— E olha só, é de morango, o seu preferido! — comentei, animada, enquanto pegava a velinha do número 12 e a colocava bem no centro do bolo. Ele continuava com aquele sorriso bobo, quase que incrédulo. Puxei o isqueiro da mochila, acendi a velinha, e ele ficou segurando o bolo enquanto eu começava a bater palmas, cantando "Parabéns pra Você" com uma empolgação que fez ele rir, meio sem graça, mas feliz. Ele olhava para o bolo pequeno, mas eu sabia que pra ele aquilo era enorme. Quando terminei de cantar, dei um leve empurrão no ombro dele. — Agora faz um pedido, vai! — falei, toda ansiosa, observando enquanto ele fechava os olhos e ficava em silêncio por uns segundos. Ele abriu os olhos devagar, com aquele olhar sério, mas doce, e soprava a velinha. A chama se apagou, e eu bati palmas de novo, rindo. — E aí? O que você pediu? — perguntei, inclinando a cabeça com curiosidade. Hector deu um sorriso meio tímido e desviou o olhar por um segundo antes de voltar a me encarar. — Pedi
Até que, de repente, senti uns toques leves na minha cabeça. Não era algo forte, mas suficiente para me tirar do transe. Num susto, levantei os olhos, ainda turvos, tentando focar no que estava à minha frente, a visão embaçada. E então, ela estava ali. Uma morena de pele parda, cabelos encaracolados, que parecia ter saído de um sonho — ou talvez de um pesadelo, dependendo da perspectiva. Os olhos claros dela eram tão penetrantes que me arrancaram do torpor no mesmo instante. Ela não sorria. — Vai continuar babando na minha bancada ou vai pedir alguma coisa? — A voz dela, sem nenhuma paciência. Ela sequer me lançou um olhar direto. Afinal eu era só mais um bêbado, chorão, prestes a ser chutado para fora como lixo. encarei seu rosto, mas a única coisa que consegui enxergar foi o desprezo estampado nos olhos. — Se não tiver nada pra pedir, é melhor dar o fora logo. — Ela bufou, Seus olhos reviraram com desgosto, como se minha simples presença fosse uma afronta a ela. — Como
— E aí? estressadinha! — ela fez um bico e um com olhar sério. — já se apaixonou por alguém que nem se deu o trabalho de te levar a sério? — perguntei, tentando manter a voz firme, mas ela saiu um pouco mais cortante do que eu esperava. Quase como se eu estivesse prestes a ceder mais uma vez. Como é foda ser um homem apaixonado... e bêbado, então? Pior ainda. O desespero de sentir tudo aflorado, sem controle algum, só me fazia querer mais distância de mim mesmo. Tudo graças a ela. O gosto dela começava doce, mas no final termina amargo como fel Ela nem piscou, apenas cruzou os braços e me lançou um olhar cheio de desdém. — Sabe o que eu acho? — Ela soltou uma risada amarga, a voz carregada de desprezo. — A garota que você tanto idealizou te viu como apenas uma distração. Porque, sério, olha pra você. Afundado nesse copo, chorando sozinho. Você realmente acha que alguém assim merece mais do que pena? O estômago deu um nó, mas não recuei. Era a verdade, e eu não queria fingir q
Até que, do nada, um cantor começou a cantar. A primeira nota me fez erguer a cabeça, e pelo canto do olho percebi que a moça do bar também se virou, como se, sem querer, a música tivesse prendido a atenção dela tanto quanto a minha. O cantor estava sentado, segurando um violão, dedilhando as cordas com uma calma, enquanto cantava ao microfone. Aquela melodia era daquelas que carregam um peso, que faz qualquer um que já sofreu olhar pro nada e reviver o passado. (•••) Porque eu te amo e quero esquecer O processo final foi forte e doloroso Ha decepção, decepção por essas fotos Me machucou muito e por sua causa existem sonhos desfeitos Acabou devido a algo errado Não acaba por algo bom Eu não pedi explicações Eles só querem que eu esqueça você Para esquecer você tem que deletar Mas primeiro você tem que choror De forma alguma, contato zero Mesmo que eu sinta que estou morrendo (Contacto Cero-Mariachi) (•••) Parei de prestar atenção no cantor, voltando pro meu c
