O grande salão estava brilhando com luzes multicoloridas, enquanto os itens que seriam vendidos passavam pelo grande telão, mas mantendo o item principal em segredo. Muitos homens naquela noite esperavam ansiosos, pois boatos haviam se espalhado pela cidade sobre uma joia rara com poderes além do imaginável. Dentre todos esses homens, o empresário a beira da falência, Octavius Kasimir. Um homem egoísta que desejava os poderes da joia para ter poder e riquezas. Sua aparência repugnante afastava todos, nenhum outro visitante do leilão queria ser visto perto daquele pequeno homem rechonchudo, cujo suor manchava suas roupas baratas.
As pessoas esbarravam em Octavius quando passavam e riam dele, não entendendo como um homem falido havia conseguido entrar em um leilão tão exclusivo.
― Ao que parece, qualquer um pode entrar nesse leilão hoje em dia. ― Um homem com roupas finas disse, após bater seu braço de maneira proposital em Octavius.
A raiva era o combustível que Octavius precisava para continuar. Ele sabia que nenhum daqueles homens pomposos seria capaz do que ele estava prestes a fazer.
― Podem rir o quanto quiserem. Vamos ver no final quem vai vencer.
O leilão continua, vários objetos valiosos são arrematados. Peças de arte, pinturas, animais exóticos e raros, até que finalmente chega o momento da protagonista daquela noite.
Uma pequena gaiola foi levada até o centro do grande palco. O telão sobre a plateia focado unicamente sobre o lençol branco que a cobria. Fleches pipocaram por toda parte enquanto o apresentador assume o controle.
― Chegamos a nossa peça mais preciosa da noite. Senhores, preparem suas carteiras, pois o lance mínimo é de cem milhões! ― todos se animam enquanto o apresentador puxava o lençol, revelando o conteúdo daquela gaiola.
Uma pequena menina, com longos cabelos de um branco puro espalhados a sua volta, tremia sem conseguir ver o que estava acontecendo ao seu redor, pois uma grossa faixa cobria seus olhos. As mãos e pernas da menina estavam acorrentadas ao chão da gaiola, a impedindo de se mover em qualquer direção. Assustada, a menina chorava e soluçava enquanto o forte feixe de luz caia sobre ela.
Animado, Octavius vibrou ao ver a menina, sabendo que suas fontes haviam acertado. Nenhum dos presentes pareceu interessado em comprar uma menina, então o apresentador volta a falar.
― Sei o que estão pensando, aparentemente essa menina não é nada de mais, porém chamo a atenção de todos para seus lindos cabelos. Um branco puro e único, herdado apenas pelos descendentes da deusa Nix. ― Com essas poucas palavras, o interesse de todos os presentes foi renovado e os lances começaram.
Um após o outro, o valor crescia mais e mais. Os mercenários que capturaram a jovem sorriam nos bastidores. A pequena criança não fazia ideia do que estava acontecendo ao seu redor. Os gritos, a música alta, as risadas estridentes. Sons que causavam arrepios na pobre criança. Ela baixou sua cabeça, tocando a testa no chão da gaiola e cobrindo seus ouvidos enquanto os lances continuavam. Finalmente o valor chegou a duzentos milhões. O salão ficou em silêncio por um momento, até que Octavius ergueu sua placa com o número sessenta e seis.
― Trezentos milhões! ― o pequeno e rechonchudo homem gritou, surpreendendo a todos.
O ambiente ficou tenso com a expectativa, todos os presentes se mantiveram em silêncio até que o leiloeiro começou a contagem.
― Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três! ― As batidas do martelo na mesa ecoaram no grande salão silencioso. ― Vendido para o senhor na terceira fileira! Parabéns!
A gaiola foi coberta novamente e levada. O apresentador finalizou o evento enquanto os homens mais poderosos e ricos iam aos caixa efetuarem os pagamentos e levarem seus itens. Octavius estava eufórico enquanto ia até os bastidores. A gaiola estava cercada por seguranças armados, evitando que curiosos se aproximassem. O homem que havia esbarrado em Octavius mais cedo olhou com repulsa e inveja para enquanto passava.
Apresentando o comprovante de pagamento ao leiloeiro, Octavius ergueu um lado do lençol, confirmando que a menina estava lá dentro.
― Para onde devemos enviar o produto, senhor Kasimir? ― Com um sorriso distorcido, Octavius pensou no melhor lugar para esconder o seu tesouro.
― Envie para esse endereço. ― Entendendo um pedaço de papel para o leiloeiro, Octavius deu as costas e saiu.
Na manhã seguinte, o pequeno homem estava parado em uma rua sem saída, em um dos bairros mais abandonados da cidade de São Francisco. Um caminhão branco se aproximou e dois homens saíram dele. Enquanto um ia até os fundos do carro retirar uma caixa, o outro se aproximou de Octavius com um tablet.
