Melinda
Faz cinco meses que estou trabalhando no restaurante, nunca estive tão feliz. Estou realizada. Essa semana não estamos trabalhando. A senhora Raíssa está fazendo uma pequena reforma, porém quando voltar ela fará uma festa de inauguração de novo. Ela percebeu que os ricos gostam de ser convidados para esse tipo de coisa.
Com o dinheiro que venho recebendo do restaurante, pude fazer um exame para fazer um cursinho na área de contabilidade. Isso foi há dois meses, ou seja, estou a três meses estudando. Ainda não é uma faculdade, mas ainda chego lá. O dinheiro está dando para me manter, ainda sobra uma merreca, guardo para emergências futuras.
Olho no relógio e vejo que já são 05h00, o que quer dizer que está na hora da minha corrida matinal. Faço meus alongamentos de leve para não me machucar. Olha gosto de correr e muito, não corro para emagrecer, corro por minha saúde, e para ter mais disposição no meu dia a dia. Começo com um trote leve, nada exagerado, depois de dois minutos aumento a velocidade. Estou tão focada na minha corrida que sinto algo estranho. Os cabelos da minha nuca se arrepiaram, experienciei uma sensação boa, de estar sendo observada. Parei por alguns segundos e olhei para todos os lados. Meus olhos pararam em um homem no carro. Ele disfarçava, no entanto, vi quando olhou para mim, e logo em seguida mexeu a boca como se tivesse falando com alguém.
— Deus, que não seja ele, não aquele maldito! — Pedi, quer dizer, implorei. Lágrimas grossas já mancharam minha face. Não consigo nem raciocinar. Escolho voltar para casa, minha corrida acabou, tudo que construí se foi. Aumentei minhas passadas, tudo foi muito rápido, um minuto estava correndo e no outro bato em uma parede de concreto que me derrubou no chão. Vejo uma voz ao longe, mas não consigo compreender. Sugo o ar para os meus pulmões, pois até isso foi tirado de mim quando cai. Quando me recupero ainda no chão, olho para cima. Vejo um homem lindo olhando-me sem nenhuma paciência. Sentir o cheiro do seu perfume, e pela fragrância é o homem que passou por mim naquele dia. Não é fácil esquecer esse cheiro.
— Você está surda, porra? — Perguntou. Nossa, a sua voz é magnífica. Espere aí, ele me chamou de surda? Levantei correndo encarando aquela muralha de músculos.
— Não olhar para onde anda? — Questionou grosseiramente. Mas é um grosso viu. O que tem de bonito, tem o triplo da arrogância.
— Você me derrubou, então deveria pelo menos me pedir desculpas! — Rebati contrariada. Devido à raiva, nem percebi falar português com o troglodita, vim perceber depois. Deus ele olhou-me como se fosse me matar. Dei alguns passos para trás como se isso fosse me proteger dele.
— Eu não peço desculpas, caralho! — Proferiu também em português, com um sotaque delicioso. Puta merda!
— Percebe-se endiabrado! — Falei baixinho, porém o homem escutou. Santo Deus, estou cavando minha própria cova.
— O que você disse?
— Foi o que você ouviu, mal-educado de merda. — Informei. Se é para morrer, não será sendo uma covarde. Nunca fui de insultar estranhos. O que está acontecendo comigo?
O homem desconhecido chegou tão perto de mim que faltaram poucos centímetros para seus lábios encostarem no meu. Por instinto passei a língua nos meus lábios, chamando sua atenção para eles, quando voltou a olhar para meus olhos, vi algo familiar. Ódio! Engoli seco me preparando para ser agredida, afinal já estou acostumada com isso.
— Você vai se arrepender de tudo que disse, sua vadia! — Preveniu. Escondi o medo com sarcasmo.
— Como quiser! Agora saia do meu espaço, seu arrogante. Nem vou lhe dizer quem é vadia. Filho de satanás!
— O quê?
— Moço não repetirei, falo apenas uma vez. Sabe de uma, tenho mais o que fazer. — Anunciei voltando a correr. Voltei a olhar para trás e o vi no mesmo lugar, porém falava ao telefone. Sua raiva era latente, no entanto, estava lá. Posso ver.
— Meu Deus, espero nunca mais ver esse homem na minha vida.
Com a trombada com aquele rude, filho do capeta, acabei esquecendo do homem no carro. Senhor, não deixes aquele desprezível me encontrar, pois algo me diz que dessa vez não sairei viva. Ainda sinto dor pela trombada, pois foi violenta. Foi como se tivesse batido em uma parede de concreto. O que custava ele pedir desculpas?
Aproveitei minhas folgas e limpei a casa, lavei minhas roupas e cuidei de mim, claro. Minha juba merecia isso sem dúvidas. Olho meu telefone que coitadinho já está caindo aos pedaços, a tela está toda rachada. Há duas chamadas perdidas da Nat. Quando resolvo retornar, ele toca de novo, porém é Lara. Atendo no terceiro toque.
— Oi, Larinha!
