POV: Linnea
Tudo ao meu redor parecia silencioso e sem nenhuma cor, enquanto eu continuava a observar aquele misterioso homem, que entrava na casa do mestre com tanto poder e autoridade, através da delicada renda que cobria meus olhos. Ele não voltou a olhar para mim, apenas vagou por entre os inúmeros itens da coleção do mestre. Ele parou diante da grande mesa de gelo em que eu estava, várias joias me rodeavam, de variados tamanhos e cores. O belo homem observava cada uma delas com uma atenção especial, então o mestre se aproximou, esfregando suas mãos suadas, cada dedo ostentando um anel diferente.
― Logo se vê que tem ótimo gosto, Dark Wolf. ― a forma com que o tal Dark Wolf olhou para o mestre fez meus pelos se arrepiarem. Me encolhi em minha gaiola e permaneci em completo silêncio enquanto eles discutiam.
― Essas pedras não me interessam em nada. Não passam de rochas polidas. ― O mestre pareceu irritado com o comentário do homem, mas manteve o sorriso em seu rosto. Em minha mente, pedi para que o senhor Dark Wolf não irritasse muito o meu mestre, caso contrário seria eu a pagar o preço. ― Eu vim atrás de uma joia que você arrematou em um leilão há alguns anos.
Os olhos do meu mestre caíram sobre mim. Um arrepio percorreu minha espinha, e não tinha ligação nenhuma com o gelo abaixo. Ninguém sabia sobre mim, quem eu era ou mesmo de onde eu vim. O mestre sempre me manteve escondida no cofre, longe de olhares curiosos. Aquela era a primeira vez que eu via tantas pessoas e estava com medo das razões pelas quais ele decidiu me expor daquela forma.
― Temo que tal joia não esteja disponível para venda, meu bom senhor. Mas tenho artigos que vão realmente interessar alguém tão poderoso. ― o mestre não gostava de admitir que outras pessoas tinham mais poder do que ele, o que significava que aquele homem era alguém que o mestre não poderia superar, nem mesmo usando os meus dons de mudar o futuro.
― Tudo tem um preço. Diga logo o seu e pare de me fazer perder tempo. Eu quero a joia do deus da criação e não medirei esforços para possuí-la. ― Todos que estavam ao redor pararam para ver o embate. Até mesmo eu estava curiosa com o que meu mestre faria.
A música aumentou, chamando a atenção de todos para um grupo de dançarinas. As mulheres usavam roupas reveladoras, cobrindo apenas pequenas áreas de seus corpos. Todos pareciam entretidos com o espetáculo, menos Dark Wolf. Enquanto meu mestre desviada de assunto, elogiando as mulheres que se apresentavam, o belo homem me olhava com curiosidade. Primeiro ele observou a gaiola em que eu estava, depois seus olhos percorreram todo o meu corpo, dos meus pés até meus olhos. Senti um formigamento percorrendo o mesmo caminho que seus olhos faziam. Me inclinei em sua direção, meu coração estava acelerado, como nunca o havia sentido antes. O que eram aquelas sensações e por que eu as estava sentindo naquele momento?
Todos se afastaram, o mundo se movia tão devagar naquele momento. Dark Wolf se aproximou ainda mais da minha gaiola e senti meu corpo ficando quente. Minha pele estava ruborizada com a intensidade que o homem analisava meu corpo. Mesmo através da venda de renda preta, pude notar as pequenas nuances em seus profundos olhos negros. Pequenos pontos de cor azul, como safiras delicadas, se destacavam e atraiam minha atenção.
Era estranho para mim poder olhar nos olhos de alguém sem as visões, poder desfrutar de uma conexão tão profunda e íntima com alguém, mesmo com a venda. Uma forte batida nas grades da gaiola me assustaram, então voltei para o canto, me encolhi, abraçando meus joelhos e sentindo as lágrimas já se acumulando em meus olhos.
― Não olhe para os convidados. ― Fui repreendida pelo mestre, que bateu mais algumas vezes contra a grade até parar subitamente. Ao erguer meu rosto, vi o homem segurando o pulso do mestre com força.
― O que pensa que está fazendo? ― Dark Wolf perguntou com um tom firme me sua voz.
― Apenas estava educando essa criatura estúpida. Algo tão baixo como essa mulher não deve olhar um homem de sua classe. ― Dark Wolf rosnou, deixando o mestre pálido, então o soltou. Meu mestre caiu sentado no chão, enquanto o homem forte o olhava de cima.
― Se não a suporta a esse ponto, venda-a para mim junto a joia que desejo. Assim livro você de dois problemas. ― Não conseguia ver o mestre, mas eu sabia que ele deveria estar furioso, mesmo que não pudesse demonstrar.
