O PERSEGUIDOR.
A luz da Lua era uma aliada comum em seus caminhos noturnos. Gostava de caminhar sobre as grandes árvores de neve, sentindo a umidade sobre os dedos do pé e alguns insetos grudando sobre si. Era assim que ele se via, coberto até os ossos.
Durante a hora da bruxa ele percorria a colina mais alta, onde uma árvore incomum habitava. Sua base eram raízes gigantes como garras de águia, brancas como ossos e suas folhas prateadas de gelo e escuridão. Ele recolheu uma pequena flor de inverno, tão pequena e não madura apenas para cheirá-la por um instante antes de partir.
Aquela tinha sido sua morada durante um decênio, mas agora estava finalmente na hora de partir. Tinha que estar. Ele se lembrava da sensação crescente em se aninhar junto à si mesmo e uma fogueira, comer lebres ou cobras duvidosas, de sentir o peso da solidão. Em s
TERESA. Ela poderia sentir todo o calor do mundo sendo passado para dentro de si e se transformando em uma pele extremamente quente e enrubescida. Não fora o frio ou chá quente sobre a garganta, era algo mais. Era como se tudo a fizesse voltar para onde estivera outrora, amarrada e envergonhada.Ele viu cada centímetro de sua vergonha, cada cor e textura. Ele retirou suas vestes calmamente e a deixou como veio ao mundo, nua e assustada. A água da banheira era quente o suficiente deixando toda a extensão de seu corpo corada, pintada em vermelho ou rosa. Seus fios que um dia foram beijados pelo Sol, estavam grudados à cabeça onde o sulco marrom de sujeira era transportado para a água limpa da banheira.Com uma esponja em mãos, limpou suas costas e ombros, os braços e antebraço, as axilas e o pescoço. Repetiu e repetiu. Com mãos leves, esfregou as clav&iacut
DEXTRA.A mais tênue marca negra fora dançando e dançando, deixando rastros de sua passagem em diagonal, círculos e ondas grandiosas sob a tela transparente até se encontraram com a cor alva no fundo, encolhida o bastante para não ser bem notada. A água se tornou negra como a noite e as pequenas sobras brancas de espuma se tornaram as estrelas. Foi para baixo até sentir a cabeça encostando ao fundo, observou todo o pigmento negro esvaindo de si em direção a água e então os olhos arderam.Ela ermegiu em um exagero fazendo toda água atravessar a banheira em direção ao chão metálico. Seu corpo sentiu o frio súbito percorrendo a espinha como uma grande bola de neve e os grandes fios negros ainda escorriam seu sulco negro. Ainda sentia o frio percorrendo todo o corpo quando se levantou em direção ao espelho, o ros
UM LEGISTA E UMA PERVERTIDA.Um pequeno e amedrontado Sol se ergueu, se pôs e se ergueu de novo. Nuvens escuras encheram céu se transformando em tempestades longas que congelavam quebravam ramos de árvores com seu peso. Mas na terceira noite não houve gelo, vento ou nevascas apenas o tênue som de um grito de desespero.A lua mais parecia um buraco negro sobre o céu pronta para engolir qualquer representação de luz existente no mundo. Naquela altura de transição o mundo era uma pintura esquecida, mal apreciada pelos mundanos e suas sopas. Henry mantinha seus passos lentos tanto pela chuva perigosa quanto pelo peso de suas sacolas. O depósito era um grande galpão repleto de prateleiras e materiais de construção onde a luz fraca e amarelada dos corredores tornava tudo tão promissor. Mas de longe um simples depósito poderia servir
