Não pare a sua vida por mim
As sirenes tocavam alto, eram oito e meia da noite. E isso significava que era horário de visita aos detentos da prisão federal de Miami :
- Megan Acaster! Se dirija até a sala de visitas. Tem alguém que veio te ver. - Disse Norman, o carcereiro.
- Mas eu não...
- Vá logo! Você tem apenas 15 minutos. - Exclamou ele.
O uniforme cinza escuro não lhe caia bem, mas ainda sim, por onde ela passava, garotas assobiavam. Mandavam beijos. Tentavam passar a mão na bunda da ruiva. Mas só tentavam mesmo, pois sabiam que Megan não era alguém com quem queriam intriga. Sabiam que a moça já havia sido do FBI, então preferiam ficar longe dela.
Sua reputação ali dentro era algo que ela custou a ganhar. Apanhou de outras detentas por anos, até entenderem que ela era uma mulher forte e durona. Apesar de só ter feito o que fez para sobreviver. Megan sabia que se não tivesse feito nada ou batido em alguém, provavelmente já teria sido morta dentro daquela prisão.
Era questão de sobrevivência, hierarquia do mais forte. Não que ela fosse a mais forte dali ou que tivessem medo dela. Mas uma ruiva de estatura média, que derrubou no soco uma mulher de 120 kilos....Ao entrar na sala de visitas, Megan logo reconheceu um rosto. Era de sua namorada (ou ex) Natália, ela logo olhou para dentro dos olhos da parceira e deu um sorriso de canto, enquanto se sentava na cadeira de frente para um vidro fino cheio de furinhos:
- O que faz aqui? - Perguntou Megan.
- Vim saber o porque você mentiu para mim! - Respondeu Natália.
- Natália.. Eu.. Vai fazer dez anos que eu estou aqui. Por que você..?
- Eu esperei todos esses anos pra vir te perguntar isso, pois eu imaginei que você não fosse querer ver ninguém por algum tempo. - Respondeu Natália - Mas acredito que eu mereça uma explicação.
- Não tem uma explicação resumida. Eu fiz coisas que achei que eram certas... Eu sacrifiquei meu emprego no FBI para salvar algumas pessoas... É por isso que eu estou aqui.
- Por que você nunca me contou nada? Quer dizer, eu achei que você era uma mulher bacana e..
- E eu sou!
- Não, você não é! Você ajudou uma mulher a queimar um homem vivo. - Disse Natália - Você ajudou uma criminosa a fugir.
- Ele a estrupou.
- Como é?
- O homem que eu ajudei a matar... Ele a estrupou. Não só ela. Mas a várias outras mulheres. Tentou matar a própria filha, matou um rapaz inocente. E também tentou matar minha ex esposa. - Respondeu Megan, com os olhos marejados. - É claro que eu sei que ter ajudado a matar Rayn Anderson não consertaria nada. E na verdade, não me sinto responsável pela morte dele. Eu só ajudei a minha amiga a ter sua vingança.
- A vingança nunca consertaria nada! - Disse Natália, com a voz embargada.
- Não consertaria mesmo, e de fato não consertou. Mas me diga o que realmente iria consertar. Eu vi Rebeca Grabel morrendo em um hospital meia boca, e antes havia visto seu noivo sendo morto a sangue frio. Rebeca sofreu abuso por anos e depois foi forçada a ver sua filha crescer sem sua verdadeira mãe. Me diga, Natália. O que você teria feito?
- Eu.. E-eu não sei.
- Fica difícil responder essa pergunta sem ter passado por nada disso, não é? - Perguntou Megan.
- É...
- A VISITA ACABOU! TODAS DE VOLTA PARA SUAS CELAS! - gritou um dos guardas.
- Eu tenho que ir! - Disse Megan, ao se levantar da mesa. - Me desculpe por tudo isso. Sei que eu deveria ter te contado.
- E o que você vai fazer quando sair daqui? - Perguntou Natália - Quer dizer, nós...
- Eu te vejo por aí, Natália. - Respondeu Megan, friamente - Mas sugiro que seja em outras circunstâncias.
- Eu te esperei por todos esses anos...
- Não esperou, não!
- Como é? - Perguntou Natália, indignada.
- Eu estar aqui dentro não significa que eu não sei de nada - Respondeu Megan - Mas eu não estou brava, sei que você não poderia parar sua vida por mim.
- Megan.. Eu..
- Adeus, Natália. Seja feliz.
Megan sabia que aquela conversa iria deixar sua noite um pouco mais longa do que o normal. Como as noites dentro daquela prisão já eram de costume, longas... E a ruiva não conseguiu pegar no sono até as 06:30 da manhã, coincidentimente o mesmo horário em que o despertador do celular de Liz apitou do outro lado da cidade.
A loira acordou assustada de mais um sono conturbado. Ela estava encharcada de suor e um pouco ofegante:
- De novo esse sonho! - Ela disse para sí mesma, enquanto passava a mão em seu rosto.
Logo ouviu alguém bater em sua porta e em seguida, uma de suas mães entrou com cuidado:
- Filha? Já acordou?
