Quando eu pisquei, quatro anos tinham passado.Quatro malditos anos foram os mais pesados da minha vida.Eu deveria estar feliz, certo? Deveria estar pulando de alegria, com aquele sorriso idiota no rosto e o peito estufado de orgulho. Mas não consigo sentir porra nenhuma.— Motorista do veículo à frente. Pare o carro agora no nome da lei…— Merda! Logo hoje… — grunhi entre dentes, os olhos fixos na estrada à frente, mas com a mente vagando.— Acabei de me formar... Quando olhei pelo retrovisor, vi a viatura da polícia colando em mim, suas luzes vermelhas piscando.— Último aviso! Pare o carro, ou usaremos força!Revirei os olhos e soltei um suspiro impaciente.“ Sonha, seus babacas — sorri, o canto dos meus lábios curvando-se. ignorei totalmente os sons da sirene atrás de mim. Eles não passavam de um incômodo agora.Mas eu não ia facilitar para eles.A noite não ia terminar assim…Com a janela do carro entreaberta, estendi o braço e mostrei o dedo do meio, desafiador: — Vão se fo
— Como se eu quisesse estar lá, é você, German. Você nunca teve coragem de sair daquele lugar... gosta de ficar preso no mesmo canto, sufocado.— Isabela, não é sobre mim! A questão agora é a nossa filha! Estamos perdendo ela, e você parece cega para isso! Cada dia ela se afunda mais. Você ao menos tem ideia do que ela anda fazendo? Porque eu cansei de ficar parado, vendo você desculpar cada erro dela, como se tudo fosse normal!— Ela vai mudar, German. Ela só precisa de mais um tempo... mais um pouco. A gente não pode desistir dela tão fácil.— Mais tempo? — Ele bufou, impaciente. — Você acha que mais tempo vai resolver tudo? Quando a Ayla melhorar, eu vou levar ela de volta comigo, goste você ou não. Ela vai voltar para casa. Eu tô perdendo minha filha, e você... só parece para apontar o dedo.Isabela ficou em silêncio por um segundo, com o rosto endurecido.— Se é assim que você pensa, German, então talvez nunca vá entender o que é melhor pra ela.Minha garganta estava seca, mas
Ela se aproximou, puxando a cadeira ao lado da cama, e se sentou de frente pra mim. Então, segurou minha mão com firmeza, entrelaçando seus dedos nos meus. — Ayla, escuta. — O tom dela mudou, ficando mais sério. — Combinei com seu pai que vou para o interior com você. Vou ficar lá, cuidar de você. É o mínimo que eu posso fazer. Minha garganta apertou. — Angel, não. Não faz isso. Você tem sua vida, seus planos… Não pode largar tudo assim. Ela soltou um suspiro pesado, como se eu estivesse perdendo o ponto. — Eu não tô largando nada. — Ela olhou nos meus olhos, sem desviar. — Você é minha melhor amiga. Se eu tivesse feito mais antes… Se eu tivesse percebido o que tava acontecendo, talvez… talvez nada disso tivesse chegado a esse ponto. Senti um nó se formar no meu peito. — Não é sua culpa. — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro. — Mas eu me sinto assim. — Angel apertou minha mão com mais força. — E eu não vou me perdoar se não fizer o máximo por você agora. — Angel… —
— Eu não deveria deixar vocês irem sozinha — disse meu pai, enquanto seus olhos corriam pelo meu rosto. Antes o papai havia explicado que não poderia me levar para a fazenda, porque surgiu um assunto na última hora e era "extremamente importante". E ele tinha que resolver querendo ou não. — Prometi que ia cuidar de você, Ayla. Promessas? Ele falava como se essas palavras fossem inquebráveis. Fala sério. Quem ainda acredita nessa porcaria em pleno século 21? São só desculpas esfarrapadas para ver se alguém morde. Eu não mordo. Não mais. Hipocrisia, não? — pensei, mas me limitei a manter o rosto neutro. Meu pai sempre foi assim: O que ele falava nunca combinava com o que fazia de verdade mesmo. E, para ser sincera, eu não queria voltar. Nem fodendo! Eu saí daquele lugar praticamente fugida, largando tudo — Só a ideia de pisar de novo naquele interior de quinta categoria fazia minha pele formigar de irritação, como se o próprio ar desse lugar quisesse me engoli
Ela franziu o cenho, os olhos tentando me decifrar. Eu sabia que ela estava tentando ler nas entrelinhas, mas eu não ia dar essa chance. Desviei o olhar, respirando fundo, como se o ar pudesse levar embora o peso que apertava meu peito. Mas não adiantava. Aquele nó só ficava mais apertado. — Tem certeza disso? — A voz dela cortou o silêncio, carregada de dúvida e um tom de preocupação que eu não queria reconhecer. — Seu pai nem confiou em mim pra cuidar de você, e agora você quer se jogar no meio desse povoado? Eu senti as palavras dela ecoando na minha mente….— Eu não preciso que ninguém cuide de mim — respondi, a voz mais firme do que eu esperava. Ela abriu a boca pra responder, mas eu já estava virando as costas e abri a porta do carro, ignorando ela.— Se meu pai quisesse me controlar, ele estaria aqui, em vez de ficar mandando ordens de longe. — soltei, a voz. — E, se liga, ninguém morre por dar uma volta. Ou você acha que eu sou tão frágil assim?
