O traidor retorna

O silêncio do escritório era raro, mas Jordani encontrou um canto afastado, longe dos olhares curiosos. Sentou-se em um banco discreto, abraçando os próprios braços para tentar afastar o cansaço. Fechou os olhos por um instante, só para descansar um pouco…

O que ela não percebeu foi o tempo passando.

— Então é assim que você trabalha?

A voz grave e carregada de ironia a despertou bruscamente. Jordani piscou algumas vezes, tentando processar onde estava. Quando levantou o rosto, deparou-se com Lucas, braços cruzados, olhar afiado e um sorrisinho cínico nos lábios.

— O quê…? — Sua voz saiu rouca, e ela limpou a garganta.

— Está confortável? Precisa de um travesseiro? Talvez um cobertor? — Ele inclinou ligeiramente a cabeça, avaliando-a como se fosse uma criança flagrada fazendo travessura.

Jordani sentiu o sangue subir ao rosto. Droga! Não queria, de jeito nenhum, dar essa satisfação para ele. Levantou-se de uma vez, ajeitando o blazer.

— Eu não estava dormindo.

Lucas arqueou a sobrancelha.

— Claro que não. Só estava… fiscalizando o estado dos seus próprios olhos por dentro.

Ela bufou, tentando ignorar a exaustão ainda pesando sobre seu corpo.

— Olha, se veio me provocar, pode ir embora. Tenho trabalho a fazer.

Quando tentou passar por ele, Lucas segurou seu braço, sem apertar, mas firme o suficiente para que ela parasse.

— Se vai fingir que é competente, pelo menos disfarce melhor.

Jordani travou. Seu orgulho gritou alto, e a raiva tomou conta. Ela se virou, pronta para revidar, mas a expressão de Lucas a fez hesitar. Havia um cansaço ali também. Os olhos dele, apesar da provocação, não estavam tão frios quanto de costume.

Ela puxou o braço com um movimento brusco.

— Não preciso que você me ensine nada.

— Eu sei — Lucas respondeu, surpreendendo-a.

Antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, ele deu um passo para trás e saiu, deixando Jordani sozinha, confusa.

Seu coração batia acelerado. Não sabia se era de raiva ou por aquele jeito estranho que Lucas a olhava ultimamente.

E isso a incomodava mais do que deveria.

No restante da tarde…

Jordani voltou ao trabalho com uma carranca permanente no rosto. Cada arquivo que revisava, cada e-mail que lia, sua irritação só aumentava. Lucas tinha o dom de deixá-la à beira de um colapso nervoso.

E o pior? Ele continuava aparecendo.

Cada vez que passava por sua mesa, ele olhava de canto de olho, como se estivesse se divertindo com sua frustração. Como se soubesse que a deixara abalada.

Por que ele simplesmente não a ignorava como sempre fez?

Respirando fundo, ela tentou ignorá-lo também. Mas foi impossível quando, já perto do fim do expediente, Lucas se aproximou de sua mesa e largou um envelope sobre os papéis que ela organizava.

— Preciso disso revisado até amanhã de manhã — disse ele, sem qualquer traço de simpatia.

Jordani olhou para o envelope e depois para ele.

— Até amanhã de manhã?

— Algum problema?

Ela apertou os lábios.

— Eu já tenho trabalho suficiente, caso não tenha percebido.

Lucas inclinou a cabeça, como se estivesse considerando suas palavras, mas logo deu um sorrisinho irônico.

— A culpa não é minha se você passa o expediente dormindo.

Jordani sentiu a paciência estalar dentro dela.

— Você é um…

— Um ótimo chefe? Eu sei.

Ela cerrou os punhos, contando mentalmente até dez para não jogar algo nele.

— Não se preocupe, chefe. Eu vou fazer o relatório. E vai estar impecável. Melhor do que qualquer coisa que você já tenha visto.

Lucas a observou por um instante, e algo brilhou em seus olhos.

— Vou cobrar isso de você, Tempestade.

Jordani franziu o cenho.

— O quê?

— Nada — ele respondeu rapidamente, já se afastando.

Ela ficou parada por um momento, olhando para suas costas, sentindo que havia perdido alguma coisa.

Por que a sensação de que Lucas estava brincando com ela era tão irritante… e ao mesmo tempo estranhamente intrigante?

Jordani sacudiu a cabeça. Pouco importa. Eu ainda o odeio.

O problema era que, ultimamente, odiá-lo estava se tornando muito mais complicado do que deveria.

Amei essa adição! Dá um toque de tensão e também reforça a presença do Lucas na vida dela. Vou encaixar essa cena no final do capítulo e deixar bem impactante.

