Capitulo três

Não pare a sua vida por mim 

As sirenes tocavam alto, eram oito e meia da noite. E isso significava que era horário de visita aos detentos da prisão federal de Miami :

- Megan Acaster! Se dirija até a sala de visitas. Tem alguém que veio te ver. - Disse Norman, o carcereiro.

- Mas eu não...

- Vá logo! Você tem apenas 15 minutos. - Exclamou ele.

O uniforme cinza escuro não lhe caia bem, mas ainda sim, por onde ela passava, garotas assobiavam. Mandavam beijos. Tentavam passar a mão na bunda da ruiva. Mas só tentavam mesmo, pois sabiam que Megan não era alguém com quem queriam intriga. Sabiam que a moça já havia sido do FBI, então preferiam ficar longe dela.

Sua reputação ali dentro era algo que ela custou a ganhar. Apanhou de outras detentas por anos, até entenderem que ela era uma mulher forte e durona. Apesar de só ter feito o que fez para sobreviver. Megan sabia que se não tivesse feito nada ou batido em alguém, provavelmente já teria sido morta dentro daquela prisão.

Era questão de sobrevivência, hierarquia do mais forte. Não que ela fosse a mais forte dali ou que tivessem medo dela. Mas uma ruiva de estatura média, que derrubou no soco uma mulher de 120 kilos....

Ao entrar na sala de visitas, Megan logo reconheceu um rosto. Era de sua namorada (ou ex) Natália, ela logo olhou para dentro dos olhos da parceira e deu um sorriso de canto, enquanto se sentava na cadeira de frente para um vidro fino cheio de furinhos:

- O que faz aqui? - Perguntou Megan.

- Vim saber o porque você mentiu para mim! - Respondeu Natália.

- Natália.. Eu.. Vai fazer dez anos que eu estou aqui. Por que você..?

- Eu esperei todos esses anos pra vir te perguntar isso, pois eu imaginei que você não fosse querer ver ninguém por algum tempo. - Respondeu Natália - Mas acredito que eu mereça uma explicação.

- Não tem uma explicação resumida. Eu fiz coisas que achei que eram certas... Eu sacrifiquei meu emprego no FBI para salvar algumas pessoas... É por isso que eu estou aqui.

- Por que você nunca me contou nada? Quer dizer, eu achei que você era uma mulher bacana e..

- E eu sou!

- Não, você não é! Você ajudou uma mulher a queimar um homem vivo. - Disse Natália - Você ajudou uma criminosa a fugir.

- Ele a estrupou.

- Como é?

- O homem que eu ajudei a matar... Ele a estrupou. Não só ela. Mas a várias outras mulheres. Tentou matar a própria filha, matou um rapaz inocente. E também tentou matar minha ex esposa. - Respondeu Megan, com os olhos marejados. - É claro que eu sei que ter ajudado a matar Rayn Anderson não consertaria nada. E na verdade, não me sinto responsável pela morte dele. Eu só ajudei a minha amiga a ter sua vingança.

- A vingança nunca consertaria nada! - Disse Natália, com a voz embargada.

- Não consertaria mesmo, e de fato não consertou. Mas me diga o que realmente iria consertar. Eu vi Rebeca Grabel morrendo em um hospital meia boca, e antes havia visto seu noivo sendo morto a sangue frio. Rebeca sofreu abuso por anos e depois foi forçada a ver sua filha crescer sem sua verdadeira mãe. Me diga, Natália. O que você teria feito?

- Eu.. E-eu não sei.

- Fica difícil responder essa pergunta sem ter passado por nada disso, não é? - Perguntou Megan.

- É...

- A VISITA ACABOU! TODAS DE VOLTA PARA SUAS CELAS! - gritou um dos guardas.

- Eu tenho que ir! - Disse Megan, ao se levantar da mesa. - Me desculpe por tudo isso. Sei que eu deveria ter te contado.

- E o que você vai fazer quando sair daqui? - Perguntou Natália - Quer dizer, nós...

- Eu te vejo por aí, Natália. - Respondeu Megan, friamente - Mas sugiro que seja em outras circunstâncias.

- Eu te esperei por todos esses anos...

- Não esperou, não!

- Como é? - Perguntou Natália, indignada.

- Eu estar aqui dentro não significa que eu não sei de nada - Respondeu Megan - Mas eu não estou brava, sei que você não poderia parar sua vida por mim.

- Megan.. Eu..

- Adeus, Natália. Seja feliz.

Megan sabia que aquela conversa iria deixar sua noite um pouco mais longa do que o normal. Como as noites dentro daquela prisão já eram de costume, longas... E a ruiva não conseguiu pegar no sono até as 06:30 da manhã, coincidentimente o mesmo horário em que o despertador do celular de Liz apitou do outro lado da cidade.