― Senhor Kasimir. Preciso que assine aqui. ― O homem ofereceu o aparelho e foi ajudar seu companheiro a descer a caixa pesada. Pegando o tablet e confirmando a assinatura, os homens acenaram de forma discreta e foram embora.
Com dificuldade, Octavius levou a caixa para em um galpão mal iluminado e sujo. O lugar parecia abandonado a muitos anos, repleto de lixo deixado por moradores de rua. Ao abrir a caixa, dentro, a pequena menina ainda estava com a faixa sobre seus olhos, as correntes prendendo seus pulsos e tornozelos enquanto ela chorava baixinho.
A puxando pelos cabelos, Octavius a fez sair da caixa e a jogou no chão. A menina estava assustada, com fome e dor por todo o seu corpo, devido ao transporte turbulento. Com um puxão forte, o homem arrancou a venda e um grande tufo do cabelo da menina, a fazendo gritar. Com medo de chamar atenção, e para repreender a pequena criança, Octavius desferiu um forte tapa em seu rosto.
― Cale a boca! Agora abra os olhos.
― Por favor, eu não quero fazer isso. ― Furioso, o homem agarrou os cabelos da menina e a puxou para si.
― Mandei abris a droga dos seus olhos. ― Com medo de apanhar mais, a menina obedeceu, revelando grandes olhos brilhantes cuja cor única lembrava a joia madrepérola, com facetas multicoloridas. ― Isso, agora mude o meu futuro! Me transforme no homem mais poderoso dessa m*****a cidade!
POV: LinneaA luz forte atravessou a venda que cobria os meus olhos, me fazendo acordar e sentar na pequena gaiola onde cresci. Desde que fui comprara pelo mestre naquele leilão, eu desejava não despertar na manhã seguinte. O som de metal batendo me assustou. Segui o som até a lateral da gaiola, o arrastar e ranger, assim como o cheiro da ferrugem, me alertaram que a pequena porta estava sendo aberta. Me encolhi em um canto enquanto o cheiro da comida chegava ao meu nariz. ― Coma logo, o chefe tem planos para hoje. ― O homem falou de forma ríspida, batendo a grade a trancando novamente.Puxei a bandeja, sem saber exatamente que comida era aquela, o odor azedo forte surgiu quando remexi a comida com o talher. Já fazia tanto tempo que eu não comia algo fresco que não lembrava os sabores, ou mesmo as cores daquelas comidas. Após comer, coloquei a bandeja novamente junto as grades e me encolhi no outro canto. O chão começou a vibrar com os passos de várias pessoas se aproximando. Meu c
POV: Linnea Tudo ao meu redor parecia silencioso e sem nenhuma cor, enquanto eu continuava a observar aquele misterioso homem, que entrava na casa do mestre com tanto poder e autoridade, através da delicada renda que cobria meus olhos. Ele não voltou a olhar para mim, apenas vagou por entre os inúmeros itens da coleção do mestre. Ele parou diante da grande mesa de gelo em que eu estava, várias joias me rodeavam, de variados tamanhos e cores. O belo homem observava cada uma delas com uma atenção especial, então o mestre se aproximou, esfregando suas mãos suadas, cada dedo ostentando um anel diferente. ― Logo se vê que tem ótimo gosto, Dark Wolf. ― a forma com que o tal Dark Wolf olhou para o mestre fez meus pelos se arrepiarem. Me encolhi em minha gaiola e permaneci em completo silêncio enquanto eles discutiam. ― Essas pedras não me interessam em nada. Não passam de rochas polidas. ― O mestre pareceu irritado com o comentário do homem, mas manteve o sorriso em seu rosto. Em minha me
POV: Linnea Um forte golpe atingiu minha mão, me fazendo soltar o homem que parecia em choque com toda a situação. Voltei a me encolher na gaiola e o homem retomou seu caminho. Eu havia falhado. Nunca mais o mestre me permitiria ter outra oportunidade como aquela. Voltaria aos meus dias trancada naquele cofre, abusada por um homem egoísta e sem nenhum escrúpulo que não se importava em destruir as vidas de outras pessoas, com tanto que ele conseguisse o que queria. A grande festa continuou, não vi mais o lindo homem de cabelos e olhos negros. Era como se ele tivesse desaparecido. O mestre evitou que outras pessoas se aproximassem da mesa de gelo, onde eu sentia cada vez mais e mais frio. Estava cansada e faminta quando finalmente a festa acabou e eu fui descida da mesa. O mestre se aproximou com seu bastão e bateu forte contra as barras de aço. ― Sua puta de merda! O que achou que fosse conseguir? Achou mesmo que um homem como o Wolf te ajudaria? Acho que bati tanto em você que acab
