Depois do almoço, Mara ajudou sua mãe nas tarefas domésticas. Por fim foi para seu quarto, o sono veio, ela não viu seu pai, acordou apenas de manhã para ir à escola.
Na escola ela não viu Alfredo na entrada, certo temor começou a tomar conta de si, mas ela pensou, bobagem, ele pode ter se atrasado e entrará na segunda aula. Ela estava ansiosa pelo horário do recreio quando eles se encontrariam, mas no intervalo do recreio ela não o encontrou em parte alguma. Perguntou a alguns alunos da classe de Alfredo, e eles informaram que ele havia faltado.
As últimas aulas foram um tormento, ela via os professores à frente da classe, mas não os ouvia, e o horário parecia uma eternidade, as horas não passavam, seu pensamento vagava. Por fim a sirene tocou anunciando o fim das aulas naquele período daquele dia, e Mara saiu o mais rápido possível. Ela sabia o que teria de fazer, rumou para a casa de Alfredo. Chegando lá, Mara bateu palmas no portão, e uma senhora aparentando a mesma idade de sua mãe saiu e veio até o portão, Mara a interrogou:
– A senhora é a mãe do Alfredo?
– Sim, sou!
– E onde ele está? Ele não foi à escola hoje!
– É, ontem à tarde ele saiu, quando voltou, me pediu que arrumasse sua bolsa, pois um amigo estava indo a São Paulo atrás de um emprego em uma empresa e que levaria ele também!
– Então ele está em São Paulo?
– Eu acredito que sim, meu filho tem muitos defeitos, mas este de mentir, eu posso afirmar que ele não tem!
– Ele deixou algum telefone?
– Não, minha filha! Apenas me disse que assim que tivesse boas noticias, me ligaria no telefone da casa da vizinha!
– Sabe o nome da empresa que ele foi procurar emprego?
– Ele não me disse!
– Sabe o nome e onde mora o amigo dele?
– Oh, minha filha, não sei não! Ele chegou correndo comeu alguma coisa, enquanto eu arrumava a roupa na sua bolsa, e saiu correndo!
– Então não tem como entrar em contato com ele?
– Só quando ele ligar, se eu o conheço ele vai ligar logo, creio que esta semana ainda!
– Está bem, caso ele ligue, diga que a Mara esteve aqui!
– Mara, eu digo sim!
Mara chegou à sua casa mais tarde do que o costume. Sua mãe já estava ansiosa por sua demora.
– O que aconteceu, Mara?
– Mãe, eu tive que ir à casa do Alfredo!
– Por quê?
– Ele faltou à escola hoje.
– Ah, meu Deus, Mara, não me diga que ele te abandonou!
– Não, mãe, eu fui á casa dele e sua mãe me disse que ele foi atrás de um emprego com um amigo em São Paulo!
– Ele disse o nome da empresa que iria?
– Não, mãe, ele saiu às pressas!
– E o nome e endereço do amigo?
– Também não, mãe!
– Mara isto está muito esquisito, me passa o endereço que eu vou conversar com essa mulher!
Abigail vestiu outras roupas e saiu às pressas em direção à casa de Alfredo para ter um diálogo mais sério com a mãe dele, com a intenção de voltar bem antes que José chegasse. A casa fi-cava do outro lado do mesmo bairro, uma casa simples alugada. Ela bateu palmas e a mesma senhora saiu para atender o portão.
Abigail disse que gostaria de falar em particular e a senhora a convidou para entrar.
Já estava começando a escurecer quando Abigail retornou. Mara já havia arrumado a casa e preparado o jantar, Abigail jogou-se de costas no pequeno sofá, soltando a respiração, como se todos os problemas fossem embora com aquela ação. Mara, apreensiva, indagou:
– E lá mãe como foi?
– Minha filha, a mulher parece sincera, ela não sabia que vocês estavam namorando, e muito menos da gravidez! Não há como localizar seu namorado, o jeito é esperar! Ela me disse que espera um contato ainda esta semana! É bom que seja esta, semana porque semana que vem terei de contar ao seu pai!
Mara ficou deslocada tanto em casa como na escola, sentindo muito a falta de Alfredo. Durante os intervalos dos recreios, ela ficava com suas amigas, porém nunca lhes disse nada sobre sua gravidez. Quando lhe perguntavam sobre seu namorado, ela apenas se limitava a dizer que ele arrumara um bom emprego em São Paulo e que terminaria os estudos no próximo ano letivo. Sua vida durante aquela semana se limitara a sair ao término das aulas, ir até a casa de Alfredo em busca de informações; sua agora então sogra Jandira, uma mulher magra, morena clara, uma pele que deixava em dúvida se aquela era sua cor era natural ou excesso de exposição ao sol. Suas vestes simples como a de milhões de pessoas no mundo, e destacava-se apenas pelo lenço que estava constantemente amarrado em sua cabeça escondendo a cor e o tipo de cabelo que possuía.