- Alice.. Oi.. Já acordei, sim. Pode entrar.
- Você sabe que pode me chamar de mãe, não é? - Perguntou Alice, ao entrar no quarto de Liz.
- Eu sei.. É.. eu só tô poupando vocês de uma confusão horrível. Se eu disser "mãe", três pessoas diferentes vão aparecer aqui. - Respondeu Liz, ao se ajeitar na cama. - Ela riu da própria "piada".
- Você e seu humor matinal... - Disse Alice, sorrindo. - E aí? Está nervosa com o primeiro dia de aula na faculdade?
- Defina nervosa..
- Você sabe que sua " mãe tatuada" está preocupada com você, não é?
- Eu sei, Alice. - Respondeu Liz - Mas eu não entendo o motivo dessa preocupação toda.
- Filha até ela não sabe o motivo dessa preocupação toda. Você sabe como ela é, só quer que você seja feliz.
- Eu vou ser feliz o dia em que eu não precisar andar de ônibus - Disse Liz - Caramba vocês são ricas! Por que eu não tenho um carro?
- Essa é uma ótima pergunta! Faz assim, eu deixo você ir pra faculdade com o meu carro, hoje. E daí depois a gente conversa melhor sobre esse assunto. - Disse Alice - Mas você tem que me prometer que vai conversar com a sua mãe quando chegar da faculdade.
- Isso é chantagem?
- Não gosto de dizer que é chantagem... É só mãe e filha se ajudando.
- É chantagem, Alice!
- Ta bom, é chantagem! Mas faz isso por mim, ok?
- Ok... - Respondeu Liz, com a voz arrastada de sono.
- Bom, vá se trocar, agora. O café sai em cinco minutos. - Disse Alice, dando um beijo no rosto de Liz. - Até daqui a pouco.
Alice desceu as escadas da mansão e logo que chegou a cozinha, deu de cara com Rebeca e Olivia abraçadas e se beijando.
Ao se deparar com aquela cena, pensou que nunca tinha passado em sua cabeça aceitar isso algum dia. Mas por alguma razão estranha, seu coração estava feliz. Ela estava feliz :
- Eu também quero! - Disse Alice, interrompendo o beijo das duas. Rebeca olhou para ela e sorriu. Alice se aproximou e beijou Rebeca e em seguida Olivia.
- Eu te amo! - Disse Olivia, enquanto olhava dentro dos olhos de Alice.
- Depois desses anos todos, ouvir você dizer isso ainda faz minhas pernas ficarem bambas. - Disse Alice, com cara de apaixonada.
- Eu sei como é isso! - Disse Rebeca rindo, enquanto colocava café em uma xícara. - Mas saiba que eu também te amo, Alice.
- E eu amo você, também. Minha loirinha.
- Falando em loirinha, falou com loirinha lá de cima? - Perguntou Olivia.
- Hm... Falei! E eu disse a ela que pensariamos sobre darmos um carro para ela. - Respondeu Alice.
- UM CARRO?
- É amor, um carro.
- Eu apoio! - Exclamou Rebeca - Ela já tem 17 anos, tá na hora, já. Sei como andar de ônibus é horrível.
- Bom dia, mães! - Disse Hope, entrando na cozinha. Diferente de sua irmã mais velha, Hope era toda estilosa. Cabelos curtos, roupas descoladas. Atitude de sobra.
- "Bom dia" mocinha! - Disse Rebeca, queria entender o por que um rapaz chamado Kendell ligou aqui, tarde da noite, dizendo que é seu namorado.
- NAMORADO? - perguntou Olivia, brava - Você não acha que é muito nova para ter um namorado?
- Desde quando idade significa alguma coisa?
- Alice, dá um jeito na sua filha. - Disse Olivia.
- Relaxa, mãe - Disse Hope, olhando para Olivia. - Não vou ser uma dessas garotas de onze anos que engravidam. Eu não sou idiota.
- Que?? Você..
- Não! Credo! Eu não tô transando ainda. - Respondeu Hope, olhando para suas mães.
- Ainda? - perguntou Alice, arqueando a sobrancelha.
- Mães... Relaxem... - disse Hope, fazendo um sinal com as mãos
- Essa menina vai deixar a gente de cabelos brancos... - disse Rebeca.
- Nem me fale. - Olivia passava as mãos dentre os cabelos. - O que falta em uma tem em dobro na outra.
Seja bem-vindaPiercings, cabelos cor-de-rosa, um olhar sombrio. Daqueles tipos de que já vem escrito "Cai fora" em suas íris, combinados com um sorriso lindo e dentes perfeitos.Garotas assim são difíceis de se encontrar por aí. A maioria só quer chamar a atenção, conseguir inflar o próprio ego, pisando em outras pessoas apenas por diversão. Mas não Ana, Ana Anderson. Ela era assim por natureza. Preferia guardar seu lado doce para sí mesma.Sentia que não era bom se entregar logo de cara, ser simpática com quem não devesse ou merecesse. Empatia só era bom quando houvesse reciprocidade. RE-CI-PRO-CI-DA-DE. Ta aí uma palavra que ela sempre prezou. Mas nunca provou da mesma.
