Cadu
Meu nome é Carlos Eduardo Viturino, mais conhecido como Cadu. Tenho dezenove anos e moro em São Francisco, Califórnia. Sou brasileiro de nacionalidade, mas nos mudamos para os Estados Unidos quando eu tinha apenas seis meses de vida e como não adquiri nenhum costume de meu país de origem, me considero americano.Cresci aprendendo os dois idiomas e ao longo dos anos, fiz aulas particulares de Língua Portuguesa a mando de meu pai, mas nunca tive a intenção de voltar ao Brasil. Minha vida é, e sempre será aqui.Como sempre estudei com os mesmos colegas de turma e a maioria escolheu cursar arquitetura por vontade própria — que não é o meu caso — novamente vamos estar juntos durante mais quatro anos. E como todos já sabem, o título de popular continua sendo meu.A verdade é que eu não sou nada modesto e adoro ver as garotas se jogando aos meus pés. Não tenho problema algum em admitir que pego várias ao mesmo tempo, mas todas sabem e se elas não se importam, eu menos ainda.A loira que vive em cima de mim é a Madison. Eu pego ela desde o ensino médio, e por isso ela pensa que tem algum direito sobre mim. Mas não tem. Às vezes vem com uma ideia torta, querendo assumir um relacionamento que não existe, mas eu já deixei claro que comigo não tem essa de namoro. Se quiser continuar me dando vai ser assim. Do contrário, tem várias querendo preencher a vaga.Ainda à pouco esbarrei com uma gatinha que apesar de ter se mostrado arisca, parece uma princesa da Disney, com aquele belo par de olhos azuis vibrantes e um cabelão preto, que aliás, aparenta ser muito bem cuidado. Ela tem um corpo escultural… curvas perfeitas, seios avantajados e uma bela bünda, que eu já imaginei sentando em mim como se não houvesse amanhã. O único problema, é que ela também já mostrou que tem uma personalidade fortíssima, o que me deixou em um tremendo misto de devo me afastar e não vou desistir.Eu estava tão distraído, perdido em meus pensamentos, que só me dei conta que estava distante quando voltei a realidade com Madison pressionando meu braço.— Não está me ouvindo, Cadu? Eu estou falando com você! — Ela reclamou.Olhei preguiçosamente para ela e tirei o celular do bolso, para me certificar de que não havia quebrado.— O que você quer, hein?— Pensa que não vi o jeito que você olhou para ela? — Ela continuou com seus chiliques.Eu dei de ombros.— E daí? Que eu saiba, não devo satisfação a ninguém. Por isso, posso ficar com quem eu quiser.— Com aquela vädia, não!É claro que eu ri do absurdo que ouvi. Madison está confundindo seu posto.Tranquilamente guardei o celular outra vez no bolso e olhei para ela enquanto dizia:— Olha só, vamos deixar uma coisa bem clara aqui, outra vez. Você está fantasiando coisas que não existem entre nós. Se quer romance vai ler um livro, porque comigo já sabe como funciona, então não se confunda. Agora pare de se intrometer na minha vida e vamos para a aula. O sinal já tocou. — Falei e saí andando.Ela me acompanhou tagarelando feito uma matraca quebrada, mas eu nem dei atenção.Ao entrar na sala de estudos, meus olhos cruzaram justamente com os da única pessoa que eu jamais poderia imaginar que estaria na mesma turma que eu: a princesa estressadinha. Ela estava sentada na segunda carteira da fileira da janela, então eu me sentei no último lugar da fileira da porta, assim posso observá-la melhor. Nosso primeiro encontro não foi dos melhores, por este motivo preferi me manter um pouco afastado.Após todos se acomodarem, o professor começou a se apresentar:— Bom dia, classe! Meu nome é Elliot Franklin, eu sou o professor de desenho artístico. Nós vamos trabalhar juntos durante o primeiro ano letivo. Aos poucos vamos nos conhecendo, e então eu irei associando os rostos aos nomes, mas agora quero fazer uma breve explicação do que aprenderemos ao decorrer deste tempo. Prestem atenção.Ele virou-se para a lousa e então começou a construir um resumo que chamou de pontos mais importantes.