Verônica
Eu quase infartei quando vi quem sorteou meu nome! Por que tinha que ser ele? Por que justo ele? Eu não queria acreditar que seria obrigada a formar dupla com aquele garoto insuportável e teria que conviver com ele por seis meses. Mas Elliot já havia deixado claro que não permitiria manipulações. Eu não tinha nada a fazer.Minha insatisfação com certeza estava nítida em meu rosto, e enquanto ele seguia com o tal sorteio, eu só conseguia pensar na minha falta de sorte. Uma sala com mais de vinte alunos e justo eu sou contemplada para estudar com aquele garoto mimado. Drøga!Emilly pareceu ter gostado de sua dupla. Ela tinha um semblante satisfeito e estava animada. Fiquei feliz por ela, afinal, ao menos uma de nós precisava ter sorte, não é mesmo?!Com as duplas já formadas, Elliot deu sequência e já no final do segundo horário, passou um trabalho para ser entregue na próxima aula.— Pessoal, quero que se reúnam com suas duplas e me entreguem na próxima aula, uma pesquisa mais aprofundada sobre o que aprendemos hoje. O trabalho deverá ser apresentado pela dupla, ou não vou considerar. Vale nota, então não faltem! — Ele anunciou e neste momento eu automaticamente revirei os olhos, pois já sabia o que me esperava. Emilly percebeu.Tivemos mais uma aula e em seguida fomos para o intervalo. Emilly saiu da sala comigo e nós nos sentamos em uma mureta do jardim, ao lado do pátio central.— Que carinha é essa, Verônica? O que está te chateando? É a sua dupla, não é?!— Sendo bem honesta, é sim. — Confirmei sem rodeios.Ela esboçou um breve sorriso e continuou:— Relaxa, gata! Cadu é bem mimadinho, mas ele é legal e muito inteligente. Você vai ver! Acho que no quesito estudo, vocês vão se dar bem.Eu sinceramente não acredito nisso, mas também não queria continuar prolongando o assunto. Afinal, eles são amigos e achei chato ficar falando mal dele. Mesmo que eu não o suportasse.— Assim eu espero, embora duvide. — Falei sem pensar.Ela riu— Por enquanto esqueça isso, vamos falar de outra coisa. Fale um pouco sobre você… mora com seus pais?— Não, eu moro com minha prima em Vale do Silício. Minha mãe ficou no Brasil e meu genitor… esse aí é sem comentários. — Ela me olhou acanhada.— Não se dá bem com seu pai?— É uma história um pouco complicada e na verdade eu não gostaria de falar sobre isso. Entende?— Claro, não se preocupe e me perdoe pela indiscrição.— Sem problemas! — Eu sorri.Ela retribuiu da mesma forma.— Você trabalha ou só estuda?— Sim, eu tenho um emprego de meio período.— Que legal! E o que você faz?Ela mostrou estar interessada no assunto, mas quando eu ia responder, um aluno da nossa turma nos interrompeu.— Oi Emilly, não vai me apresentar sua amiga? — Indagou aproximando-se.Ela levantou as sobrancelhas e olhou para mim, falando baixinho:— Pelo visto você está com sorte…Acho que notei uma certa ironia nesta frase. Então, Emilly normalizou o tom de voz e completou:— Claro que sim! Essa é a Verônica, minha nova amiga. Verônica, ele é o Vinícius, mas todos o chamam de Vini.Eu sorri, e estendi a mão para cumprimentá-lo.— Muito prazer, Vinícius!Ele apertou minha mão e me puxou para um beijo no rosto.— O prazer é meu!Fiquei um pouco sem graça quando ele se afastou, pois alguns alunos estavam nos encarando, mas logo Emilly continuou o assunto.— Deu pra notar a diferença? — Perguntou olhando para mim.Eu fiquei toda confusa. Do que ela está falando?Percebendo que a única maneira de saber, era perguntando, eu o fiz.— Como assim? Não entendi.— A diferença de personalidade. Vini é o irmão mais velho do Cadu.Ao ouvir aquilo, meus olhos foram parar na nuca — sim, é um costume meu — e só me dei conta do que havia feito, quando os dois começaram a gargalhar.