O relógio já marcava 21h, e Jordani era a última a sair do prédio da empresa. O cansaço pesava em seus ombros, mas pelo menos havia finalizado todas as tarefas — e o relatório que Lucas jogou para ela com desdém.

Ela suspirou ao encarar a rua quase deserta. Seu carro ainda estava na oficina, e chamar um táxi sairia caro demais. Depois de hesitar por alguns segundos, decidiu ir a pé. O trajeto até sua casa não era tão longo.

O vento frio da noite fez com que se abraçasse. Os saltos ecoavam na calçada vazia, e, a cada passo, a sensação de estar sendo observada se intensificava.

Besteira, tentou convencer a si mesma. Mas, por precaução, apertou o passo.

Foi quando uma voz conhecida a fez congelar.

— Andando sozinha a essa hora, Jordani?

Seu corpo se enrijeceu. Ela virou-se devagar e sentiu o estômago afundar ao ver Paulo César parado ali, no meio da calçada, com aquele mesmo sorriso convencido de sempre.

— O que você quer? — Sua voz saiu firme, mas por dentro, um arrepio desagradável percorreu sua espinha.

— Quero você de volta. — Ele deu um passo à frente, e Jordani automaticamente recuou. — Fizemos tantos planos juntos… Você não pode simplesmente me apagar da sua vida.

Ela soltou uma risada irônica.

— Você fez isso por nós dois quando me traiu.

Os olhos dele escureceram.

— Foi um erro. Eu já me arrependi.

— Problema seu. Agora, sai da minha frente.

Ela tentou passar por ele, mas Paulo foi mais rápido e segurou seu braço com força.

— Você não vai fugir de mim, Jordani.

Ela reagiu no mesmo instante, girando o pulso para se soltar e desferindo um soco na direção do rosto dele. Mas, para sua frustração, Paulo desviou com facilidade.

— Jura que vai tentar me atacar? Fui eu que te ensinei a lutar, esqueceu? Eu conheço cada movimento seu.

Ele agarrou seu braço novamente e a puxou com força. Jordani tentou usar o joelho para acertá-lo no abdômen, mas ele bloqueou o golpe.

O desespero começou a crescer dentro dela.

Droga! Como posso ter sido tão ingênua?

— Me solta! — ela exigiu, tentando puxar o braço.

— Você era minha, Jordani. Sempre foi.

Ela sentiu o sangue gelar.

Mas antes que pudesse reagir novamente, outra voz ecoou pela rua.

— Se eu fosse você, soltaria ela.

A tensão no ar mudou. Jordani e Paulo olharam ao mesmo tempo para a direção da voz. Lucas estava parado alguns metros atrás deles, mãos nos bolsos, mas com a expressão mais sombria que ela já tinha visto.

— E você é quem? — Paulo zombou.

Lucas inclinou a cabeça para o lado, e um sorriso sem humor surgiu em seus lábios.

— O marido dela.

Jordani prendeu a respiração.

Paulo franziu o cenho.

— O quê?

Lucas deu um passo à frente, seu olhar nunca deixando o de Paulo.

— É, isso mesmo que você ouviu. Então eu sugiro que tire suas mãos da minha esposa antes que eu quebre cada um dos seus dedos.

Paulo hesitou, seus olhos indo de Lucas para Jordani.

— Você tá mentindo — rosnou.

— Quer pagar pra ver? — Lucas retrucou, sua voz baixa e perigosa.

Havia algo em sua postura que fez Paulo hesitar. Jordani sentiu quando a pressão no seu braço diminuiu, até que, por fim, ele a soltou.

— Isso ainda não acabou — Paulo murmurou antes de dar alguns passos para trás e desaparecer pela rua escura.

Jordani soltou um longo suspiro, sentindo suas pernas bambas.

Lucas se aproximou, analisando-a com os olhos.

— Você tá bem?

Ela não conseguiu responder de imediato. Seu coração ainda estava disparado.

— Eu… eu tô.

Lucas suspirou, passando a mão pelo rosto.

— O que você tava pensando, andando sozinha a essa hora?

Jordani cruzou os braços, tentando recuperar a firmeza.

— Eu sei me cuidar.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Pelo que eu vi, ele sabia se cuidar melhor.

Ela apertou os punhos, mas antes que pudesse rebater, Lucas retirou o blazer e jogou sobre os ombros dela.

— Tá frio. Vem, vou te levar pra casa.

Jordani olhou para ele, desconfiada.

— Por quê?

Lucas deu de ombros.

— Porque minha esposa não pode voltar pra casa sozinha, não é?

Ela bufou.

— Para de falar isso.

Ele apenas sorriu de canto.

E, por mais que Jordani não quisesse admitir, naquela noite, ter Lucas por perto a fez se sentir mais segura.

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