Não fale sobre quem eu souNervoso, suador, confusão, medo, vontade, desejo, pernas bambas, delirio... Tudo isso passava pela a cabeça de Liz enquanto ela andava e olhava para trás, na direção de Ana. Seu coração estava disparado e Liz ofegava sem saber o porquê:- Olha por onde anda! - disse uma garota, após levar um empurrão involuntário de Liz.- M-Me desculpe! Eu.. Não vi você aí! - Respondeu Liz, arrumando os óculos.- Você está no corredor, tem que olhar para frente! - Disse a garota - Você é nova aqui? É uma caloura?- Sou!
Na calada da noiteNa calada da noite, um lobo com a pele negra e algumas mechas acinzentadas, caminhava dentre a floresta. Solitário. Seus olhos vermelhos e brilhantes vibrava ao se conectar com a lua. Com um uivo estrondoso ele saldava sua velha companheira tão esplendida aos céus.Um outro lobo, dessa vez branco, aparecia dentre as árvores e observa o lobo preto sentado a beira de uma montanha, uivando para a lua. Ele ao notar a presença do lobo branco, o olhava com doçura e fazia reverência para que ele soubesse que estava tudo bem.O lobo branco se aproximou se sentando, também, a beira da montanha. E em um piscar de olhos, o lobo preto o atacou. Ele devorava sua carne sem dó nem piedade.Seu olhos, a
GostosaCheiro de suor, vomito, desodorante barato e gel de cabelo. Andar de ônibus é ter que aguentar esse pacote de odores por exatamente quarenta minutos.O dia estava aparentemente lindo, com várias nuvens e um clima chuvoso. Na visão de Liz, esse era um dia perfeito. Porém, isso não inibia o fato de algumas pessoas parecerem não tomar banho à dias.E estar em um cubículo cheio de outras pessoas, fazia o cheiro de alastrar ainda mais. O único jeito era tentar prestar atenção nas ruas, pela janela:- Rum-Rum - picarriou uma pessoa - Com licença, esse lugar está vago? - Perguntou um rapaz, de pele bronzeada e lindos olhos azuis escuros.
Dias iam se passando, como o vento passava dentre as palmeiras em Miami. E o destino, cada vez mais, ia fazendo com que encontros-não-planejados acontecesse entre Ana e Liz.Cada olhar profundo trocado, meias palavras e sorrisos de canto iam aproximando um sentimento mútuo entre as duas. Era uma incontrolável conexão existente entre dois seres que não conseguiam nem mesmo disfarçar.Estava na cara! Estampado para quem quisesse ver. Mas todos eles ignoravam, inclusive Liz.Naquela noite fria de sábado, a loura já tinha planos . O que não era nem um pouco normal. Mas não podia ignorar que desde que Kai apareceu. Sair começou a ser uma prática meio comum. Mesmo que fosse para ir à uma lanchonete na
Não olhe para trásApós a morte de Oliver Bucker, muito de seus patrimônios foram destruídos. Mas ainda havia um de seus escritórios em Miami, onde Olivia ia com frequência para conversar com Bryan. Mesmo que fosse através de um computador, os dois sempre acharam arriscado se comunicarem em aparelhos particulares.O escritório localizado na Flórida era em um prédio antigo, uma espécie de QG que só foi descoberto à alguns anos atrás pelo Agente Jayden Ross, quando vasculhava os assuntos do pai de Olivia e Bryan.Ainda era sete e meia da noite quando Olivia entrou dentro do prédio e subiu até o último andar - vigésimo sexto - ela apertou no elevador.
A despedida de um heróiFlash's, vozes embargadas, visão turva e uma sensação estranha de hiperatividade.. Liz sentia todas essas coisas de uma só vez.Tentava controlar aquilo mas seus movimentos pareciam incontrolaveis. Não conseguia pensar em nada além de achar que, talvez, algo estivesse errado.Um apagão se fez e a garota loira desmaiou após horas de festa. Ela caiu em meio a várias palmeiras, poucos metros longe do mar. Um grupo de garotos viu aquela cena e foram ver o que tinha acontecido :- Olhem só aquela garota! - disse um rapaz, se aproximando do corpo de Liz ao chão. Outros três rapazes chegaram, rindo ao ver a menina.
Foi eleDe um susto, Liz acordou sem saber onde estava. De primeiro, tentou buscar algo familiar no local. Mas até aonde seus olhos alcançavam, não encontrou nada lhe trouxesse um conforto. Mas ao se levantar do sofá, Liz viu Ana e então uma dúvida se pois em sua mente "-Como é que eu vim parar aqui?"Ana dormia toda encolhida em uma poltrona bem "desconfortávelmente pequena". Em uma das mão segurava seu celular, enquanto na outra ela segurava um conjunto de chaves.Liz tentou ao máximo levantar sem fazer nenhum tipo de barulho. Tentou ao máximo não acordar, Ana. Nas pontas dos pés procurou achar a porta, para ir embora antes que a outra acorda-se. Era tudo um tanto estranho. Tinha a ligeira sensação de que t