Verônica Ele guardou o celular de volta no bolso, soltando um suspiro pesado que soou quase como uma lamentação. Mas havia algo no seu olhar, um brilho quase irônico, que me deixou intrigada. Cadu me encarou, e naquele instante senti um arrepio percorrer meu corpo. Era como se ele estivesse me desafiando, me convidando a decifrar o enigma que se escondia através daquela mensagem.— Vinícius não vem para o almoço. Ele me enviou uma mensagem. — Cadu anunciou, a voz carregada de um tom que me deixou ainda mais confusa.— Ao menos desta vez ele teve o cuidado de avisar. — Maurício comentou com ironia. Laura o repreendeu apenas com um olhar.— Já que somos só nós quatro, então vamos para a mesa? Estou faminta. — Ela sugeriu, ganhando a aprovação instantânea do marido.— Boa ideia, querida. Vamos almoçar.Maurício cultivava uma aura de impenetrabilidade, de homem de ferro, mas eu sabia que era Laura quem regia a orquestra. Aquele gigante de músculos e voz grave, em casa, se transformava nu
Verônica Meu coração acelerou em meu peito. Que merda havia acontecido comigo? Porque eu estava dizendo aquelas coisas? O sorriso de Cadu se ampliou, seus olhos brilhando de um jeito que me fez corar. Ele se aproximou, e o cheiro de seu perfume, amadeirado e quente, me envolveu como um abraço. Seus dedos deslizaram pela minha bochecha, tirando uma mecha de cabelo que caía sobre meu rosto. A ponta do meu queixo ficou presa entre seu polegar e indicador e a sensação de seu toque me arrepiou.O ar ficou denso, a respiração de Cadu se tornou audível, e eu senti meu corpo inteiro se aquecer. Seus olhos âmbar e penetrantes me encaravam, deixando-me sem fôlego. Ele se inclinou, a distância entre nossos rostos diminuindo a cada segundo. Fechei os olhos, esperando o contato de seus lábios com os meus, mas, a poucos centímetros de distância, um estrondo abafado interrompeu o momento. Um husky siberiano, todo empolgado, se esfregou nas nossas pernas, lambendo a minha mão com entusiasmo. Sua p
Verônica Sentada numa poltrona macia, em um apartamento gelado pelo frio de fevereiro e perdida em pensamentos, eu observava os flocos de neve que caíam do lado de fora da janela, enquanto desenhava nossas iniciais no vidro embaçado por minha respiração, e pelo vapor quente, que saia da xícara de café fresco que eu segurava em uma das mãos, recordando-me dos bons momentos que vivi ao lado de meu namorado, Miguel.Senti um aperto no peito ao lembrar-me de sua insistência para que eu ficasse no Brasil e me peguei imaginando como teria sido se eu tivesse atendido a seu pedido… será que ele estaria vivo? Eu poderia ter evitado aquela tragédia? É… eu acho que não. Afinal, implorei inúmeras vezes para que ele deixasse as corridas clandestinas, mas ele nunca me ouviu. Os rachas eram sua vida, até que eles a tiraram.— Outra vez pensando no mesmo assunto, Vê? Não gosto de te ver deprimida! — Minha prima anunciou sua presença, enquanto caminhava até mim.Eu umedeci as mangas do moletom, ao enx
CaduMeu nome é Carlos Eduardo Viturino, mais conhecido como Cadu. Tenho dezenove anos e moro em São Francisco, Califórnia. Sou brasileiro de nacionalidade, mas nos mudamos para os Estados Unidos quando eu tinha apenas seis meses de vida e como não adquiri nenhum costume de meu país de origem, me considero americano. Cresci aprendendo os dois idiomas e ao longo dos anos, fiz aulas particulares de Língua Portuguesa a mando de meu pai, mas nunca tive a intenção de voltar ao Brasil. Minha vida é, e sempre será aqui.Como sempre estudei com os mesmos colegas de turma e a maioria escolheu cursar arquitetura por vontade própria — que não é o meu caso — novamente vamos estar juntos durante mais quatro anos. E como todos já sabem, o título de popular continua sendo meu.A verdade é que eu não sou nada modesto e adoro ver as garotas se jogando aos meus pés. Não tenho problema algum em admitir que pego várias ao mesmo tempo, mas todas sabem e se elas não se importam, eu menos ainda.A loira qu
