Leyla Ylmaz — Sem sorte com o táxi? — perguntou, a voz agora mais suave, quase brincando.Uma mudança desconcertante considerando como havíamos nos falado antes. Revirei os olhos, lutando contra a tentação de respondê-lo com sarcasmo. — Nenhuma. E eu não tenho tempo para esperar. Ele olhou para o motorista e fez um sinal com a cabeça, antes de abrir a porta do carro. — Eu posso te dar uma carona. Não precisa perder mais tempo. Eu hesitei. A última coisa que eu queria era aceitar ajuda dele, mas eu realmente não podia me dar ao luxo de recusar. O relógio estava contra mim, e eu precisava chegar ao tribunal o mais rápido possível. — Tudo bem — murmurei, finalmente cedendo. — Mas fique claro que estou aceitando por necessidade, não por simpatia. Ele soltou um riso baixo, como se estivesse achando graça na minha irritação. — Claro. Só uma carona. Entrei no carro, e o silêncio entre nós era tenso, quase palpável. Ele não disse nada, e eu também não estava com disposição
Clark CollinsAcordo com o som suave da risada das crianças. Estou no jardim da nossa casa, o sol batendo suavemente no meu rosto, e vejo meus filhos correndo ao redor, rindo e brincando. Minha esposa está ao meu lado, linda como sempre, com aquele sorriso que me aquece o coração. Tudo parece perfeito. Eu a observo e sinto um amor profundo, como se nada pudesse destruir a paz que temos juntos. Os meninos correm para mim, me chamam de papai, e eu me sinto completo.É um daqueles momentos que você deseja que durem para sempre. Aperto minha esposa em um abraço e olho para os nossos filhos brincando, pensando que a vida é exatamente do jeito que sempre sonhei. De repente, tudo começa a ficar embaçado, como uma pintura sendo apagada lentamente. Tento segurar o momento, mas ele escapa por entre meus dedos como areia.De repente, tudo escurece.Abro os olhos devagar e vejo luzes brancas acima de mim. Sinto o cheiro forte de desinfetante e ouço o som constante de máquinas ao meu redor. Tento
Clark Collins Voltar ao trabalho é como acordar num mundo que não reconheço. As paredes da editora, que antes me pareciam acolhedoras, agora são frias e intimidantes. O som do telefone tocando, das impressoras funcionando, tudo é um ruído de fundo que me incomoda, mas que não consigo desligar. É como se eu estivesse presente, mas minha mente estivesse em outro lugar, presa entre a vida que eu imaginava e a vida que realmente existe.Cada manhã, visto o terno e coloco a gravata como se estivesse me preparando para uma batalha invisível. Me olho no espelho e vejo o reflexo de um homem que não reconheço mais. Meus olhos estão mais fundos, o olhar mais vazio. Os três anos em coma me roubaram mais do que tempo; eles roubaram uma parte de quem eu era. Mas eu tento, tento me ajustar a essa nova realidade, mesmo que ela pareça uma peça que não encaixa.Havia se passado um mês desde o meu retorno a editora Collins e minha mesa está cheia de papéis e manuscritos empilhados, mais do que consig
Clark Collins Enquanto Victoria continua falando sobre seu livro, eu me perco na narrativa. A protagonista, uma mulher que, após perder seu noivo, acaba passando a noite com um desconhecido, e a revelação de uma gravidez inesperada adiciona uma camada de complexidade à sua história. Eu escuto cada palavra, mas, ao mesmo tempo, meu pensamento imagina. Essa história, de alguma forma, toca uma parte profunda de mim. A dor da perda e a busca por algo que preencha o vazio são temas que eu conheço muito bem, ao menos é como me sinto sem poder ter ela e os nossos filhos, que são frutos do meu sonho. — É uma trama poderosa — digo, tentando manter a voz firme. — É baseado em alguma experiência sua? Ela hesita, um silêncio se instala entre nós. Por um momento, sinto que a resposta pode revelar um segredo profundo, algo que poderia nos conectar de forma ainda mais intensa. Finalmente, como eu queria poder beijá-la e abracá-la naquele momento, acabo retornando a observá-la , quando a mesma