Cruzei os braços, os olhos fixos em qualquer coisa que não fossem aquelas opções engorduradas. — Prefiro passar fome — respondi, sem conseguir disfarçar completamente o fato de que aquela situação toda era um pouco ridícula.Angela deu de ombros. — Tá, então fica aí, fazendo pose de durona. Mas quando você desmaiar de fraqueza, não espere que eu carregue você.Enquanto Angela e a vendedora trocavam palavras sobre a noite, a rua e a vida — como se tudo ali fosse uma maravilha — eu me mantive um passo atrás, ainda com os braços cruzados e o olhar cético.Ali, quieta.Meus olhos vagavam sem rumo, até que encontraram a lua. Aquela lua. A única coisa que eu ainda gostava naquele lugar. Ela estava lá, imponente, como sempre. Cheia, brilhosa, banhando tudo em um tom amarelado que parecia tirar o peso do mundo por um instante. Era estranho como algo tão distante podia me fazer sentir tão... conectada. Como se, naquele momento, só ela entendesse o que eu sentia. Eu respirei fundo, sentin
O GLOBO DA MORTE.O ar ao meu redor pareceu ficar mais pesado, como se o próprio universo estivesse me alertando sobre aquilo.Eu já tinha ouvido falar sobre aquele evento, mas nunca imaginei que um dia estaria prestes a ver com meus próprios olhos. A ideia de estar ali, ao vivo, sentindo a adrenalina no ar, o risco, a loucura... era de deixar qualquer um sem fôlego. Aquelas coisas só faziam sentido se você estivesse ali, com o coração na garganta, percebendo que não tinha volta.E para minha surpresa, seria hoje.— Olha isso — eu disse, os olhos ainda grudados no cartaz, como se ele tivesse me hipnotizado. — Esse é o tipo de coisa que toda garota sonha em ver antes de morrer. Sempre quis sentir isso na pele, sabe? A adrenalina, o perigo, a loucura...Ela cruzou os braços, o olhar pesado de ceticismo. — É sério que você quer ver isso? — A voz dela veio firme. — Só pra assistir uns idiotas quase se matando pra entreter uma plateia? Isso não é adrenalina, Ayla, é insanidade. Pura e simp
— Relaxa, Ângela. É só uma cerveja — eu disse, dando um gole enquanto os motociclistas continuavam sua dança mortal lá em cima. A bebida era gelada e refrescante, e por um momento, tudo parecia perfeito.Mas então, algo mudou. O locutor anunciou a entrada de mais um piloto, e a multidão explodiu em gritos ainda mais altos. — E agora, o momento que todos estavam esperando! — Com vocês. O CACHORRO LOUCO! — A voz do cara ressoou no microfone e a multidão respondeu como um eco, uma onda de excitação percorrendo a todos.O cara no palco não parava, incitando ainda mais o caos. O som das motos e os gritos se misturavam como uma onda de energia, algo pesado no ar. Ao mesmo tempo que o chão estava tremendo, quase como se o mundo inteiro estivesse ali, se movendo com a gente.De repente, o som dos motores mudou. Um ronco mais profundo, mais selvagem, ecoou pelo estádio, fazendo o ar vibrar e a multidão silenciar por um instante. Todos os olhos se voltaram para a entrada, onde uma figura