Jordani largou os talheres no prato com um barulho seco, a paciência se esgotando a cada segundo.Lucas continuava fingindo que nada estava acontecendo, mastigando calmamente, como se ela não estivesse ali, observando-o com olhos semicerrados.— Você vai mesmo continuar agindo como se nada tivesse acontecido? — ela finalmente quebrou o silêncio, cruzando os braços sobre a mesa.Lucas ergueu os olhos para ela, mastigando devagar antes de engolir.— Aconteceu algo?Jordani quase jogou a xícara de café nele.— Você sabe que sim.Ele soltou um suspiro, repousando os cotovelos sobre a mesa e entrelaçando os dedos.— Eu sei que você está fazendo uma tempestade onde não tem.O apelido disfarçado em sua resposta fez o sangue de Jordani ferver.— Você não é tão bom assim em fingir, Lucas. Você pode jogar com qualquer um, mas eu já te conheço o suficiente para saber quando está fugindo de alguma coisa.Lucas manteve a expressão impassível, mas a mandíbula dele travou por um segundo.Jordani per
Lucas jogou a mala de Jordani no canto do quarto, passando as mãos pelos cabelos, claramente irritado.— Isso foi a pior ideia que já tivemos.Jordani cruzou os braços, recostando-se na porta.— A pior ideia foi você não ter me avisado que sua mãe poderia aparecer do nada.Ele lançou um olhar seco para ela.— Desculpa por não prever o futuro, Tempestade.Ela bufou.— Tanto faz. Como vamos lidar com isso agora?Lucas suspirou pesadamente e olhou para a cama.— Eu fico com o chão, você fica com a cama.Jordani franziu a testa.— Por que você fica com o chão?Ele riu sem humor.— Porque se eu dividir essa cama com você por uma semana, nós dois vamos enlouquecer.Ela arqueou uma sobrancelha, um sorriso de canto brincando em seus lábios.— Ah… então você acha que não conseguiria resistir a mim?Lucas se aproximou devagar, seu olhar penetrante fixo no dela.— Você quer mesmo testar essa teoria, Tempestade?O ar entre eles ficou carregado por alguns segundos, até que uma batida na porta fez
Jordani não sabia o que fazia mais: o impacto da verdade ou a constatação de que ela nunca tinha visto a mentira se aproximando. Sentada no banco do café da empresa tomando seu expresso com pouco açúcar, ela olhou para o celular, onde uma mensagem de Paulo César seu namorado piscava na tela. A dor nas palavras dele era quase tangível, mas o que mais a cortava era o simples fato de saber que ele nunca sentiu a dor que ela estava sentindo agora. Ela o amava, e ele havia feito o impensável. Não havia volta.*MENSAGEM DE PAULO*“Jordani, eu sinto muito, mas não posso mais continuar com você. Eu… eu encontrei alguém melhor, me apaixonei pela Carla minha assistente. Desculpe.”Era tudo o que ela precisava ler para que o chão debaixo de seus pés se desintegrasse. A sensação de abandono a sufocava, o café que tinha um pouco de açúcar se tornou amargo em sua boca enquanto as lágrimas, antes reprimidas, começavam a escorrer silenciosamente pelo seu rosto. A dor de ser trocada por outra não tinh
Jordani nunca gostou de chegar atrasada ao trabalho, mas naquela manhã tudo parecia conspirar contra ela. O despertador não tocou, o ônibus atrasou e, como se não bastasse, uma chuva inesperada a pegou no meio do caminho. Quando finalmente entrou no prédio da empresa, suas roupas estavam úmidas, os cabelos colados ao rosto, e seus sapatos faziam barulhos irritantes a cada passo apressado pelo chão de mármore.Ela só queria chegar à sua mesa e passar despercebida. Mas, claro, Lucas estava ali.O chefe rabugento, como ela costumava chamá-lo mentalmente, estava parado próximo à entrada do escritório, conversando com outros gerentes. Quando seus olhos frios pousaram nela, Jordani soube que sua sorte havia acabado.— Que bela imagem de profissionalismo — Lucas comentou, sua voz carregada de ironia.Jordani fechou os olhos por um segundo, respirando fundo antes de encará-lo.— Foi um imprevisto, senhor.— O que foi? Decidiu nadar até aqui?Houve uma risada abafada de um dos gerentes ao lado