— Iniciaremos o curso através dos Fundamentos Básicos do Desenho, onde ensinarei sobre estrutura e proporção, luz e sombra, passando pela anatomia humana e animal, até chegar na perspectiva artística, desenvolvendo toda a sua capacidade criativa para que com o meu auxílio, vocês possam encontrar seu estilo próprio e os temas que irão assinar suas obras futuramente. — Ele fez uma pausa para se certificar de que todos estavam prestando atenção. — Além disso, na etapa final já terão noção sobre a teoria das cores e suas harmonias, conteúdo que possibilitará que obtenham melhores efeitos em seus projetos artísticos. Agora podem copiar! — Ele sentou-se em sua cadeira e nos deu um tempo para que pudéssemos concluir a anotação.Comecei a escrever e no meio do processo me distraí, olhando na direção da novata. Ela estava séria e concentrada no que fazia. Seu cabelo preto e liso, caía no rosto o tempo todo, mesmo que ela o colocasse atrás da orelha. Mais algumas tentativas de fazê-lo parar no lugar e ela desistiu e soltou a caneta. Com delicadeza ela o envolveu em um coque despojado e ao terminar, olhou para trás. Seus olhos penetrantes cruzaram com os meus, e eu me senti como no primeiro instante em que nos vimos. Uma sensação desconhecida, mas positiva. Era como se eu quisesse me aproximar e ao mesmo tempo me afastar. Chega a ser louco!O contato visual não durou mais do que alguns segundos. Ela revirou os olhos, outra vez pegou a caneta e voltou sua atenção para o quadro. Aquela atitude me deixou incomodado. Quem ela pensa que é para me tratar assim?Tirando-me de meus devaneios, o professor se levantou, correndo os olhos pela sala.— Todos terminaram?Algumas vozes responderam em um uníssono “não”.Elliot nos deu mais alguns minutos para terminar. Eu olhei para o quadro e corri para terminar minhas anotações. Assim que todos terminaram, ele prosseguiu.— Chegou a hora de colocar em prática meu modo de lecionar. Por favor, dividam a sala em dois grupos.Madison mal esperou que ele terminasse de falar e já colou em mim. Aquela gatinha marrenta juntou-se ao outro pessoal, onde Emilly estava. O professor colocou dois potes sobre a mesa dele e continuou:— Escrevam seus nomes em um pedaço pequeno de papel, dobrem e coloquem nestes potes. O lado da porta será o grupo A. O lado da janela, grupo B. — Falou indicando as turmas. Nós fizemos o que ele disse.Quando voltamos para nossos lugares, ele embalou os nomes do grupo A em uma folha, amassou e guardou em sua pasta.Ver aquilo me deixou confuso. O que diabøs este homem está fazendo?— Vocês devem estar se perguntando o porquê disso tudo, e eu vou explicar. Eu costumo trabalhar com duplas, as quais serão trocadas no início do próximo semestre. Cada membro do grupo A, sorteará um nome do grupo B para que as duplas se formem— Professor! — Emilly o interrompeu. — Por que não deixa que nós mesmos escolhemos com quem queremos estudar?— Essa com certeza é a dúvida de toda a turma. — Ele fez um sinal com a mão, apontando para ela. — Boa pergunta, senhorita… qual é o seu nome?— Emilly. — Bom, respondendo a pergunta da nossa colega, Emilly, não permito por razões óbvias. Vou dar um exemplo: vamos supor que nesta turma haja um casal. Claro que ambos vão preferir estudar juntos. Porém, qualquer desentendimento entre eles, irá atrapalhar o desempenho acadêmico. É exatamente isso que o sorteio evita.— Mas pode acontecer de um sortear o outro, não pode?— Dificilmente. Mas essa é outra pergunta interessante! Quando pedi a divisão da turma, os possíveis casais que existam aqui, com certeza foram para o mesmo lado. Este também é o motivo que me levou a guardar os nomes do grupo A em minha pasta. Vou jogar somente no lixo da minha casa, para evitar a manipulação das duplas em benefício próprio. Alguém tem mais alguma dúvida? — Ele outra vez olhou para todos e como ninguém se manifestou, ele concluiu. — Bom, então vamos dar continuidade. Vou pedir que não abram ainda.Ele começou a caminhar entre as carteiras e cada um foi tirando um papel. Após todos pegarem, o professor voltou para a frente da sala e pediu que fôssemos falando os nomes das duplas. Aos demais, orientou que levantassem a mão, conforme ouvissem seus nomes. — Eu gosto de ser bem aleatório, então vamos começar pelo fundo. Você aí, na última carteira… qual é o seu nome? — Indagou apontando para mim. — Carlos Eduardo, mas pregiro ser chamado de Cadu! — Ok! Cadu, leia em voz alta o nome que você sorteou.Tranquilamente desdobrei o pedaço de papel em minhas mãos e fiquei desapontado ao ver um nome desconhecido. Enchi os pulmões de ar e soltei, então olhei para o professor e falei:— Verônica.A sala inteira permaneceu em silêncio e nem uma aluna se manifestou, o que me levou a pensar que a tal Verônica havia faltado. Olhei para Emilly e ela estava segurando o riso, isso me deixou intrigado. Antes que eu pudesse concluir meu pensamento, Eliot intercedeu. — Senhorita, Verônica, está presente?Foi neste momento que quem eu menos esperava, levantou a mão.