Capítulo Dois

Ellie Miller  

Espanto com o som do alarme.  

Como eu já queria que hoje fosse final de semana, mas infelizmente hoje ainda é quarta-feira.  

Me arrumo em meia hora e desço para pegar o ônibus, eu particularmente gosto de pegar ônibus, é claro, exceto quando estão cheios, porque assim posso ir olhando várias paisagens. Como sempre, teve um tempo que nem isso eu podia fazer... 

O motorista para e eu desço, e ai são mais 5 minutos de caminhada até o prédio, e 10 até o andar da minha sala, quando chego, vejo Erika, minha secretária vem ao meu encontro.  

— Ellie, o Sr. Méier pediu para a senhora comparecer a sua sala assim que chegasse.  — Obrigada Erika, vou só colocar a bolsa na minha sala.  

Erika é uma das poucas pessoas que eu poderia considerar uma amiga. Ela era baixa, mas tinha um corpo lindo, tinha o cabelo comprido preto, e sempre andava muito bem vestida. Era uma pessoa muito esforçada, e tinha a mesma idade que eu.  

Depois de colocar minha bolsa na sala, vou até o andar do Sr. Edgar, como não vejo sua secretária, vou até sua porta e bato nela. Escuto um entre. 

— Bom dia senhor, me chamou? 

— Bom dia Ellie. — Fala com seu sorriso contagiante, se pudesse escolher ter um pai, eu escolheria um igual o Sr. Edgar. — Sente-se, por favor.

Você pode até pensar que é a visão dele na empresa, mas não, o seu Edgar é totalmente do mesmo jeito fora dela. Ele e Lucy seriam minha definição de família perfeita, de pais perfeitos. 

— Como podemos ver ontem, a inauguração foi um sucesso, então agora é nossa vez de fazermos sucesso com a divulgação. — ele fala, e pega algumas pastas em cima da mesa e me entrega. — Essas são as propostas do setor de planejamento, gostaria que desse uma olhada, e que também me acompanhasse à tarde na reunião.  

Dou um sorriso e pego as pastas. 

— Certo, até logo.  

Saio da sua sala já lendo as propostas, ele sempre pede minha opinião em qualquer proposta, as vezes nem entendo sobre o assunto, mesmo assim ele me acha capaz. Tenho quase certeza que ele vê em mim a filha que ele perdeu há alguns anos, ela devia ter minha idade, e ouvi falar que era o orgulho dele, diferente do filho Edward, que só lhe dava dor de cabeça. 

Após ler as propostas, penso na minha vida. Faz até graça, a minha vida era cheia de propostas e objetivos, e acabou virando uma vida de merda. Merdas essas que carregarei para toda vida, e queria que fossem apenas emocionais, mas não, as físicas faziam um trabalho pior. Porque mesmo que minha mente desligasse lembranças ruins, bastava olhar para minhas marcas que a dor profunda voltava, marcas essas que eu fazia questão de esconder, mas às vezes era impossível.  

A vida é como uma montanha russa, uma gora você está no topo, outra no fundo do poço. Uma hora está transbordando felicidade, outra hora tristeza é a única coisa que vê.  

E eu me culpo exatamente por não ter percebido os sinais de que tudo ia me levar ao fundo do poço, e olha, não foram poucos.  

Respiro fundo e limpo as lágrimas que insistem em escorrer pelo meu rosto. 

……………………………………………………………………………

O prédio é enorme.  

É a primeira impressão que tenho, cheguei a ficar tonta.   

Esse povo é realmente rico, minha conta bancária chora.  

Depois de passar na recepção, eu e o Sr. Edgar pegamos o elevador em direção ao último andar.  

Assim que coloco meus pés para fora do elevador sinto um grande arrepio, me encolhi. Isso já está virando rotina, tenho que ir ao médico, só devo estar doente.  

Vamos até a secretária, essa diferente de Erika, não tem um sorriso nada amigável, assim que nós nota, ela me olha de cima a baixo, com um olhar julgador. Até eu me olho para ver se há algo errado com minha saia lápis preta e minha blusa social branca, mas não encontro nada.  

Me sinto totalmente desconfortável.  