Apesar da apreensão pela falta de notícias do filho, mostrava-se muito amável e receptiva, sempre convidava Mara para entrar e tomar uma xícara de café, com muitas histórias de experiências vividas, que na maioria das vezes terminavam com
um final feliz, com isso insinuando que Mara também teria seu final feliz com Alfredo. Ela sempre destacava o caráter e as qualidades de seu filho, que era a mais pura das verdades; como ele não perdia a oportunidade de fazer algum tipo serviço avulso, como ajudante na jardinagem, servente de pedreiro, descarga de caminhões; servindo em bares, lanchonetes, etc., para ajudar o pai, que era muito trabalhador, porem o salário era insuficiente para as despesas diárias da casa, assim procurava tranquilizá-la.
Em casa sua mãe apreensiva indagava-a buscando novas notícias; eram sempre as mesmas, Alfredo ainda não ligara.
Conforme os dias foram passando, e o final de semana se aproximava, aumentava a apreensão de Mara, primeiro pela falta de notícias de Alfredo e, segundo, pois sua mãe teria de contar ao seu pai, e a dúvida sobre como ele reagiria ante aquela notícia. Mara era filha única e sabia as qualidades de seu pai e o amor que ele demonstrava por ela. Apesar do salário na empresa ser bem pequeno, ele se esforçava para suprir todas as necessidades da casa, e proporcionar o máximo de conforto para sua mãe e principalmente para ela. Como pedreiro, Sr. José, além de trabalhar durante a semana na empresa, aceitava alguns pequenos serviços ou alguma reforma nas residências do bairro para fazer nos finais de semana. Mara desde pequena adorava acompanhá-lo, e ficava a certa distância, sentada sobre uma lata ou um tijolo que ele arrumava. Ela o ficava admirando durante a execução dos serviços; assentando portas e janelas, às vezes com uma marreta e uma talhadeira quebrando paredes, às vezes jogando massa nas paredes, ora colocando massa no chão sobre a terra e igualando com uma régua, às vezes colocando piso cerâmico e azulejos. Ela admirava como seu pai colocava a cerâmica em uma pequena máquina fazer um simplório risco e como em um passe de mágica o separava em dois pedaços. Às vezes ele ligava uma pequena máquina com um barulho estridente, pedia-lhe que se afastasse e ao encostar a máquina nas cerâmicas, mesmo que uma pequena mangueira jogasse água no disco, subiam nuvens de poeira que se espalhavam pelo ar, e no chão ficavam poças de água barrenta. Ao término dos trabalhos ele recolhia as ferramentas, lavava-as e as acomodava em uma caixa plástica fixada à traseira da bicicleta. Normalmente as ¶
¶pessoas entregavam algum dinheiro diretamente a ele pelo serviço, valor que Mara nunca soube ao certo. Depois ele a colocava sentada de lado no quadro da bicicleta, ela segurava com as mãos o guidão, ele então montava, dizendo pronto minha princesa, ela balançava a cabeça afirmando estar preparada e ele começava a pedalar.
Mara sentia o vento agradável no rosto fazendo seus cabelos passarem dos ombros para as costas, às vezes o sentia forçar o guidão para fazer uma curva à direita ou à esquerda, e ouvia durante todo o trajeto ele assobiar uma canção que ela nunca soube a letra, talvez uma canção da época de sua juventude. Primeira parada, como um ritual, a sorveteria, depois de descerem e se aproximarem do balcão, ele dizia para ela escolher quantas bolas de massa e o sabor do sorvete. Ele escolhia o seu e ambos sentavam-se em cadeiras plásticas brancas do lado de fora sob uma cobertura metálica, onde podiam ver o movimento na rua. Quando terminavam, ele sempre a orientava a não dizer nada para sua mãe a respeito do sorvete, Dona Abigail não aprovava que Sr. José desse sorvete a Mara; ela afirmava que esse era o motivo de Mara estar às vezes gripada. Montava-se novamente na bicicleta e a próxima parada era o supermercado, e, com algumas sacolas pl
Cautelosa, Abigail ia aos poucos tecendo um sábio diálogo, era como suas costuras na máquina, ela começava costurando as beiradas dos tecidos e por fim formava-se uma bela peça de roupa, e ela esperava com aqueles comentários amenizar o choque que José sofreria ao saber da novidade, pois ele amava demais a filha única e era capaz de fazer o impossível para ver o sorriso espontâneo no rosto de sua amada Mara. Depois de muitos rodeios, Abigail disse:– José, sabe aqueles exames que eu levei Mara para fazer? José se impacientou, moveu-se rápido no sofá e instantaneamente indagou:
Já eram altas horas quando ela, ainda acordada, ouviu o barulho dele chegando. Sua mãe foi recepcioná-lo na porta da sala, carinhosamente mostrando preocupação e o indagando sobre o horário, porém ele se limitou a dizer asperamente que estava chegando naquele horário porque esperava que todos estivessem dormindo. Ele novamente deixou claro que não desejava de maneira alguma ver Mara novamente, e aproveitou para indagar a mãe sobre quando Mara desocuparia a casa. Elas novamente passaram a noite em claro, e, pela manhã antes que ele fosse ao trabalho, Mara ouviu seu pai indagar asperamente sua mãe se Mara sairia da casa naquele dia. Sua mãe tentou dialogar sobre a dificuldade do moço que fora a São Paulo procurar um emprego, mas Sr. José não permitiu que Abigail terminasse a exposição, cortando-a asperamente com um grito, coisa que ele nunca fizera em toda vida de casado, bradou dizendo:
Sua mãe não esperou mais que um segundo, saiu novamente pela porta da sala para a calçada, esperou Mara fazer o mesmo, já trancando a porta por fora e saindo em passos rápidos, seguida de perto por Mara. Muito rápido chegaram e pararam no ponto de ônibus do bairro; não houve diálogo até entrarem no circular, passarem pela catraca que estava sendo vigiada por um cobrador obeso, de cabelo encaracolado negro e um espesso bigode, vestido com o uniforme da empresa, que só fez um pequeno gesto de simpatia após o recebimento do dinheiro referente às duas passagens. Mara percebeu sua mãe procurando assento bem ao fundo no circular, com certeza ela esperava aproveitar o tempo sentadas inertes durante a viagem para lhe explicar o que estava acontecendo.
O sonhado sábado chegara. Mara se levantou cedo, fez o café e logo Dona Zilda chegou à cozinha, pois não trabalhava aos sábados, e as duas tomaram o café sentadas em lados opostos da mesa. Zilda se mostrava cada vez mais amável, os diálogos agora fluíam com facilidade, não havia mais aquele receio de se expressar, Mara estava sentindo-se à vontade com Dona Zilda. Não demorou muito e ouviram-se palmas vindas da frente da residência. Mara saiu apressadamente pela porta da sala, deixando-a aberta, avistando sua mãe parada à frente do portão social pelo lado de fora. Logo que foi aberto, Mara sentiu o forte abraço parecendo que quebraria seus ossos, e, depois de algumas perguntas em torno de como passara a semana, elas entraram na residência onde Zilda aguardava no limiar da porta da sala. As anciãs trocaram abraços e perguntas recíprocas de como passaram a semana, e depois rumaram para a cozinha ande Abigail uniu-se a elas para tom
Mara sentia que o hospital havia sido transferido para a lua, tamanho o desespero, em um momento ela ouviu a voz do motorista dizendo, já chegamos, só falta estacionar. Neste momento um líquido lhe molhou toda, o médico havia lhe alertado sobre este momento, ela sabia o que estava acontecendo, então disse para Zilda que a bolsa estourou. Quando o motorista ouviu isso, parou no meio do estacionamento do hospital, abriu as portas do veículo, e saiu gritando em direção ao balcão de atendimento que estava com uma mulher no carro em trabalho de parto. Isso fez com que algumas enfermeiras de posse de uma maca corressem o mais rápido possível, acomodassem Mara sobre a maca e corressem para a sala de parto.Na sala de parto transferiram Mara para uma cama especial em uma posição ginecológica com a cabeça elevada, ela foi orientada para que p
Mara aprendeu o trabalho rápido, primeiro porque ela se esforçava sempre pensando em Gabriel, segundo porque ela sempre ajudou sua mãe nas tarefas diárias. Em casa ela cuidava das roupas de Gabriel e também ajudava Zilda nas tarefas da casa. Mara passou na experiência de três meses e foi contratada no lugar de Zilda quando Gabriel já estava com alguns meses.Zilda acordou com pequenos ruídos na madrugada de domingo, levantou-se e pela fresta da porta do quarto, viu na sala Gabriel arrumado deitado em um dos sofás, Mara bem-vestida de pé inclinada fechando o zíper de uma enorme bolsa que estava sobre o sofá ao lado. Zilda sentiu seu coração apertar, depois de tudo que ela tinha feito por Mara, apesar de que sua mãe sempre lhe ensinou fazer o bem sem olhar a quem e nunca esperar recompensas, mas era muito injusto o que Mara estava faze
Depois do almoço, arrumaram a cozinha, sentaram no sofá para assistirem a tv. Juntas, a tarde chegou rápido e Mara se despediu, voltando assim para casa, pois precisava se preparar para a volta ao trabalho na segunda-feira.Os dias de Mara passavam rápidos. Na semana ela trabalhava, em casa ajudava Dona Zilda, aos sábados lavava as roupas e esperava a visita de sua mãe. As novidades eram as mesmas, seu pai continuava irredutível. Alguns domingos após os pagamentos visitava seus sogros e ajudava com algum dinheiro, e as notícias eram as mesmas, nenhum indício de que Alfredo estivesse vivo. Exceto Gabriel, que crescia assustadoramente.Quando Gabriel completou três anos, a saúde do Sr. Eupídeo que já não era das melhores e se mostrou cada vez mais debilitada. El