POV: Linnea Um calor suave tocou meu rosto, a sensação estranha de algo suave debaixo do meu corpo e um perfume agradável me despertaram. Toquei meu rosto, sentindo a ausência da venda sobre os meus olhos e me desesperei. Não sabia onde eu estava, mas era certo que não estava na minha gaiola. A noite anterior, havia sido um sonho? Tateei ao redor, nervosa e assustada e encontrei um tecido suave, que amarrei sobre meus olhos. Mais tranquila, analisei o ambiente ao meu redor com as mãos, tocando a grande cama onde estava deitada. Ao amassar o tecido, um perfume suave de flores se elevou. Coloquei meus pés no chão, sentindo algo macio e quente sob eles e uma brisa suave e refrescante tocou meu rosto e braços. Sons de passos se aproximando me assustaram. Tropecei pelo cômodo estranho, buscando um lugar seguro para me esconder. Tropecei em algo que parecia uma corda e acabei caindo para frente. O som de vidro quebrando me fez tremer e me encolher enquanto o som de trinco ecoava pelo qua
POV: KaelAquela pequena e frágil humana diante de mim se dizia a joia de Octavius. Não consegui conter a risada ao ouvir tamanho absurdo, a surpreendendo. Segurei seu pulso fino, a puxando para mim. Seu suspiro de surpresa fez meu lobo rosnar em meu peito. Desde que a vi naquela maldita gaiola, exposta sobre a mesa como uma decoração macabra, me senti estranhamente atraído por ela. O mesmo aconteceu quando entrei naquele cofre. O lugar estava impregnado com seu cheiro e me vi focado apenas nela e mais nada.Aproximei seu pulso do meu rosto, inalando seu cheiro. Sua pele aqueceu sob meus dedos, pude sentir sua pulsação subindo conforme arrastava meus lábios até a parte interna de seu cotovelo. Seu corpo tremeu em resposta ao meu toque, fazendo com que meu lobo desejasse por mais. Precisei me afastar para me conter, afinal eu não sabia quem era aquela mulher e nem o real motivo dela estar naquela gaiola.― Você faz ideia do que acabou de falar, mulher? ― Disse sussurrando, meu rosto ma
POV: Linnea o Toque suave dos lábios do homem me pegaram de surpresa, mas não achei desagradável nem nada. Na verdade, senti meu corpo ficando mais aquecido conforme ele me apertava em seus braços, minhas costas estavam parcialmente coladas ao seu peito e me sentia tão pequena. A mão que segurava meu queixo deslizou até o meu pescoço, tocando uma das cicatrizes que eu carregava há muito tempo. Tive medo que ele me achasse repugnante, com meu corpo repleto de marcas horríveis e tentei me afasta r, mas meu salvador manteve seu aperto firme sobre meu corpo. Sua língua então invadiu minha boca, explorando e trazendo sensações ainda mais estranhas. Minhas pernas tremeram e vacilaram, me fazendo perder o equilíbrio e quase cair. O homem me amparou, passando a língua por seus lábios e sorrindo de forma predadora. Então a porta se abriu. Um homem alto com cabelos castanhos e olhos verdes que me analisaram cuidadosamente. Eu conhecia aquele olhar, meu corpo tremeu de forma involuntária e me
POV: Linnea Ouvir aquele nome me fez sentir ainda mais estranha. Segurei o rosto do homem entre minhas mãos, tentando gravar suas feições o melhor que eu conseguia ver através daquela renda escura. Usei meus dedos para percorrer seus queixo e maxilar, subindo pelas maçãs de seu rosto sentindo a barba que crescia em sua pele. Toquei seus olhos suavemente, então as sobrancelhas e o nariz. Suas feições eram simplesmente perfeitas, um rosto com características muito marcantes. Me sentindo um pouco atrevida, movi minhas mãos trêmulas até seus cabelos e arrastei minhas mãos por eles. Kael fechou seus olhos, me dando mais confiança para continuar a explorar. ― Obrigada, senhor Kael. ― Seus olhos se abriram lentamente. Havia um brilho estranho no fundo de seu olhar. Com uma risada estranha, Kael se levantou, me deixando no chão e foi até a porta com as mãos em seus bolsos. Ele se virou e olhou para mim, para todo o meu corpo e então seu olhar se fixou no meu rosto. ― Não se iluda, pequen
POV: Linnea Estava assustada, havia muitas pessoas estranhas dentro daquele lugar escuro. O ambiente estava tomado por uma densa fumaça e uma música estranha tocava alto. A mulher me puxou e senti algumas mãos me tocarem, porém era impossível identificar qualquer coisa naquele lugar. Entramos em um quarto, onde três homens de terno estavam sentados em poltronas muito elegantes. Dei alguns passos para trás, apenas para ser empurrada novamente para frente. ― Vamos começar com os lances. ― As palavras da mulher me deixaram em completo choque. Me arrastei até ela, abraçando suas pernas com as mãos trêmulas. Meu coração estava acelerado enquanto as lágrimas rolavam pelo meu rosto. ― Eu te imploro, não me venda! Serei útil para você, aprendo rápido. Prometo não dar trabalho e nem ser um gasto, mas não me venda. Eu te imploro! ― A mulher me deu mais um forte tapa, então me chutou na barriga com força. ― Cale a boca, so de estar respirando aqui já está me dando gastos. Pague sua dívida se