— Sou eu!VerônicaEu quase infartei quando vi quem sorteou meu nome! Por que tinha que ser ele? Por que justo ele? Eu não queria acreditar que seria obrigada a formar dupla com aquele garoto insuportável e teria que conviver com ele por seis meses. Mas Elliot já havia deixado claro que não permitiria manipulações. Eu não tinha nada a fazer.Minha insatisfação com certeza estava nítida em meu rosto, e enquanto ele seguia com o tal sorteio, eu só conseguia pensar na minha falta de sorte. Uma sala com mais de vinte alunos e justo eu sou contemplada para estudar com aquele garoto mimado. Drøga!Emilly pareceu ter gostado de sua dupla. Ela tinha um semblante satisfeito e estava animada. Fiquei feliz por ela, afinal, ao menos uma de nós precisava ter sorte, não é mesmo?!Com as duplas já formadas, Elliot deu sequência e já no final do segundo horário, passou um trabalho para ser entregue na próxima aula.— Pessoal, quero que se reúnam com suas duplas e me entreguem na próxima aula, uma pesquisa mais
CaduAo saber que minha parceira seria a princesa estressadinha, um sorriso automático surgiu em meu rosto. Não posso negar que senti uma atração por ela desde o momento que a vi, e quanto mais tempo passarmos juntos, maiores serão as chances de conseguir o que me interessa.Não entendo porque estou tão focado nisso, ela não é a única garota bonita da universidade e já mostrou que não vai facilitar minha vida. Mas, como diz a minha certidão de nascimento, eu sou brasileiro e não desisto fácil.Quanto mais ela me evita, mais me atrai. É isso que não compreendo. Eu até gosto de desafios, mas nunca tive que correr atrás de ninguém e com ela não será diferente. Tenho certeza que ela está apenas se fazendo de difícil, mas no final, logo vai ceder, como todas as outras.Durante o intervalo, vi o "certinho", também conhecido como meu irmão, se aproximando dela e de Emilly. Eles pareciam estar se divertindo, rindo sem parar. Por alguma razão, isso me incomodou.Várias vezes notei que ela també
Verônica Após a abordagem daquele garoto, continuei em direção aos portões da universidade, onde o ônibus — que é disponibilizado para a locomoção dos alunos bolsistas — já estava nos esperando. Sentei em um dos bancos e assim que todos embarcaram, o motorista seguiu viagem.Mais ou menos quinze minutos depois, cheguei no apartamento. Tirei a blusa de frio e guardei no quarto junto com minha mochila, então fui preparar algo para comer. Decide fazer tacos, pois o preparo da massa é rápido. Além disso, já tinha frango com legumes pronto na geladeira. Apesar de ser uma comida mexicana, também é muito consumida nos Estados Unidos. Eu, particularmente adoro.Coloquei o recheio para esquentar e quando terminei de fritar as massas, montei um taco, peguei um refrigerante e sentei para comer. Ao terminar de me alimentar, lavei a louça e fui até o banheiro escovar os dentes. Como ainda tinha alguns minutinhos antes de sair para o trabalho, deitei no sofá. Logo a porta se abriu e minha prima e
Cadu — Onde você conseguiu meu número? — Ela perguntou, um pouco alterada.Mesmo que isso fosse custar a vida do meu irmão, ele estava merecendo, depois de ter me feito passar tanta raiva, então eu falei a verdade.— Meu irmão me passou.Ouvi uma respiração pesada do outro lado da linha.— Ah, claro… eu devia ter imaginado!Pude sentir a raiva no timbre de sua voz. Naquele momento, ela com certeza estava pensando em como iria esconder o corpo do Vini, depois de matá-lo. Apesar de tudo, ele me ajudou. Então, tentando livrar a barra dele, eu expliquei:— Eu sei que você está brava, mas não desconta nele. Eu pedi porque era necessário. Esqueci de anotar seu endereço e quando fui tomar banho, apaguei sem perceber.Não sei se ela acreditou, mas pelo menos parou de reclamar.— Tá! Vou enviar a localização. — Ela disse.Nos segundos seguintes meu celular vibrou, indicando uma mensagem. — Pronto! Vê se não demora, já está atrasado.— Ok! Chego em cinco minutos.Encerrei a ligação e abri o