— Eu sabia que você ia gostar — Rafael sussurrou ao meu lado, aquele sorriso presunçoso estampado no rosto.Eu já mencionei o quanto odeio quando ele começa com esse papinho sem graça? Meu sangue já fervia, mas mantive a postura... por enquanto.Meus olhos pousaram nele, e um sorriso surgiu no meu rosto. — Gostar? — neguei com a cabeça. — Não se trata disso, Rafa. Eu só estou aqui pra comemorar. Nada disso tem a ver comigo.Foda-se, eu nem queria estar aqui. A verdade é que só vim porque meu namorado fez aquela cara de bulldog abandonado e ainda soltou o clássico ‘tudo que te peço, você nunca faz’. Juro, Rafa, mais um comentário idiota desse e eu voava no seu pescoço. A paciência aqui já era.Em seguida, dei um gole longo na cerveja. Mantive minha postura relaxada, quase entediada, como se a conversa já tivesse se arrastado mais do que deveria. Qualquer pessoa sensata teria entendido a indireta e seguido em frente, mas Rafa…Seus olhos brilhavam com aquele olhar irritantemente con
Tudo parecia acontecer em câmera lenta: os copos voando pelo ar, pratos caindo, o som do vidro se quebrando e ecoando pelo ambiente. O bar inteiro congelou por um segundo, os olhares de todos se voltaram para nós, e, por um breve momento, a tensão foi substituída por um silêncio atônito. O garçom, por sorte, não foi derrubado. Ângela ficou instantaneamente vermelho, e ela ficou ali, parada por um instante, tentando se recuperar do choque. — Juro, não foi culpa minha! — Se defendeu, agachada enquanto recolhia cacos de vidro do chão.— Ah, claro, Ângela, porque as bandejas costumam pular na cabeça das pessoas por conta própria, né? — Davi soltou, a voz carregada de ironia, enquanto segurava o riso.Ela parou no meio do movimento, os olhos estreitando. Devagar, ela ergueu o copo quebrado que ainda segurava, apontando na direção dele como se fosse uma arma.— Davi, não começa! Eu juro, se você continuar, vai descobrir o meu pior lado.Davi inclinou a cabeça, um sorriso desafiador se f
Parte 1 Começo um tropeço, e não há perdão✿ Nunca me importei com ninguém, até o ver escorrer pelos meus dedos, quente e pesado, uma sensação que nunca esquecerei. É estranho, quase irônico, como tudo começou. Talvez nunca tenha sido sobre amor. Mais , olhando para trás, não consigo evitar a sensação de que fui eu quem puxou o gatilho, e a partir daquele momento minha a vida mudou drasticamente. (❛❛❛) Já passava das seis da tarde, mas o céu ainda exibia aquele tom alaranjado famoso clichê do interior, como se quisesse fingir que aquele lugar era bonito. Foi quando decidi dar uma volta pela fazenda Torres… Estava a poucos passos de deixar para trás essa cidade, minha casa. Odiava esse lugar. Tudo nele. monotonia tranquila. Desde o dia em que meu pai decidiu que comprar uma fazenda no interior seria "boa ideia. Era a terra natal dele, um lugar pequeno e abafado chamado San Ignacio, a umas 15 horas de carro da capital do México. Eu tinha sete anos quando nos mudamos, e confess
Por anos, nossas famílias viveram em constante conflito. Era como se a rivalidade fosse gravada em nossos DNAs. Os pais de Davi sempre estiveram na linha de frente, enfrentando eleição após eleição, determinados a tirar do poder aquela maldita família. Porém, tudo mudou quando a família Galisteu perdeu o cargo. Descobriu-se que ele estava envolvido em um caso amoroso com o padre da cidade. Esse foi o maior escândalo da década—todo mundo comentava ao mesmo tempo, e, embora a internet tentasse evitar que fosse o assunto mais falado, não teve sucesso.Foi então que a eles começou a agir, tentando desesperadamente reverter a situação e limpar a imagem de "boas pessoas" que tanto se esforçaram para manter. Como eram próximos de várias figuras influentes, qualquer escândalo poderia manchar a reputação que construíram ao longo dos anos.A estratégia deles se estendeu por um longo tempo, incluindo até mesmo a indicação de outras pessoas para disputar o cargo de prefeito. Mas, no final, não d