— “Oi, Melzita! O que está fazendo?” — Sondou. Imagino até o que se trata. Com certeza ela quer sair Conheço a minha amiga. Sempre que deseja algo começa assim, sondando. Pelo menos é assim comigo. Deve ser porque eu sempre digo não.
— Nesse exato momento estou descansando. Tirei o dia para limpar a casa.
— “Há, nem vem Mel, hoje nós sairemos!”
— Estou só o trapo mulher… Eu não… — Tentei negar, mas acho que dessa vez não tenho escapatória.
— “Não aceito um não como resposta.” — sorriu vitoriosa — “Nos encontramos em frente à boate Kaos.”
— Essa boate é caríssima! — Falo em um tom preocupado. Não posso gastar meu dinheiro com algo tão supérfluo, pelo menos não por agora.
— “Nat tem um amigo que trabalha na segurança, ele vai nos liberar.” — Explicou não me dando outra opção.
— Que horas, sua insistente?
— “Eeeeeeee!” — celebrou — “Às 21h00min nos encontramos na porta da boate!”
— Até mais tarde! Beijos!
— “Beijos gata” — Desligou, ainda comemorando. Joguei-me no sofá disposta a tirar um longo cochilo. Faltam quatro horas para o horário que preciso sair, tenho tempo de sobra.
Melinda Acordei faltando duas horas para sair. Ainda bem que dormir com a minha roupa em mente. Optei por um macacão sem manga, longo, na cor amarelo, com um belo decote profundo. Certeza que ficará em evidência minha tatuagem da rosa de sarom entre meus seios. Coloquei a roupa, depois me olhei no espelho. Me sinto sexy, bonita. Soltei meus cachos, para enfeitá-los fiz uma trança embutida longa. Não quis usar maquiagem, pois sou um desastre, escolhi usar um batom vermelho para realçar meus lábios e um lápis preto para destacar meus olhos. Peguei um táxi faltando dez minutos para o horário marcado. Vejo Lara e Nat à minha espera. — Menina, você está muito gostosa! — Natasha disse encarando minha tatuagem. É a primeira vez que elas veem uma delas. Para falar a verdade, elas nem sabia que tenho tatuagens. — Melinda, nunca nos disse que tem tatuagem! — Lara exclamou pasmada. Dei de ombros. Em minha defesa elas nunca perguntaram. Sempre estou com roupas pesadas, pois não suporto o fr
Melinda — Que porra de roupa é essa? — Questionou com asco. Não escondi minha face de decepção. — Uma roupa normal! — Quando disse ser uma vadia, não errei em nada. — Disse para si mesmo. Me levantei furiosa. Até o momento agir submissa, mas agora chega Ele pode me taxar de muitas coisas, vadia não é uma delas. Fui até ele e pus o meu dedo na sua cara. — Você me respeite! Não me conhece, mesmo assim pode me julgar pela roupa que visto? Estou muito comportada, comparada às que vi lá embaixo. — Você tem certeza, Melinda? — Sussurrou segurando meu dedo no ar. Meu coração acelerou no peito, meus olhos novamente dobraram de tamanho. — Como sabe meu nome? — Não é da sua conta! — disse balançando meu dedo no ar — Se colocar seu dedo novamente na minha cara, considere-o quebrado. — Quero sair daqui, minhas amigas devem esta a minha procura. — Ignorou completamente o que acabei de falar. — Vai quando eu disser! — ficou sério — Não quero, vê-la dançando daquele jeito em público. Pu
Andrei — O que está esperando? Entra na droga desse carro! — Mandei estressado. Essa menina testa a minha pouca paciência. Ela teve a coragem de não responder minha mensagem e me ignorou a semana toda. Se ela julga que isso me impedirá de cumprir o que havia determinado para a sua pessoa, está muito enganada. Você a quer! Minha mente fez questão de me lembrar. Algo me diz que ela é encrenca. Prefiro alguém que eu possa ter controle, sei que Melinda não é nenhum pouco, submissa. Aquela vez do esbarrão, não foi a primeira vez que a vi, quer dizer, não a vir cem por cento, sentir o seu cheiro. Que cheiro delicioso! Ela tem cheiro de canela. Sempre gostei, desde pequeno. Voltei para procurá-la e infelizmente não achei. No dia do esbarrão não supus que a encontraria. Deixei um dos meus homens de olho, quando ele me passou as características da mulher quis arriscar Eu não a vir no dia, pois passei muito rápido, mas pelo vulto vir que seus cabelos são cheios, então para reparar qualquer mu