Ser tradado daquela forma em sua própria casa, ainda mais por um homem mais poderoso do que ele, deixava o mestre furioso. O maior desejo de meu mestre era se tornar o homem mais poderoso de São Francisco, mas não importava quanto ele usasse o meu poder, qual presso fosse pago para mudar seu futuro e o tornar mais e mais poderoso. Esse homem de cabelos negros diante de mim jamais apareceu, seus destinos nunca se cruzaram e por isso, nunca pude tornar o meu mestre mais poderoso do que ele.
― Sinto muito, mas não posso vendê-la, mesmo que ela me irrite, a criei desde muito jovem. ― O mestre se levantou, olhando de forma estranha para o homem.
De repente, o homem pareceu apenas aceitar e deu as costas. Em pânico por nunca mais vê-lo e perder a única chance que eu teria de ser livre do inferno que vivi por dez anos, estendi minha mão entre as grades e segurei a manga de seu casaco. Todos ao redor olharam em choque para aquela inusitada cena. Uma escrava tocando em um homem poderoso sem permissão e ainda por cima, na frente de seu mestre. O mínimo que poderia acontecer a qualquer outra, seria ter sua mão amputada, mas eu escolhi correr esse risco. Eu preferiria morrer a viver mais um dia de inferno nas mãos de Octavius Kasimir.
POV: Linnea Um forte golpe atingiu minha mão, me fazendo soltar o homem que parecia em choque com toda a situação. Voltei a me encolher na gaiola e o homem retomou seu caminho. Eu havia falhado. Nunca mais o mestre me permitiria ter outra oportunidade como aquela. Voltaria aos meus dias trancada naquele cofre, abusada por um homem egoísta e sem nenhum escrúpulo que não se importava em destruir as vidas de outras pessoas, com tanto que ele conseguisse o que queria. A grande festa continuou, não vi mais o lindo homem de cabelos e olhos negros. Era como se ele tivesse desaparecido. O mestre evitou que outras pessoas se aproximassem da mesa de gelo, onde eu sentia cada vez mais e mais frio. Estava cansada e faminta quando finalmente a festa acabou e eu fui descida da mesa. O mestre se aproximou com seu bastão e bateu forte contra as barras de aço. ― Sua puta de merda! O que achou que fosse conseguir? Achou mesmo que um homem como o Wolf te ajudaria? Acho que bati tanto em você que acab
POV: Linnea Um calor suave tocou meu rosto, a sensação estranha de algo suave debaixo do meu corpo e um perfume agradável me despertaram. Toquei meu rosto, sentindo a ausência da venda sobre os meus olhos e me desesperei. Não sabia onde eu estava, mas era certo que não estava na minha gaiola. A noite anterior, havia sido um sonho? Tateei ao redor, nervosa e assustada e encontrei um tecido suave, que amarrei sobre meus olhos. Mais tranquila, analisei o ambiente ao meu redor com as mãos, tocando a grande cama onde estava deitada. Ao amassar o tecido, um perfume suave de flores se elevou. Coloquei meus pés no chão, sentindo algo macio e quente sob eles e uma brisa suave e refrescante tocou meu rosto e braços. Sons de passos se aproximando me assustaram. Tropecei pelo cômodo estranho, buscando um lugar seguro para me esconder. Tropecei em algo que parecia uma corda e acabei caindo para frente. O som de vidro quebrando me fez tremer e me encolher enquanto o som de trinco ecoava pelo qua
POV: KaelAquela pequena e frágil humana diante de mim se dizia a joia de Octavius. Não consegui conter a risada ao ouvir tamanho absurdo, a surpreendendo. Segurei seu pulso fino, a puxando para mim. Seu suspiro de surpresa fez meu lobo rosnar em meu peito. Desde que a vi naquela maldita gaiola, exposta sobre a mesa como uma decoração macabra, me senti estranhamente atraído por ela. O mesmo aconteceu quando entrei naquele cofre. O lugar estava impregnado com seu cheiro e me vi focado apenas nela e mais nada.Aproximei seu pulso do meu rosto, inalando seu cheiro. Sua pele aqueceu sob meus dedos, pude sentir sua pulsação subindo conforme arrastava meus lábios até a parte interna de seu cotovelo. Seu corpo tremeu em resposta ao meu toque, fazendo com que meu lobo desejasse por mais. Precisei me afastar para me conter, afinal eu não sabia quem era aquela mulher e nem o real motivo dela estar naquela gaiola.― Você faz ideia do que acabou de falar, mulher? ― Disse sussurrando, meu rosto ma
