Padrinho quando ainda criança viu seu pai implorar para não ser assassinado por causa de uma dívida contraída em jogos de baralho, mas os assassinos não o perdoaram – pelo contrário, tiraram-lhe a vida na maior das brutalidades possíveis. Padrinho guardou uma mágoa dentro do peito em relação a marginais, sua mãe lutava para sobreviver e cuidar dele, mas as condições eram adversas, eles foram morar em um barraco na favela, então ele começou com outros amigos de rua a vender doces nos trens que saiam da central do Brasil, com o pequeno lucro ele ajudava sua mãe. Na adolescência ele vendia os doces nos trens de dia e se esforçava para estudar à noite, foi quando ele se inscreveu para o concurso da PM, e, com muito esforço, ele foi aprovado. Seu sonho era alugar uma casa na cidade e cuidar de sua mãe, mas ela foi contaminada por uma doença rara, e não resistiu. Padrinho passou a ter horror de favelas por causa das lembranças de sua
Foi duro terminar aquele dia, quando padrinho chegou a seu quartinho, sentou-se desorientado na cama. Ele nunca havia chorado em sua vida, nem mesmo quando viu seu pai de joelhos implorando para que seus algozes não o matassem, quando sua querida mãe partiu, mas agora um nó terrível se instalou em sua garganta, e as lágrimas rolaram por longo tempo no seu rosto. Ele tinha se esforçado ao máximo, além da ginástica obrigatória no batalhão, ele treinara artes marciais e montanhismo, tudo para servir melhor a sociedade, ele pensou, estavam perseguindo ladrões, assassinos, e eles não entraram em área proibida por negligência, fora um acidente que custou a nobre vida de um companheiro, ele não esperava elogios do comandante, mas pelo menos uma satisfação por vê-lo vivo ele passou uma noite inteira mergulhado naquele mangue fedorento para salvar a sua vida e parecia que se ele tivesse morrido no carro seria menos problema para os seus
Padrinho viu que havia potencial em Lucy e ensinou com prazer tudo sobre artes marciais, tiro ao alvo, manejo de armas brancas, além de ensiná-la também sobre montanhismo. Agora, passados cerca de dez anos, ele estava sentado no mesmo salão de ginástica, olhando a jovem que um dia lhe devolveu a razão de viver, arrumando seus apetrechos para ir se suicidar.– Qual é o plano? – Insistiu padrinho. – Eu, eu estou pensando em dar uma fugidinha para escalar umas montanhas, sabe, pra espraiar um pouco a cabeça! – Lucy! Exclamou padrinho, arrastando o nome, em um gesto indicando que ele sabia perfeitamente o que
Lucy deitou-se apesar de ser alta madrugada não conseguiu dormir. Betão estava acarretado de problemas para resolver, seu tempo estava escasso, mas ele desejava ter uma conversa seria com Gabriel, gostaria de saber quais a verdadeiras intenções, porque dependendo de Lucy ele percebeu que ela estava totalmente apaixonada. Quando Nice e Lucy estavam prontas para sair em direção ao hospital, Betão anunciou que as seguiria em seu automóvel, e depois seguiria para os seus compromissos. Chegando ao hospital, como era particular, eles apenas receberam crachás de identificação, entraram no elevador, seguiram, tendo Lucy à frente. Nice, segurando o braço de Betão, orientava Lucy, ora dizendo à direita, ora dizendo à esquerda. Depois de um extenso corredor, Betão alertou a Lucy que seria o quarto trinta e três, quando chegaram à porta do quarto estava semiaberta e ouviram vozes vinda do interior. Assim que olharam para dentro avistaram do
Lucy virou as costas, saiu passando pela porta pisando duro e seguiu pelo corredor em direção à saída do hospital, sendo seguida em passos largos por Nice. Betão permaneceu no mesmo lugar e ouviu Gabriel em uma chupanga como se fosse um animal feroz ferido.– Merda, merda, merda, droga seria melhor não ter se esforçado tanto e ter morrido lá! O silêncio que se instalou foi estarrecedor, Betão resolveu entrar no quarto para ver o que estava acontecendo, e viu Gabriel quase sentado na cama, com o travesseiro nas costas, encostado à cabeceira da cama, o enorme cabelo em total desalinho, as lágrimas escorrendo pelo rosto umedecendo a espessa barba. Betão o cumprimentou: – Oi, e aí, tudo bem?