A loira acordou assustada de mais um sono conturbado. Ela estava encharcada de suor e um pouco ofegante:

- De novo esse sonho! - Ela disse para sí mesma, enquanto passava a mão em seu rosto.

Logo ouviu alguém bater em sua porta e em seguida, uma de suas mães entrou com cuidado:

- Filha? Já acordou?

- Alice.. Oi.. Já acordei, sim. Pode entrar.

- Você sabe que pode me chamar de mãe, não é? - Perguntou Alice, ao entrar no quarto de Liz.

- Eu sei.. É.. eu só tô poupando vocês de uma confusão horrível. Se eu disser "mãe", três pessoas diferentes vão aparecer aqui. - Respondeu Liz, ao se ajeitar na cama. - Ela riu da própria "piada".

- Você e seu humor matinal... - Disse Alice, sorrindo. - E aí? Está nervosa com o primeiro dia de aula na faculdade?

- Defina nervosa..

- Você sabe que sua " mãe tatuada" está preocupada com você, não é?

- Eu sei, Alice. - Respondeu Liz - Mas eu não entendo o motivo dessa preocupação toda.

- Filha até ela não sabe o motivo dessa preocupação toda. Você sabe como ela é, só quer que você seja feliz.

- Eu vou ser feliz o dia em que eu não precisar andar de ônibus - Disse Liz - Caramba vocês são ricas! Por que eu não tenho um carro?

- Essa é uma ótima pergunta! Faz assim, eu deixo você ir pra faculdade com o meu carro, hoje. E daí depois a gente conversa melhor sobre esse assunto. - Disse Alice - Mas você tem que me prometer que vai conversar com a sua mãe quando chegar da faculdade.

- Isso é chantagem?

- Não gosto de dizer que é chantagem... É só mãe e filha se ajudando.

- É chantagem, Alice!

- Ta bom, é chantagem! Mas faz isso por mim, ok?

- Ok... - Respondeu Liz, com a voz arrastada de sono.

- Bom, vá se trocar, agora. O café sai em cinco minutos. - Disse Alice, dando um beijo no rosto de Liz. - Até daqui a pouco.

Alice desceu as escadas da mansão e logo que chegou a cozinha, deu de cara com Rebeca e Olivia abraçadas e se beijando.

Ao se deparar com aquela cena, pensou que nunca tinha passado em sua cabeça aceitar isso algum dia. Mas por alguma razão estranha, seu coração estava feliz. Ela estava feliz :

- Eu também quero! - Disse Alice, interrompendo o beijo das duas. Rebeca olhou para ela e sorriu. Alice se aproximou e beijou Rebeca e em seguida Olivia.

- Eu te amo! - Disse Olivia, enquanto olhava dentro dos olhos de Alice.

- Depois desses anos todos, ouvir você dizer isso ainda faz minhas pernas ficarem bambas. - Disse Alice, com cara de apaixonada.

- Eu sei como é isso! - Disse Rebeca rindo, enquanto colocava café em uma xícara. - Mas saiba que eu também te amo, Alice.

- E eu amo você, também. Minha loirinha.

- Falando em loirinha, falou com loirinha lá de cima? - Perguntou Olivia.

- Hm... Falei! E eu disse a ela que pensariamos sobre darmos um carro para ela. - Respondeu Alice.

- UM CARRO?

- É amor, um carro.

- Eu apoio! - Exclamou Rebeca - Ela já tem 17 anos, tá na hora, já. Sei como andar de ônibus é horrível.

- Bom dia, mães! - Disse Hope, entrando na cozinha. Diferente de sua irmã mais velha, Hope era toda estilosa. Cabelos curtos, roupas descoladas. Atitude de sobra.

- "Bom dia" mocinha! - Disse Rebeca, queria entender o por que um rapaz chamado Kendell ligou aqui, tarde da noite, dizendo que é seu namorado.

- NAMORADO? - perguntou Olivia, brava - Você não acha que é muito nova para ter um namorado?

- Desde quando idade significa alguma coisa?

- Alice, dá um jeito na sua filha. - Disse Olivia.

- Relaxa, mãe - Disse Hope, olhando para Olivia. - Não vou ser uma dessas garotas de onze anos que engravidam. Eu não sou idiota.

- Que?? Você..

- Não! Credo! Eu não tô transando ainda. - Respondeu Hope, olhando para suas mães.

- Ainda? - perguntou Alice, arqueando a sobrancelha.

- Mães... Relaxem... - disse Hope, fazendo um sinal com as mãos

- Essa menina vai deixar a gente de cabelos brancos... - disse Rebeca.

- Nem me fale. - Olivia passava as mãos dentre os cabelos. - O que falta em uma tem em dobro na outra.

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