dela, sempre tirava fotos dela e quem via de longe não poderia imaginar que havia uma sombra ameaçando os dois. Anya sentia como se ele escondesse algo em seu coração. Sabe aquele velho ditado: faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço? Ele falava que estava tudo bem, às vezes aparentava estar satisfeito, mas em certos momentos parecia que a máscara iria cair. Do jeito que ela era gentil, era capaz de apanhar a máscara para ele pôr de volta. Ele parecia estar de malu humor no cinema. Ela tentava quebrara o gelo: — Ah, eu sei que nenhum outro filme vai ser como no dia que viemo
8 de janeiro de 2017, domingoDepois de uma semana de muito cansaço para organizar o ninho de amor do casal, finalmente um dia de descanso, sem móveis para montar, sem nada para fazer. Anya e Martin só queriam curtir o seu domingo de paz e silêncio jiboiando de frente à tv e achar alguma coisa interessante para assistirem, quando de repente o telefone de Anya tocou. Martin estava na cozinha terminando de preparar o almoço. Ela atendeu o telefone. Era uma menina que morava em Portugal, mas que às vezes estava em Bergen, uma amiga de uma amiga de uma amiga de outra amiga. Anya não a conhecia, e nem era sua amiga, mas já estivera com ela algumas vezes na companhia de outras pessoas. O nome dela era Fiona. Ela estava pedindo um enorme favor para Anya, contou uma história mal contada, dramática, falou que tinha vindo de Portugal encontrar alguém em Bergen, e que havia acontecido um desentendimento por conta de ciúmes, então ela tinha ficado na rua, com fome, cansada, com f
Omês de fevereiro chegou ainda mais rápido para ajudar os dois a superar as negatividades e os altos e baixos dessa relação. Em 14 de fevereiro, Dia dos Namorados na Noruega e em muitos outros países da Europa e USA – diferente do Brasil que comemora o Dia dos Namorados em 12 de junho. Anya já tinha reservado bilhetes para assistirem a à estreia do segundo filme de Christian Grey, para eles dois e um casal de amigos que moravam no centro de Bergen, perto do cinema. Martin a convidou para jantar no restaurante preferido dela, para se encher de comer sushi até não aguentar mais. Depois foram para a casa do outro casal que iam acompanhá-los ao cinema, Dalila e Kalib.Chegando na casa de Dalila, ela ainda não estava pronta e todos se sentaram na sala e esperando Kalib chegar do trabalho. O namorado dela estava sempre trabalhando. Quando Dalila saiu de seu quarto, trouxe com ela uma enorme cesta de presentes, coberta com um plástico transparente e amarrada com um laç
Quando Anya tinha tempo para ficar em casa, depois deapós ter lido muito para alguma prova da escola, ela ainda encontrava tempo para ter ideias, como, por exemplo, fazer um aniversário surpresa para Martin. Isso mesmo. Estavam no mês de fevereiro e ela resolveu entrar em contato com a mãe, o pai e o irmão para ouvir suas respectivas opiniões. Todos concordaram e gostaram muito da ideia. Todos se disponibilizaram a ajudá-la, inclusive Marcus , o melhor amigo de Martin que morava na casa dele.Anya adorava participar desse tipo de surpresa. Ela era muito detalhista e criativa. Suas amigas sempre contavam com ela quando se tratava desses assuntos, pois sabiam que ela se alegrava até mais que os aniversariantes. Ela entrou em contato com todos os amigos da lista que Marcus criou, eles fizeram um grupo no Facebook e convidaram todos que podiam. Ela queria uma festa grande, ele estaria completando 31 anos de idade, e como na Noruega as pessoas costumam comemorar a festa d
Anya estava engajada em sua vidinha de mãe solteira moderna. Trabalhando e estudando 4 dias por semana. Embora uma semana tivesse só sete, ela transformava a quinta-feira em dois dias, ficava na faculdade até meio-dia e dirigia de 2 horas e meia a três para estar no trabalho em Bergen, às 15 horas da tarde do mesmo dia. Por sorte seus filhos já eram grandes, quase 17 e 16, já que o de 10, Elias, morava com o pai. Anya também sempre tinha alguém adulto morando com ela para ajudá-la com as crianças em sua ausência. Nas sextas-feiras, sábados e domingos geralmente ela trabalhava a noite e podia dormir até tarde no outro dia. Assim como foi esse fim de semana após dias sem notícias alguma de Martin, isso foi até o dia 16 de março, uma quinta-feira. Anya saiu do trabalho, no centro de Bergen, que ficava bem atrás da estação de trem, e foi visitar sua amiga Dalila, a mesma que tinha um apartamento na rua do cinema. Anya estava bem, sorridente, descontraída, quando o telefone dela tocou e
Dia 31 de março de 2017, sexta-feira à noite. Martin e Anya viajaram juntos pela primeira vez depois do término. Eles iriam dormir em Oslo para pegar um avião para Faro no dia seguinte pela manhã cedo. Era a primeira vez deles num avião e isso estava fazendo com que Anya agisse como uma criança numa confeitaria podendo escolher o doce que quisesse. Anya levava uma mala preta de bolinhas brancas que comprou na Alemanha, num cruzeiro de final de semana, no ano anterior. Martin por sua vez estava levando uma mochila das forças armadas, algo grotesco, muito alto, muito pesado, que ele tinha que carregar nas costas, e era verde. Anya não aguentava olhar para aquilo. Ela estava até mesmo envergonhada de ver Martin andando pelos aeroportos carregando aquela mochila de acampamento que era mais alta que a cabeça dele. Os dois riam muito dos comentários dela, ela fazia vídeos dele andando como um robô com aquela mochila imensa verde. Em Oslo os dois foram para um hotel a pouco