— O que foi que eu perdi? — Vinícius interrogou, tentando controlar o riso.Emilly só conseguiu explicar, depois que se recompôs.— É que o primeiro encontro dos dois não foi muito agradável. — Ela falou. Em seguida olhou para mim. — Verônica, os dois são completamente diferentes. Vini tem a maturidade que falta no irmão. Mas apesar desse jeitinho marrento do Cadu, ele é do bem e você vai comprovar isso. Afinal, ele é sua dupla, né?!— Por favor, não me lembre disso! — Novamente falei sem pensar e acabei rindo com eles.Ficamos conversando e para falar a verdade, gostei do Vini. Ele é muito comunicativo e deixou claro sua paixão pela arquitetura, quando nos contou o porquê só ingressou na universidade agora, com vinte e um anos, já que sempre soube o que queria estudar. O motivo é que ele optou por fazer um curso de Técnico em Edificações após o colégio, e a duração do mesmo é de um ano e seis meses. Vinícius também nos explicou que muitas pessoas acreditam que este é um curso para quem deseja fazer engenharia, mas a verdade é que também é excelente para quem pretende se tornar um arquiteto renomado. Ele mostrou ser um rapaz muito centrado, que sabe o que quer para a vida e o futuro, exatamente como Emilly havia dito. Bem diferente daquele imbecil do irmão dele. Aquele garoto se acha.Desde que nos sentamos ali, o tal Cadu não desviou a atenção de nós. Ele estava parado um pouco mais adiante, junto com aquela outra sem noção, que mais parecia um chaveiro, pendurada no pescoço dele.Como eles podem ser tão ridículos?!— Verônica, está tudo bem? — Emilly me chamou, estalando os dedos em minha frente, na tentativa de chamar minha atenção.Eu bloqueei meus pensamentos e olhei para ela assentindo.— Sim, está! — Tem certeza? Você parece incomodada de novo.— É, eu estou.— Por quê? O que aconteceu agora? — Ela perguntou.Eu não queria revelar o real motivo na frente do irmão dele, mas não consegui controlar a língua e falei no impulso:— Aquele insuportável não parou de nos encarar durante todo o intervalo. Que garoto chato!Vini me olhou abruptamente no instante em que acabei de desabafar, e quando percebi que havia acabado de xingar o irmão dele em sua frente, já era tarde demais. Pensei que ele fosse me repreender, pedir que eu tivesse mais respeito ou algo assim, mas para minha surpresa, a observação dele foi diferente do que eu imaginava.— Mas se você viu que ele estava olhando o tempo todo, é porque você também estava.Os dois me encararam e era nítido que ambos aguardavam ansiosos por um pronunciamento meu, mas graças a Deus o sinal tocou e eu me levantei rapidamente, pois não sabia o que dizer.— Vamos para a aula logo? Não quero me atrasar. — Caminhei sem olhar para trás e só percebi que eles me acompanharam, quando chegamos na sala.Passei o resto do período olhando para a lousa. Não queria correr o risco de desviar o olhar e topar com o garanhão de Stanford me encarando de novo. Ele é muito desagradável, e eu ainda não me conformei com essa péssima obra do destino.Tivemos mais três aulas e quando a última se encerrou, guardamos as coisas e saímos da sala. Emilly, Vini e eu trocamos contato, nos despedimos e então, eu segui caminhando entre os alunos, indo em direção à saída. Quando estava quase chegando no portão, senti alguém segurando meu braço. Olhei para trás e dei de cara com aquele garoto insuportável.