O coração de Jordani batia forte enquanto ela girava a maçaneta e empurrava a porta do escritório de Lucas. O que quer que estivesse prestes a ver, ela sabia que seria algo inesperado. Mas nada a preparou para aquela cena.Lucas estava encostado na mesa, sem camisa, o cabelo bagunçado e a respiração pesada. Seus olhos estavam turvos, e uma garrafa de uísque aberta repousava ao lado dele. A mulher à sua frente, alta e loira, tinha as mãos no peito dele, os lábios curvados em um sorriso malicioso enquanto tentava puxá-lo para mais perto.O choque percorreu Jordani como um raio. Seu chefe arrogante, sempre tão impecável e frio, agora estava ali, vulnerável e claramente embriagado… com uma amante?Seu estômago revirou. Que tipo de homem era Lucas para se entregar daquela forma dentro do próprio escritório?Lucas soltou um resmungo e empurrou a mulher com mais força, sua expressão se contorcendo em desgosto. Mas a loira não parecia disposta a desistir tão fácil.— Qual é, Lucas… você sabe
Jordani se perguntou, pela milésima vez, por que estava passando por aquilo.Lucas era alto, pesado e estava embriagado o suficiente para dificultar cada passo até a saída da empresa. Ele tropeçava nos próprios pés, murmurava palavras desconexas e, vez ou outra, soltava um suspiro exasperado, como se ela fosse a culpada por ele estar naquele estado.— Você precisa parar de beber tanto — ela resmungou, tentando firmá-lo melhor ao seu lado.— Você precisa… parar de mandar em mim — ele rebateu, a voz arrastada.Ela bufou.— Ah, claro, porque você está super no controle agora.Lucas soltou uma risada baixa, mas não respondeu. Jordani só queria colocá-lo em um táxi e seguir sua vida, mas, para sua infelicidade, o motorista que os levou não parecia nada confortável em deixar um homem bêbado sozinho.— Senhorita, tem certeza de que ele vai ficar bem? — o taxista perguntou, olhando pelo retrovisor.Jordani olhou para Lucas, que estava largado no banco ao lado dela, os olhos semicerrados, o ro
O silêncio do escritório era raro, mas Jordani encontrou um canto afastado, longe dos olhares curiosos. Sentou-se em um banco discreto, abraçando os próprios braços para tentar afastar o cansaço. Fechou os olhos por um instante, só para descansar um pouco…O que ela não percebeu foi o tempo passando.— Então é assim que você trabalha?A voz grave e carregada de ironia a despertou bruscamente. Jordani piscou algumas vezes, tentando processar onde estava. Quando levantou o rosto, deparou-se com Lucas, braços cruzados, olhar afiado e um sorrisinho cínico nos lábios.— O quê…? — Sua voz saiu rouca, e ela limpou a garganta.— Está confortável? Precisa de um travesseiro? Talvez um cobertor? — Ele inclinou ligeiramente a cabeça, avaliando-a como se fosse uma criança flagrada fazendo travessura.Jordani sentiu o sangue subir ao rosto. Droga! Não queria, de jeito nenhum, dar essa satisfação para ele. Levantou-se de uma vez, ajeitando o blazer.— Eu não estava dormindo.Lucas arqueou a sobrance
O silêncio no carro de Lucas era quase sufocante. Jordani mantinha os braços cruzados, encarando a rua pela janela, como se o simples ato de olhar para ele fosse uma ofensa.Lucas, por sua vez, dirigia sem pressa, o semblante fechado.— Você ainda tá tremendo — ele comentou de repente.Jordani apertou os braços ao redor do próprio corpo, tentando disfarçar.— Tô com frio — mentiu.Lucas soltou um riso baixo, sem humor.— Claro. Só que não.Ela virou o rosto para ele, fuzilando-o com o olhar.— Você sempre tem que ser irritante desse jeito?— Você sempre tem que ser tão teimosa? — Ele rebateu, sem tirar os olhos da estrada.Ela bufou, largando os braços ao lado do corpo. O cheiro amadeirado do perfume dele estava impregnado no blazer que ainda usava, o que só tornava a situação mais irritante.Quando finalmente chegaram ao prédio dela, Jordani tirou o blazer de qualquer jeito e empurrou contra o peito de Lucas antes de sair do carro.— Boa noite — resmungou, sem olhar para trás.Mas, a