Chegando à portaria do hospital, ela se identificou e forneceu o nome de seu filho, solicitando o direito de visitá-lo. Depois que a recepcionista anotou seus dados, forneceu-lhe um cartão de visita para ser fixado no peito e lhe orientou como chegar ao quarto. Terminado o elevador ela entrou em um longo corredor, virou à direita e à esquerda, perguntou a algumas enfermeiras que passavam e foi novamente orientada até que chegou a um amplo quarto onde estava uma única cama e Gabriel deitado sobre ela. Mara correu até seu filho e o abraçou, por um longo tempo se ouvia apenas o soluço, e via-se ela enxugando as lágrimas, por várias vezes, ela ficava apenas olhando para o rosto de Gabriel até que a emoção foi passando. Ela comentou sobre o cabelo comprido e a espessa barba, mas ele prometeu que assim que pudesse se livraria dos dois. Conversaram por um longo tempo até que alguém apareceu avisando que a visita estava terminando. Depo
Mara terminou a vista a Gabriel percebendo que ele estava bem melhor, e com toda certeza ele iria para casa logo, o que encheu seu coração de alegria. Como de costume deixouo necessário, despediu-se e seguiu pelo corredor em direção à portaria do hospital, cumprimentando guardas, enfermeiras, as recepcionistas. Depois de alguns quarteirões, alcançou o ponto de ônibus, não esperou muito e já apareceu o circular com destino ao bairro Novo Horizonte. Ela embarcou, e, depois de passar a catraca e pagar a passagem ao cobrador, escolheu um assento à janela, e desligou-se do mundo. Seus pensamentos eram lembranças dos últimos dias, o prazer de ter seu filho são e salvo de volta. Depois de uns quarenta minutos no circular em movimento, mais parecendo um barco sendo balançado pelas ondas do mar, o ponto de descida de Mara se aproximava. Ela
Alfredo deu um passo, ainda com o olhar no chão:– Gabriel, me desculpe por tê-los abandonado, eu fui a São Paulo procurar emprego, além de não conseguir o trabalho eu fui roubado, fiquei sem dinheiro e documentos, acabei ficando na rua como mendigo, sem poder voltar. Eu sei que fui totalmente errado, só gostaria que você me perdoasse.Alfredo mal conseguiu terminar as palavras e começou a chorar, as lágrimas lhe escorrendo pelo rosto.Gabriel tomou a palavra:– Não precisa se desculpar, pelo que vejo você não foi culpado, foi um acidente! Mara retirou uma caneca de alumínio de uma das quatro bocas de seu belo fogão branco, derramando-a o restante da água que nela fervia sobre o pó de café que estava no coador sobre o bule na pia de granito da cozinha. Ficou olhando até que toda a água filtrou, deixando apenas uma borra de pó de café úmido dentro do coador. Tirou o coador de cima do bule, despejou o café em uma garrafa térmica até enchê-la e fechou-a com tampa. Ainda do bule, despejou um pouco em um copo de vidro e começou lentamente a degustá-lo em pequenos goles, olhando pelo vitrô aberto da cozinha, vendo apenas o muro que separava a edícula alugada da casa dos proprietários à frente, seus pensamentos iam muito, mas muito além daquele pequeno espaço físico entre ela e o muro. Não havia pressa; era manhã ensolarada de domingo, era seu abençoado dia de folga, uma merecida folga depois de uma semana cansatiCapitulo 1