Ressaca em dobro

Jordani se perguntou, pela milésima vez, por que estava passando por aquilo.

Lucas era alto, pesado e estava embriagado o suficiente para dificultar cada passo até a saída da empresa. Ele tropeçava nos próprios pés, murmurava palavras desconexas e, vez ou outra, soltava um suspiro exasperado, como se ela fosse a culpada por ele estar naquele estado.

— Você precisa parar de beber tanto — ela resmungou, tentando firmá-lo melhor ao seu lado.

— Você precisa… parar de mandar em mim — ele rebateu, a voz arrastada.

Ela bufou.

— Ah, claro, porque você está super no controle agora.

Lucas soltou uma risada baixa, mas não respondeu. Jordani só queria colocá-lo em um táxi e seguir sua vida, mas, para sua infelicidade, o motorista que os levou não parecia nada confortável em deixar um homem bêbado sozinho.

— Senhorita, tem certeza de que ele vai ficar bem? — o taxista perguntou, olhando pelo retrovisor.

Jordani olhou para Lucas, que estava largado no banco ao lado dela, os olhos semicerrados, o rosto apoiado na mão como se o mundo inteiro fosse um incômodo.

— Ele sobreviveu a coisa pior — respondeu, revirando os olhos.

Chegando ao apartamento dele, o verdadeiro desafio começou. Lucas, que antes parecia se arrastar de cansaço, decidiu que a entrada de casa era um ótimo lugar para sentar e se recusar a se mover.

— Lucas, levanta — ela ordenou, cruzando os braços.

— Não. Aqui tá bom.

— Você não vai dormir no corredor.

— Talvez eu queira.

Jordani respirou fundo, contando mentalmente até dez. Com muito esforço — e ameaças — conseguiu fazê-lo entrar no apartamento.

— Você tá péssima hoje — Lucas comentou enquanto ela o ajudava a chegar ao sofá.

— Eu tô ótima, você que tá um desastre ambulante — ela rebateu.

Ele riu, jogando a cabeça para trás no encosto do sofá.

— Sabia que quando você fica irritada, franze a testa de um jeito engraçado?

— Sabia que quando você tá bêbado, fala um monte de besteira?

Ele apenas sorriu, fechando os olhos.

Jordani suspirou, exausta.

— Tá, você já tá seguro. Eu vou embora.

Mas antes que ela pudesse dar um passo, Lucas segurou seu pulso.

— Fica.

Ela travou.

— O quê?

Ele abriu os olhos devagar, e por um instante, ela jurou ver algo diferente ali. Mas então ele murmurou, num tom quase manhoso:

— Eu não quero dormir sozinho hoje.

Jordani ficou sem palavras. Ele não estava pedindo nada indecente, nem parecia consciente do que dizia. Era só um homem embriagado, esgotado, e talvez… um pouco perdido.

Ela soltou um suspiro longo.

— Eu fico. Mas só até você apagar.

Lucas não respondeu, apenas fechou os olhos outra vez. Em menos de cinco minutos, ele já estava dormindo. Jordani se jogou em uma poltrona próxima, exausta.

“Amanhã, ele que me pague por isso.”

No dia seguinte…

O relógio marcava 8h quando Jordani entrou na empresa, segurando um café forte e uma vontade imensa de matar alguém.

Ela não dormiu bem. O sofá de Lucas era desconfortável, e ele roncava. RONCAVA. Como se não bastasse, ainda teve que arrastar ele para o quarto no meio da noite porque ele insistia em se mexer demais e quase caiu do sofá.

Agora, com dor de cabeça e um humor péssimo, ela só queria passar o dia sem ter que ouvir a voz dele.

Mas o destino não estava a seu favor.

— Bom dia para você também — Lucas resmungou ao vê-la entrar na sala. Ele estava sentado à mesa, os olhos semicerrados, claramente sofrendo com a ressaca.

— Quem disse que eu te dei bom dia? — ela retrucou.

Ele massageou as têmporas.

— Abaixa o tom, minha cabeça tá prestes a explodir.

— Ótimo, então já estamos na mesma sintonia — ela retrucou, se jogando na cadeira e tomando um gole amargo do café.

Lucas a olhou por um momento, os olhos analisando cada detalhe da sua expressão.

— Você não dormiu bem.

— Nem um pouco, obrigada por perguntar — ela ironizou. — Adivinha de quem é a culpa?

Lucas apenas suspirou, voltando sua atenção para alguns papéis na mesa.

— Se te consola, eu também não tô bem.

— Isso só melhora meu dia.

Um silêncio tomou conta da sala, apenas o som de canetas e papéis sendo manuseados. Era estranho, mas de certa forma, essa troca de farpas matinal parecia… normal.

— Pelo menos, obrigado por ontem — Lucas murmurou de repente, sem encará-la.

Jordani piscou, surpresa.

— O quê?

Ele bufou, como se detestasse repetir.

— Eu disse obrigado.

Ela arqueou uma sobrancelha, saboreando a vitória.

— Viu, você consegue ser educado quando tenta.

— Não abusa, Jordani.

Ela sorriu de canto, finalmente sentindo que o dia começava a melhorar. Era oque ela pensava, até surgir um monte de trabalho durante o dia a deixando mais cansada ainda.

Jordani não soube dizer em que momento exatamente seu corpo cedeu.

Ela só queria alguns minutos. Apenas fechar os olhos por um instante, afastar o peso do trabalho acumulado e do sono atrasado da noite anterior. Então, encontrou um canto tranquilo, afastado das mesas e do movimento frenético do escritório, e se permitiu relaxar.

O silêncio ao redor, somado ao cansaço absurdo, foi como um convite irresistível. Em questão de segundos, sua respiração desacelerou, e a consciência escapou por entre seus dedos.

Lucas não tinha ideia do que o fez caminhar naquela direção. Talvez a curiosidade, talvez o costume de sempre estar atento ao que acontecia na empresa. Mas o que viu ao virar o corredor o fez parar.

Lá estava Jordani, sentada em uma cadeira encostada na parede, os braços cruzados sobre o colo e a cabeça inclinada levemente para o lado.

Dormindo.

Ele arqueou uma sobrancelha.

A mulher que nunca aceitava perder uma discussão, que sempre parecia pronta para lhe lançar um olhar afiado, agora estava ali, completamente vulnerável.

Um sorriso de canto surgiu em seus lábios. Ele se aproximou devagar, cruzando os braços enquanto observava seu rosto relaxado.

“Então a tempestade tem seus momentos de calmaria,” pensou, divertido.

Por um breve instante, considerou acordá-la de um jeito nada agradável, só para se vingar da noite anterior. Mas antes que pudesse decidir, ouviu passos se aproximando.

— Ei, alguém já viu a Jordani? Preciso que ela resolva um problema urgente.

Lucas olhou na direção da voz e viu um dos funcionários vindo pelo corredor.

Se Jordani acordasse naquele momento, exausta como estava, provavelmente voltaria a trabalhar sem parar até o final do dia.

Ele suspirou.

— Não sei onde ela está — respondeu de forma casual, dando um passo para bloquear parcialmente a visão do funcionário. — Mas se fosse você, resolveria isso sozinho.

O homem hesitou, depois bufou.

— Tudo bem, vou ver outra solução.

Assim que o funcionário se afastou, Lucas olhou novamente para Jordani.

Ele poderia ter aproveitado a situação para implicar com ela. Mas, por algum motivo, decidiu deixá-la dormir só um pouco mais.

Virando-se, ele seguiu seu caminho, deixando para trás a mulher que, mesmo dormindo, parecia ocupar um espaço imenso na sua mente.

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