Clark Collins —Podemos jantar no Changaitow, é o meu restaurante preferido,e não precisa ser hoje, você pode dizer o melhor dia para você. O silêncio que se seguiu à minha última frase era quase ensurdecedor. Victoria desviou o olhar, mas não antes que eu notasse a mistura de emoções em seu rosto. Ela estava balançando entre a hesitação e a determinação, como se estivesse se perguntando até onde eu poderia ir com esse meu convite. — Olha, eu aprecio a oferta — ela diz finalmente, sua voz mais firme. — Mas preciso ser clara. Não estou aqui para misturar negócios com questões pessoais, esse restaurante é o meu preferido e poucos conhecem ele, já que não é tão famoso, mas eles tem um chef que prepara o melhor sushi que já comi. Eu sabia que era o restaurante preferido dela, pois em meus sonhos eu a conhecia como ninguém e amava de uma forma que nunca ousei amar antes. Eu assentiria, mas uma parte de mim se recusa a aceitar isso. A conexão que senti quando ela entrou na sala ainda
Victoria HayesEstava me preparando para pegar o elevador quando Clara me chamou de volta. — Victoria, só mais uma coisa antes de você ir — disse ela, segurando um pequeno maço de documentos. — Preciso que você preencha essa papelada. É o padrão, mas necessário para o seu contrato com a editora Collins.Peguei os papéis, sem pensar muito no que eles significavam naquele momento, ainda com a cabeça rodando de tudo que estava acontecendo. Eu estava finalmente assinando com uma grande editora, mas a reunião tinha sido bem diferente do que eu esperava.Enquanto eu preenchia os documentos, Clara continuava me observando, quase como se estivesse esperando o momento certo para dizer algo importante. Quando terminei, ela estendeu um envelope para mim.— Antes que você vá, o senhor Collins pediu para que eu te entregasse isto.Olhei para o envelope, e quando o abri, fiquei paralisada. Dentro, havia um cheque. Um valor considerável, muito mais do que eu imaginaria receber em um adiantamento,
Victoria Hayes Quando as portas do elevador se abriram no estacionamento, Clark me conduziu até a vaga onde seu veículo estava. Para minha surpresa, não era um carro luxuoso como eu havia imaginado, mas uma moto elegante e imponente. Ele pegou um capacete no banco traseiro e me entregou, com um sorriso no rosto. — Achei que você não fosse o tipo de homem que tem uma moto — comentei, sem esconder a surpresa. Clark riu, seu olhar brilhando com uma diversão genuína. — E que tipo de homem acha que eu sou? — perguntou, levantando uma sobrancelha. — Estou curioso, já que é uma escritora. Aposto que tem uma boa imaginação. Eu ri de volta, mas com um toque de nervosismo. Ele estava certo; minha imaginação tinha criado muitas versões dele, mas nenhuma envolvia uma moto. — Digamos que eu ainda não conseguiria te decifrar, não agora, senhor Collins. Ele se aproximou, colocando o capacete em mim com uma gentileza inesperada, como se aquele gesto fosse parte de algo maior. Quando ele subiu
Victoria Hayes — Amiga, com o adiantamento, poderei comprar uma casa — continuei, a voz embargada pela emoção. — E você finalmente vai abrir sua doceria. O seu sonho, Eliza. Eu vou te ajudar a realizá-lo. Senti quando Eliza congelou, o peso das minhas palavras atingindo-a de forma inesperada. Quando ela se afastou, seus olhos estavam marejados de lágrimas, e eu sabia que, por mais que fosse um momento de alegria, havia um mar de emoções à flor da pele. — Eu... — Ela começou, a voz embargada. — Não acredito que está dizendo isso. Você sabe o quanto eu desejei abrir essa doceria, mas eu nunca pensei que... depois de tudo... As lágrimas que escorreram pelo rosto de Eliza eram um misto de felicidade e alívio. Durante os últimos três anos, ela havia deixado de lado seus sonhos, por mim e pelos meus filhos. Ela trabalhou mais do que seu corpo permitia, gastou suas economias, e, de certa forma, adiou os próprios sonhos para que eu pudesse sobreviver e cuidar dos meus gêmeos. — Você abr