— Bom dia, sou Edgar Méier, e esta é a senhorita Ellie Miller, temos hora marcada com o senhor Mancini. — Seu Edgar fala prontamente, diferente do olhar direcionado a mim, a ele ela deu um sorriso aconchegante. 

— Bom dia. — falo 

— Um minuto que irei anunciá-lo ao Sr. Mancini. — e ela me ignorou.  

Eu em, agora eu vi.  

Seguimos até a porta da sala, assim que nos aproximamos sinto outro arrepio, mas esse vem acompanhado de uma tontura súbita. Agarro com força o braço do senhor Edgar, esse já me olha com uma feição preocupada.

— Filha, você está bem? 

— Deve ter sido a pressão, não me alimentei bem hoje. — menti, comi o que daria para 50 pessoas.  

— Tem certeza? Pode ir para casa, eu termino aqui.  

Antes que eu pudesse responder qualquer coisa a secretária abre a porta nos dando passagem, dou um sorriso a seu Edgar, como quem fala que está tudo bem, e seguimos. 

A sala era enorme, no centro tinha uma mesa de vidro gigante, a parede de vidro espelhado dava visão para a vista maravilhosa da avenida, do lado direito tinha duas portas, e do esquerdo uma, e sentado na cadeira com os braços apoiados na mesa, estava ele.  

Ele que a partir daquele momento, seria o causador das minhas noites de insônia.  

Como uma pessoa fica ainda mais linda durante o dia?   

Estou louca. 

Ele que ao invés de olhar seu Edgar, que com toda certeza ele já conhecia, fixou seus olhos em mim. Um olhar indecifrável. 

Outro arrepio. 

Fiquei extremamente sem graça, pelo o olhar, e por lembrar da noite de ontem e minha queda vergonhosa.  

— Bom dia. — Que voz senhor, que voz. — Sentem-se, por favor. 

— Bom dia Dan. — Sr. Edgar vai até a mesa e o cumprimenta como velhos amigos, eu me limite a um pequeno sorriso. — Não tive a oportunidade na festa, mas aqui lhe apresento a editora-chefe da minha empresa, Ellie Miller.  

Estendo minha mão. 

— É um prazer conhecê-lo. — e quando ele segura em minha mão acontece. O Tchan.  

Aquela corrente elétrica.  

Meu coração até errou uma batida.  

— O prazer é todo meu. — fala, sua voz saiu como uma pessoa que estivesse degustando alguma coisa, saboreando. Seu rosto não demonstra nada, então faço minha melhor cara de paisagem e me sento.  

A reunião segue, mostramos a ele as melhores propostas, e ele fala os pontos que gostaria de alterar. Devo ressaltar o pequeno detalhe de que em nenhum momento seus olhos abandonaram meu rosto. Uma curiosidade permeia em seus olhos. Eu estava vermelha de vergonha.  

E o pior, alguma coisa nele me intriga, como se eu também estivesse curiosa com ele. 

Que coisa estranha. 

— Assim que as alterações forem feitas, te enviarei novamente para a aprovação final.— Sr. Edgar fala.  

— Aguardo então, para ser o mais rápido possível a Sr. Muller poderia me passar o contato dela para me informar. — Ele fala com maior tranquilidade. Olho para seu Edgar que parece não ter notado nada de incomum, em ele preferir meu número ao invés de um e-mail formal.  

— Pronto, Ellie querida você poderia passar seu número para ele, por favor? — ele me encara. 

— Claro.....Humm.. Deixarei com a...... 

— Anote aqui. — ele me corta me entregando um pequeno bloco.  Ok.

Anoto rapidamente.  

— Ellie, você poderia me aguardar um minuto lá fora? Gostaria de um particular com o Sr. Mancini. — Concordo e vou lá para fora da sala, estranhei apenas a formalidade, mas não é da minha conta.  

Sento na frente da mesa da secretária, que me encara assim que me ver lá, dou um sorriso, mas do mesmo jeito de quando cheguei, ela  me ignora.   

Agora foi que eu vi, nem falei com a mulher direito e ela já me considera uma inimiga.  

Ótimo! Vou até chorar.  

Enquanto aguardo, penso no Sr. Mancini, e no meu Tchan.  

Me arrepio.  

Agora é confirmado, estou doente.  

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