SPENCER.A grande ponte de concreto mantinha suas grades escuras e tão juntas. Apenas a luz da Lua conseguia talhar o caminho a ser percorrido em lentidão, quantos paralelepípedos deveria passar e quantos postes de luz ignorar. As grades eram medianas, mal presas ao ponto de balançar quando um peso qualquer se apoiava nelas.A noite era um grande lençol meio transparente de neblina crescente e nem mesmo a Lua conseguia iluminar tão bem. O velho carro foi estacionado ao centro com as luzes ligadas onde seria possível enxergá-la melhor. A figura estava deitada docemente sobre o concreto, os braços e pernas bem esticados e os cabelos eram um amontoado de fios ondulados e dourados como ouro. As vestes eram brancas cobrindo cada centímetro do corpo, deixando apenas o pescoço e os pés para fora, tão pequenos e pálidos pela morte.Se fechasse os olhos, Spe
MAGNUS.Pequenos beijos de neve pairavam sobre suas bochechas e deixavam seu corpo tão trêmulo de frio. Durante todo o inverno que seguia lentamente em direção a primavera enfim, as cores alaranjadas se tornavam mais crescentes junto ao branco que cobria todo o condado. Eram cores bonitas, marrons e laranjas, branco e o negro escuro das águas doce.Magnus encontrou a velha peça de madeira escura que um dia fora um tronco, achatada e tão frágil ao toque, parcialmente branca de neve e negra de putrefação. Mesmo assim ele a ultrapassou com cuidado e sentiu os pés afundando em direção às rochas pontiagudas.— Você precisa vir um pouco mais rápido — a doce voz lhe dizia.E ele tentou. Percorreu os pinheiros dançantes de vento e subiu a grande colina irregular, quando chegou ao topo encontrou a usina. Era uma grande c
Rita .Era como um pequeno floco de neve caindo sobre uma folha ainda verde da estação passada, tão tênue e pequena, frágil e importante para uma transição. Elasentia o poder crescer dentro de si como uma erva daninha, percorrendo cada entranha até transparecer pelo cérebro.A pequena sala onde estava parecia uma antiga cabana onde o tempo não havia passado nem um ano sequer. As madeiras cheiravam a liquefAção e cada folha rabiscada que transparecia sobre as paredes de pedra mantinham o tom amarelado que o tempo havia deixado. Lá foratodo o perímetro e a cabana estavam em uma ruína melancólica.— Quando você disse que a viu pela última vez? — indagou sentindo-se levemente enjoada pelo cheiro. Aquela cabana parecia ter uns cem anos sem qualquer tipo de limpeza ou habitaçã
PAISANA.— Dave Dobrowolski — anunciou à ninguém e como um estranho no ninho, puxou o lençol para verificar tudo o que um dia fora uma face comum.— Você não tem autorização para estar aqui — rompeu o silêncio e por estar abaixada, levantou — Além do mais: Daniel Kubisz.Hanna fechou a gaveta e o mandou sentar próximo à uma das macas de metal. Se prestasse atenção, poderia imaginar todos os corpos que ali haviam passado, todo o sangue que escorreu e toda a putrefação. O cheiro esguio de morte e podridão. — Apesar da face desconfigurada e as digitais totalmente retiradas — então ela retirou um arquivo de fotos e os espalhou sobre a maca de metal — Conseguimos a identidade graças às arca dentária. Esse é na verdade, Daniel Kubisz residente em u
O VIAJANTE.Não era o fim do mundo, mas toda a extensão do céu mantinha um tom sólido de ardósia misturado à escuridão que as nuvens carregadas traziam. O mundo estava se transformando para chegada de uma nova frente fria de fevereiroe os habitantes estavam ocupados com festivais.A grande praça principal havia se tornado um ponto conhecido por cada turista durante os decênios que seguiam e a cada nova Lua os festivais se tornavam maiores. Era um grande amontoado de barracas bem separadas por cores onde talvez um milhar de pessoas comiam sopas e espetos de carneiro, onde o cheiro constante de Erva Vermelha flutuava por cada narina desatenta.Não houveram canções ou apresentações, apenas uma música distante demais para ser de verdade e o murmúrios de tantas almas à falar sobre tudo. Naquela ocasião vestia um pes