— Verônica, espera!CaduAo saber que minha parceira seria a princesa estressadinha, um sorriso automático surgiu em meu rosto. Não posso negar que senti uma atração por ela desde o momento que a vi, e quanto mais tempo passarmos juntos, maiores serão as chances de conseguir o que me interessa.Não entendo porque estou tão focado nisso, ela não é a única garota bonita da universidade e já mostrou que não vai facilitar minha vida. Mas, como diz a minha certidão de nascimento, eu sou brasileiro e não desisto fácil.Quanto mais ela me evita, mais me atrai. É isso que não compreendo. Eu até gosto de desafios, mas nunca tive que correr atrás de ninguém e com ela não será diferente. Tenho certeza que ela está apenas se fazendo de difícil, mas no final, logo vai ceder, como todas as outras.Durante o intervalo, vi o "certinho", também conhecido como meu irmão, se aproximando dela e de Emilly. Eles pareciam estar se divertindo, rindo sem parar. Por alguma razão, isso me incomodou.Várias vezes notei que ela també
Verônica Após a abordagem daquele garoto, continuei em direção aos portões da universidade, onde o ônibus — que é disponibilizado para a locomoção dos alunos bolsistas — já estava nos esperando. Sentei em um dos bancos e assim que todos embarcaram, o motorista seguiu viagem.Mais ou menos quinze minutos depois, cheguei no apartamento. Tirei a blusa de frio e guardei no quarto junto com minha mochila, então fui preparar algo para comer. Decide fazer tacos, pois o preparo da massa é rápido. Além disso, já tinha frango com legumes pronto na geladeira. Apesar de ser uma comida mexicana, também é muito consumida nos Estados Unidos. Eu, particularmente adoro.Coloquei o recheio para esquentar e quando terminei de fritar as massas, montei um taco, peguei um refrigerante e sentei para comer. Ao terminar de me alimentar, lavei a louça e fui até o banheiro escovar os dentes. Como ainda tinha alguns minutinhos antes de sair para o trabalho, deitei no sofá. Logo a porta se abriu e minha prima e
Cadu — Onde você conseguiu meu número? — Ela perguntou, um pouco alterada.Mesmo que isso fosse custar a vida do meu irmão, ele estava merecendo, depois de ter me feito passar tanta raiva, então eu falei a verdade.— Meu irmão me passou.Ouvi uma respiração pesada do outro lado da linha.— Ah, claro… eu devia ter imaginado!Pude sentir a raiva no timbre de sua voz. Naquele momento, ela com certeza estava pensando em como iria esconder o corpo do Vini, depois de matá-lo. Apesar de tudo, ele me ajudou. Então, tentando livrar a barra dele, eu expliquei:— Eu sei que você está brava, mas não desconta nele. Eu pedi porque era necessário. Esqueci de anotar seu endereço e quando fui tomar banho, apaguei sem perceber.Não sei se ela acreditou, mas pelo menos parou de reclamar.— Tá! Vou enviar a localização. — Ela disse.Nos segundos seguintes meu celular vibrou, indicando uma mensagem. — Pronto! Vê se não demora, já está atrasado.— Ok! Chego em cinco minutos.Encerrei a ligação e abri o
Verônica Entrei no apartamento, tentando fazer o menor barulho possível, mas não teve jeito, minha prima apareceu do nada.— E aí, me conta como foi! — Ela disse, cheia de curiosidade.Eu sabia que ela não ia sossegar até obter uma resposta.— Bem! Agora é só torcer para que agrade o professor Elliot. — Eu fingi demência e fui para meu quarto.Ela me seguiu, determinada a saber o que havia acontecido.— Não se faça de boba! Você sabe muito bem do que estou falando. Vi vocês conversando lá embaixo.— Isabella, por favor, não enche!— Ah não… você não pode fazer isso comigo! Me conta, por favor! — Ela pulou na minha cama. Eu sabia que ela não ia me deixar em paz. Mas que merda!— Ele me convidou para comer, mas eu não aceitei. — Falei e seus olhos fixaram em mim.— Você está louca? Por que não aceitou?A indignação estava estampada em seu rosto.— Porque não! Eu sei muito bem quais são as intenções dele. Só está querendo me levar para a cama. — Respondi, enquanto guardava minha mochil