POV: Linnea o Toque suave dos lábios do homem me pegaram de surpresa, mas não achei desagradável nem nada. Na verdade, senti meu corpo ficando mais aquecido conforme ele me apertava em seus braços, minhas costas estavam parcialmente coladas ao seu peito e me sentia tão pequena. A mão que segurava meu queixo deslizou até o meu pescoço, tocando uma das cicatrizes que eu carregava há muito tempo. Tive medo que ele me achasse repugnante, com meu corpo repleto de marcas horríveis e tentei me afasta r, mas meu salvador manteve seu aperto firme sobre meu corpo. Sua língua então invadiu minha boca, explorando e trazendo sensações ainda mais estranhas. Minhas pernas tremeram e vacilaram, me fazendo perder o equilíbrio e quase cair. O homem me amparou, passando a língua por seus lábios e sorrindo de forma predadora. Então a porta se abriu. Um homem alto com cabelos castanhos e olhos verdes que me analisaram cuidadosamente. Eu conhecia aquele olhar, meu corpo tremeu de forma involuntária e me
POV: Linnea Ouvir aquele nome me fez sentir ainda mais estranha. Segurei o rosto do homem entre minhas mãos, tentando gravar suas feições o melhor que eu conseguia ver através daquela renda escura. Usei meus dedos para percorrer seus queixo e maxilar, subindo pelas maçãs de seu rosto sentindo a barba que crescia em sua pele. Toquei seus olhos suavemente, então as sobrancelhas e o nariz. Suas feições eram simplesmente perfeitas, um rosto com características muito marcantes. Me sentindo um pouco atrevida, movi minhas mãos trêmulas até seus cabelos e arrastei minhas mãos por eles. Kael fechou seus olhos, me dando mais confiança para continuar a explorar. ― Obrigada, senhor Kael. ― Seus olhos se abriram lentamente. Havia um brilho estranho no fundo de seu olhar. Com uma risada estranha, Kael se levantou, me deixando no chão e foi até a porta com as mãos em seus bolsos. Ele se virou e olhou para mim, para todo o meu corpo e então seu olhar se fixou no meu rosto. ― Não se iluda, pequen
POV: Linnea Estava assustada, havia muitas pessoas estranhas dentro daquele lugar escuro. O ambiente estava tomado por uma densa fumaça e uma música estranha tocava alto. A mulher me puxou e senti algumas mãos me tocarem, porém era impossível identificar qualquer coisa naquele lugar. Entramos em um quarto, onde três homens de terno estavam sentados em poltronas muito elegantes. Dei alguns passos para trás, apenas para ser empurrada novamente para frente. ― Vamos começar com os lances. ― As palavras da mulher me deixaram em completo choque. Me arrastei até ela, abraçando suas pernas com as mãos trêmulas. Meu coração estava acelerado enquanto as lágrimas rolavam pelo meu rosto. ― Eu te imploro, não me venda! Serei útil para você, aprendo rápido. Prometo não dar trabalho e nem ser um gasto, mas não me venda. Eu te imploro! ― A mulher me deu mais um forte tapa, então me chutou na barriga com força. ― Cale a boca, so de estar respirando aqui já está me dando gastos. Pague sua dívida se
POV: KaelComo uma mulher poderia mexer tanto com a mente de um homem daquela maneira. Ainda podia sentir seu sabor doce na ponta da minha língua, seu cheiro dominava minha mente ao ponto de sentir dores de cabeça. Meu lobo rugia em meu peito, desejando buscá-la daquele maldito lugar. Tentei contê-lo, afinal eu não tinha qualquer obrigação com aquela fêmea. Já tinha problemas demais tendo que lidar com traidores da minha alcateia e a mineradora que herdei do meu pai, não poderia assumir uma guerra contra um humano por causa de uma mulher qualquer. Quanto mais nos afastamos da área vermelha, mais me sentia agitado e desconfortável. Não a larguei naquele lugar a troco de nada, eu sabia exatamente o que seria feito dela ali e eu queria aquilo. Desejava quebrar a imagem em minha mente da mulher doce e inocente que beijei no meu quarto, queria destruir por completo a imagem pura e o brilho suave que vi através daquela maldita venda. Prometi a ela que não a devolveria ao bastardo do Octavi
POV: Linnea O carro se movia para longe daquele estranho bairro. As luzes e sirenes de ambulâncias passavam por nós a toda velocidade. Me abaixei, cobrindo meus ouvidos e puxando meus joelhos para o peito. Ao meu lado, Kael deu uma leve risada enquanto afrouxava sua gravata e começava a tirar suas roupas. Meu coração acelerou e virei meu rosto novamente pela janela. Não conseguia compreender como aquele homem conseguia fazer aquele tipo de coisa de forma tão natural. Abracei meu corpo e senti uma forte dor na minha barriga. Imediatamente fui puxada e me vi sentada sobre as pernas de Kael. ― Espera! ― Gritei me debatendo e tentando voltar para o banco, mas o homem me segurou pelos pulsos, erguendo minhas mãos e minha camisa. ― O que está fazendo? ― Tentando deixar você parada para ver onde está ferida. Agora, fique quieta antes que eu te jogue deitada nesse banco. ― Imediatamente parei de me mexer. Os longos dedos de Kael percorreram minha barriga, a palma de sua mão tocou a later