Segredos de uma noite

O silêncio no carro de Lucas era quase sufocante. Jordani mantinha os braços cruzados, encarando a rua pela janela, como se o simples ato de olhar para ele fosse uma ofensa.

Lucas, por sua vez, dirigia sem pressa, o semblante fechado.

— Você ainda tá tremendo — ele comentou de repente.

Jordani apertou os braços ao redor do próprio corpo, tentando disfarçar.

— Tô com frio — mentiu.

Lucas soltou um riso baixo, sem humor.

— Claro. Só que não.

Ela virou o rosto para ele, fuzilando-o com o olhar.

— Você sempre tem que ser irritante desse jeito?

— Você sempre tem que ser tão teimosa? — Ele rebateu, sem tirar os olhos da estrada.

Ela bufou, largando os braços ao lado do corpo. O cheiro amadeirado do perfume dele estava impregnado no blazer que ainda usava, o que só tornava a situação mais irritante.

Quando finalmente chegaram ao prédio dela, Jordani tirou o blazer de qualquer jeito e empurrou contra o peito de Lucas antes de sair do carro.

— Boa noite — resmungou, sem olhar para trás.

Mas, antes que ela conseguisse entrar no prédio, a voz dele ecoou novamente:

— Ei, Tempestade.

Jordani congelou.

— O que foi agora, Lucas?

Ele hesitou por um segundo antes de suspirar e se recostar no carro.

— Você tem certeza de que tá bem?

Aquilo a pegou desprevenida. Por um instante, a irritação foi substituída por algo que ela não queria reconhecer.

Foi aí que a ideia surgiu.

Talvez fosse o estresse. Ou talvez fosse o fato de que, por mais insuportável que Lucas fosse, ele ainda tinha sido a única pessoa ao seu lado naquela noite.

— Quer subir e beber alguma coisa? — perguntou antes que pudesse se arrepender.

Lucas arqueou as sobrancelhas, claramente surpreso.

— Você tá me convidando pra beber?

— Não. Tô te chamando pra jogar xadrez — ironizou.

Lucas riu baixo, fechando a porta do carro.

— Tudo bem, Tempestade. Vamos ver se você aguenta me acompanhar.

Então bora continuar com a tensão e a química aumentando!

O apartamento de Jordani era pequeno, mas organizado. Lucas observou o espaço com uma expressão neutra, enquanto ela ia direto para a cozinha.

— Não toque em nada — avisou por cima do ombro.

— Nossa, que anfitriã simpática — ele zombou, jogando o blazer no sofá antes de se apoiar no batente da porta da cozinha. — Então, o que temos pra beber?

Jordani abriu o armário e pegou uma garrafa de soju.

— Isso aqui serve?

Lucas ergueu uma sobrancelha.

— Só se for pra começar.

Ela bufou, pegando dois copos e levando tudo para a sala.

Os dois se sentaram no chão, de frente um para o outro, a mesa de centro entre eles. Jordani serviu os copos e ergueu o dela.

— A primeira dose é minha.

Lucas riu, pegando o dele.

— Certo. Mas não vá desmaiar na segunda.

Ela revirou os olhos e virou o líquido de uma vez, sentindo a ardência na garganta.

O primeiro gole sempre queimava.

Lucas fez o mesmo e colocou o copo sobre a mesa.

— Agora me diz, por que diabos você me chamou pra beber?

Jordani ficou em silêncio por um instante, encarando o copo vazio. A verdade era que não queria ficar sozinha naquela noite.

Mas admitir isso para Lucas seria o cúmulo da humilhação.

— Você não cansa de fazer perguntas?

— Você não cansa de fugir das respostas?

Ela suspirou, servindo mais soju para os dois.

— Talvez eu só quisesse me distrair.

Lucas a observou por alguns segundos antes de tomar outro gole.

— O idiota do seu ex te abalou mais do que você quer admitir.

Jordani riu, mas sem humor.

— Claro que não.

— Jura? Porque você ainda tá segurando o copo tão forte que parece que vai quebrar.

Ela relaxou os dedos no mesmo instante, irritada por ele ter percebido.

— Você é insuportável.

— E você é péssima mentindo.

O olhar dos dois se encontrou, e, por um momento, algo diferente passou entre eles. Algo pesado, mas não exatamente hostil.

Mais doses vieram. Mais provocações também.

Até que, em um momento de descuido, Jordani soltou o que realmente estava pensando:

— Você nunca se apaixonou de verdade, né?

Lucas parou com o copo a meio caminho da boca.

— O que isso tem a ver com qualquer coisa?

Ela deu de ombros, sentindo o calor do álcool se espalhar pelo corpo.

— Você parece o tipo de cara que não se deixa levar por nada. Tudo calculado, tudo sob controle.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos antes de rir, um riso seco.

— Já me apaixonei, sim.

Jordani piscou, surpresa.

— E o que aconteceu?

Lucas virou a dose sem responder de imediato.

— Ela me traiu com o meu melhor amigo.

O silêncio que veio depois foi diferente de todos os anteriores.

Denso.

Jordani não esperava aquela resposta.

— Lucas…

— Mas não estamos aqui pra falar de mim — ele cortou, pegando a garrafa para servir mais uma dose.

Ela o observou, e, pela primeira vez naquela noite, não sentiu vontade de rebater.

Apenas pegou o copo e virou mais uma dose junto com ele.

A bebida foi ficando mais forte. Os olhares, mais demorados.

E então, em algum momento, Lucas se inclinou sobre a mesa e pegou o copo das mãos dela.

— Acho que já bebeu o suficiente.

Jordani estreitou os olhos.

— Desde quando você manda em mim?

— Desde que ficou óbvio que você já tá mais pra lá do que pra cá.

Ela riu, mas, quando tentou pegar o copo de volta, Lucas segurou seu pulso.

E, de repente, a provocação morreu.

Ele estava perto demais.

Os olhos âmbar dela encontraram os dele, e uma tensão diferente surgiu no ar.

Lucas passou o polegar devagar sobre a pele dela, quase como um reflexo inconsciente.

— Você deveria dormir — murmurou, a voz mais baixa.

Jordani umedeceu os lábios, sentindo a respiração errada.

— E você deveria parar de me olhar assim.

Lucas não desviou o olhar.

— E se eu não quiser?

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor.

Então, antes que pudesse pensar, Jordani se inclinou.

Os lábios dela encontraram os dele de um jeito impulsivo, quente e bagunçado pelo álcool.

Lucas demorou um segundo para reagir, mas, quando reagiu, foi avassalador.

A mão que segurava seu pulso deslizou para a nuca, puxando-a para mais perto. O beijo era intenso, sem hesitação.

Sem arrependimentos.

Pelo menos, não naquela noite.

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