CaduDe longe, avistei Verônica andando de um lado para o outro, visivelmente preocupada. Seus passos rápidos e seu olhar ansioso para o relógio em seu pulso revelavam sua agitação. Eu me aproximei e estacionei minha moto perto da calçada.— Sobe. — Pronunciei, entregando-lhe o capacete que peguei emprestado com um colega. No entanto, ela virou o rosto para o lado, recusando minha oferta.— Eu já chamei um táxi. — Respondeu, cheia de orgulho.Olhei ao redor e depois para ela, com ironia.— Não vejo nenhum táxi te esperando!— É porque ainda não chegou. — Ela retrucou, teimosa como sempre.— Sobe logo, pørra! — Perdi a paciência, encarando-a com firmeza.Ela me olhou, claramente irritada.— Quem você pensa que é para falar comigo dessa forma? Eu não vou com você a lugar nenhum. — Disse com um olhar desafiador.Respirei fundo para controlar minha raiva, sabendo que não tínhamos tempo a perder. Usei minhas últimas cartas na manga para convencê-la.— Olha só, você tem duas opções: ou sobe
CaduCheguei na Mr Smith's, fumando meu vape e absorvendo a contagiante animação ao meu redor. A música alta e as luzes coloridas criaram uma sensação de empolgação instantânea.Enquanto aproveitava o ambiente com alguns amigos, meus olhos foram atraídos por uma ruiva muito gata, que parecia estar interessada em mim. Logo nos encontramos envolvidos em uma troca de olhares e sorrisos provocantes. Eu me aproximei dela e iniciamos uma conversa descontraída.Enquanto desfrutávamos da companhia um do outro, meu olhar acidentalmente encontrou Verônica no meio da multidão. Suas curvas se realçaram no vestido justo que ela usava. Ela estava acompanhada de uma amiga igualmente bonita, com cabelos longos e ondulados, com mechas em um tom achocolatado. Meu irmão, percebendo a presença delas, se aproximou e as cumprimentou com beijos no rosto, então eles seguiram para a pista de dança.Fiquei surpreso ao ver Verônica dançando com tanta energia e entrega. Ela se movia no ritmo da música de forma c
CaduQuando chegamos na moto, notei que sua pele estava arrepiada e emprestei minha jaqueta a ela.— Toma, coloca isso. — Eu a ajudei a colocar e fechei o zíper. — Espera só um minuto, preciso fazer uma coisa antes de irmos.Como meu irmão estava dançando com a amiga dela, enviei uma mensagem a ele, avisando que iria levá-la para casa. Mas não entrei em detalhes. A mensagem foi entregue, mas não foi lida. Ao menos quando ele pegasse o celular, saberia que eu a tinha levado de volta.— Pronto! Já podemos ir.Desta vez ela se segurou em mim sem que eu precisasse pedir, e algum tempo depois, chegamos no edifício.Até uma hora atrás, eu pensava que ela tinha um namorado ciumento, que deixava chupões no pescoço dela para marcar território. Mas vê-la conversando com Logan e permitindo uma certa aproximação dele no bar, me fez pensar que talvez ela possa estar envolvida em um relacionamento aberto.Eu não sabia exatamente o que iria encontrar lá em cima, mas o fato é que não podia deixá-la s
Verônica Acordei com uma dor latejante na cabeça, como se um martelo estivesse batendo repetidamente contra uma bigorna dentro do meu crânio. Tentei abrir os olhos, mas a luz do sol que entrava pela janela era tão forte que parecia que alguém estava me esfaqueando nos olhos.— Finalmente acordou, hein?!A voz vinha de muito perto. Eu sabia quem era antes mesmo de abrir os olhos. Era a única pessoa que poderia ter aquela voz suave e sarcástica ao mesmo tempo. Minha prima.Forcei-me a abrir os olhos apenas para encontrá-la sentada na beirada da minha cama, olhando para mim com uma expressão preocupada. Ela parecia ter envelhecido dez anos da noite para o dia. Ou talvez fosse apenas a luz do sol que fazia suas feições parecerem tão duras.— Cadu sofreu um acidente de moto ontem, e está internado. — Ela disse de uma vez.Fiquei impactada com a notícia. Me sentei na cama com um pouco de dificuldade. Minha cabeça doía muito.— Ele está bem?— Parece que já está fora de perigo. Mas quebrou