Capítulo 02

PENÉLOPE VERONESI

— O que deseja perguntar, Penélope? — A voz dele ressoou novamente, quebrando o silêncio como um eco misterioso. Aquelas palavras, carregadas de significados ocultos, envolveram-me como uma névoa intrigante. Enquanto os meus pensamentos rodopiavam em torno dessa oferta enigmática, percebi haver mais naquela pergunta do que as palavras revelavam.

— Perdão, eu não queria o deixar constrangido — a minha voz soou mais fraca do que eu pretendia

— Quem é o senhor? — a minha pergunta emergiu com um toque de desafio, um reflexo da frustração que eu estava começando a sentir.

— O seu tutor, é claro. — A resposta dele foi dada com simplicidade, mas a maneira como ele a pronunciou carregava um peso inexplicável. Era como se a verdade estivesse escondida nas entrelinhas, esperando para ser desvendada.

O silêncio voltou a pairar sobre nós, uma barreira invisível entre mim e aquele homem enigmático que agora estava mergulhado nos seus próprios pensamentos. Senti o peso da sua indiferença, uma rejeição sutil que me irritou profundamente. Uma onda de ressentimento tomou conta de mim, fazendo-me revirar os olhos em um gesto de desdém antes de recostar a minha cabeça no banco.

A ideia de dormir e escapar daquele jogo de enigmas parecia tentadora. Fechei os olhos, permitindo-me afundar em um estado de sonolência, esperando que o sono pudesse levar-me para longe daquela sensação de impotência e confusão. Enquanto a estrada se estendia à minha frente, eu apeguei-me à esperança de que, ao acordar, talvez a viagem estivesse mais perto do fim.

....

Acordei ao sentir o carro parar, posicionei-me em condições e além de notar que estamos defronte há um enorme portão de ferro forjado também notei a ausência do meu tutor.

O que particularmente degustei como algo agridoce, por um lado, a sua presença estava me sufocando, mas, ao mesmo tempo, ele era o único capaz de responder às perguntas que perambulam por minha mente.

A limusine passou pelos portões abertos e logo vi uma enorme mansão com uma fachada que misturava belamente vidros, betão de pigmento bastante escura, quase de um preto e alumínio cinza-escuro.

Pude visualizar algumas árvores enormes atrás da enorme casa, e o jardim frontal é simples, mas extremamente belo e bem cuidado, entretanto, a única espécie de flores são apenas rosas-vermelhas, e ao redor da residência há uma espécie de floresta que a protege.

Há duas mulheres na porta principal que esperam que o automóvel se aproximasse, elas estavam vestidas de um uniforme em formato de vestido, preto e com um avental, parecendo tipicamente com empregadas tradicionais, onde uma parece ser bem mais velha que a outra.

O carro parou à frente da porta e o motorista saiu do carro e falou algo com elas, a mais velha movimentou a cabeça em concordância e olhou fixamente para mim através do vidro em seguida.

O homem caminhou até mim e abriu a porta para que eu pudesse sair.

— Srta. Veronesi, deixe-me apresentar-lhe a Isadora, a governanta, e a Annie, a sua dama de companhia.

A Isadora é baixa e tem todos os seus cabelos grisalhos presos num coque baixo, os seus olhos escuros contrastam com a palidez da sua pele, mas possui um olhar acolhedor, entretanto uma expressão rígida.

Arqueei a sobrancelha confusa ao voltar a encarar o motorista.

— O Sr. D'Artagnan é que providenciou isso? — perguntei, coloquei as mãos juntas à frente do corpo e esperei uma resposta que não demorou a chegar.

Dama de companhia? Isso ainda existe?

— Sim, Srta. Veronesi — ele é simplista e caminhou até a bagagem do carro, me deixando sozinha com as mulheres.

— Imagino que esteja cansada da viagem, Srta. Veronesi — a mulher cujo é denominada por Isadora disse formalmente. — A menina Annie irá encaminhar-lhe ao quarto de modo a repousar, imagino que tenha sido uma longa viagem.

Concordei apenas com a cabeça e Annie começou a andar em direção à casa, eu segui-lhe obedientemente.

A menina caucasiana possui a mesma estatura que eu, um pouco mais magra, e ao contrário da governanta, os seus longos cabelos loiro-morango estão presos numa trança que emoldura o seu belo rosto.

Por dentro a casa é ainda mais deslumbrante, paredes em betão também pigmentado e mobílias de uma madeira cor marfim que envaidece o espaço, logo no hall de entrada há uma enorme escada também de madeira que dá acesso aos outros andares.

Eu e ela subimos ao primeiro andar e ela me levou até ao meu quarto.

O cômodo é enorme, uma das paredes é de vidro opaco, mas não tão intenso, o que me possibilita ver a vista para as imensas árvores que englobam a bendita floresta.

A cama de casal é adornada com lençóis de linho em tons pastéis de bege, castanho e até branco, inclusive, as cortinas que cobrem a parede de vidro também são feitas de linho branco.

Possuo um enorme closet vazio e um banheiro maior ainda, uma proporção que é possivelmente duas vezes maior que todo o meu dormitório do I.T.I.

Fiquei algum tempo olhando algumas das árvores caducas e outras que ainda estão bem enfeitadas com folhas em tons de amarelo e vermelho.

— Srta. Veronesi — Annie chamou-me de repente e eu virei de imediato. — O café da manhã é servido às 08h, precisa de auxílio no banho?

— Não, obrigada, Annie — voltei o meu olhar para a direção anterior. — Quero ficar um pouco sozinha, se não se importar.

Ela não respondeu e logo ouvi apenas o barulho da porta a ser fechada.

Respirei fundo e depois de tanto tempo, de tantos anos, permiti-me finalmente chorar.

O quê o fiz ao senhor, pai?

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