Uma segunda chance...

Clark Collins

—Podemos jantar no Changaitow, é o meu restaurante preferido,e não precisa ser hoje, você pode dizer o melhor dia para você.

O silêncio que se seguiu à minha última frase era quase ensurdecedor. Victoria desviou o olhar, mas não antes que eu notasse a mistura de emoções em seu rosto. Ela estava balançando entre a hesitação e a determinação, como se estivesse se perguntando até onde eu poderia ir com esse meu convite.

— Olha, eu aprecio a oferta — ela diz finalmente, sua voz mais firme. — Mas preciso ser clara. Não estou aqui para misturar negócios com questões pessoais, esse restaurante é o meu preferido e poucos conhecem ele, já que não é tão famoso, mas eles tem um chef que prepara o melhor sushi que já comi.

Eu sabia que era o restaurante preferido dela, pois em meus sonhos eu a conhecia como ninguém e amava de uma forma que nunca ousei amar antes.

Eu assentiria, mas uma parte de mim se recusa a aceitar isso. A conexão que senti quando ela entrou na sala ainda pulsava entre nós, e em meus sonhos ela era minha e eu dela, eu me perguntava se ela também sentiria o que eu sinto.

— Eu entendo, mas — A hesitação se instala na minha voz — você é uma escritora talentosa, e seu trabalho merece ser visto. Eu gostaria de ajudar.

Ela se vira para mim, e há um brilho de curiosidade em seus olhos.

— Você realmente acredita que pode ajudar? — ela pergunta, com uma sobrancelha arqueada.

— Sim. E se você me enviar o restante do manuscrito, prometo que vou dedicar meu tempo a isso. Mas eu gostaria de conhecer você melhor ao longo do caminho. Não precisa ser um jantar romântico, apenas uma conversa — digo, tentando desviar do subtexto da situação.

Ela analisa minhas palavras, e por um momento, o ambiente parece se aquecer. O ar ao nosso redor parece vibrar com a possibilidade de algo mais.

— Eu preciso pensar sobre isso — Victoria responde, e seu tom é cauteloso, mas não desdenhoso.

Um peso se instala em meu peito, mas não me deixo abater. Eu sei que isso é apenas o começo. Se ela estiver disposta a se abrir, talvez eu possa descobrir mais sobre essa mulher que se tornou tão importante para mim.

— Eu vou esperar sua resposta — digo, tentando soar confiante, mesmo que minha mente esteja um turbilhão de emoções.

Ela sorri levemente, mas logo a expressão dela se torna séria novamente.

— Quanto ao meu noivo... — ela começa, hesitante.

— O que há com ele? — pergunto, a curiosidade me levando a querer saber mais sobre a vida dela.

— Ele tem sido uma parte importante da minha vida, mas as coisas não são tão simples quanto parecem. O livro é uma forma de eu lidar com algumas questões — ela responde, seu olhar se perdendo em algum lugar além de mim.

Isso me faz pensar. Será que há mais por trás dessa aliança? Um desejo de se libertar ou uma luta interna que ela não compartilha? O desejo de conhecê-la, agora no mundo real, se intensifica, e eu quero desvendá-la, camada por camada.

— Estou aqui para ouvir, se você quiser falar — digo, mantendo a voz suave, tentando não pressioná-la.

Ela hesita novamente, e então, lentamente, ela respira fundo.

— O que você precisa entender é que às vezes as histórias que contamos não são apenas ficção. Elas podem refletir nossas vidas de maneiras que nem sempre estamos prontos para enfrentar. Mas acredito que isso você já saiba, já que é o CEO de uma editora renomada.Tudo parece um sonho para mim que está se tornando realidade desde que eu recebi a ligação que me fez vir até aqui.

Suas palavras ressoam em mim, como um eco de minha própria luta interna. Eu também estou tentando entender quem sou agora, depois de tudo o que passei. A conexão entre nós parece mais profunda do que eu imaginava.

—Eu entendo muito bem de sonhos e o quanto desejamos que ele seja real, tenho buscando tornar real um sonho que para mim é tudo o que eu mais desejo.— Se algum dia você sentir que pode compartilhar, eu estarei aqui — digo, significando cada palavra.

Ella aproxima-se da porta e o momento de despedida chega. Um misto de esperança e frustração se mistura em meu peito. A aliança que brilha em seu dedo ainda me lembra da barreira que existe entre nós, mas também há uma parte que não consigo ignorar.

— Vou pensar sobre o jantar, senhor Collins — ela diz, e em seu olhar, vejo uma fração de possibilidade.

Enquanto ela sai do escritório, um novo impulso surge dentro de mim. Ela, se tornou uma parte fundamental da minha vida, mesmo que não tenha sido real, e eu estou determinado a descobrir o que o futuro pode reservar para nós.

Se a vida me deu uma segunda chance, eu não posso deixá-la passar sem lutar. O que quer que esteja entre nós, eu estou disposto a enfrentar.

Continua

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