SPENCER.
A grande ponte de concreto mantinha suas grades escuras e tão juntas. Apenas a luz da Lua conseguia talhar o caminho a ser percorrido em lentidão, quantos paralelepípedos deveria passar e quantos postes de luz ignorar. As grades eram medianas, mal presas ao ponto de balançar quando um peso qualquer se apoiava nelas.
A noite era um grande lençol meio transparente de neblina crescente e nem mesmo a Lua conseguia iluminar tão bem. O velho carro foi estacionado ao centro com as luzes ligadas onde seria possível enxergá-la melhor. A figura estava deitada docemente sobre o concreto, os braços e pernas bem esticados e os cabelos eram um amontoado de fios ondulados e dourados como ouro. As vestes eram brancas cobrindo cada centímetro do corpo, deixando apenas o pescoço e os pés para fora, tão pequenos e pálidos pela morte.
Se fechasse os olhos, Spe
MAGNUS.Pequenos beijos de neve pairavam sobre suas bochechas e deixavam seu corpo tão trêmulo de frio. Durante todo o inverno que seguia lentamente em direção a primavera enfim, as cores alaranjadas se tornavam mais crescentes junto ao branco que cobria todo o condado. Eram cores bonitas, marrons e laranjas, branco e o negro escuro das águas doce.Magnus encontrou a velha peça de madeira escura que um dia fora um tronco, achatada e tão frágil ao toque, parcialmente branca de neve e negra de putrefação. Mesmo assim ele a ultrapassou com cuidado e sentiu os pés afundando em direção às rochas pontiagudas.— Você precisa vir um pouco mais rápido — a doce voz lhe dizia.E ele tentou. Percorreu os pinheiros dançantes de vento e subiu a grande colina irregular, quando chegou ao topo encontrou a usina. Era uma grande c
Rita .Era como um pequeno floco de neve caindo sobre uma folha ainda verde da estação passada, tão tênue e pequena, frágil e importante para uma transição. Elasentia o poder crescer dentro de si como uma erva daninha, percorrendo cada entranha até transparecer pelo cérebro.A pequena sala onde estava parecia uma antiga cabana onde o tempo não havia passado nem um ano sequer. As madeiras cheiravam a liquefAção e cada folha rabiscada que transparecia sobre as paredes de pedra mantinham o tom amarelado que o tempo havia deixado. Lá foratodo o perímetro e a cabana estavam em uma ruína melancólica.— Quando você disse que a viu pela última vez? — indagou sentindo-se levemente enjoada pelo cheiro. Aquela cabana parecia ter uns cem anos sem qualquer tipo de limpeza ou habitaçã
PAISANA.— Dave Dobrowolski — anunciou à ninguém e como um estranho no ninho, puxou o lençol para verificar tudo o que um dia fora uma face comum.— Você não tem autorização para estar aqui — rompeu o silêncio e por estar abaixada, levantou — Além do mais: Daniel Kubisz.Hanna fechou a gaveta e o mandou sentar próximo à uma das macas de metal. Se prestasse atenção, poderia imaginar todos os corpos que ali haviam passado, todo o sangue que escorreu e toda a putrefação. O cheiro esguio de morte e podridão. — Apesar da face desconfigurada e as digitais totalmente retiradas — então ela retirou um arquivo de fotos e os espalhou sobre a maca de metal — Conseguimos a identidade graças às arca dentária. Esse é na verdade, Daniel Kubisz residente em u
O VIAJANTE.Não era o fim do mundo, mas toda a extensão do céu mantinha um tom sólido de ardósia misturado à escuridão que as nuvens carregadas traziam. O mundo estava se transformando para chegada de uma nova frente fria de fevereiroe os habitantes estavam ocupados com festivais.A grande praça principal havia se tornado um ponto conhecido por cada turista durante os decênios que seguiam e a cada nova Lua os festivais se tornavam maiores. Era um grande amontoado de barracas bem separadas por cores onde talvez um milhar de pessoas comiam sopas e espetos de carneiro, onde o cheiro constante de Erva Vermelha flutuava por cada narina desatenta.Não houveram canções ou apresentações, apenas uma música distante demais para ser de verdade e o murmúrios de tantas almas à falar sobre tudo. Naquela ocasião vestia um pes
HENRY.Não era um bom começo de manhã, mas o tom de vermelho misturado ao laranja era uma lembrança comum. Naquela parte do mundo, o Sol brilhava e o céu era aberto deixando todos os tons de azul claro aparecendo tão bem. Não era verão.As ruas eram iluminadas por placas decorativas brilhantes, o asfalto era sempre renovado e a neve ia se espalhando gradualmente, sumindo em outras ocasiões. Enquanto olhava para cima, sempre para cima, conseguia vislumbrar parte do futuro.— Porque depois que as pessoas morrem, elas viram estrelas — havia lhe dito certa vez.“Quando as pessoas morrem, elas morrem”, quis dizer, mas nunca o diria. Não naquela ocasião.Então estava acima do mundo em um dos castelos mais altos e conservados de todo o país. Observavam as aves voando acima de todos, as sequoias mantinha seu tom de marrom escu
NADIA.Estava deitada acima do carpete duplamente forrado, os olhos eram fixos e o coração batia devagar, como se estivesse pronto para entregar as pontas.— Você tem que ter um bom motivo para estar largada no meio da sala.— Eles negaram — ainda com o olhar tão fixo no vazio, Nadia sentiu os passos se aproximando — “Não há ligação forte o suficiente com Pássaro à dois Corações, lamento”, foi o que Rybarski me disse. Acho que estão mais preocupados com a menina assassina.— Você realmente acha que ele poderia boicotar como antes?— seus cabelos foram presos em um coque apressado.Sentou sentindo a coluna estalar pelo esforço. Nadia suspirou.— Aconteceu antes, não foi? Muito antes dele ser o dono da divisão especial. Agora são nos termos que el
DAMA DAS FLORES.— Você poderia me contar como o dia está lá fora? Se está chovendo? Como o posicionamento das nuvens influenciaram na claridade do Sol?O homem limitou-se a encará-la em seus grandes olhos negros e parcialmente cegos pela diabetes. Recolheu sua bolsa azulada e entregou a grande capa de inverno para ela vestir em silêncio.— Não temos tempo para conversas hoje, você entende? Temos que agir e agora.Mas agirera uma palavra estranha para Liara. Passara metade da vida dentro daquele quarto, correndo em cinco metros quadrados, pulando da cama para o chão, tentando nadar em uma banheira pequena o bastante para mal aguenta-lá em um banho. Ele havia combinado os detalhes consigo há sete dias, quando entregou um livro onde escondeu instruções de como agir, de como arrumar suas coisas sem ninguém saber. Liara te
PERDIDA NA FLORESTA.Esteve ali em sua fragilidade com o corpo tão transparente como uma grande pedra de gelo. Ela havia sido encontrada na floresta, despida e observada por olhos grandes e negros como uma noite de terror. Havia sido carregada pelos corredores largos e vazios, arrastada contra a vontade para um mundo novo e miserável. Ali todas as pessoas eram doentes e brancas, exceto uma. Todas as pessoas fingiam que nada acontecia durante as noites de terror, que tudo era bom enquanto estivessem debaixo de um manto quente.Sentiu a dor crescendo para o pulso esquerdo onde todo seu peso fora apoiado durante muito tempo. Cat sentia um buraco onde estivera o coração, um ermo tão maior agora do que jamais fora um dia. Nem o sentia bater tão bem, nem mesmo nos dias de desespero. Seu corpo estava mole como geleia e toda sua força para pensar estava esvaindo, era como se aquela sala tão escura e esque