VerônicaEu quase infartei quando vi quem sorteou meu nome! Por que tinha que ser ele? Por que justo ele? Eu não queria acreditar que seria obrigada a formar dupla com aquele garoto insuportável e teria que conviver com ele por seis meses. Mas Elliot já havia deixado claro que não permitiria manipulações. Eu não tinha nada a fazer.Minha insatisfação com certeza estava nítida em meu rosto, e enquanto ele seguia com o tal sorteio, eu só conseguia pensar na minha falta de sorte. Uma sala com mais de vinte alunos e justo eu sou contemplada para estudar com aquele garoto mimado. Drøga!Emilly pareceu ter gostado de sua dupla. Ela tinha um semblante satisfeito e estava animada. Fiquei feliz por ela, afinal, ao menos uma de nós precisava ter sorte, não é mesmo?!Com as duplas já formadas, Elliot deu sequência e já no final do segundo horário, passou um trabalho para ser entregue na próxima aula.— Pessoal, quero que se reúnam com suas duplas e me entreguem na próxima aula, uma pesquisa mais
CaduAo saber que minha parceira seria a princesa estressadinha, um sorriso automático surgiu em meu rosto. Não posso negar que senti uma atração por ela desde o momento que a vi, e quanto mais tempo passarmos juntos, maiores serão as chances de conseguir o que me interessa.Não entendo porque estou tão focado nisso, ela não é a única garota bonita da universidade e já mostrou que não vai facilitar minha vida. Mas, como diz a minha certidão de nascimento, eu sou brasileiro e não desisto fácil.Quanto mais ela me evita, mais me atrai. É isso que não compreendo. Eu até gosto de desafios, mas nunca tive que correr atrás de ninguém e com ela não será diferente. Tenho certeza que ela está apenas se fazendo de difícil, mas no final, logo vai ceder, como todas as outras.Durante o intervalo, vi o "certinho", também conhecido como meu irmão, se aproximando dela e de Emilly. Eles pareciam estar se divertindo, rindo sem parar. Por alguma razão, isso me incomodou.Várias vezes notei que ela també
Verônica Após a abordagem daquele garoto, continuei em direção aos portões da universidade, onde o ônibus — que é disponibilizado para a locomoção dos alunos bolsistas — já estava nos esperando. Sentei em um dos bancos e assim que todos embarcaram, o motorista seguiu viagem.Mais ou menos quinze minutos depois, cheguei no apartamento. Tirei a blusa de frio e guardei no quarto junto com minha mochila, então fui preparar algo para comer. Decide fazer tacos, pois o preparo da massa é rápido. Além disso, já tinha frango com legumes pronto na geladeira. Apesar de ser uma comida mexicana, também é muito consumida nos Estados Unidos. Eu, particularmente adoro.Coloquei o recheio para esquentar e quando terminei de fritar as massas, montei um taco, peguei um refrigerante e sentei para comer. Ao terminar de me alimentar, lavei a louça e fui até o banheiro escovar os dentes. Como ainda tinha alguns minutinhos antes de sair para o trabalho, deitei no sofá. Logo a porta se abriu e minha prima e
Cadu — Onde você conseguiu meu número? — Ela perguntou, um pouco alterada.Mesmo que isso fosse custar a vida do meu irmão, ele estava merecendo, depois de ter me feito passar tanta raiva, então eu falei a verdade.— Meu irmão me passou.Ouvi uma respiração pesada do outro lado da linha.— Ah, claro… eu devia ter imaginado!Pude sentir a raiva no timbre de sua voz. Naquele momento, ela com certeza estava pensando em como iria esconder o corpo do Vini, depois de matá-lo. Apesar de tudo, ele me ajudou. Então, tentando livrar a barra dele, eu expliquei:— Eu sei que você está brava, mas não desconta nele. Eu pedi porque era necessário. Esqueci de anotar seu endereço e quando fui tomar banho, apaguei sem perceber.Não sei se ela acreditou, mas pelo menos parou de reclamar.— Tá! Vou enviar a localização. — Ela disse.Nos segundos seguintes meu celular vibrou, indicando uma mensagem. — Pronto! Vê se não demora, já está atrasado.— Ok! Chego em cinco minutos.Encerrei a ligação e abri o