Andrei — Porra! — Falou algo senhor Makarov? — Não. Por favor, me deem licença! — Pedi educadamente. Aproximei-me do palco de uma forma que me visse. Espero que não faça besteira, como dar corda a algum desavisado. — Boa noite! É uma honra estar aqui com todos vocês. Me chamo Melinda, espero que se divirtam. — Pronunciou com aquele sorriso desconcertante. Não entendo o que essa mulher tem que me deixa obcecado. Sua pronúncia é linda, pelo menos falando. Santo Deus homem, para com isso! Essa mulher não tem nada de especial, é como outra qualquer. Ignorei meus pensamentos quando escutei os primeiros acordes da canção. Arregalei os olhos, pois realmente ela possui o dom. Sua voz é um contralto. Excepcional. Profunda, cheia de drama. Gosto de música, entendo algumas coisas. A canção que entoava com maestria é de Tony Braxton. Sei disso, pois como disse, gosto de música. Não escuto apenas clássicas. — “Por favor, deixe cair sua parede então Eu finalmente poderei entrar e ver, eu Não
Melinda Há três semanas que não o vejo. Se estou com saudades? Claro que não! Nem vem dizer ser mentira, pois, não minto. Merda! Acabei de mentir. Faço isso raramente. Porém, como estava dizendo, não sentir falta dele. Quem sentiria falta de um grosso, troglodita que só faz me gritar, ameaçar e dizer que sou dele? Pelo amor de Deus, tenha santa paciência, viu. Eu seria louca se me sentisse assim. Não negarei que ele me intimide. Sua beleza e presença me desarmam por completo. Reconheço que nesses dias não paro de pensar nele, mas atribuo isso a tudo que aconteceu, desde aquele esbarrão. Naquele dia no restaurante, quando ele me viu abraçada com Nik, foi o exato momento que pude ver sua possessividade comigo, entrar verdadeiramente em ação. Sinto medo e, ao mesmo tempo, me excito ao lembrar. Não sei. Deve haver algo de errado com a minha cabeça, é a única explicação. Falar em Nikolai, até hoje me questiona sobre o que aconteceu. O que poderia dizer-lhe? Escuta Nik, Makarov esbarrou e
Melinda — Quem é? — Dimitri, senhorita! Sou um dos seguranças designado para proteger sua casa. — Informou. Respirei aliviada e abri a porta. Não porque esse homem está me cercando de segurança. Será que sabe de algo? Impossível! Não deixei nada que me ligasse aquele nojento. — Oi! — O senhor Makarov pediu para lhe entregar algo. — Disse me entregando uma caixa pequena. Voltei para meus livros um pouco aliviada, no entanto, curiosa. Abri o embrulho afoita e me deparei com um lindo celular da marca Apple. Um dos mais caros, acho. Reconheço que não conheço sobre essas coisas, nunca liguei. Compro sempre o que posso, nada, além disso. Então, vem a pergunta. O que esse homem quer com tudo isso? Peguei o aparelho em minhas mãos com cuidado. Se essa merda quebrar terei que vender um rim para pagar. Com o contato o aparelho acendeu, deslizei meu polegar na tela. Tudo já está configurado, inclusive com o meu número de telefone. Vi que no W******p tem uma mensagem não lida, quando abro qua
Melinda — O que tanto me escondem? — Perguntei curiosa aos três mosqueteiros. Nat, Lara e Nik viam algo no celular de Nat com uma cara nada boa e, simultaneamente, me observavam. Algo me diz ser sobre mim. — Nada de mais amiga! — Nat respondeu na defensiva. Achei ainda mais estranho. — Tudo bem. — Fingi me dar por vencida, fingir ir abraçar todos e tomei o celular das mãos dela. — Vaca, me enganou direitinho! — Não fiz diferente de você. — Proferi descontente. Olhei para a tela do maldito celular e vir o que tanto olhavam. Era uma manchete de Andrei, ele estava em um restaurante. Eles fazem um belo casal. A mulher é o oposto de mim. Loira, alta, magra com postura de rica. Não que ele seja preconceituoso, é só que a mulher do seu lado seria, aceita rápido pela sociedade. Os russos não são tão cordiais com pessoas da minha cor. Não abrange a todos, claro. Me pergunto sobre aquele dia. Para mim, significou muito. Nunca deixei um homem se aproximar tanto de mim. — Mel! — Nat me chamo
Melinda — Você está cega, sua idiota? — Bradou irritada. Acordei do meu transe na hora. Não serei xingada por essa nojenta. — Veja lá como fala comigo seu filhote de cruz credo! — Rebati lhe apelidando. Sou ótima nessas coisas quando quero. Ela ficou vermelha, parecia até que explodiria. Ela foi em cima de mim para me bater. Tentou me dar um tapa na cara, eu segurei a sua mão e lhe dou na cara, sendo bem sucedida. — Nunca mais tente me bater novamente, ou vai receber mais do que um tapa na cara. — Alertei perigosa. Não quem acha que é, para insultar e agredir alguém por algo tão banal como um esbarrão. Dei um sorriso debochado, pois, no fundo, era o que queria fazer desde que a vi com ele. Não escutando meu aviso, ela tentou me bater novamente, porém uma voz que conheço muito bem, lhe impediu. — Que porra está acontecendo aqui? Por que tem duas mulheres brigando no corredor da minha empresa? — Foi essa pobretona que começou, Andrei. — Declarou me diminuindo. Não mentirei e dizer