Verônica Entrei no apartamento, tentando fazer o menor barulho possível, mas não teve jeito, minha prima apareceu do nada.— E aí, me conta como foi! — Ela disse, cheia de curiosidade.Eu sabia que ela não ia sossegar até obter uma resposta.— Bem! Agora é só torcer para que agrade o professor Elliot. — Eu fingi demência e fui para meu quarto.Ela me seguiu, determinada a saber o que havia acontecido.— Não se faça de boba! Você sabe muito bem do que estou falando. Vi vocês conversando lá embaixo.— Isabella, por favor, não enche!— Ah não… você não pode fazer isso comigo! Me conta, por favor! — Ela pulou na minha cama. Eu sabia que ela não ia me deixar em paz. Mas que merda!— Ele me convidou para comer, mas eu não aceitei. — Falei e seus olhos fixaram em mim.— Você está louca? Por que não aceitou?A indignação estava estampada em seu rosto.— Porque não! Eu sei muito bem quais são as intenções dele. Só está querendo me levar para a cama. — Respondi, enquanto guardava minha mochil
CaduDe longe, avistei Verônica andando de um lado para o outro, visivelmente preocupada. Seus passos rápidos e seu olhar ansioso para o relógio em seu pulso revelavam sua agitação. Eu me aproximei e estacionei minha moto perto da calçada.— Sobe. — Pronunciei, entregando-lhe o capacete que peguei emprestado com um colega. No entanto, ela virou o rosto para o lado, recusando minha oferta.— Eu já chamei um táxi. — Respondeu, cheia de orgulho.Olhei ao redor e depois para ela, com ironia.— Não vejo nenhum táxi te esperando!— É porque ainda não chegou. — Ela retrucou, teimosa como sempre.— Sobe logo, pørra! — Perdi a paciência, encarando-a com firmeza.Ela me olhou, claramente irritada.— Quem você pensa que é para falar comigo dessa forma? Eu não vou com você a lugar nenhum. — Disse com um olhar desafiador.Respirei fundo para controlar minha raiva, sabendo que não tínhamos tempo a perder. Usei minhas últimas cartas na manga para convencê-la.— Olha só, você tem duas opções: ou sobe
CaduCheguei na Mr Smith's, fumando meu vape e absorvendo a contagiante animação ao meu redor. A música alta e as luzes coloridas criaram uma sensação de empolgação instantânea.Enquanto aproveitava o ambiente com alguns amigos, meus olhos foram atraídos por uma ruiva muito gata, que parecia estar interessada em mim. Logo nos encontramos envolvidos em uma troca de olhares e sorrisos provocantes. Eu me aproximei dela e iniciamos uma conversa descontraída.Enquanto desfrutávamos da companhia um do outro, meu olhar acidentalmente encontrou Verônica no meio da multidão. Suas curvas se realçaram no vestido justo que ela usava. Ela estava acompanhada de uma amiga igualmente bonita, com cabelos longos e ondulados, com mechas em um tom achocolatado. Meu irmão, percebendo a presença delas, se aproximou e as cumprimentou com beijos no rosto, então eles seguiram para a pista de dança.Fiquei surpreso ao ver Verônica dançando com tanta energia e entrega. Ela se movia no ritmo da música de forma c
CaduQuando chegamos na moto, notei que sua pele estava arrepiada e emprestei minha jaqueta a ela.— Toma, coloca isso. — Eu a ajudei a colocar e fechei o zíper. — Espera só um minuto, preciso fazer uma coisa antes de irmos.Como meu irmão estava dançando com a amiga dela, enviei uma mensagem a ele, avisando que iria levá-la para casa. Mas não entrei em detalhes. A mensagem foi entregue, mas não foi lida. Ao menos quando ele pegasse o celular, saberia que eu a tinha levado de volta.— Pronto! Já podemos ir.Desta vez ela se segurou em mim sem que eu precisasse pedir, e algum tempo depois, chegamos no edifício.Até uma hora atrás, eu pensava que ela tinha um namorado ciumento, que deixava chupões no pescoço dela para marcar território. Mas vê-la conversando com Logan e permitindo uma certa aproximação dele no bar, me fez pensar que talvez ela possa estar envolvida em um relacionamento aberto.Eu não sabia exatamente o que iria encontrar lá em cima, mas o fato é que não podia deixá-la s