Alfredo deu um passo, ainda com o olhar no chão:
– Gabriel, me desculpe por tê-los abandonado, eu fui a São Paulo procurar emprego, além de não conseguir o trabalho eu fui roubado, fiquei sem dinheiro e documentos, acabei ficando na rua como mendigo, sem poder voltar. Eu sei que fui totalmente errado, só gostaria que você me perdoasse.
Alfredo mal conseguiu terminar as palavras e começou a chorar, as lágrimas lhe escorrendo pelo rosto.
Gabriel tomou a palavra:
– Não precisa se desculpar, pelo que vejo você não foi culpado, foi um acidente!
Mara retirou uma caneca de alumínio de uma das quatro bocas de seu belo fogão branco, derramando-a o restante da água que nela fervia sobre o pó de café que estava no coador sobre o bule na pia de granito da cozinha. Ficou olhando até que toda a água filtrou, deixando apenas uma borra de pó de café úmido dentro do coador. Tirou o coador de cima do bule, despejou o café em uma garrafa térmica até enchê-la e fechou-a com tampa. Ainda do bule, despejou um pouco em um copo de vidro e começou lentamente a degustá-lo em pequenos goles, olhando pelo vitrô aberto da cozinha, vendo apenas o muro que separava a edícula alugada da casa dos proprietários à frente, seus pensamentos iam muito, mas muito além daquele pequeno espaço físico entre ela e o muro. Não havia pressa; era manhã ensolarada de domingo, era seu abençoado dia de folga, uma merecida folga depois de uma semana cansati
Mara bebeu o último gole de café em meio a esses pensamentos, lavou o copo e depositou-o sobre o escorredor de louças. Pegou outro copo limpo, abriu novamente a garrafa térmica e mais uma vez derramou café no copo. Então abriu o armário, alcançou a lata de leite em pó instantâneo e o açúcar, colocou uma colher de cada um dentro do copo com café e mexeu com a mesma colher até a mistura ficar homogênea; apossou-se de um pãozinho, abrindo-o com uma faca de serra e passando margarina com a mesma faca nas duas partes do pão. Esticou o braço, alcançando a sanduicheira, abrindo-a e acomodando-as duas partes do pão lá dentro, fechando-a e introduzindo o plugue na tomada acendendo uma luz vermelha na parte de cima da sanduicheira.Ficou aguardando aquecer o pão, ouvindo alguns estalinhos, até que uma luz ve
Mara ajudou a mãe com as tarefas caseira, agora havia um misto de alegria no seu coração, e a canseira pelas noites passadas às claras chegou; então ela foi dormir cedo, não viu seu pai chegar. A noite passou em um segundo, ela apenas acordou quando o despertador começou a tocar, arrumou-se e seguiu para a escola. Quando chegou, suas amigas estavam em um grupo do lado de fora a esperando; mal ela se aproximara e elas a rodearam com dezenas de perguntas. Mara as respondeu com sinceridade, mas a maioria não acreditou, pensavam que ela estava blefando, a maioria dos moços já iam perguntando se elas tinham namorado; se queriam ficar e estas coisas, agora este moço parecia demais equilibrado, procurando fazer amizade,falando de si sem perguntar nada, estava muito estranho. Quando soou a sirene após a ultima aula, Mara seguiu suasamigas como de costume. Atravessava o pátio quando alguém disse:
Mara não dormiu, pensando em Alfredo, em como poderia avisá-lo de sua ausência na escola; por fim chegou à conclusão que não tinha outra saída, principalmente porque ela sairia bem cedo, viajaria no mesmo circular com sua mãe e seu pai. O jeito era esperar que Alfredo, ao perceber sua falta, apenas esperasse a sua volta à escola no dia seguinte. Caso ele viesse à sua casa, ela tentaria explicar para a mãe que eram apenas amigos do mesmo grupo de trabalho escolares. Mesmo assim o sono não veio, até que sua mãe a chamou na porta do quarto, dizendo que se levantasse e se aprontasse para saírem.Ainda estava muito escuro, ao ponto de não se ver outra pessoa. Próximo na calçada, seu pai co
Saíram do hospital em direção ao ponto de ônibus de volta para casa, em silêncio, elas pareciam que estavam indo ao velório de um parente próximo. Mara estava chocada, não acreditava; o circular passava rua por rua, praça por praça, cada vez se aproximando mais de casa. Por um lado, Mara estava alegre, desejava muito ver Alfredo. Depois de uma viagem longa chegaram, já estava entardecendo, a terra deixava escapar os últimos raios solares vermelhos alaranjados no poente, semelhante a um animal feroz que vai engolindo um pássaro e ficam faltando apenas as últimas penas das asas.Elas entraram em casa, Mara foi direto ao seu quarto, ela não sentia fome; além do mais, teriam que conversar com seu pai, o que não era tarefa fácil. Ela preferiu deixar para sua mãe, que tinha um jeitinho especial para essa
Depois do almoço, Mara ajudou sua mãe nas tarefas domésticas. Por fim foi para seu quarto, o sono veio, ela não viu seu pai, acordou apenas de manhã para ir à escola.Na escola ela não viu Alfredo na entrada, certo temor começou a tomar conta de si, mas ela pensou, bobagem, ele pode ter se atrasado e entrará na segunda aula. Ela estava ansiosa pelo horário do recreio quando eles se encontrariam, mas no intervalo do recreio ela não o encontrou em parte alguma. Perguntou a alguns alunos da classe de Alfredo, e eles informaram que ele havia faltado.As últimas aulas foram um tormento, ela via os professores à frente da classe, mas não os ouvia, e o horário parecia uma eternidade, as horas não passavam, seu pensamento vagava. Por fim a sirene tocou anunciando o fim das aulas naquele pe
Mara sentia o vento agradável no rosto fazendo seus cabelos passarem dos ombros para as costas, às vezes o sentia forçar o guidão para fazer uma curva à direita ou à esquerda, e ouvia durante todo o trajeto ele assobiar uma canção que ela nunca soube a letra, talvez uma canção da época de sua juventude. Primeira parada, como um ritual, a sorveteria, depois de descerem e se aproximarem do balcão, ele dizia para ela escolher quantas bolas de massa e o sabor do sorvete. Ele escolhia o seu e ambos sentavam-se em cadeiras plásticas brancas do lado de fora sob uma cobertura metálica, onde podiam ver o movimento na rua. Quando terminavam, ele sempre a orientava a não dizer nada para sua mãe a respeito do sorvete, Dona Abigail não aprovava que Sr. José desse sorvete a Mara; ela afirmava que esse era o motivo de Mara estar às vezes gripada. Montava-se novamente na bicicleta e a próxima parada era o supermercado, e, com algumas sacolas pl
Cautelosa, Abigail ia aos poucos tecendo um sábio diálogo, era como suas costuras na máquina, ela começava costurando as beiradas dos tecidos e por fim formava-se uma bela peça de roupa, e ela esperava com aqueles comentários amenizar o choque que José sofreria ao saber da novidade, pois ele amava demais a filha única e era capaz de fazer o impossível para ver o sorriso espontâneo no rosto de sua amada Mara. Depois de muitos rodeios, Abigail disse:– José, sabe aqueles exames que eu levei Mara para fazer? José se impacientou, moveu-se rápido no sofá e instantaneamente indagou: