Até que, de repente, senti uns toques leves na minha cabeça. Não era algo forte, mas suficiente para me tirar do transe. Num susto, levantei os olhos, ainda turvos, tentando focar no que estava à minha frente, a visão embaçada. E então, ela estava ali. Uma morena de pele parda, cabelos encaracolados, que parecia ter saído de um sonho — ou talvez de um pesadelo, dependendo da perspectiva. Os olhos claros dela eram tão penetrantes que me arrancaram do torpor no mesmo instante. Ela não sorria. — Vai continuar babando na minha bancada ou vai pedir alguma coisa? — A voz dela, sem nenhuma paciência. Ela sequer me lançou um olhar direto. Afinal eu era só mais um bêbado, chorão, prestes a ser chutado para fora como lixo. encarei seu rosto, mas a única coisa que consegui enxergar foi o desprezo estampado nos olhos. — Se não tiver nada pra pedir, é melhor dar o fora logo. — Ela bufou, Seus olhos reviraram com desgosto, como se minha simples presença fosse uma afronta a ela. — Como
— E aí? estressadinha! — ela fez um bico e um com olhar sério. — já se apaixonou por alguém que nem se deu o trabalho de te levar a sério? — perguntei, tentando manter a voz firme, mas ela saiu um pouco mais cortante do que eu esperava. Quase como se eu estivesse prestes a ceder mais uma vez. Como é foda ser um homem apaixonado... e bêbado, então? Pior ainda. O desespero de sentir tudo aflorado, sem controle algum, só me fazia querer mais distância de mim mesmo. Tudo graças a ela. O gosto dela começava doce, mas no final termina amargo como fel Ela nem piscou, apenas cruzou os braços e me lançou um olhar cheio de desdém. — Sabe o que eu acho? — Ela soltou uma risada amarga, a voz carregada de desprezo. — A garota que você tanto idealizou te viu como apenas uma distração. Porque, sério, olha pra você. Afundado nesse copo, chorando sozinho. Você realmente acha que alguém assim merece mais do que pena? O estômago deu um nó, mas não recuei. Era a verdade, e eu não queria fingir q
Até que, do nada, um cantor começou a cantar. A primeira nota me fez erguer a cabeça, e pelo canto do olho percebi que a moça do bar também se virou, como se, sem querer, a música tivesse prendido a atenção dela tanto quanto a minha. O cantor estava sentado, segurando um violão, dedilhando as cordas com uma calma, enquanto cantava ao microfone. Aquela melodia era daquelas que carregam um peso, que faz qualquer um que já sofreu olhar pro nada e reviver o passado. (•••) Porque eu te amo e quero esquecer O processo final foi forte e doloroso Ha decepção, decepção por essas fotos Me machucou muito e por sua causa existem sonhos desfeitos Acabou devido a algo errado Não acaba por algo bom Eu não pedi explicações Eles só querem que eu esqueça você Para esquecer você tem que deletar Mas primeiro você tem que choror De forma alguma, contato zero Mesmo que eu sinta que estou morrendo (Contacto Cero-Mariachi) (•••) Parei de prestar atenção no cantor, voltando pro meu c
— Eu sabia que você ia gostar — Rafael sussurrou ao meu lado, aquele sorriso presunçoso estampado no rosto.Eu já mencionei o quanto odeio quando ele começa com esse papinho sem graça? Meu sangue já fervia, mas mantive a postura... por enquanto.Meus olhos pousaram nele, e um sorriso surgiu no meu rosto. — Gostar? — neguei com a cabeça. — Não se trata disso, Rafa. Eu só estou aqui pra comemorar. Nada disso tem a ver comigo.Foda-se, eu nem queria estar aqui. A verdade é que só vim porque meu namorado fez aquela cara de bulldog abandonado e ainda soltou o clássico ‘tudo que te peço, você nunca faz’. Juro, Rafa, mais um comentário idiota desse e eu voava no seu pescoço. A paciência aqui já era.Em seguida, dei um gole longo na cerveja. Mantive minha postura relaxada, quase entediada, como se a conversa já tivesse se arrastado mais do que deveria. Qualquer pessoa sensata teria entendido a indireta e seguido em frente, mas Rafa…Seus olhos brilhavam com aquele olhar irritantemente con
Tudo parecia acontecer em câmera lenta: os copos voando pelo ar, pratos caindo, o som do vidro se quebrando e ecoando pelo ambiente. O bar inteiro congelou por um segundo, os olhares de todos se voltaram para nós, e, por um breve momento, a tensão foi substituída por um silêncio atônito. O garçom, por sorte, não foi derrubado. Ângela ficou instantaneamente vermelho, e ela ficou ali, parada por um instante, tentando se recuperar do choque. — Juro, não foi culpa minha! — Se defendeu, agachada enquanto recolhia cacos de vidro do chão.— Ah, claro, Ângela, porque as bandejas costumam pular na cabeça das pessoas por conta própria, né? — Davi soltou, a voz carregada de ironia, enquanto segurava o riso.Ela parou no meio do movimento, os olhos estreitando. Devagar, ela ergueu o copo quebrado que ainda segurava, apontando na direção dele como se fosse uma arma.— Davi, não começa! Eu juro, se você continuar, vai descobrir o meu pior lado.Davi inclinou a cabeça, um sorriso desafiador se f
Meus dedos deslizaram pelas linhas do abdômen dele, explorando cada curva. Num movimento rápido, ele arrancou o meu vestido, me pegou no colo e me jogou na cama. Subiu por cima de mim, engatinhando devagar, os olhos fixos nos meus, e se encaixou entre minhas pernas.— O que você quer, Ayla? — A voz dele era baixa, rouca, deslizou pela minha pele, e seus dedos brincavam com a tira fina da minha calcinha, provocando mais do que qualquer palavra poderia. — Fala pra mim... Quero ouvir você pedir.Meu corpo inteiro reagiu antes que eu pudesse pensar em responder. — Não vai falar?...Ou prefere que eu decida sozinho? ... — Seu sorriso de canto era tão predatório que fazia o ambiente inteiro parecer menor, e o jeito que ele aproximou os lábios dos meus quase me fez ceder. — Quero que me devore, Rafa! Quero que você esqueça a razão, esqueça quem somos fora daqui. Quero que seja selvagem, quero que me faça perder a noção de quem eu sou.— Você não faz ideia do que me pediu.— Sua voz saiu qua
— NÃAAAOO..! — Minha voz saiu mais alta do que eu esperava, um grito que ecoou pelo quarto. Antes mesmo que eu pudesse pensar, minhas mãos o empurraram para trás, com uma força. Meu coração batia descompassado, a vergonha subindo como um calor insuportável pelo meu corpo. Eu estava nua. O cheiro da bebida ainda estava em mim. O nojo me dominou, e eu me encolhi, puxando o lençol para cobrir meu corpo. — Saia daqui! — A ordem saiu trêmula. Meu peito subia e descia enquanto a raiva lutava contra a confusão. Ele ficou parado, confuso, o olhar preso em mim como se esperasse que eu explicar se o que está acontecendo. Mas eu não podia. — Por que você tá agindo assim? Dá pra me explicar o que tá acontecendo? — Ele falou, quase como se não acreditasse no que estava acontecendo, com uma voz que tremia de incompreensão. — ou você só tá decidindo enlouquecer agora, na minha frente? — É sempre assim com você! — Eu gritei. — você olha, mas nunca me vê de verdade! Nunca viu! Eu não podia
Quando eu pisquei, quatro anos tinham passado.Quatro malditos anos foram os mais pesados da minha vida.Eu deveria estar feliz, certo? Deveria estar pulando de alegria, com aquele sorriso idiota no rosto e o peito estufado de orgulho. Mas não consigo sentir porra nenhuma.— Motorista do veículo à frente. Pare o carro agora no nome da lei…— Merda! Logo hoje… — grunhi entre dentes, os olhos fixos na estrada à frente, mas com a mente vagando.— Acabei de me formar... Quando olhei pelo retrovisor, vi a viatura da polícia colando em mim, suas luzes vermelhas piscando.— Último aviso! Pare o carro, ou usaremos força!Revirei os olhos e soltei um suspiro impaciente.“ Sonha, seus babacas — sorri, o canto dos meus lábios curvando-se. ignorei totalmente os sons da sirene atrás de mim. Eles não passavam de um incômodo agora.Mas eu não ia facilitar para eles.A noite não ia terminar assim…Com a janela do carro entreaberta, estendi o braço e mostrei o dedo do meio, desafiador: — Vão se fo